domingo, 27 de setembro de 2015

O que prevê o projeto de revitalização do Cais Mauá e quem está contra

O que prevê o projeto de revitalização do Cais Mauá e quem está contra

Zero Hora ouviu o movimento, que é apoiado por intelectuais, artistas e comunicadores, e especialistas em urbanismo

Por: Paulo Germano
26/09/2015 - 15h09min | Atualizada em 26/09/2015 - 17h34min




Apoiado por intelectuais, comunicadores, artistas e arquitetos, um movimento que pretende derrubar o projeto de revitalização do Cais Mauá ganha corpo a cada dia. A obra que promete devolver à população o abandonado porto da Capital já ingressa na fase final de licenciamento: seu início está previsto para daqui a cinco meses.
– A única solução é rescindir o contrato – resume o sociólogo João Volino, um dos líderes do grupo Cais Mauá de Todos, que na semana passada teve nova audiência com o Ministério Público para buscar o embargo da obra na Justiça.

Contrariados com a exploração imobiliária e comercial que consideram excessiva, expoentes da comunidade cultural do Estado vêm aderindo ao movimento quase que diariamente. Os cineastas Carlos Gerbase e Jorge Furtado, a comunicadora Katia Suman, o músico Nei Lisboa, a artista visual Zoravia Bettiol e o jornalista Eduardo “Peninha” Bueno, além de professores universitários como Luís Augusto Fischer e Francisco Marshall, estão entre os críticos do projeto encabeçado pela empresa Cais Mauá do Brasil SA, vencedora da licitação em 2010.

Zero Hora ouviu as contestações do grupo e as confrontou com especialistas em urbanismo e em parcerias público-privadas. A reportagem também recolheu opiniões de entidades de classe afetadas pela obra e entrevistou representantes da empresa e do poder público – o governo estadual é o responsável pelo contrato, enquanto a prefeitura concede as licenças.
A maior crítica dos opositores refere-se à construção de três torres para escritórios e hotel – elas poderão atingir 100 metros de altura, apenas três metros a menos do que a chaminé do Gasômetro – e de um centro comercial (a empresa resiste em chamar de shopping) à beira do Guaíba.
– Se para a viabilidade financeira do projeto é necessário destruir a paisagem, então esse modelo não serve – avalia o presidente da seccional gaúcha do Instituto de Arquitetos do Brasil, Tiago Holzmann da Silva, simpatizante do movimento Cais Mauá de Todos.

Coordenador do Núcleo de Tecnologia Urbana da UFGRS, o arquiteto Benamy Turkienicz tem outra visão. Afirma que grande parte dos portos revitalizados recentemente, apontados como exemplos de beleza urbanística, abrigam torres altas e grandes centros comerciais:
– Talvez eles estejam desatualizados. Toda a margem do Rio Tamisa (em Londres) está crivada de torres, Manhattan (Nova York) tem edificações imensas, o Porto de Roterdã (na Holanda) também, todos eles.

Shopping center ou área aberta?
Mas Benamy concorda com os críticos em um ponto. Já era para a população saber exatamente como se dará a circulação de pessoas no futuro shopping e no térreo dessas torres.
– Não há problema algum em haver torres ou grandes áreas de comércio, desde que reproduzam a ideia de centro de uma cidade, que envolve movimento e animação. Se houver paredes no centro comercial, impedindo as pessoas de acessarem livremente o local a partir das ruas, aí vira um shopping. E isso é péssimo – analisa o urbanista da UFRGS. – Porque a humanização de um empreendimento ocorre no térreo, e não no topo de um prédio. Se no térreo das torres houver lojas, bares e praças, tudo bem. Agora, se o térreo for estéril nessas áreas, aí estarão privatizando um espaço público.
A presidente da Cais Mauá do Brasil, Julia Costa, não detalha como será a interação das pessoas com essas áreas. Conforme ela, só depois que a primeira fase da obra começar – a reforma dos armazéns –, em fevereiro, é que os estudos sobre as torres e o centro comercial terão início.
O urbanista paranaense Jaime Lerner, ex-presidente da União Internacional de Arquitetos, contratado para conceber o projeto arquitetônico, reconhece que “ninguém quer uma caixa fechada na frente do Guaíba”.
– Não faremos nada parecido com o que hoje se conhece por shopping center. A tendência é de que seja uma área aberta, com vista para a orla, até porque esse conceito de shopping fechado está caindo em desuso – garante Jaime Lerner, sem esmiuçar muita coisa.
Katia Suman lembra que justamente alguns dos melhores pontos do projeto original foram alterados. Entre eles, o rebaixamento da Avenida Mauá nas proximidades do Gasômetro, transformando a Praça Brigadeiro Sampaio, do outro lado da via, em um prolongamento da orla. Seria uma esplanada verde para pedestres – e, por baixo dela, os carros passariam em um túnel.
– Queríamos que isso ocorresse, mas os tempos mudaram de 2010 (quando o contrato foi assinado) para cá. Com as obras da Copa, houve um alargamento da Mauá, e o custo atual do rebaixamento seria uma fortuna – diz o secretário municipal de Desenvolvimento e Assuntos Especiais, Edemar Tutikian.
Economista da Fundação Getúlio Vargas especializado em parcerias público-privadas, Robson Gonçalves observa que, ainda que não houvesse obrigação contratual de fazer o rebaixamento (e não havia), a mudança “é um problema”:
– Cria-se uma expectativa falsa na população. Não é o ideal.
Embora garanta que sempre esteve aberto ao diálogo, o consórcio Cais Mauá do Brasil mudou sua estratégia de comunicação de algumas semanas para cá. Antes da entrega do Estudo de Impacto Ambiental, para evitar informações desencontradas, seus executivos não davam entrevistas, e a empresa nem existia nas redes sociais. Agora, publica vídeos e responde a todos por Twitter, WhatsApp, Instagram e telefone 0800. São quase 3 mil seguidores no Facebook. É bom correr: o grupo Cais Mauá de Todos tem quase 9 mil.

O projeto pode parar?
- Se depender do governo do Estado, da prefeitura ou do consórcio responsável pelo projeto, não.
- O movimento Cais Mauá de Todos acionou o MP para impedir o início da obra, alegando supostas irregularidades como direcionamento da licitação e invalidade da lei que rege as construções no cais.
- O MP investiga o caso. Se decidir apresentar denúncia, a Justiça tem poder de embargar o projeto.
Colaborou Juliana Forner
Os Pontos Controversos

• Golpe no comércio: 
- O que dizem os críticos: o grupo Cais Mauá de Todos afirma que o shopping próximo à Usina do Gasômetro vai desvalorizar o comércio de porta de rua do Centro e prejudicar a economia dos pequenos comerciantes da região.
- O que ZH apurou: tanto a Câmara de Dirigentes Lojistas quanto o Sindicato dos Empregados no Comércio afirmam que o consumidor do Centro tem perfil diferente do cliente de shopping. Um grande empreendimento no cais, segundo as duas entidades, aumentará o movimento em toda a região, inclusive nas lojas de porta de rua.

• Falta de transparência: 
- O que dizem os críticos: embora o projeto já esteja em fase avançada, não há maiores detalhes sobre como será o shopping à beira do Guaíba, qual será o perfil das lojas e restaurantes dos armazéns, que acesso o público terá à área das torres comerciais.
- O que ZH apurou: urbanista e professor da UFRGS, Benamy Turkienicz concorda que a prefeitura e o governo do Estado já deveriam ter apresentado, desde que o edital foi lançado, um conceito mais claro de como será a relação entre o espaço público e o espaço privado.

• Rebaixamento da Mauá: 
- O que dizem os críticos: o consórcio e a prefeitura jamais poderiam ter desistido do rebaixamento da Avenida Mauá, porque ele está previsto em lei. Esse era um dos principais atrativos do projeto original: a orla seria conectada à Praça Brigadeiro Sampaio, situada do outro lado da Mauá, ampliando a área verde e a circulação de pedestres.
- O que ZH apurou: a Lei Complementar 638/2010, que estabelece as regras para construção no Cais Mauá, exige do consórcio “um estudo de ligação aérea ou em nível” para integrar a praça ao cais. “Ligação aérea” é uma passarela, equipamento que hoje está previsto no lugar do rebaixamento da avenida.

• Carro em primeiro lugar: 
- O que dizem os críticos: na contramão de uma tendência mundial que prioriza ciclistas e pedestres, o projeto estimula o aumento do tráfego de automóveis ao oferecer 4 mil vagas de estacionamento.
- O que ZH apurou: o Plano Diretor de Porto Alegre exige uma vaga de estacionamento para cada 25 metros quadrados. Portanto, o empreendimento atende à lei. Por outro lado, o urbanista Benamy Turkienicz afirma que os pedestres e a cidade perdem com a desistência do rebaixamento da Mauá.

• Fora da lei: 
- O que dizem os críticos: na lei que estabelece as diretrizes para as construções no Cais Mauá, sancionada em 2010, o artigo 17 afirma que as regras “vigorarão até o dia 31 de dezembro de 2012”. Portanto, não haveria amparo legal para as torres de até 100 metros de altura, por exemplo, saírem do papel.
- O que ZH apurou: de fato, a caducidade da lei faz sentido. O promotor Heriberto Roos Maciel, da promotoria de Habitação e Urbanismo do Ministério Público, investiga o caso para avaliar se a prefeitura precisará encaminhar um novo projeto à Câmara de Vereadores.

• Elitização da orla: 
- O que dizem os críticos: a excessiva exploração imobiliária e comercial do cais, que envolve a construção de shopping e torres de escritórios, evidencia o processo de elitização dos frequentadores (vide propagandas do consórcio estreladas por “patricinhas”).
- O que ZH apurou: o economista Robson Gonçalves, especialista em urbanismo da Fundação Getúlio Vargas, não acredita que um shopping – que é aberto ao público – possa representar uma separação social. Segundo ele, isso deve ocorrer nas torres de escritórios. Portanto, é fundamental que o projeto atenda a todos os públicos na região dos armazéns.


















Foto: Bruno Alencastro / Agencia RBS

















Fonte, mais informçaões e infográfico do projeto no link da matéria: http://zh.clicrbs.com.br/rs/porto-alegre/noticia/2015/09/o-que-preve-o-projeto-de-revitalizacao-do-cais-maua-e-quem-esta-contra-4856991.html

sábado, 26 de setembro de 2015

Conjunto arquitetônico e paisagístico de Mucugê completa 35 anos de tombamento

Mucugê, importante conjunto urbano da Chapada Diamantina, completa no próximo sábado, dia 26 de setembro, 35 anos de tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e inscrito no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. O conjunto arquitetônico e paisagístico de características vernaculares, representativo da urbanização tradicional do interior do Brasil e especialmente da Bahia, embasaram e motivaram a sua proteção.
No processo de tombamento constam pareceres favoráveis em que são salientados a homogeneidade do conjunto, a qualidade da arquitetura popular, a integridade e a existência de dois elementos excepcionais: o cemitério bizantino e os casarões coloniais, a maioria edificados em adobes ou pedras.
Trata-se de uma cidade de tipologia simples, mononuclear, desenvolvida segundo uma matriz em “L”, com um traçado semi-irregular adequado para se ajustar ao vale em que está localizada. Seu conjunto arquitetônico é formado por sobrados e casas térreas, originárias de meados e final do século passado. As ruas e praças calçadas em pedras tipo “cabeça de nego” e/ou paralelopípedes formam o sistema viário da cidade, que apesar de disposto com relativa irregularidade, guarda uma simplicidade que lhe é de todo inerente. Destaca-se ainda o Cemitério Santa Isabel devido ao estilo bizantino e distribuição estética de seus túmulos, além da sua notável integração com a paisagem do sítio onde se acha erigido.
A cidade atual, que ocupa uma área de 44 hectares e possui cerca de 355 prédios urbanos, está integralmente conservados. Nos últimos anos, o patrimônio histórico recebeu investimentos do Iphan, que envolveram  mais de R$ 1,2 milhão. A última intervenção realizada foi na Igreja Matriz de Santa Isabel que, além de obras de conservação, foi totalmente restaurados os bens móveis e integrados do monumento histórico.
Mucugê testemunhou a fase áurea da exploração de diamantes na Bahia
A povoação de Mucugê surgiu em meados do século XIX. José Pereira do Prado, também conhecido como Cazuza do Prado, influente “pedrista” da Chapada Diamantina, tendo notícia através de um empregado da descoberta de diamantes no rio Mucugê, enviou ao local uma caravana, onde chegou em setembro de 1844. Rapidamente se formou uma povoação de 12 mil habitantes em terrenos que pertenceram primitivamente ao Sargentor-Mor Francisco da Rocha Medrado.
Apelidada de “Jóia da Chapada Diamantina”, Mucugê foi a primeira localidade baiana onde foram encontrados diamantes de valor real. Em 17 de maio de 1847 foi criada a freguesia de São João do Paraguaçu, a vila e o município que se chamou originalmente de Santa Isabel do Paraguaçu. Em 1890, foi elevada a cidade e a sua atual denominação de Mucugê data de 23 de agosto de 1917.

















Fonte das Imagens: do site

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

RAF Arquitetura: Restauro da Villa Aymoré, Rio de Janeiro - RETROFIT ECLÉTICO

PROCESSO DE RESTAURAÇÃO DO CONJUNTO DE CASAS CONSTRUÍDAS ENTRE OS ANOS DE 1908 E 1910 ANTECEDEU A IMPLEMENTAÇÃO DA CASA COR RIO DE JANEIRO 2015

O escritório RAF Arquitetura assina o retrofit da Villa Aymoré, conjunto arquitetônico de alto padrão construído em estilo eclético no início do século 20, no bairro da Glória, Rio de Janeiro.
As edificações, abandonadas há décadas, foram adquiridas em 2010 pela empresa Landmark com o intuito de abrigar escritórios. A obra ficou a cargo da Lafem Engenharia
Para o início da reforma, que teve investimento de 50 milhões de reais, foi realizada uma pesquisa para se restabelecer a arquitetura original das casas, marcadas pelo pé-direito alto e pelas generosas áreas úteis, que variam de 230 a 2,2 mil metros quadrados.
O projeto original também serviu como base para reconstruir uma das casas, que estava em ruína. Apesar da estrutura ter sido reforçada para atender aos parâmetros atuais, houve reaproveitamento de pisos, forros, portas, janelas e escadas.
A Villa Aymoré é tombada pelo município e incluída na Área de Proteção do Ambiente Cultural (Apac) da Glória e do Catete desde 2005.
ESPAÇO MEMÓRIA

Antes de começar a ser ocupada pelas empresas, a Villa Aymoré receberá até 4 de outubro a Casa Cor Rio de Janeiro 2015. As noves casas que compõem o conjunto serão ocupadas por 42 ambientes da mostra de arquitetura, decoração e paisagismo.

Em uma área de 68 metros quadrados, batizada de Espaço Memória, o público pode conferir o processo de retrofit da Villa Aymoré, desde as aprovações, arqueologia e restauro até as construções mais novas, como o Edifício Baronesa que ganhou o contorno das montanhas e fachada em cobogó.
O ambiente conta com croquis de arqueologia e restauro, fotos dos achados arqueológicos e maquete da vila.



Crédito das imagens: Site Arcoweb

domingo, 13 de setembro de 2015

Patrimônio mineiro, igreja inacabada do século 17 sofre com vandalismo

Apesar de ter sido tombada, ruína ligada à história do bandeirante Fernão Dias e que virou cartão-postal continua a ser alvo de pichações

Barra do Guaicuí – O sertanejo Charlysson Nunes exerce múltiplas funções no Norte de Minas, de servente de pedreiro a guia turístico, mas o que o deixa com um sorriso que parece não ter fim é começar a contar histórias e estórias de Barra do Guaicuí, distrito de Várzea da Palma, a 800 metros de onde o Rio São Francisco engole o Velhas e a 370 quilômetros de Belo Horizonte. Um dos causos prediletos do rapaz é sobre a inacabada igreja de pedras de Bom Jesus de Matozinhos, onde vingou uma imponente gameleira no lugar em que deveria existir uma torre.
“Sabe como a árvore foi parar lá?”, pergunta. E ele mesmo responde: “Obra de um passarinho, de um bem-te-vi. Tinha uma sementinha nas fezes do bichinho”. Ele é encantado com a imagem da raiz abraçando parte do templo. Mas algo no cartão-postal do lugarejo, onde moram em torno de 4 mil pessoas, o incomoda. Aliás, o tira do sério. O interior da Bom Jesus é alvo constante de vândalos. As paredes estão cheias de frases, nomes e símbolos grafados com facas, estiletes, chaves e outros instrumentos.
O prazer de vândalos em marcar a ruína é um ataque ao patrimônio público e à história da Bom Jesus de Matozinhos. A igreja começou a ser erguida no século 17. Por algum motivo que ninguém sabe explicar, a obra não foi acabada. Há várias teses e lendas sobre o tema. Uma diz que os operários morreram de malária. Outra sustenta que a construção foi interrompida ao se constatar que o leito do Velhas, a menos de 10 metros de lá, inundaria o templo em época de enchente.
O certo é que a Bom Jesus e o distrito inspiraram várias pessoas do meio cultural. Guimarães Rosa (1908-1967), por exemplo, descreveu Barra do Guaicuí em Grande sertão: veredas, sua obra mais importante, publicada pela primeira vez em 1956. O escritor mineiro escolheu Guararavacã do Guaicuí, como ele se refere ao povoado, para ser o lugar em que Riobaldo Tatarana, o protagonista, descobriu que amava Diadorim, a personagem que se vestia de homem e que “nasceu para o dever de guerrear e nunca ter medo, e mais para muito amar, sem gozo de amor (...)”.
Foi assim: “A Guararavacã do Guaicuí: o senhor tome nota desse nome... Mas foi nesse lugar, no tempo dito, que meus destinos foram fechados. Será que tem um ponto certo, dele a gente não podendo mais voltar pra trás? Travessia de minha vida. Guararavacã. O senhor vá escutando. Aquele lugar. O ar. Primeiro fiquei sabendo que gostava de Diadorim – de amor mesmo amor, mal encoberto em amizade”.
Dizem que Rosa não tem leitores. Tem fã-clube. Todos os anos, centenas de homens e mulheres que devoram seus livros vão a Guaicuí conhecer o templo e outras atrações do lugarejo. Quem tem a sorte de se encontrar com Charlysson logo aprende alguns causos. “Bem aqui (ao lado da igreja) ficava o cemitério. Há corpos sepultados debaixo de onde estou pisando”, garante o rapaz. A avó dele, acrescenta, sustenta que há um túnel, em torno de três quilômetros, que liga o templo a uma outra área onde há corpos sepultados.
A imagem da ruína da Bom Jesus sempre esteve ligada ao conceito de morte. Pelo menos é o que contam por aquelas bandas. Além da versão de que o tempo não foi concluído porque os operários morreram de malária, há quem sustente que Fernão Dias (1608-1681), o paulista cuja bandeira deu origem a várias cidades de uma região inóspita que viria a ser Minas Gerais, foi vítima de uma peste e fechou os olhos para sempre ao lado da igreja inacabada.
A menos de um quilômetro da Bom Jesus, há uma praça com a imagem do bandeirante. O nome homenageia o paulista. Durante parte do dia, o pintor Alex Alves Batista, de 50, descansa num dos bancos de lá. Em frente à praça, há outra igreja católica. “O sino é de 1779”, conta Alex. Ele defende a presença de vigias 24 horas para proteger a ruína da Bom Jesus.
O templo inacabado é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha). O instituto estadual usou o depoimento de Richard Burton, um viajante que percorreu a região na década de 1860, como parte do conteúdo que justificou o tombamento.
“Toda em pedra de cantaria e cal mostra que, no tempo da colônia, o lugar conheceu melhores dias; como sempre, é uma obra semiconstruída (…). A entrada do lado sul nunca chegou a ser coberta por um telhado; na sacristia, a leste, só há caibros e o campanário não passa de três barras de madeira, em forma de forca, sustentando o sino. Pilastras e púlpitos de pedra estão condenados a não passar de embriões e um arco de alvenaria destinada a marcar o lugar do altar-mor, ao norte, está coberto de ervas-daninhas”, escreveu o viajante.











Abraçada por uma gameleira, a igreja de pedras de Bom Jesus de Matozinhos é atração no local escolhido pelo escritor Guimarães Rosa como berço do amor de Riobaldo e Diadorim, em Grande sertão: veredas (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)













Nas paredes internas do templo, marcas do desrespeito pelo patrimônio histórico gravadas com facas e estiletes (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)













O sertanejo Charlysson Nunes no papel de guia turístico: encanto pelas ruínas e irritação com ataques ao monumento (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Harvard e Oxford lançam campanha para preservar monumentos contra o Estado Islâmico

Do Templo de Baalshamin à cidade de Nimrud, o Estado Islâmico já destruiu diversos monumentos e relíquias. Agora, arqueologistas de Harvard e Oxford se uniram à UNESCO e ao projeto Epigraphical Database do Instituto de Estudos do Mundo Antigo da Universidade de New York para lançar o Million Image Database Project. Liderado pelo Instituto de Arqueologia Digital (IDA) de Oxford, a campanha planeja levar milhares de câmeras 3D a regiões assoladas por guerras para que as pessoas possa escanear e preservar (digitalmente) a arquitetura e artefatos históricos de suas regiões.
Ate 2016, o projeto busca registrar um milhão de imagens de alta qualidade de objetos em risco localizados em regiões da Síria, Iraque, Líbano, Turquia, Irã e Iêmen. Até 2017 a base de dados espera ter arquivado mais de 20 milhões de imagens, todas com informações de GPS e data.
"Ao relocar os registros de nosso passado na esfera digital, este patrimônio estará para sempre fora do alcance de vândalos e terroristas", comentou o diretor do IDA, Roger Michael, ao The Times.
"Criamos uma versão modificada de uma câmera 3D comum que permite que usuários inexperientes registrem imagens de alta qualidade", disse o grupo. "A câmera carrega automaticamente estas imagens nos servidores da base de dados, onde podem ser usadas para estudos ou, se necessários, recriações 3D. Temos a intenção de implementar mais de 5.000 destas câmeras em zonas de conflito em todo o mundo até o final de 2015."
A distribuição destas é o maior desafio para o Instituto. Espera-se que as imagens registradas de edifícios e objetos sejam detalhadas o bastante para serem recriadas através de impressão 3D.
Fonte: Karissa Rosenfield. "Harvard e Oxford lançam campanha para preservar monumentos contra o Estado Islâmico" [Harvard and Oxford Take On ISIS with Digital Preservation Campaign] 07 Set 2015. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado 8 Set 2015.







Templo de Baalshamin. Imagem © Bernard Gagnon via Wikipedia

Praça Mauá é reaberta no Rio de Janeiro

Neste domingo, 6 de setembro, foi reinaugurada no Rio de Janeiro a Praça Mauá, após quatro anos de obras de remodelação. Localizada na região central da cidade, próximo à orla, a praça teve sua área ampliada seis vezes com a derrubada do elevado da Perimetral, atingindo cerca de 25 mil metros quadrados e chegando quase até o mar da Baía de Guanabara.
A Praça é o primeiro projeto a ser inaugurado na nova Orla do Conde, uma faixa de terra que se estende por 3,5 quilômetros, entre o Armazém 8 do Cais do Porto e a Praça da Misericórdia, e conta com 27 centros culturais e museus.
Urbanizada no início do século passado, quando 1,5 milhão de metros quadrados foram aterrados para a construção do Porto do Rio, a Praça Mauá surgiu com a antiga Avenida Central, atual Avenida Rio Branco. Nomeada em homenagem a Irineu Evangelista de Sousa (1813-1889), o empreendedor e abolicionista Barão de Mauá, a praça representava a integração da cidade ao Porto e à Baía de Guanabara.
Fazem parte também da nova orla o Museu do Amanhã, projeto de Santiago Calatravaprevisto para ser inaugurado ainda este ano, e ainda 560 metros de trilhos por onde passará um VLT.
Fonte: Romullo Baratto. "Praça Mauá é reaberta no Rio de Janeiro" 08 Set 2015. ArchDaily Brasil. Acessado 8 Set 2015.





Praça Mauá, Rio de Janeiro. Image via bafafa.com.br







Praça Mauá, Rio de Janeiro. Image via Museu de Arte do Rio

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Sem manutenção, museus em Ribeirão têm patrimônio ameaçado

Estrutura do Museu do Café é comprometida por problemas em forro e piso.
Prefeitura diz que fará reforma emergencial no local a partir deste mês.


Uma parte da história de Ribeirão Preto (SP) se perde aos poucos no Museu Histórico e no Museu do Café Francisco Schmidt. A falta de manutenção e o desgaste natural ameaçam a estrutura dos prédios, e colocam em risco o acervo abrigado nos locais. Os problemas vão desde a umidade no imóvel a danos no forro e no piso, além da ameaça de cupins nas peças em exposição. Sob o risco de desabamento, algumas salas foram interditadas.
O Secretário de Cultura, Alessandro Maraca, afirma que os museus devem receber uma reforma emergencial ainda este mês. Um projeto de restauração, que deveria ser finalizado em setembro, está atrasado, e a obra só deve ocorrer no primeiro semestre de 2016.
Abandono
A situação de abandono do Museu Histórico é nítida logo na entrada do prédio, já que uma das portas principais, atacada por cupins, não pode mais ser aberta. Sem reposição de vidros, várias janelas estão cobertas com folhas de papelão.

A umidade do prédio é nítida nas paredes, e a infiltração comprometeu não só o forro, mas também o piso do museu. A varanda precisou ser interditada, já que a madeira no chão ficou totalmente danificada. Na biblioteca, o mofo toma conta de livros e documentos, estragados por goteiras.
No Museu do Café, a situação é tão precária que até uma bacia de porcelana inglesa do século XIX, que integra o acervo, foi colocada em uma sala para contar as goteiras.
Para amenizar as infiltrações, o diretor dos museus, Daniel Basso, trocou algumas das telhas de um dos prédios. O material, conseguido por doações, foi colocado pelo próprio diretor, que subiu pessoalmente no telhado para fazer o reparo. "A telha quebrada faz um estrago enorme no piso do museu. O que acontece? Tenho que trocar. Ou destrói o piso de madeira ou eu troco a telha", afirma.
Reforma geral
De acordo com Basso, os prejuízos das infiltrações demandam uma reforma geral no imóvel. "Os forros de algumas salas estão todos apodrecidos, com cupins. Foi descupinizado o museu, agora  ficou o problema da umidade. O piso da varanda, por exemplo, está todo podre. O museu está com problemas de calhas, que precisam ser trocadas. A parte elétrica também está comprometida, não há manutenção na rede elétrica", diz.

Sem apoio da Prefeitura, Basso faz um apelo para que alguma intervenção seja feita no museu o quanto antes. "Peço que seja reformado o mais rápido possível. O museu é muito importante, é a história da nossa cidade, a história do café. Tem uma importância histórica muito grande. É uma pena que está dessa maneira. Precisa ser restaurado", conclui.
Intervenção emergencial
O secretário de Cultura, Alessandro Maraca, informou que existe uma reforma emergencial prevista para ocorrer no museu ainda neste mês de setembro. "São as goteiras, é a descupinização, são as câmeras que colocamos lá há pouco tempo. A gente tem tratado da maneira que a gente consegue, tendo em vista que a secretaria tem um orçamento muito apertado", afirma.

Ainda de acordo com Maraca, o Museu do Café deve passar por uma restauração, mas o projeto, que deveria ser concluído até o final de setembro, ainda não saiu do papel. "O projeto depende da aprovação de ógãos como o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e precisa ser aprovado também pelas leis de incentivo, já que será feito junto com a iniciativa privada", diz.
Segundo o secretário, a previsão é que o projeto seja aprovado no início de 2016, e que as obras sejam iniciadas ainda no primeiro semestre do ano que vem.








Infiltração na biblioteca destruiu parte de livros e documentos que integram acervo do Museu do Café (Foto: Maurício Glauco/EPTV)









Forro foi danificado por infiltrações e goteiras ameaçam acervo no Museu do Café (Foto: Maurício Glauco/EPTV)








Museu Histórico, em Ribeirão Preto, é ameaçado por falta de manutenção (Foto: Maurício Glauco/EPTV)