sábado, 26 de junho de 2021

Uma cidade, vários estilos: guia ajuda a encontrar tesouros da arquitetura em Porto Alegre

Criado por dois arquitetos, ArqPOA é um site que reúne fotos e curiosidades de cem obras da Capital

Mesmo que pouca gente escute, a história de Porto Alegre é contada todos os dias pelo cimento, pelo aço, pelos tijolos. No mesmo quarteirão, é possível voltar ao século 18 com um sobrado luso-brasileiro, fotografar um prédio centenário de inspiração neoclássica e entrar em uma obra da arquitetura moderna.

— Cada geração grava seu depoimento na arquitetura da cidade — grafa a arquiteta Luisa Durán Rocca, professora do Departamento de Arquitetura e do programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Entender o que informam as linhas, as janelas ou o detalhe do telhado de uma construção demanda algum trabalho, mas habilita a viver um caça-tesouros interessante. E, desde maio, há um mapa para ajudar nessa busca, acessível na tela do celular.

riado pelos arquitetos e urbanistas Rodrigo Poltosi e Vlademir Roman, o Guia ArqPOA é um site que reúne dezenas de obras de arquitetura e urbanismo que se destacam em Porto Alegre. O usuário escolhe algum prédio no mapa da cidade e confere fotografias e curiosidades sobre ele, gratuitamente.

O material já havia sido lançado em formato de livro em 2017, mas na versão digital possibilita a colaboração de novos autores.

— Tem vindo contribuições de arquitetos e estudantes e sugestões de pessoas de outras áreas. Já estamos recebendo informações para aumentar o guia — conta Poltosi.

Os arquitetos destacam que São Paulo, Rio de Janeiro, Montevidéu, Buenos Aires e até Pelotas e Caxias do Sul já tinham seus guias de arquitetura, e eles sentiam falta de um registro abrangente na capital gaúcha.

— O objetivo do guia online é aumentar o relacionamento das pessoas com a cidade, fazer com que elas aprendam a olhar e passem a conhecer e valorizar seu patrimônio arquitetônico. A cidade é um livro de pedras. Se a gente não lê, não a reconhece como cultura e testemunho da história — diz Roman, parafraseando o filósofo Walter Benjamin.

De uma lista inicial de 200 espaços, os arquitetos selecionaram cem. Priorizaram locais possíveis de visitar, para que o material fosse consumido por moradores e turistas, não só por arquitetos. O projeto foi desenvolvido a partir de um edital lançado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU-RS), através do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RS).

O Guia

Pode ser acessado gratuitamente neste link. Já há cem obras arquitetônicas, urbanísticas, paisagísticas, históricas e culturais de Porto Alegre cadastradas, mas a ideia é que a relação seja ampliada. Qualquer pessoa pode participar, submetendo resumos de edificações que ainda não constem no acervo ou em eventuais correções e sugestões. Essa interação se dá por meio de um botão no canto direito do site, “colabore”.

Aprenda a "ler" a arquitetura de Porto Alegre

Entenda quais são os estilos e as referências mais importantes da arquitetura de Porto Alegre e o que eles podem ensinar sobre a história da capital gaúcha

Luso-brasileiro


















Solar Lopo Gonçalves foi construído entre 1845 e 1855 e hoje abriga o Museu de Porto Alegre Joaquim FelizardoMateus Bruxel / Agencia RBS

Também conhecidos como coloniais, os prédios de estilo luso-brasileiro são os mais antigos da cidade: remontam ao começo de Porto Alegre, nos séculos 18 e 19. Os portugueses trouxeram as correntes estilísticas da Europa, adaptando-as aos materiais que encontraram na cidade.

Caracterizavam-se por paredes em taipa ou alvenaria com pintura de cal, janelas guilhotina, de arco abatido, e pelas casas alinhadas em fita, com poucas aberturas, muito simples.

Havia diversos exemplares desse estilo na área central, mas muitos foram postos abaixo na virada do século 19 para o 20, destaca o presidente do departamento do Rio Grande do Sul do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-RS), Rafael Passos. Pela renovação, e talvez também pelo desconhecimento da sua importância, foram demolidos.

O Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo, na Cidade Baixa, é um dos sobreviventes. Chamado de Solar Lopo Gonçalves, foi construído entre 1845 e 1855, com porão alto e acesso pela escadaria lateral. As janelas frontais têm quadro superior ornado com meias rosáceas. As paredes externas foram construídas em alvenaria e, as internas, em estuque (barro, madeira e folhas de palmeira).

Eclético


















Theatro São Pedro - Mateus Bruxel - Agência RBS

Porto Alegre viveu uma transformação arquitetônica no começo do século 20, abusando de um estilo que resulta da fusão de vários: o eclético. Especialista em conservação e restauro do patrimônio cultural e professor da Uniritter, Lucas Volpatto destaca que arquitetos como o alemão Theo Wiederspahn trouxeram da Europa para Porto Alegre esse mix de estilos.

Claro que os prédios podem ter linguagens predominantes, como o neoclássico, uma releitura da arquitetura grega, vista na simetria, nas colunas, no frontão — a Cúria Metropolitana, o Palácio Piratini e o Theatro São Pedro são alguns exemplos encontrados na Capital. Já o antigo prédio dos Correios e Telégrafos, hoje Memorial do Rio Grande do Sul, e o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) têm forte influência barroca, e a Catedral Metropolitana pende ao neorrenascentismo.

Mais tarde, ainda viria a art déco. Volpatto lembra que ela chegou com o centenário da Revolução Farroupilha e sua mastodôntica exposição no parque da Redenção, em 1935. É caracterizada pelas linhas retas ou geométricas e pela simplicidade na ornamentação. A Paróquia São Geraldo, no 4º Distrito, e o Posto de Saúde Modelo, no bairro Santana, são exemplos de art déco.

A professora da UFRGS Luísa Rocca também destaca a incidência da art nouveau, expressão francesa para “arte nova”. Esse usa referências a formas naturais, não só de flores e plantas, mas de linhas curvas. Como no Observatório Astronômico da UFRGS, de 1908.

A Casa Godoy, na Avenida Independência, perto da Rua Barros Cassal, é outra obra em art nouveau relacionadas pelo Guia ArqPOA. Esse casarão de 1907 tem frontões curvos e vazados, vitrais, molduras das aberturas curvas e painéis com elementos fitomórficos, com formatos de vegetais tropicais na parte inferior e de carvalho no frontão, onde linhas curvas emolduram a figura de um corvo.

Modernismo


















Palácio da Justiça - Mateus Bruxel - Agência RBS

É inevitável lembrar de Oscar Niemeyer ao pensar em modernismo no Brasil. Esse estilo, em que o aço e o concreto começam a ser utilizados de maneiras inovadoras, chegou pela década de 1950 a Porto Alegre, seguindo referências do que estava sendo feito no Rio de Janeiro. Demorou um pouco para ganhar o solo gaúcho porque o eclético bombava no Estado na primeira metade do século 20.

— A sociedade gaúcha estava feliz com a arquitetura dos imigrantes. Resistiu a trocar profissionais maduros, que eles já sabiam que dava certo, por guris recém-formados que vêm do Rio — explica a professora Luisa Rocca, da UFRGS.

O Palácio da Justiça, o Museu Iberê Camargo e o Centro Administrativo Fernando Ferrari são algumas das obras mais importantes do modernismo na cidade. O prédio que abriga as secretarias do Estado tem 22 pavimentos: as fachadas norte e sul apresentam grandes janelas em fita, enquanto as fachadas leste e oeste são grandes empenas curvas em concreto, fazendo uma referência à arquitetura de Niemeyer.

E a cidade tem também um original dele, considerado o maior arquiteto do país. Localizado atrás da Federação Gaúcha de Futebol, o Memorial Luiz Carlos Prestes é uma edificação circular fechada com placas de vidro, que lembra uma nave flutuando. Uma rampa vermelha circunda parte do prédio até o seu acesso. A obra, a única de Niemeyer na Capital, foi inaugurada em 2017.

Contemporâneo


















Slice House, na esquina da Bastian com a Rua Baronesa do Gravataí, no bairro Menino DeusMateus Bruxel / Agencia RBS

A arquitetura contemporânea, que brilha nos dias de hoje, busca uma continuidade do modernismo, segundo a professora a UFRGS Luisa Rocca, dentro de um leque infindável de propostas. Luisa explica que esse estilo está mais focado no processo do que na forma.

— Uma coisa muito importante é a questão da sustentabilidade. Há obras contemporâneas comprometidas com os recursos naturais — acrescenta.
Muitas vezes, as obras desse período têm formato irregular, janelas em grandes dimensões e, é claro, o apelo ao uso de materiais reutilizáveis. Na esquina da Bastian com a Rua Baronesa do Gravataí, no bairro Menino Deus, a pequena e residencial Slice House (“fatia de casa”, em inglês) foi uma das mapeadas pelo guia ArqPOA. Com uma geometria prismática complexa, a estrutura de concreto moldada in loco é utilizada como planos que se desdobram, não sendo possível distinguir elementos estruturais como colunas e vigas, que acabam se fundindo ao corpo da casa. Os acabamentos metálicos também chamam atenção.

Fonte da Matéria e das Imagens: https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2021/06/uma-cidade-varios-estilos-guia-ajuda-a-encontrar-tesouros-da-arquitetura-em-porto-alegre-ckqbc97gl001w01802efpfrpo.html

sábado, 5 de junho de 2021

Arquitetura mais antiga do mundo conta uma nova história do surgimento da civilização

Localizado no sudeste da Turquia, o Göbekli Tepe, de 11 mil anos, é considerado o templo mais antigo do mundo, superando em muito o Stonehenge, na Inglaterra, e as pirâmides egípcias. O antigo local, listado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco em julho de 2018, antecede a cerâmica, a escrita e a roda, levando arqueólogos como Klaus Schmidt a considerar se Göbekli Tepe pode ser, de fato, não apenas a primeira arquitetura do mundo, mas um catalisador crucial para o surgimento da civilização.

Espalhado por oito hectares perto da cidade de Sanliurfa, Göbekli Tepe é uma colina artificial que abriga uma série de estruturas circulares enterradas, adornadas com esculturas de calcário, que se acredita terem sido ocupadas por milhares de anos antes caírem no abandono.

A estrutura de 11 mil anos de idade foi encontrada pela primeira vez na era moderna por uma equipe de antropólogos da Universidade de Chicago e da Universidade de Istambul na década de 1960. No entanto, seu significado só foi verdadeiramente revelado pelo arqueólogo alemão Klaus Schmidt em 1994.

O sítio contêm enormes esculturas de pedra feitas na pré-história sem o auxílio de ferramentas de metal, cerâmica ou técnicas agrícolas. Sem evidências de que pessoas residiram permanentemente no lugar, acredita-se que o Göbekli Tepe fora um local de culto sem precedentes, ou, como Schmidt descreve, a primeira "catedral" da humanidade.

Anos de escavações revelaram lentamente colunas de calcário monolíticas em forma de T, dispostas em círculos, com colunas maiores, até cinco metros de altura, localizadas em seu centro. Uma vez que os anéis de pedra eram entalhados, colocados na vertical e finalizados, os construtores da pré-história os cobriam com terra, para então construir o próximo anel a partir da altura do anterior.

Com o passar do tempo, esse ato repetitivo resultou em um local de adoração no topo de uma colina. As esculturas abstratas de figuras humanas e animais nos pilares de pedra são particularmente fascinantes, dado que foram produzidas seis mil anos antes da invenção da escrita. Ao passo que Schmidt está certo de que Göbekli Tepe fora uma estrutura religiosa, uma teoria definitiva de qual era sua função, a quem se dedicava, ou quem está ali enterrado, continua inexistente.

O debate sobre Göbekli Tepe gira menos em torno de sua função e mais em torno de seu potencial de inverter nossa compreensão de como a civilização se desenvolveu. Especialistas há muito argumentam que o tempo, o planejamento e os recursos necessários para construir essas estruturas só seriam possíveis em uma sociedade rural já assentada. A descoberta de Göbekli Tepe leva Schmidt a teorizar o contrário - que o desejo de construir obras arquitetônicas tão intrincadas pode ter sido o catalisador para o desenvolvimento de sociedades complexas e sedentárias.

Schmidt argumenta que Göbekli Tepe teria exigido centenas de mãos, o que exigiria moradia e alimento. Embora a descoberta de ossos de animais no local sugerisse que caça acumulativa ainda era uma prática comum na época, esse método por si só não poderia ter sustentado a força de trabalho necessária para construir um templo tão elaborado.

Schmidt acredita que os construtores de Göbekli Tepe estavam à beira de uma grande mudança na forma como as pessoas viviam, com evidências de caça acumulativa combinada com agricultura básica, como ovelhas selvagens e grãos com potencial de cultivo.

A descoberta de animais domesticados e grãos em uma aldeia pré-histórica próxima, supostamente 500 anos mais nova, sugere que a construção de Göbekli Tepe coincidiu com um movimento revolucionário crucial em que os humanos passaram de caçadores nômades às sociedades sedentárias agrárias - que acabariam se tornando a gênese dos assentamentos urbanos que conhecemos hoje.

Fonte da Matéria e das fotos: https://www.archdaily.com.br/br/900962/arquitetura-mais-antiga-do-mundo-conta-uma-nova-historia-do-surgimento-da-civilizacao?ad_medium=gallery





sexta-feira, 4 de junho de 2021

O Legado de Jaime Lerner

Em 2010, foi escolhido pela revista “Time” como um dos 25 pensadores mais inovadores do mundo, e pela revista Planetizen (EUA) como o segundo urbanista mais importante do mundo (depois de Jane Jacobs)

O Brasil perde mais de um seus arquitetos e urbanistas que conquistaram reconhecimento mundial por meio de sua prática profissional e de gestor público inovadora e ousada. É com consternação que o CAU Brasil noticia que morreu hoje o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, autor de grande projetos urbanos e de edificações, que foi três vezes prefeito de Curitiba, duas vezes governador do Paraná e presidente da União Internacional dos Arquitetos (UIA). Em 2010, foi escolhido pela revista “Time” como um dos 25 pensadores mais inovadores do mundo, e pela revista Planetizen (EUA) como o segundo urbanista mais importante do mundo (depois de Jane Jacobs). Sua mais recente obra de destaque foi Parque Urbano da Orla do Guaíba, em Porto Alegre, inaugurada em 2018.

Em nota de pesar, a presidente do CAU Brasil, Nadia Somekh, ressaltou que o arquiteto “era querido em todo mundo, não apenas entre os colegas de ofício, em reconhecimento pela transformação de Curitiba em exemplo de cidade planejada para pessoas, integrando urbanismo com políticas culturais e econômicas. O legado de Jaime Lerner vai além, por seus trabalhos em outras cidades do país e do exterior, e como pensador de questões urbanas com grande poder de comunicação e ressonância”.

Nascido em Curitiba (1937), formou-se na mesma cidade, pela Universidade Federal do Paraná, em 1964. Destacou-se rapidamente em concursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil e no mundo. Em 1967, ele venceu o Concurso Nacional de Projetos para o Edifício-Sede da Polícia Federal, em Brasília. Ficou em segundo lugar no Concurso Internacional Eurokursaal (Espanha) e no “International City Design Competition”, da University of Wisconsin (EUA), além de vários prêmios do Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB, seções estadual e nacional.

Sua imagem, porém, é mais conhecida pelo seu trabalho como prefeito de Curitiba. No seu primeiro mandato, em 1971, Jaime Lerner iniciou as transformações da cidade e implantou o Sistema Integrado de Transporte Coletivo, reconhecido internacionalmente pela sua eficiência, qualidade e baixo custo. Tinha apenas 33 anos de idade. Na época, Curitiba passou a pautar três transformações básicas: a física (reestruturação de vias, zoneamento e uso do solo, e sistema de transporte coletivo), a cultural (o curitibano assume sua identidade com a cidade, a partir do calçadão de pedestres da Rua das Flores, dos parques, do Teatro do Paiol e da Fundação Cultural de Curitiba) e a econômica (puxada pela implantação da Cidade Industrial de Curitiba). Foi reeleito mais duas vezes, em 1979 e 1989.

GOVERNADOR DO PARANÁ E PROFESSOR

Depois, assumiu dois mandatos consecutivos como governador do Paraná (1995-2002). Entre diversas iniciativas, criou o primeiro fundo brasileiro, através do Programa “Paraná Urbano” destinado exclusivamente para a melhoria da qualidade de vida nos municípios paranaenses: construção de praças, creches, centros de saúde, iluminação pública, pavimentação de ruas, transporte escolar, etc. Com as “Vilas Rurais”, o governo e as prefeituras implantaram 412 comunidades atendendo a 16.000 em casas de alvenaria de 44,5 m2, água e energia elétrica. Somando-se os programas de moradia urbana, totalizaram-se mais de 57.000 unidades habitacionais em 350 cidades.

Desenvolveu planos urbanísticos para várias cidades do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, Aracaju, Natal, Goiânia, Campo Grande e Niterói; prestou assessoria internacional para cidades como Caracas (Venezuela), San Juan (Porto Rico), Shangai (China), Havana (Cuba) e Seul (Coréia do Sul), e foi consultor em assuntos urbanos para as Nações Unidas. Em 2007 recebeu da XI Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires o prêmio conjunto pela urbanização do bairro Pedra Branca; e em 2009 o Prêmio Brasil Olímpico, agraciado pelo Comitê de Candidatura Rio 16, pela participação no desenvolvimento do Projeto BRT e por serviços de consultoria à cidade do Rio de Janeiro relativos a sua candidatura a sede olímpica.

No campo da educação, foi professor da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná, e professor convidado e conferencista nas universidades americanas de Berkeley (Califórnia), Cincinnati, Columbia (NY), e na universidade japonesa de Osaka, além de conduzir seminários em diversos países como Colômbia, Porto Rico, Espanha, Reino Unido, Japão, EUA e China.

SEMPRE PRODUTIVO

“Estou sempre com um brinquedo novo”, disse o arquiteto na II Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo, promovida pelo CAU Brasil em 2017. “Procuro fazer de cada dia uma alegria. Não faço nada que não seja por prazer. Tenho encontrado tantos colegas que pensam a mesma coisa, e isso me dá uma alegria que não se paga”. Na ocasião, deu lições poderosas sobre otimismo, inovação e a construção de cidades mais justas e sustentáveis. “Temos que ter a coragem de fazer coisas simples e imperfeitas. A Arquitetura as vezes é um compromisso com a simplicidade e imperfeição. Temos que ter orgulho da nossa constelação de arquitetos-estrelas, mas precisamos mais de uma constelação de arquitetos preocupados com as cidades. Menos ego-arquitetos, mais eco-arquitetos”, afirmou.

Para ele, rapidez é uma atribuição muito importante para os arquitetos e urbanistas. “Por isso começamos com a ideia de acupuntura urbana, transformações rápidas com uma atuação pontual que pode criar uma sinergia para melhorar a cidade. Às vezes nós demoramos porque queremos ter todas as respostas, não podemos ser tão prepotentes assim”, explicou. “Precisamos entender que planejamento é uma trajetória onde nós podemos começar mas temos que deixar que a população nos corrija quando estivermos no caminho errado. Começar, fazer rápido. Queremos discutir demais, perdemos a oportunidade da mudança”. Para ele, a solução para as cidades está em apenas três medidas: (i) usar menos carros; (ii) morar perto do trabalho; e (iii) separar e reciclar o lixo.

“O brasileiro fica encantado com as cidades europeias, mas não reproduz as soluções aqui. Quando chega de volta ao Brasil, volta a querer separar, dar prioridade ao automóvel, volta a se entregar a soluções que não vão fundo no problema”, disse em entrevista à BBC Brasil. Para quem quer conhecer mais da obra do arquiteto e urbanista, uma boa dica é começar pelo documentário “Jaime Lerner – Uma história de Sonhos”, lançado em 2016.

Fonte: https://www.caubr.gov.br/falece-o-arquiteto-e-urbanista-jaime-lerner-ex-prefeito-de-curitiba/










































Fonte das imagens: Site CAU BR


















Sistema de transporte de BRT foi criado por Jaime Lerner. — Foto: Cesar Brustolin/SMCS - Fonte: Site G1