sábado, 26 de janeiro de 2019

Pesquisador descobre dez novos sítios arqueológicos no interior da Amazônia

Situados ao longo das calhas dos rios Jutaí e Solimões, os locais possuem peças que podem ter mais de três mil anos.

Restos de cerâmica com pinturas e incisões, carvões e a presença de terra preta arqueológica ajudam a contar a história de como viviam e se comportavam os antigos habitantes da Amazônia. No início de janeiro, o Instituto Mamirauá mapeou dez novos sítios arqueológicos no interior do Amazonas. Os vestígios coletados estão associados a populações produtoras de cerâmicas que ocuparam a região cerca de três mil anos atrás.

O levantamento foi conduzido dentro e ao redor da Estação Ecológica (Esec) Jutaí-Solimões e da Reserva Extrativista (Resex) Rio Jutaí. Ambas são unidades de conservação ambiental que, juntas, somam mais de 500 mil hectares. O trabalho científico é parte de uma colaboração com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão destas áreas protegidas.

Segundo o arqueólogo do Instituto Mamirauá que identificou os novos sítios, as descobertas ajudam a ter um melhor entendimento sobre o passado.

“Os estudos arqueológicos são complementares aos levantamentos de fauna e flora nas unidades de conservação e contribuem com dados para conhecer o passado da região e pensar em formas de proteger o território”, contou.

Antepassados

Durante 12 dias, o pesquisador percorreu comunidades e trechos de floresta nas calhas dos rios Jutaí e Solimões à procura de traços da influência dos antepassados na paisagem. Os sinais estão por toda parte: das manchas do solo arqueológico escuro e cheio de nutrientes, conhecido popularmente como terra preta de índio, até a copa das palmeiras de açaí, pupunha e outros frutos que foram selecionados pelos ancestrais amazônicos para alimentação e são apreciados até hoje.

“Existe uma associação muito próxima entre terra preta, sítios arqueológicos e plantas úteis aos seres humanos, como a bacaba, o açaí a pupunha e o ingá. Por vezes, os arqueólogos não conseguem achar a terra preta, nem fragmentos cerâmicos, mas conseguem ver a vegetação diferente. A antropização da área indica que ali provavelmente existe um sítio arqueológico”, explicou Márcio.

A posição de alguns dos sítios arqueológicos encontrados coincide com o endereço de comunidades da região. “Os sítios compartilham o mesmo espaço de áreas antrópicas, com terra preta e fértil. A população atual também está morando em cima desses sítios, o mesmo espaço que já foi ocupado há três mil, quatro mil anos. É um padrão que se repete e é notado em pesquisas arqueológicas em toda a Amazônia”.

Na busca pelos sítios, as instruções dos atuais moradores da floresta também são essenciais. "A populão é nossa fonte primária, porque conhece essas áreas como ninguém, maneja e planta no solo e tem o conhecimento de onde estão os vestígios dessas aldeias antigas”, informou o pesquisador.

Tradições milenares

A coleta nos recém-descobertos sítios arqueológicos revelou fragmentos de dois conjuntos cerâmicos da história pré-colonial da Amazônia: a tradição Pocó e a tradição Polícroma da Amazônia.

O conjunto Pocó foi produzido por povos cujos registros mais antigos de ocupação no território amazônico datam do primeiro milênio antes da era Cristã e foram catalogados primeiramente nos rios Nhamundá e Trombetas, região do Baixo Amazonas. Entre as características mais marcantes das cerâmicas Pocó, está o uso diverso de cores, com destaque para o amarelo, laranja e vermelho sobre um fundo branco, e a recorrência de figuras geométricas incisas como retângulos, quadrados, círculos, faixas e linhas.

“Esse tipo de incisão geométrica é encontrado em sítios arqueológicos como o da Boa Esperança (na Reserva Amanã, centro do Amazonas), dentro do Rio Juruá e em Santarém, no Pará. Os registros chegam também às regiões do Rio Xingu e ao Rio Tocantins. O que nos dá a dimensão que alcançou a tradição cerâmica Pocó há três mil anos dentro dessa ampla região”, destaca o arqueólogo.

Os artefatos revelam a história e tradições das populações antepassadas da Amazônia.

“Através dessas peças, é possível observar a dinâmica dessas populações, que não estavam estáticas, não necessariamente na questão de mobilidade total, mas de pessoas que tinham funções específicas para fazer essas pontes entre áreas distintas. O alcance das cerâmicas Pocó parece estar associado a fatores que incluem agricultura, sedentarismo, aumento populacional e à comunicação entre regiões por meio das antigas e complexas redes de interações sociais de curta, média e longa distância", diz o pesquisador do Instituto Mamirauá.

O Instituto

O Instituto Mamirauá é uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e realiza há mais de uma década estudos arqueológicos na Amazônia Central, ajudando a expandir as fronteiras do que se conhece a respeito do passado da região.

“O trabalho desenvolvido pelo Instituto Mamirauá é importante para que possamos compreender essas dinâmicas antigas na Amazônia, que antes se pensava que eram muito simples e efêmeras, mas o que os resultados recentes mostram é que muitos aspectos culturais tiveram grande continuidade e dispersão dentro das terras baixas amazônicas”, afirma Márcio Amaral.

Fonte:https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2019/01/25/pesquisador-descobre-dez-novos-sitios-arqueologicos-no-interior-da-amazonia.ghtml
















Figura cerâmica com forma animal encontrada durante o levantamento arqueológico — Foto: Márcio Amaral/Instituto Mamirauá


















Sítios arqueológicos foram descobertos ao longo das calhas dos rios Jutaí (foto) e Solimões, no Amazonas — Foto: Amanda Lelis/Instituto Mamirauá


















Fragmentos cerâmicos coletados da tradição Pocó, que podem datar 3 mil anos — Foto: Bernardo Oliveira/Instituto Mamirauá

sábado, 12 de janeiro de 2019

Na Bahia, São Félix e Itaparica têm bens restaurados

Retratos da ocupação do território e simbólicos representantes do valioso Patrimônio Cultural da Bahia, os municípios de Itaparica e São Félix estão entre os 11 conjuntos urbanos protegidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Estado. No próximo dia 28 de dezembro, as duas cidades irão receber dois bens culturais de caras novas, após passarem por obras de restauração, promovidas pelo próprio Instituto.
Em São Félix, no Recôncavo Baiano, o Paço Municipal recebeu ações emergenciais e de restauro. O edifício, construído no final do século XIX, abrigava a sede da Prefeitura até 2013, quando foi interditado por graves problemas estruturais. Assim, as intervenções realizadas pelo Iphan, com orçamento de mais de R$1,2 milhão proveniente do Fundo Nacional de Cultura (FNC), garantiram a preservação da integridade do bem, que é parte do conjunto tombado da cidade. Também foram executadas a recuperação dos elementos arquitetônicos e artísticos, a melhoria dos espaços internos e a modernização das instalações, a fim de que sejam retomadas as atividades da Administração Municipal, em plenas condições de atendimento aos servidores e cidadãos. As intervenções tiveram duração de 11 meses.
Já em Itaparica, duas obras de restauro estavam em execução: a Igreja de São Lourenço e a Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento. A primeira delas já foi finalizada e também será entregue à população em 28 de dezembro, depois de receber um investimento de mais de R$ 1,76 milhão, também por meio do Iphan, advindos do PAC Cidades Históricas. A igreja, cujos primeiros registros são do século XVII, é marcada pela simplicidade e robustez, que levaram ao seu tombamento individual como Patrimônio Cultural Brasileiro, em proteção que se estende a todo seu acervo. A intervenção realizou a recuperação da estrutura do templo, incluindo toda a parte arquitetônica, e dos bens artísticos e integrados, como imagens sacras e altares.
A entrega das duas obras terá a presença da presidente do Iphan, Kátia Bogéa; do diretor do Departamento de Projetos Especiais do Iphan, Robson de Almeida; do superintendente do Iphan na Bahia, Bruno Tavares; entre outras autoridades locais. Somando quase R$3 milhões, as intervenções são parte de uma série de investimentos que o Iphan tem feito no Patrimônio Cultural da Bahia nos últimos anos. Só pelo PAC Cidades Históricas já são quase R$105 milhões já investidos, com obras também nos municípios de Salvador, Maragogipe, Santo Amaro.
Serviço: 
Entrega da obra de restauração do Paço Municipal de São Félix

Data: 28 de dezembro, 10h
Local: Paço Municipal de São Félix
Entrega da obra de restauração da Igreja de São Lourenço, em Itaparica
Data: 28 de dezembro, 16h
Local: Praça Vila Damásio, Itaparica - Bahia
Mais informações para a imprensa
Assessoria de Comunicação Iphan

comunicacao@iphan.gov.br
Déborah Gouthier – deborah.gouthier@iphan.gov.br
(61) 2024-5516 - 2024-5533









Fonte das Imagens: Site Iphan