domingo, 27 de maio de 2018

BAUHAUS - UM SÉCULO DE EXPLOSÃO METEÓRICA DO DESIGN

Um movimento, uma escola, um estilo... O que foi esta escola alemã fundada na depressão após a Primeira Guerra mundial, que se tornaria o maior fenômeno da arquitetura e design do século XX? Bauhaus foi a primeira escola de design no mundo e disseminou o que hoje parece natural: a combinação de beleza e funcionalidade. Uma viagem pela história da Bauhaus é estilo, modernidade e ideologia, que pode estar em sua sala de estar...

BAUHAUS (casa da construção) é a inversão do termo HAUSBAU (construção da casa). Este neologismo, criado por Walter Gropious (1883-1969), foi destinado a dar nome a uma escola, ou mais, um programa que criara em 1919. Gropious fazia referência à Bauhütte, loja ou centro das corporações de construtores na Idade Média. A Idade Média via na catedral uma união entre a vida e a arte e com a mesma proposta de Gropius em 1919,isto é, de divulgar boas novas. Gropius fundou a Bauhaus, que possuía princípios fundamentais:
“Assim foi fundada a Bauhaus. Seu escopo científico era concretizar uma arquitetura moderna que, como a natureza humana, abrangesse a vida em sua totalidade. Seu trabalho se concentrava principalmente naquilo que hoje se tornou uma necessidade imperativa, ou seja impedir a escravização do homem pela máquina, preservando da anarquia mecânica o produto de massa e o lar, insuflando-lhes novamente sentido prático e vida. Isto significa o desenvolvimento de objetos e construções projetados expressamente para a produção industrial. Nosso alvo era o de eliminar as desvantagens da máquina, sem sacrificar nenhuma de suas vantagens reais (GROPIUS; WALTER, 2001, p30)”
Em 1923, a proposta da Bauhaus foi divulgada em uma vasta exposição, cuja proposta podia ser resumida em “Arte e técnica, uma nova unidade”. Esta exposição foi chamada de “Staatliches Bauhaus”. A Bauhaus foi dividida em dois setores de ensino: a Academia de Arte Pictórica e a Academia de Artes e Ofícios. O principal objetivo era acumular um maior número de pessoas em pouco espaço, provendo moradias para os sobreviventes de guerra em 1932. Neste ano, nenhum outro país construiu mais moradias populares erguidas com dinheiro proveniente de impostos em sua maioria.
A Bauhaus tinha como princípio não somente propor uma nova estética, mas também de promover uma mudança social com modernidade e inteligência de projetos e recursos. A Escola era norteada por três princípios:
1. Direcionamento da nova arquitetura para os trabalhadores; 2. Rejeição a todos os objetos e adereços burgueses; 3. Retorno aos princípios básicos da arquitetura ocidental, definindo uma forma clássica de moradia social racional.
A mentalidade racionalista da época preconizava a máxima “A forma segue a função”, segundo a qual o ornamento não tinha mais lugar à funcionalidade do objeto. Assim propôs Adolf Loos, em 1908, no livro “Ornamento e Crime”, onde a honestidade da forma é a meta da criação. Assim, dá-se ênfase à forma (Gestalt) e formação da forma (Gestaltung); Ocorre uma supremacia da arquitetura sobre o design. A cidade era considerada como um sistema de comunicação intersubjetiva, onde tudo está em função dos espaços habitáveis, assim também os objetos. Tudo estava centrado na arquitetura como método de construção do maior ao menor dos objetos. Para viver civilizadamente deveria haver uma racionalidade das grandes às pequenas coisas.


A Bauhaus estabeleceu uma interligação com todo tipo de arte, até as consideradas “inferiores”, como cerâmica, tecelagem e marcenaria e preconizava o uso de desenhos autênticos e texturas inovadoras. O uso de novos materiais pré-fabricados e móveis em aço, sempre funcionais foi uma marca da Bauhaus, que marcava seus projetos com simplificação de volumes, geometrização das formas e predomínio de linhas retas. As paredes deveriam ser lisas, geralmente brancas, abolindo a decoração, que era vista como burguesa. Utilizavam-se ainda cores neutras como bege, cinza e preto na composição de ambientes. As coberturas deveriam ser planas, transformadas em terraços quando possível. Coberturas e fachadas possuíam linhas horizontais, sendo frequente fachadas em vidro. As janelas eram amplas, em fita muitas vezes e havia uma tendência a abolir paredes internas.


Seguindo a arquitetura, os objetos deveriam possuir uma qualidade de material e funcionalidade associada a harmonia em sua forma. A inovação dos objetos aliando vanguardas artísticas não era uma novidade, mas a Bauhaus levou ao ponto de elaborar objetos como obras artísticas que seriam reproduzidas por serem elementos de educação estética da sociedade. Tudo era analisado, observado e desenhado, podendo ser transformado em projeto. A Bauhaus, com todas estas inovações na arquitetura e design, bem como no ensino de novos arquitetos, fundou a “Era Funcionalista”, propondo durante 14 anos uma nova cultura ao homem e seu ambiente e partilhava com a República Alemã um desejo de renovação. Antes do fechamento da Escola por Adolf Hitler em 1933 a Escola passou por diferentes diretores e três fases que foram marcadas por diferentes características e propostas.
A primeira fase da Bauhaus ocorreu de 1919 a 1923, logo após sua criação, na época de Weimar. Nesta época, seu pai espiritual Gropius escreve em seu manifesto de fundação, estabelecendo que a meta de toda atividade plástica é a construção e a decoração e estas são as tarefas mais nobres das artes. A arte deveria, assim, integrar-se à arquitetura. A produção artesanal foi vangloriada e a Escola foi um catalisador de atitudes inteiramente novas em relação à existência. Repudiava-se o espírito acadêmico e, já na sua criação, a Bauhaus valorizava um método pedagógico não convencional. Durante esta fase a evidência da importância arte foi marcada e nomes ilustres da arte foram professores da Escola na época como Wassily Kandisnky e Paul Klee.

A segunda fase da Bauhaus ocorreu de 1923 a 1928 e, em 1926, a escola se estabelece em Dessau. A escola leva ao apogeu a valorização das necessidades humanas e estabelece o funcionalismo, a estética “clean” e funcional. A escola foi coordenada por Hannes Meyer (1889-1954) que, apesar de arquiteto, valorizou o conforto e evidenciou o design industrial na Bauhaus. O construtivismo do húngaro Lazlo Maholy-Nagy também dominou a Escola nesta fase, contribuindo para que arte e tecnologia convivessem harmonicamente sem traumas. O artesanato se prestava a fazer modelos para fabricação industrial. A pesquisa deveria ser rentável e as oficinas de ferro e vidro tornam-se ateliers de produção. Em 1927 Hennes Meyer funda sua Escola de Arquitetura, que foi dirigida por ele mesmo até 1930.
A terceira fase da Bauhaus ocorreu de 1928 a 1933 e foi marcada por modificações que Meyer fez no currículo da Escola, acrescentando aulas de psicologia, economia, sociologia, biologia e marxismo. Com isso, foi fechada a oficina de teatro e foram reorganizadas todas as outras oficinas da Escola. As antigas características da Escola desapareceram e esta passou a ser mais científica e politizada, pois as oficinas eram usadas como foco de atividades políticas de estudantes marxistas, fazendo, assim com que a Escola sofresse pressões do governo e da cidade onde estava situada. Muitos artistas importantes deixaram a Bauhaus nesta época dentre eles Schlemmer, Klee, Mohogy-Nagy. Meyer acabou deixando a Bauhaus em 1930 por pressões políticas, deixando a Escola aos cuidados de Mies van der Rohe (1886-1969). Assim, se segue uma fase marcada pela tentativa do arquiteto Mies de salvar a Bauhaus do extremismo marxista de Hannes Meyer, ou recuperar seu projeto inicial, conciliando forma, função e espiritualidade, através de uma rigorosa preocupação com a arquitetura. Mies foi o criador da frase “menos é mais” e foi o último diretor da Escola, famoso por usar muito vidro e aço em seus arranha-céus. Neste período todos os gêneros artísticos e de artesanato foram deixados em segundo plano, não caracterizando mais a antiga Escola que unificava todas as artes. A Bauhaus era, nesta época, era uma escola superior de arquitetura e design. Em 1932 a Bauhaus foi obrigada a mudar para Berlim, por motivos políticos novamente, continuando seus trabalhos em uma condição adversa.

Em 1933 a Escola sofria graves pressões do governo e acabou sendo fechada por Hitler, porem no decorrer das décadas seguintes, a Escola tornou-se o aspecto central da atividade configurativa, tornando-se uma “Escola da Vida” devido a sua filosofia construtiva em comum, que era pregada em seus métodos. Esta identidade comum e vida comunitária integral fizeram que o fervor missionário da Escola se espalhasse pelo mundo rapidamente em seu tempo. A Bauhaus marcou o modernismo na arquitetura e no design e seus próprios métodos de ensino deveriam estar relacionados às propostas de mudanças nas artes e no design propostas pela Escola. A Bauhaus de Weimar é uma das melhores Universidades da Alemanha atualmente, ensinando arquitetura e diversos ramos de arte, como design, música, dentre outros. Vemos cerca de cem anos depois da fundação da Bauhaus, sua filosofia de criação e tendências nas linhas funcionais e limpas dos produtos da Apple desde o primeiro logo do MacOS até a mais recente linha de produtos de alta tecnologia da empresa. Vemos marcas da Bauhaus em cidades planejadas como Brasília e em outras obras de muitos arquitetos ilustres como o brasileiro Oscar Niemeyer. A Bauhaus ainda está nas mobílias de Florence Knoll, que acrescentou um toque americano ao design da Bauhaus e produziu as maiores e mais respeitadas mobílias que já existiram. A Cidade Branca de Tel Aviv também e uma marca da Bauhaus no mundo e seguem muitas outras, impossíveis de serem enumeradas.
A Bauhaus nasceu, mudou muito, foi fechada, reabriu e continua ditando tendências e propondo um design que não envelheceu. Propôs mudanças em conceitos sociais através da arquitetura, arte e funcionalismo de suas obras, que motivaram um século a pensar sobre o conceito de comunidade e espaço. Terminando esta viagem pela inovação e ousadia, ficamos com as duas principais metas da Bauhaus, ícones de uma era:
“Por um lado deveria atingir, pela integração de todas as artes e manufaturas debaixo do primado da arquitetura, uma nova síntese estética. Por outro deveria atingir, pela execução de produção estética, as necessidades das camadas mais amplas da população, obtendo uma síntese social” (BÜRDEK, 2010, p33)
Marina Baitello

Fonte: http://lounge.obviousmag.org/resumindo_e_substituindo_o_mundo/2014/08/bauhaus---um-seculo-de-explosao-meteorica-do-design-1.html




























Imagens: do site

terça-feira, 15 de maio de 2018

Conjunto Histórico de Pelotas (RS) agora é Patrimônio Cultural do Brasil

O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural decidiu, por unanimidade, pelo tombamento do Conjunto Histórico de Pelotas (RS). A reunião ocorreu na manhã desta terça-feira (15), na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília. A partir de agora, as praças, José Bonifácio, Coronel Pedro Osório, Piratinino de Almeida, Cipriano Barcelos e o Parque Dom Antônio Zattera, conjuntamente com a Charqueada São João e a Chácara da Baronesa são reconhecidas como Patrimônio Cultural Brasileiro.

O Conjunto Histórico de Pelotas
Quatro praças, um parque, a Chácara da Baronesa e a Charqueada São João integram o Conjunto Histórico de Pelotas e têm significativo valor histórico, artístico e paisagístico. É essa riqueza cultural que se deseja preservar. Dessa forma, caso aprovado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, o Conjunto Histórico de Pelotas pode ser inscrito em três Livros do Tombo: Livro do Tombo Histórico, Livro do Tombo de Belas Artes e Livro do Tombo Arqueológico, etnográfico e paisagístico.

Uma característica particular do Conjunto Histórico de Pelotas é que, considerando o sistema municipal de patrimônio cultural estabelecido pelo Plano Diretor de Pelotas, será desnecessária a delimitação de poligonal de entorno, uma vez que o bem protegido pelo Iphan está totalmente inserido nas Zonas de Preservação do Patrimônio Cultural, que após análise verificou-se assegurar a preservação da vizinhança e ambiência da coisa tombada, nos termos do Decreto-Lei 25/1937.

Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
Conselho que avalia os processos de tombamento e registro é formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, antropologia, arquitetura e urbanismo, sociologia, história e arqueologia. Ao todo, são 22 conselheiros, que representam o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), o Ministério da Educação, o Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), o Ministério do Meio Ambiente, Ministérios das Cidades, e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan. A 88ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural traz a nova formação de conselheiros.

Mais informações para a imprensa
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Crédito das Imagens: do site Iphan

terça-feira, 8 de maio de 2018

Fóssil de réptil que viveu há mais de 230 milhões de anos é descoberto no Rio Grande do Sul



Pesquisadores acreditam que a nova espécie, denominada como 'Pagosvenator candelariensis', tenha sido encontrada em Candelária. Conforme o estudo, animal faria parte da linhagem que deu origem aos crocodilos.

Um grupo de pesquisadores do Rio Grande do Sul descobriu uma nova espécie de réptil fóssil pré-histórico, que viveu há aproximadamente 237 milhões de anos. O estudo foi feito por paleontologistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), e um artigo foi publicado no periódico britânico Zoological Journal of the Linnean Society, em abril deste ano.
A nova espécie foi denominada como "Pagosvenator candelariensis", e teria sido encontrada no município de Candelária, no Vale do Rio Pardo, distante cerca de 190 km de Porto Alegre. Como o fóssil foi doado anonimamente para o Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues, em Candelária, não é possível saber com exatidão o local em que foi encontrado. Porém, os pesquisadores dizem que a análise dos elementos químicos presentes no objeto, as características da espécie e o período de sua formação indicam que é bastante provável que o fóssil estivesse na região.
"Cada fóssil tem como se tivesse uma impressão digital, falando metaforicamente, que identifica a localidade a partir da rocha de onde ele veio. Se você conseguir analisar isso, consegue estabelecer uma conexão, para identificar o local. Nós analisamos a taxa de terras raras encontrada e é possível identificar de onde veio", relata o líder da pesquisa, Marcel Lacerda, ao G1.
O fóssil entregue aos pesquisadores tinha crânio e uma mandíbula quase completos, o que é considerado bastante raro. Algumas vértebras do pescoço e placas ósseas também chegaram ao grupo de pesquisa, que diz ser similar aos dos crocodilos atuais. Para realizar o estudo, foram utilizadas técnicas de tomografia computadorizada, a partir das quais os cientistas tiveram acesso a diversas informações sobre a anatomia do animal sem danificar o material.
Lacerda conduziu o trabalho durante seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Geociências da UFRGS, e conta que Pasgosvenator era um animal de médio porte, com até três metros de comprimento, e, com base na comparação com outras espécies semelhantes já conhecidas, existe forte evidência de que seria um quadrúpede. Os dentes longos e recurvados indicam que o animal apresentava uma dieta carnívora, possivelmente baseada em pequenos e médios animais.
O professor de Paleontologia da Univasf Marco França, coautor do estudo, explica que o Pagosvenator pertence ao grande grupo dos arcossauros, que apresenta duas linhagens evolutivas: uma formada pelos ancestrais dos crocodilianos modernos e outra que inclui aves e dinossauros.
"A nova espécie descrita não tem relação com as aves e os dinossauros, ela está na linhagem que deu origem aos crocodilos, embora ainda seja muito distante destes. Mais especificamente, o grupo em que o Pagosvenator se insere é denominado de Erpetosuchidae, sobre o qual, apesar de ser conhecido e estudado há muito tempo (desde o século XIX), não se possui muitas informações sobre a anatomia e as relações de parentesco entre seus componentes, já que é representado apenas por espécimes incompletos", explica França.
Fósseis desse grupo foram encontrados na Europa, nos Estados Unidos, no leste da África e na Argentina. O fóssil que está no Rio Grande do Sul é a primeira ocorrência desse grupo no Brasil.
O nome da nova espécie foi dado em homenagem a Candelária, considerado um município importante para a paleontologia. Pagosvenator candelariensis significa "o caçador da região de Candelária". Pagos é um jargão gaúcho usado para se referir ao lugar de onde veio o material, derivado do latim pagus, que significa aldeia, região, província; e venator é um termo em latim que significa caçador.

Espécie vivia no Período Triássico

De acordo com o estudo, essa espécie vivia no Período Triássico – que durou entre 251 até 201 milhões de anos. Esse é o primeiro período da Era Mesozoica, considerado um importante momento na história da vida dos animais terrestres, por ser o intervalo temporal no qual surgiram os primeiros dinossauros, além dos ancestrais dos lagartos, dos crocodilos e dos mamíferos atuais.
"Este trabalho é importante porque soma aos outros trabalhos na área que buscam compreender como era a região há 230 milhões de anos", afirma o professor do Departamento de Paleontologia e Estratigrafia da UFRGS Cesar Schultz, que também participou da pesquisa.
"Graças a estes estudos, hoje sabemos que os predadores desta época eram bem diversos. Vários deles, como Pagosvenator candelariensis, eram maiores que os dinossauros nessa época", complementa França.
Para o líder da pesquisa, a descoberta amplia o conhecimento das espécies fósseis do Rio Grande do Sul e aumenta a compreensão dos processos evolutivos que levaram à diversidade de registros fósseis do estado.
"Toda informação nova é útil para conseguirmos entender como eram o ambiente e a fauna daquela época. São informações que ajudam a contar a história da diversidade da vida daquele período", enfatiza o pesquisador.
O trabalho foi realizado com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe).

Fonte: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/fossil-de-reptil-que-viveu-ha-mais-de-230-milhoes-de-anos-e-descoberto-no-rio-grande-do-sul.ghtml















Como seria o Pagosvenator candelariensis no seu habitat da época (Foto: Ilustração Renata Cunha/UFRGS/Divulgação)

Acima, foto do crânio do fóssil. Abaixo, imagem de tomografia computadorizada (Foto: UFRGS/Divulgação)
























Acima, foto do crânio do fóssil. Abaixo, imagem de tomografia computadorizada (Foto: UFRGS/Divulgação)

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Missões Jesuíticas Guaranis - no Brasil, ruínas de São Miguel das Missões (RS)

As Missões Jesuíticas Guaranis, como um sistema de bens culturais transfronteiriços envolvendo o Brasil e a Argentina, compõem-se de um conjunto de cinco sítios arqueológicos remanescentes dos povoados implantados em território originalmente ocupado por indígenas, durante o processo de evangelização promovido pela Companhia de Jesus nas colônias da coroa espanhola na América, durante os séculos XVII e XVIII. Inscritos na Lista do Patrimônio Mundial, em dezembro de 1983, esses remanescentes representam importante testemunho da ocupação do território e das relações culturais que se estabeleceram entre os povos nativos, na maioria do grupo étnico Guarani, e missionários jesuítas europeus. No Brasil, estão localizadas as ruínas do sítio arqueológico de São Miguel Arcanjo, mais conhecido como ruínas de São Miguel das Missões.
Esses bens também expressam em parte a experiência da Companhia de Jesus no território americano, produzida na chamada Província Jesuítica do Paraguai, que compreendia um sistema de relações espaciais, econômicas, sociais e culturais singulares, conformada à época por 30 povoados, chamados de reduções. Esse complexo incluía ainda estâncias, ervais, redes de caminhos e vias fluviais estendidas pela bacia do Rio Uruguai e de seus afluentes. A experiência, produzida durante os séculos XVII e XVIII, abrangia uma extensa área da América Meridional, correspondente, nos dias atuais, a regiões do Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil.
Os elementos integrantes do conjunto declarado não se encontram ameaçados, sendo preservados pela atuação direta da ação governamental principalmente, tanto na Argentina como no Brasil. No caso brasileiro, os vestígios materiais existentes do sítio - corpo principal da igreja, campanário e sacristia, partes das construções conventuais, fundações e bases das habitações indígenas, praça, horto, canalizações pluviais, objetos sacros - permitem expressar este singular modelo de ocupação territorial permeado pela interação e troca cultural entre os povos nativos e os missionários europeus.
No sítio de São Miguel Arcanjo, a legibilidade e o entendimento da configuração espacial do sítio, capaz de expressar o cotidiano da redução, podem ser atestados por documentos que descrevem sua implantação e organização. A sua autenticidade física está mantida pelos materiais e técnicas construtivas originais. As intervenções ocorridas ao longo dos anos datadas desde a época de funcionamento da redução foram executadas para manter a estabilidade estrutural do bem. Tais intervenções estão identificadas e mapeadas.
Em 1938, esses remanescentes foram tombados como patrimônio nacional. Dois anos depois, foi criado o Museu das Missões, destinado ao recolhimento e à guarda da estatuária da Igreja de São Miguel. Em 1983, juntamente com as Missões localizadas em território argentino de San Ignacio Mini, Santa Ana, Nuestra Señora de Loreto e Santa María La Mayor, São Miguel das Missões foi declarada Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco. Esses locais são considerados, atualmente, monumentos históricos com finalidade cultural e turística expressiva, e altamente significativos para o desenvolvimento local das comunidades envolvidas. Como exceção, esses sítios são usados para eventos religiosos ou recreativos.

Fonte: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/39


























































































Crédito das Imagens: do site

terça-feira, 1 de maio de 2018

De luxo modernista à ocupação precária: a história de mais de meio século do prédio que desabou em São Paulo

Projetado na década de 1960, edifício tinha como marca a fachada envidraçada, que lhe rendeu o apelido de "pele de vidro" 

A torre que pegou fogo e desabou na madrugada desta terça, 1º, no Largo do Paissandu, em São Paulo, era um dos marcos arquitetônicos da cidade e tombada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp). Com 24 andares, além de dois pisos de sobrelojas comerciais, e 11 mil m² de área construída, o Edifício Wilton Paes de Almeida, na rua Antonio de Godoi, foi projetado na década de 1960 para abrigar a sede da empresa Cia. Comercial Vidros do Brasil (CVB).

O prédio era considerado a maior obra do arquiteto Roger Zmekhol (1928-1976). Filho de imigrantes sírios, Zmerkhol, nasceu em Paris e veio para o Brasil ainda criança. Ele era professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo.

Sua característica marcante era a enorme fachada envidraçada, que lhe rendeu o apelido de "pele de vidro". Um artigo de 1965 da extinta revista de arquitetura Acrópole ressaltava outras características do prédio, como o primeiro da cidade a ter sistema de ar-condicionado central e seu hall de mármore e aço inoxidável.

Para o arquiteto Francesco Perrota-Bosch, o desabamento do Wilton Paes de Almeida também é uma "tragédia arquitetônica".

– Ele era um ponto fora da curva na arquitetura, era um prédio de vanguarda. Era um projeto com muita influência do minimalismo do Mies van der Rohe (arquiteto alemão) em sua fase americana. Mas a principal referência era o edifício Lever House, de Nova York, do escritório SOM (Skidmore, Owings e Merrill) – diz ele à BBC. A fachada de vidro dele marcou uma época, precisou ser importada porque não era feita no Brasil. 

Era justamente essa fachada de vidro que fazia a ocupação do edifício por pessoas sem moradia ser diferente das outras pela cidade, segundo o arquiteto Gustavo Cedroni, do escritório Metro, que fez um projeto de intervenção urbana no Largo do Paissandu, em 2014.

– Normalmente, os prédios ocupados têm janelas pequenas e são fechados, você não vê o que acontece. Ali, não. Justamente por ser envidraçado, era possível ver a ocupação lá dentro. Era um prédio icônico, numa esquina importante do centro da cidade – diz ele à BBC Brasil.

A arquiteta Nadia Somekh, professora emérita da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie e integrante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, afirma que o desabamento do Wilton Paes de Almeida é uma "perda enorme" para o patrimônio histórico de São Paulo. 

– Fora a tragédia como um todo, o prédio era um marco da arquitetura modernista de São Paulo – diz ela. É preciso pensar em uma política habitacional mais consistente para a cidade e que preserve o nosso patrimônio histórico. É simbólico que este edifício venha abaixo justo no 1º de maio, com essa desvalorização do trabalho no país.

Uma reportagem da Folha de S. Paulo de janeiro de 2017 dizia que o Edifício Wilton Paes de Almeida foi a leilão em 2015, no valor de R$ 21,5 milhões, mas não houve interessados. 

O local abrigou durante 23 anos a sede da Polícia Federal em São Paulo e, até 2009, uma agência do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Ainda de acordo com a Folha, em 2012, a Secretaria de Patrimônio da União cedeu o prédio para a Unifesp, que instalaria ali o Instituto de Ciências Jurídicas. Mas o projeto não vingou, assim como outro que pretendia transformar o local em um polo cultural em parceria com o Sesc (Serviço Social do Comércio). 

Igreja luterana destruída

Ao lado do edifício funcionava uma centenária igreja luterana, a Martin Luther, que também era tombada. O pastor Frederico Ludwig, 61, há 20 anos à frente da igreja fundada por imigrantes alemães, diz que ela ficou 80% destruída. 

– Sobrou praticamente só o altar e a torre – afirma ele à BBC Brasil.

Ludwig conta que a igreja havia sido reformada recentemente, em obra com custo total de R$ 1,3 milhão.

– O prédio estava inclinado havia pelo menos 20 anos, quase um metro pra frente. A gente chamou as autoridades várias vezes e não deu em nada. Agora estamos assim, vamos recolher os escombros. As pessoas da ocupação eram pessoas boas - claro que tem um ou outro que não, mas a maioria era. Nós fazemos trabalho com pessoas em situação de rua e eles vinham à igreja – diz o pastor. Não questionamos a invasão, mas as condições em que as pessoas viviam. Tinha esgoto a céu aberto e no verão era enxame de mosquito. 

Do glamour à degradação

Em 2015, o repórter da BBC Brasil Felipe Souza esteve no Wilton Paes de Almeida para fazer uma reportagem para a Folha de S. Paulo. Em seu relato, ficam registrados recados na parede, um entra e sai constante de pessoas e, apesar de um segurança na porta, nenhuma dificuldade para entrar e circular pelo edifício:

– Na época, subi os 24 andares do prédio sem ser identificado, como se tivesse interessado em morar no local.

Ele conta que o cartaz mais evidente na entrada listava uma série de regras de convivência, como a proibição do uso de bebidas alcoólicas e drogas dentro do prédio. Naquele ano, cada morador pagava entre R$ 150 a R$ 200 por mês para morar na ocupação. Os líderes do movimento diziam que a taxa servia para fazer a manutenção e limpeza do prédio. Os valores mais recentes ficavam em torno de R$ 400.

– Apesar da taxa, todos os andares eram ocupados por lixo produzido pelos moradores e entulho deixado durante a desocupação da Previdência. Era possível encontrar roupas, preservativos, seringas, embalagens plásticas e muitos móveis amontoados pelos andares. Havia vazamentos nas tubulações de água e as paredes e janelas tinham pichações – recorda.

Cada piso era habitado por mais de dez famílias e tinha uma rotatividade muito alta, segundo o repórter. 

– As pessoas não pagam ou fazem muita bagunça e a gente pede para que elas saiam – disse a ele uma das administradoras do local naquele ano.

– Ainda assim, a maior parte dos banheiros estava alagada e com as paredes completamente mofadas. Ratos, baratas e aranhas eram vistos com frequência. A fiação, assim como em todo o prédio era exposta devido às ligações clandestinas feitas pelos moradores – conta Souza. 

Segundo os moradores contaram ao jornalista, a energia era desviada de semáforos da região. Havia tantos moradores que alguns aproveitavam para oferecer serviços, como cabeleireiros, manicure e venda de geladinho.

Entre os moradores, também havia taxistas, vendedores, garotas de programa e motoboys. Ao serem questionados, eles contavam diferentes motivos para morar na ocupação, como a proximidade com o trabalho e alternativa a morar nas ruas. Mas era unânime o relato de que nenhum deles tinha condições de pagar um aluguel.

Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2018/05/de-luxo-modernista-a-ocupacao-precaria-a-historia-de-mais-de-meio-seculo-do-predio-que-desabou-em-sao-paulo-cjgo3bexk01kp01palv3e5fu4.html








Edificação foi construída para ser sede da Cia. Comercial Vidros do Brasil
Reprodução / Google Maps
Atingida pelo desabamento, igreja luterana construída por imigrantes alemães era tombada
Nelson ALMEIDA / AFP
O pastor Frederico Ludwig conta que a igreja luterana Martin Luther, também foi destruída pelo incêndio