domingo, 15 de setembro de 2024

Em Mostardas, árvore sob a qual Anita Garibaldi teria dado à luz seu primeiro filho sobrevive aos séculos

Localizada às margens da RSC-101, no litoral médio do Rio Grande do Sul, figueira é visitada por turistas e moradores do município, que se orgulham da história

Camila Bengo

Em meio à pressa de quem pega a RSC-101 rumo ao Sul do Estado, pode não haver tempo para as histórias. São necessárias mais de três horas para ir de Capivari do Sul a São José do Norte, onde uma balsa leva os viajantes até o porto de Rio Grande, principal destino da rodovia. Apesar da pressa de quem a percorre, a faixa de terra cercada pela Lagoa dos Patos e o Oceano Atlântico abriga histórias que sobreviveram ao tempo.

O percurso é atravessado por quilombos seculares, tradições açorianas que remetem aos primeiros imigrantes do Estado e rastros de episódios que marcaram a Guerra dos Farrapos, entre 1835 e 1845. Em um trecho do distrito de São Simão, em Mostardas, uma porteira na altura do quilômetro 238 da RSC-101 guarda as memórias do primeiro abrir de olhos de Domenico Menotti Garibaldi, primogênito de Giuseppe e Anita Garibaldi, que teria nascido ali em 16 de setembro de 1840, durante o confronto, aos pés de uma figueira ainda preservada. Território de uma história pouco conhecida, o local fica aberto para visitação de quem passa pela rodovia.

A árvore está localizada na propriedade da família Costa, que acolheu Anita nos dias finais da gravidez de Menotti. Em vias de dar à luz, ela já não tinha condições de seguir as tropas farroupilhas que rumavam a São José do Norte na intenção de conquistar o porto da cidade, então tomada pelas forças do Império. Foi ali, no rancho simples dos Costa, que a farrapa encontrou segurança, ainda que em meio à guerra, para trazer ao mundo o primeiro dos quatro filhos que teve com Giuseppe Garibaldi.

— Acolher a Anita foi um ato de coragem da família Costa — avalia Elma Sant'Ana, geógrafa que se dedica a pesquisar os Garibaldi há mais de três décadas. — Naquela época, o distrito de São Simão pertencia a São José do Norte (Mostardas virou município em 1963). Embora toda a região do Litoral Médio fosse simpatizante da causa farroupilha, a cidade era comandada pelo Império. Então, a partir do momento em que eles dão abrigo para Anita Garibaldi, eles se colocam em risco.

As consequências, de fato, vieram. Nove dias após o nascimento de Menotti, o rancho dos Costa foi cercado pelas tropas imperiais. Para escapar do ataque, ela teria se embretado nas matas da região com o filho nos braços, a cavalo, em cena que originou a famosa pintura Fuga de Anita Garibaldi a Cavalo, de Dakir Parreiras.

Há indícios de que a heroína tenha passado três dias escondida na mata com Menotti, conforme explica o historiador Adilcio Cadorin, fundador do Instituto Cultural Anita Garibaldi:

— Esse episódio demonstra a grande mãe que ela foi. Uma mulher determinada, que nunca abdicou dos seus ideais, mas também nunca abdicou da maternidade. Ela fica três dias na mata se alimentando de plantas e raízes para proteger o filho recém-nascido, até que é resgatada pelo Giuseppe.

Acredita-se que o líder farroupilha tenha chegado ao rancho dos Costa somente 12 dias após o nascimento de Menotti. Isso porque, antes do parto, ele rumou a Viamão no intuito de buscar roupas para o bebê que estava por vir. Foi nesse meio tempo que Anita deu à luz e o cerco ao rancho aconteceu, conforme narra Cadorin. Quando o casal finalmente se reencontrou, partiu atrás das tropas farrapas e não mais voltou ao distrito de São Simão, mas não esqueceu a solidariedade encontrada ali.

Uma carta enviada à família Costa em 1841, com a assinatura de Anita, documenta a gratidão da heroína. Naquele mesmo ano, Giuseppe abandonou o exército farroupilha e seguiu com ela para o Uruguai. Depois, Anita rumou à Itália, onde Menotti cresceu, construiu carreira como militar e político e morreu em 1903. O primogênito dos Garibaldi nunca voltou a pisar na terra onde nasceu, mas deixou rastros que ainda marcam a região.

Orgulho

O contexto do nascimento de Menotti Garibaldi é motivo de orgulho para Antonio Dias Chaves, 71 anos, descendente da família Costa. O agricultor ainda vive na propriedade onde Anita se exilou e se lembra de, na infância, ouvir a história familiar da guerrilheira farrapa que deu à luz naquelas terras.

— No colégio, não falavam nada disso, mas meu avô, meu pai e meus tios sempre falaram dessa guerrilheira que teve o filho na sombra da figueira dos Costa. Depois é que fui entender que a guerrilheira era a Anita Garibaldi — conta o descendente. — Foi uma boa ação que eles tiveram, né? Eu fico orgulhoso.

Apesar de a história atravessar gerações dentro da família Costa, não há registro documental de que Anita tenha dado à luz especificamente sob a figueira. O que se sabe é que o parto de Menotti Garibaldi ocorreu naquela cercania, mas pode ter sido realizado, por exemplo, dentro de um galpão que ficava localizado junto à árvore.

Marisa Guedes, historiadora responsável pela Casa de Cultura de Mostardas, explica que a história de Anita Garibaldi é construída a partir de diferentes narrativas:

— Há a versão que pode ser comprovada pelos registros históricos; a versão que se espalha através da história oral, daquilo que os antigos contavam; e o que foi inventado, fruto de uma tentativa de romantizar a Guerra dos Farrapos e o militarismo.

O detalhe sobre a localização exata do nascimento de Menotti Garibaldi circula entre esses diferentes territórios narrativos. Prevalece, então, a história oral que se perpetuou através da família Costa — de que a guerrilheira farrapa Anita Garibaldi deu à luz aos pés da figueira. A versão é cultuada pela população de Mostardas e carimbada pela prefeitura, que transformou a árvore em ponto turístico da cidade.

Uma placa sinalizando a importância histórica da figueira foi instalada pela administração do município em 1996, sobre uma pedra colocada na raiz do tronco. O local ficou conhecido na cidade como Pedra de Anita e passou a ser visitado por turistas e mostardenses como a servidora pública Luiza da Costa Lemos, a dona Luizinha, moradora de Mostardas que costuma visitar a árvore sempre que possível. Aos 70 anos, ela integra o chamado Grupo das Anitas, que reúne mulheres que se identificam com a história de Anita Garibaldi.

— Ela ter tido o filho dela aqui é um orgulho para a nossa cidade. Eu me sinto muito honrada de saber que nós fizemos parte dessa história, que Anita, Giuseppe e Menotti passaram pelos campos de Mostardas — afirma Luizinha. — Para mim, a Anita representa as mulheres e a nossa luta por igualdade. Eu gosto muito de vir aqui (na árvore) porque é um lugar bonito e de uma energia muito forte. A gente se sente bem de estar aqui.

Andar pelo local é, de fato, uma experiência sui generis. Placas guiam o caminho da porteira da propriedade até a figueira. Chegando lá, vê-se uma árvore de mais de cinco metros de altura cercada por outras vegetações que, juntas, formam uma espécie de bosque, limitando a entrada da luz solar e criando uma ambiência capaz de envolver totalmente quem ali chega. A figueira é tão imponente que faz com que o visitante se sinta pequeno, enquanto o canto dos pássaros que sobrevoam o local abafa qualquer eventual distração.

É impossível estar ali e pensar em outra coisa que não a história testemunhada por aquele pedaço da propriedade dos Costa. Quantas provações Anita Garibaldi não teria passado ali? Como teria sido seu parto? Será que alguém lhe segurava a mão nos momentos de dor? Será que Menotti, o bebê farrapo, choramingou ao abrir os olhos pela primeira vez? Ou teria precisado de uma palmada para induzir o choro? Tantas inquietações surgem que somente depois, já tendo deixado o local, percebe-se a roupa tomada por pega-pegas e as picadas de mosquito pelo corpo.

A natureza deixa suas marcas, mas o ambiente é agradável. Quando a reportagem visitou a figueira, dançarinos do Grupo de Artes Nativas Anita Garibaldi, de Encantado, também excursionavam por ali. Valéria Maria Bertamoni Belotti, patroa da entidade, arrependeu-se de não ter levado cadeiras e chimarrão para confraternizar. Sentiu-se à vontade no local.

— A gente fica imaginando quantas vivências esse lugar abrigou. Dá uma emoção e uma vontade louca de ficar mais tempo aqui, de passar horas embaixo dessa árvore — diz Valéria. — Para um grupo como o nosso, que carrega o nome de Anita Garibaldi há 30 anos, é muito significativo e muito forte pisar nesse local. É surpreendente como ver uma expressão concreta da história que a gente conhece pelos livros.

A intenção do município de Mostardas é deixar cada vez mais pessoas surpresas. A cidade guarda riquezas culturais ímpares e trabalha para mostrar ao restante do Estado os seus atrativos, que vão muito além da história em torno do nascimento de Menotti Garibaldi. Mas este é um excelente ponto de partida. Após a visita à figueira, vale estender o percurso até a Casa de Cultura do município, aberta de segunda a sábado, das 9h às 17h, e descobrir os demais tesouros escondidos na cidade de 12 mil habitantes.

 

















Em Mostardas, árvore onde se acredita que Anita Garibaldi deu à luz seu primeiro filho segue preservada. Camila Hermes / Agencia RBS


























A árvore está localizada na propriedade da família Costa, que acolheu Anita nos dias finais da gravidez de Menotti. Camila Hermes / Agencia RB


















Uma placa sinalizando a importância histórica da figueira foi instalada pela administração do município em 1996. Camila Hermes / Agencia RBS



















Certidão de nascimento de Menotti Garibaldi foi feita pelo município de Mostardas.
Camila Hermes / Agencia RBS

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

FAZENDA DA ATAFONA/TAFONA


A Fazenda São José, no município de Cachoeira do Sul, é também denominada Fazenda da Atafona (ou Tafona), nome que remete ao engenho de farinha de mandioca localizado ao lado da casa principal, mantido com todos os equipamentos usados no beneficiamento do produto.

A fazenda é remanescente de antiga sesmaria, e a construção da sede, segundo pesquisa dos herdeiros atuais, data do século XIX (aproximadamente 1813). A propriedade era usada para a criação de gado e para atividades agrícolas, incluindo a produção de farinha de mandioca. A atafona, onde era produzida a farinha, consistia em um grande espaço coberto, com um conjunto de instrumentos artesanais movidos por tração animal.

A Fazenda da Tafona possui valores históricos e arquitetônicos que revestem o exemplar de autenticidade e originalidade. O tombamento estadual inclui a volumetria original da edificação, a modenatura das fachadas, os vãos e esquadrias originais, internas e externas, demais detalhes construtivos da edificação e todo o mecanismo original da atafona.

O valor arquitetônico do bem está nas suas técnicas construtivas de origem luso-brasileira, e o conjunto de bens móveis agregados ao edifício complementa a narrativa iconográfica da época. O mobiliário autêntico e o mecanismo completo da atafona, com suas peças artesanais em madeira, mantidas no local da produção, reforçam o valor estético do local, dando sentido à narrativa arquitetônica.

A edificação tombada possui planta em U, formando pátio interno. Uma das alas é a casa principal, a segunda funciona como cozinha e churrasqueira, sendo ligada ao terceiro volume, que constitui a atafona. As paredes são de alvenaria, forros e pisos de madeira. As portas têm bandeiras envidraçadas e as janelas são de duas folhas ou guilhotina, com postigos internos. A cobertura é de telhas de barro tipo capa-e-canal, galbada e com estrutura em madeira. A atafona tem piso em chão batido e estrutura da cobertura aparente, sem forro.

Recentemente, alguns ciclistas de Cachoeira do Sul e cidades da região refizeram o trajeto dos primeiros ciclistas que visitaram a fazenda. No local, os cicloturistas conheceram a história e estrutura da fazenda, sendo acolhidos com água saborizada, café e chá, pastel, torrada e bolos. Finalizando a vivência na Fazenda Tafona, houve um brinde com licor, homenageando os primeiros ciclistas que lá estiveram em passeio no ano de 1900, conforme registrado no blog https://historiadecachoeiradosul.blogspot.com/2015/03/excursao-de-ciclistas.html, de responsabilidade da pesquisadora Mirian Ritzel.

O autor deste blog também participou do passeio. Algumas das fotos são de sua autoria, e outras dos demais ciclistas que participaram do evento.

Link para conhecer a história da Fazenda nas Redes Sociais:



Fonte da Pesquisa sobre a Fazenda: Fontes: processo de tombamento estadual e arquivos IPHAE.































terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

João Cândido: enredo do Paraíso do Tuiuti, 'Almirante Negro' é considerado herói em cidade do RS

Líder da Revolta da Chibata é natural de Encruzilhada do Sul, a 170 km de Porto Alegre. Cidade exibe busto de marinheiro nascido em 1880.

Por Gustavo Chagas, g1 RS

O Paraíso do Tuiuti uniu a Marquês de Sapucaí a um município do Sudeste do Rio Grande do Sul nos desfiles desta terça-feira (13). A escola de samba teve como enredo a história de João Cândido, marinheiro líder da Revolta da Chibata, em 1910, natural de Encruzilhada do Sul, a 170 km de Porto Alegre.

A trajetória do "Almirante Negro", como foi apelidado, é motivo de orgulho no município, de 23 mil habitantes. Em uma das principais avenidas da cidade, há um busto de Cândido.

João Cândido lutou contra as agressões a chibatadas aplicadas contra os marinheiros, que eram, na sua maioria, negros. Para o pesquisador Antônio Bica, autor do livro "João Cândido – O herói negro de Encruzilhada do Sul", o militar foi um exemplo de bravura.

Vida e legado

João Cândido Felisberto nasceu em 1880, filho de ex-escravizados. Ainda na adolescência, ele viveu em Rio Pardo e em Porto Alegre, ingressando em uma escola preparatória para marinheiros. Depois de entrar na Marinha, Cândido foi para o Rio de Janeiro e atuou na instrução de jovens que ingressavam na força.

Respeitado pelos pares, se tornou uma liderança, a ponto de representar os colegas na principal demanda no início do século 20: o fim dos castigos físicos. Mesmo abolida cerca de 10 anos antes, a prática era constante.

"Esse homem viu o sofrimento dos irmãos. Eles botavam a corda e enchiam de agulhas. Pegavam eles, atavam num tronco e davam uma 'tunda'. Já fazia tempo que tinha passado a escravatura e eles permaneciam escravizados", conta Bica.

Na Revolta da Chibata, os marinheiros tomaram navios e apontaram os canhões para o Rio de Janeiro. O governo se comprometeu a acabar com os castigos e a anistiar os revoltosos. No entanto, Cândido foi expulso da Marinha e preso.

O "Almirante Negro" morreu no Rio de Janeiro, em 1969, aos 89 anos. Ele passou o fim de sua vida em São João do Meriti, onde ainda mora o único filho vivo de Cândido, Adalberto do Nascimento Cândido.

O projeto que torna João Cândido um dos Heróis da Pátria ainda tramita no Congresso, sob resistência da Marinha. O nome do marinheiro está inscrito no Livro dos Heróis do Estado do Rio de Janeiro.

O Ministério Público Federal defende que a União faça reparações e compensações à família de João Cândido. Em 2008, no Dia da Consciência Negra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou uma estátua do "Almirante Negro" no Rio de Janeiro.

Enredo

O objetivo do enredo, segundo o carnavalesco Jack Vasconcelos, é reforçar o nome do homenageado como um grande herói do povo brasileiro.

Conterrâneo de Cândido, o pesquisador Antônio Bica concorda.

"O João Cândido deveria ser estudado nos colégios, nas universidades. Esse homem era fora do tempo dele", ressalta.

Confira a letra do samba:

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A Cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

Nas águas da Guanabara
Ainda o azul de Araras
Nascia um herói libertador
O mar com as ondas de prata
Escondia no escuro a chibata
Desde o tempo do cruel contratador
Eram navios de guerra, sem paz
As costas marcadas por tantas marés
O vento soprou à negrura
Castigo e tortura no porão e no convés

Ôôô A Casa Grande não sustenta temporais
Ôôô Veio dos Pampas pra salvar Minas Gerais

Lerê lerê mais um preto lutando pelo irmão
Lerê lerê e dizer nunca mais escravidão

Meu nego... A esquadra foi rendida
E toda gente comovida
Veio ao porto em saudação
Ah! nego... A anistia fez o flerte
Mas o Palácio do Catete
Preferiu a traição

O luto dos tumbeiros
A dor de antigas naus
Um novo cativeiro
Mais uma pá de cal
Glória aos humildes pescadores
Yemanjá com suas flores
E o Cais da luta ancestral

Salve o Almirante Negro
Que faz de um samba enredo
Imortal!

















Busto de João Cândido, o 'Almirante Negro', em Encruzilhada do Sul, cidade natal do marinheiro — Foto: Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Encruzilhada do Sul/Divulgação

























Encouraçado Minas Gerais e o Almirante Negro — Foto: Montagem

























Estátua homenageando João Cândido no Centro do Rio — Foto: João Ricardo Gonçalves/g1

























'Almirante Negro' é o enredo da Tuiuti para 2024 — Foto: Divulgação

Herdeiro cogita restaurar palacete histórico da década de 1920 em parceria com construtora

Imóvel funciona como estacionamento, mas chama atenção pelo aspecto de abandono.

Giane Guerra

O avanço de uma discussão na Justiça pode encaminhar o destino de um palacete da década de 1920 que chama a atenção pelo aspecto de abandono na esquina das ruas Duque de Caxias e General João Manoel, no Centro Histórico. Por muitos anos, o imóvel foi moradia de um núcleo Chaves Barcellos. É a única intacta das quatro suntuosas casas da famosa família de Porto Alegre no mesmo eixo — duas deram lugar a prédios, enquanto uma foi demolida para a construção de um estacionamento, que depois virou uma farmácia. Desde 2004, esta é considerada patrimônio histórico do município e não pode ser destruída.

Além dos carros no estacionamento que fica no terreno dos fundos, há uma moradora no imóvel. A zeladora Maria Martins Machado cuida da casa e dos veículos. A conversa com a coluna era interrompida pelos clientes que estacionam no espaço porque trabalham nos arredores, onde ficam Palácio Piratini, Assembleia Legislativa e Tribunal de Justiça.

— Perguntam se não tem fantasma na casa. O fantasma sou eu — brinca Maria, que vive sozinha no térreo do casarão desde a morte do marido, em 2013. — Quando chegamos, no começo dos anos 2000, o pátio tinha árvores, limoeiros. Era lindo — lembra.

Recentemente, foi encerrada uma disputa judicial de 10 anos para definir quem seria o herdeiro. À coluna, o dono do palacete disse ter vontade de restaurar a casa, mas o custo é alto. Construtoras já entraram em contato, com interesse de reformá-lo em troca de usar o terreno dos fundos para erguer um empreendimento.

— É uma obra caríssima e não é simples. Precisa ter um uso que a financie. Por ora, estamos impedindo deterioração maior — diz o herdeiro, que não quer ser identificado.

Ele está disposto a negociar. Porém, ainda há o inventário de um tio que era dono de 40% de um terreno nos fundos conectado ao palacete. A área vai até a Rua Fernando Machado. Uma empresa contratada teria atestado que a estrutura da edificação está sólida.

Colaborou Guilherme Gonçalves

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

O retorno de um revelador mapa do RS do século 18 que era dado como perdido

Pesquisadores narram descoberta de um tesouro reencontrado após mais de 260 anos que revela divisões do território gaúcho à época do Tratado de Madri e da Guerra Guaranítica

Por Artur H. Franco Barcelos
Professor associado da Furg, autor, entre outros, de “Espaço e Arqueologia nas Missões Jesuíticas” (2000)

Por Junia Ferreira Furtado
Professora sênior da UFMG, autora, entre outros, de “O Mapa que Inventou o Brasil” (2013)

O ano era 1756. Militares espanhóis chegam aos aposentos do padre jesuíta Tadeu Xavier Henis (também citado como Thadeo Enis), na Missão de San Lorenzo. Recolhem seus papéis e o acusam de haver insuflado os indígenas Guarani em sua rebelião contra o Tratado de Limites entre Portugal e Espanha, conhecido como Tratado de Madri. Com o padre, encontraram um diário que estava em latim, escrito com letra pequenina, conforme contam os capitães Don Antonio Catani e Don Joseph Gómez, que se apossaram dele.

O original desapareceu ainda naqueles tumultuados dias de 1756. O que restou foi sua tradução ao espanhol, feita pelo Frei Manuel Londoño a pedido de Don José Joaquin de Viana, governador de Montevidéu. O diário continha um relato detalhado dos acontecimentos principais da revolta dos Guarani, conhecida como Guerra Guaranítica.

O padre Henis acompanhou os deslocamentos dos Guarani quando estes foram ao encontro das tropas portuguesas que haviam fundado um forte nas margens do Rio Pardo, chamado então de Rio Jobi. Vinham daí as suspeitas de sua participação, incitando os indígenas a se rebelarem.

No Tratado de Limites, os Reis de Espanha e Portugal haviam pactuado uma troca de territórios como forma de ajustar as fronteiras entre os dois impérios coloniais. A troca incluía parte das terras que ficavam a Leste do Rio Uruguai, as quais seriam entregues aos espanhóis com a condição de que a Colônia do Santíssimo Sacramento, forte português localizado na margem norte do Rio da Prata, passasse em definitivo aos domínios espanhóis. Para os espanhóis, parecia valer a pena abrir mão de amplas extensões de terras entre o Rio Uruguai e o litoral Atlântico para resolver de vez o problema da presença dos portugueses na Colônia, tão próximos de Buenos Aires. Contudo, o acordo havia sido fechado sem que os jesuítas e os Guarani tivessem sido consultados.

Quando os demarcadores chegaram na região, em 1752, e começaram a marcha por terra para definir a linha da fronteira, foram surpreendidos com a reação dos Guarani das Missões, que os interpelaram no posto da estância de San Miguel chamado Santa Tecla, na atual Bagé. A resistência durou quase quatro anos, até 1756, quando os Guarani foram derrotados em uma última batalha, em Caiboaté, hoje São Gabriel. Três dias antes daquela batalha, em 7 de fevereiro de 1756, foi morto o mais celebre líder dos Guarani, o Alferes de São Miguel Sepé Tiaraju.

O motivo da rebelião não era apenas por que os Guarani teriam que deixar os núcleos urbanos de sete de suas Missões com os jesuítas. Pesava muito o fato de que os portugueses ficariam com as enormes estâncias de gado que se estendiam por uma ampla área da então chamada Banda Oriental do Rio Uruguai, além dos ervais nativos que ficavam na região da atual fronteira com Santa Catarina e de onde extraíam a erva-mate, fundamental para as trocas comerciais com as cidades espanholas. E tudo isso estava detalhadamente registrado em um mapa feito pelo padre Tadeu Henis.

Esse mapa não constava dos itens apreendidos pelos espanhóis em San Lorenzo (atual sítio arqueológico de São Lourenço Mártir, em São Luis Gonzaga). Porém, no Arquivo Histórico Nacional (AHN), em Madri, há um mapa cujo título é “Copia del Plano del P. Tadeo Enis de las tierras de San Miguel con sus estancias y puestos confinantes, pueblos y portugueses”. Como o próprio título explica, esse mapa é uma cópia espanhola de outro feito pelo Padre Tadeu Henis. Em outro arquivo espanhol, o Arquivo Geral de Simancas, há um desenho com frases em latim e uma cópia deste com o seguinte título: “Mapa que se hallo incluso en este Diario el que se conoce por la letra estar delineado por el P. Thadeo Xavier Enis de la Compania de Jesus”.

Apesar do título, não se tata de um mapa, mas sim de um desenho em perspectiva, que mostra as posições portuguesas nas margens dos rios Jobi (Rio Pardo) e Jacuí durante a Guerra Guaranítica. E, como consta, esse desenho estava junto ao diário do Padre Henis. Assim, sabia-se que o padre havia feito um mapa, pois a cópia estava arquivada há muito tempo na Espanha. Mas onde estaria o original? Foi preciso esperar 262 anos para termos a resposta a esta pergunta.

Camadas de informações

Em 2018, Barry Lawrence Ruderman colocou à venda um mapa manuscrito colorido em pergaminho, datado do século 18. Naquela ocasião, Junia Furtado, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e uma das maiores especialistas em cartografia histórica do Brasil, auxiliou na identificação do mapa como sendo do período das Missões Jesuíticas e relacionado à Guerra Guaranítica. O mapa foi adquirido pela John Carter Brown Library (JCB), que pertence a Brown University, em Providence (EUA). No momento da venda do mapa, seu autor não foi identificado e a data exata de sua produção não foi indicada. Após a aquisição do mapa pela JCB, Junia Furtado e Artur Barcelos, professor da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e especialista em mapas jesuíticos e na História das Missões Jesuíticas, somaram seus conhecimentos e iniciaram um estudo detalhado do mesmo. A conclusão é de que se trata do mapa original do Padre Tadeu Henis. E mais: tudo indica que os Guarani participaram da elaboração da mapa.

O título do mapa é “Terrarum S. Michaelis Oppidi Americae Meridionalis in Provincia olim Tape dicta, trans Flumen Uruguai Siti, cum adjacenteibus Simul aliorum oppiorum terris & vicinia Lusittanorum, acuratta descriptio”. Em tradução livre: “Descrição detalhada das terras de São Miguel na América do Sul, na antiga Província do Tape, na outra margem do Rio Uruguai, com as terras adjacentes a outras localidades e aos portugueses”.

Trata-se de uma peça extraordinária em todos os sentidos. Primeiro por haver estado desaparecida por tanto tempo. Por questões legais, a identidade de seus proprietários anteriores não se tornou pública. O fato de ter sido adquirido por uma instituição de pesquisa permitiu seu estudo e sua divulgação. Seu conteúdo pode ser estudado como em uma escavação arqueológica, por camadas. Primeiro está sua descrição: é um mapa em pergaminho (pele de cordeiro), com 67x52cm. A coloração amarelada se dá pela ação do tempo sobre o pergaminho, o mesmo ocorrendo com as tintas usadas, o nanquim ou a tinta da Índia, que dá a coloração preta, e a ferrogálica que, com o tempo, alcança uma coloração marrom avermelhada.

As outras camadas são seu conteúdo. O mapa possuí várias informações sobre momentos e lugares ligados à Guerra Guaranítica, como visto em “Aqui llegaron a 1753 los demarcadores de España y Portugal, próximo a Santa Tecla”; ou “Tierras de San Luis ocupadas de los portugueses”; ou ainda o local da batalha de Caiboaté, entre outros. Olhando para além do episódio da guerra, o mapa demonstra a organização do território que pertencia às Missões. Na parte superior (o mapa deve ser virado em sentido horário para estar orientado no sentido correto), estão representadas as sedes das Missões de San Nicolas, San Luis, San Lorenzo, San Miguel, San Juan e Sto. Angel, faltando apenas San Borja das sete que ficavam à Leste do Rio Uruguai. Delas partem os caminhos que, passando pelas estâncias próximas, menores, e cruzando a Serra Grande, levavam até as estâncias maiores, cuja mais extensa era a de San Miguel.

Ao longo desses caminhos, há capelas e postos das estâncias, como indica a legenda em latim e os símbolos desenhados no mapa. Assim, ficamos sabendo que havia três postos maiores, principais, San Tiago, San Xavier e Santo Antonio. E podemos ver os limites entre as estâncias, marcados por rios, arroios e coxilhas.

Em uma camada mais profunda de sua leitura, o mapa revela a memória indígena, pois nele há vários lugares ao sul da Serra Grande denominados tetângue, que em guarani significa “que foram dê...”. Assim, temos, por exemplo, San Miguel tetângue, Natividad tetângue, Jesus Maria tetângue, os quais assinalam onde estavam as Missões do século 17, que existiram entre 1626 e 1640, e foram abandonadas após os ataques dos bandeirantes. Essas primeiras Missões concentravam-se justamente na Depressão Central. Há ainda uma quantidade expressiva de expressões em guarani. Essas referências de lugares e acontecimentos indicam que os indígenas foram coautores do mapa, pois eram os que melhor conheciam o território e sua história, bem como os principais interessados em ter suas terras registradas em um mapa.

Por tudo isso, e por ser o mapa que melhor apresenta a forma como as Missões Jesuíticas tinham um domínio territorial e econômico sobre mais de um terço do atual Rio Grande do Sul, pode-se dizer que se está diante de um dos mais importantes documentos da história colonial da Região Sul do Brasil. Em breve, os resultados das pesquisas advindas de seu estudo serão publicados. E as análises prosseguirão, pois trata-se de uma fonte quase inesgotável de informações históricas.

Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2024/01/o-retorno-de-um-revelador-mapa-do-rs-do-seculo-18-que-era-dado-como-perdido-clrthvp85002l016w03o8v9on.html





















O mapa redescoberto abrange uma ampla área do atual Rio Grande do Sul. É delimitado pelo que hoje conhecemos como a região Noroeste e o Rio Uruguai (ao Norte), rios da Bacia do Rio Jacuí (a Leste), Rio Camaquã e Campanha (ao Sul), e Rio Ibicuí (a Oeste). A maior parte do território era formado pelas estâncias de gado das Missões, identificadas pelos nomes e devidamente demarcadas em seus limites e divisas. Reprodução: John Carter Brown Library
Artur Barcelos / Arquivo pessoal




















Já esta versão é a cópia que foi feita pelos espanhóis e se encontra em Madri. Uma curiosidade é que, neste mapa colorido, há termos em guarani que não estão no original, o que, segundo os pesquisadores, é um indício de que os indígenas podem ter atuado na confecção de ambos. Reprodução: AHN-Madrid
Artur Barcelos / Arquivo pessoal

domingo, 17 de dezembro de 2023

Novo PAC prevê R$ 76 milhões para obras em prédios históricos no RS


Memorial do Rio Grande do Sul e Mercado Público estão entre os locais a serem beneficiados por verba federal

MARCELO GONZATTO

O patrimônio histórico gaúcho vai receber um impulso de R$ 76 milhões destinado pelo governo federal a obras de melhoria e recuperação. Esse valor será aplicado em nove projetos que incluem reformas em prédios de grande relevância cultural como o Memorial do Rio Grande do Sul, o Mercado Público e o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, em Porto Alegre, além de estruturas em Jaguarão, Pelotas e São Miguel das Missões.

Parte dessas iniciativas, que já estavam previstas no antigo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas, acabou sofrendo interrupções ou perda de recursos nos últimos anos e deverá passar por atualização dos contratos - por isso, o governo federal ainda não divulga o valor individual estimado e prazos definidos de início ou término para todos os itens da listagem.

— Houve descontinuidades, havia projetos paralisados, geralmente por falta de recursos. Então, estamos retomando isso agora e temos quase todos já recolocados em lista para início ou retomada de obras — afirma o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Estado, Rafael Passos.

Na Capital, uma das ações mais adiantadas envolve o prédio do Memorial do Rio Grande do Sul, na Praça da Alfândega. Conforme a assessoria de comunicação da Secretaria da Cultura do Estado, a intervenção, cujo termo de compromisso entre os governos estadual e federal foi assinado na quarta-feira (13), está orçada em R$ 6,6 milhões. O Iphan informa que o serviço incluirá "revisão das coberturas, sistema de coleta de águas pluviais, restauração das esquadrias, execução de nova rede elétrica, novos elevadores, recuperação de rebocos e pintura completa". As obras devem ser licitadas no começo do ano que vem, ter início até meados de 2024 e durar 12 meses.

De acordo com a Secretaria da Cultura, o Memorial ficará fechado para visitação pública durante alguns períodos da reforma por razões de segurança - ao longo de etapas como a implantação da nova rede elétrica. O calendário das atividades no local será divulgado futuramente.

Assinado na quinta-feira (15), o termo de R$ 4,7 milhões envolvendo o Mercado Público prevê novas instalações hidrossanitárias, incluindo redes de água, esgoto sanitário e fluvial, e recuperação do piso do térreo. Uma futura etapa poderia contemplar ainda melhorias em uma parte da cobertura e elevadores, mas ainda depende de um novo acordo. Segundo informações da prefeitura, a ideia inicial é privilegiar o trabalho à noite, em etapas e por quadrantes para não precisar suspender o atendimento ao público. A estimativa é de que o serviço se estenda por, pelo menos, um ano. A expectativa do Iphan é firmar o acordo com a prefeitura da Capital ainda em 2023.

Terceira iniciativa prevista para a Capital, o projeto de recuperação do Museu de Comunicação José Hipólito da Costa ainda está em análise de orçamento no Iphan. De acordo com a Secretaria da Cultura, depois de aprovado, deverá ser encaminhada a assinatura do termo de parceria para a transferência dos recursos. Por isso, ainda não são divulgados detalhes das intervenções a serem feitas.

Governo deve selecionar cem novos projetos no país

Os nove locais históricos do Rio Grande do Sul contemplados com verbas do Novo PAC fazem parte de um conjunto de 138 projetos selecionados em todo o país para serem concluídos até 2026 - os gaúchos têm o quarto maior número de iniciativas entre os Estados (a maior fatia coube a Minas Gerais, com 54 convênios). Além desse recurso, que soma R$ 700 milhões para todo o Brasil, o governo federal está selecionando outros cem projetos de "recuperação de bens materiais tombados ou para o fortalecimento de bens imateriais registrados como patrimônio federal."

Foram apresentadas 817 propostas de Norte a Sul para concorrer a esses repasses adicionais de R$ 37 milhões, destinados apenas à elaboração de projetos. Conforme o superintendente do Iphan no Estado, Rafael Passos, os gaúchos contribuíram com 52 dessas novas solicitações. Os candidatos ainda estão sob análise do governo federal dentro do chamado PAC Seleções. Os escolhidos devem ser anunciados em breve.

- Como essas ações ficam na área do patrimônio e da cultura, que historicamente têm verbas mais escassas, o PAC é uma grande fonte de recursos de maior monta e sempre em parceria com municípios e Estados, atendendo a demandas locais - avalia Rafael Passos.

Projetos contemplados no RS

O Estado tem nove locais vinculados ao patrimônio histórico com verbas a receber da União

Finalização da restauração da Antiga Enfermaria Militar para implantação do Centro de Interpretação do Pampa (Unipampa) — Conclusão da reforma na edificação do século 19 para receber uma unidade destinada a destacar a importância ambiental, cultural e turística do Pampa.
Requalificação da Praça Dr. Alcides Marques e Largo das Bandeiras — Segundo o Iphan, aguardam atualização de projetos para assinatura de convênio.
Restauração da Antiga Inspetoria Veterinária — O Iphan informa estar em tratativas para atualizar projeto de recuperação do prédio histórico, que já estava contemplado no antigo PAC Cidades Históricas.

Implantação do Museu da Cidade da Cidade de Pelotas (Casa 6) — Segundo a prefeitura, o projeto prevê recursos municipais, estaduais e federais. O município ainda aguarda definição de quanto será a contribuição via Iphan enquanto atualiza orçamentos. A expectativa é de lançar licitação em janeiro.
Retomada da etapa final de obras do antigo Grande Hotel — A ideia é criar um hotel-escola no local, sob responsabilidade da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Conforme a assessoria de comunicação da UFPel, o trabalho segue em andamento, mas ainda sem prazo definido de conclusão.

Porto Alegre
Restauração do Museu da Comunicação Social Hipólito José da Costa — Conforme a Secretaria de Cultura do RS, o orçamento do projeto "ainda está em análise no Iphan". Depois de aprovado, terá início "o processo de assinatura do termo de parceria para a transferência dos recursos". Detalhes dependem do avanço nessas etapas.
Restauração do Memorial do Rio Grande do Sul e Arquivo Histórico (Antiga sede dos Correios) — O convênio está encaminhado, e as obras devem ter início em meados do ano que vem. Em período a ser definido, o atendimento ao público deve ser interrompido.
Restauração do Mercado Público — A fase atual do projeto prevê a renovação das instalações hidrossanitárias, elétricas e do piso do andar térreo. Com o convênio formalizado, a expectativa é de um ano de obras, sem necessidade de interromper o atendimento ao público.

Conclusão da obra de requalificação urbanística do entorno do Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo — O conjunto de obras em 30 trechos, que deverá ser entregue na segunda-feira (18), inclui melhorias na área urbana do município, envolvendo asfaltamento, calçadas, sinalização e ciclovias, entre outras intervenções. Os trabalhos não envolvem diretamente a área das ruínas.



















Memorial do RS deve entrar em obras no ano que vem
Anselmo Cunha / Agencia RBS



















Termo de compromisso envolvendo o Mercado Público deve ser assinado em breve
Anselmo Cunha / Agencia RBS