sexta-feira, 7 de agosto de 2009

CAOS DA METRÓPOLE AMERICANA

No livro Tristes Trópicos, o filósofo francês Claude Lévi-Strauss diz em uma passagem do livro que as cidades americanas vivem febrilmente uma doença crônica: “eternamente jovens, jamais são saudáveis, porém”.Segundo ele, para as cidades européias a passagem dos anos constitui uma promoção, para as americanas, é uma decadência.
Particularmente acho que Lévi-Strauss tem razão.A maioria das cidades americanas (e quando digo americanas, não me refiro somente às cidades norte-americanas, mas a todas as cidades da América), não são apenas construídas recentemente, mas construídas para se renovarem com a mesma rapidez com que foram erguidas, ou mal erguidas.Quando surge um novo bairro, ás vezes nem sequer são bairros, são brilhantes demais, novos demais, alegres demais.Assim que passa a euforia, a festa termina e os novos bairros fenecem, as fachadas descascam, a chuva e a fuligem das fábricas traçam os sulcos e o estilo sai de moda.Muitas vezes, esses bairros ou até mesmo cidades inteiras não são sequer planejados, expandindo seus tentáculos para todos os lados, ocupando terrenos inadequados e áreas de risco.
O modo como é ou foi construído um bom número de cidades, como La Paz na Bolívia, implica na impossibilidade de alterações positivas futuras, conseqüentemente isso acaba gerando problemas como falta de moradias, adensamento de bairros, agravamento da exclusão social – marginalização, violência e desestruturação de pautas de convivência, gerando uma cidade dividida entre o setor formal (bairros) e o informal (favelas).
O que acaba gerando o exposto acima é provocado pelo fenômeno da globalização, pelo fato de que temos hoje a confluência de uma crescente dependência do movimento de capitais entre os países e um constante incremento de novas tecnologias.O que era local, de apropriação do habitante local, se internacionaliza, adquire e incrementa novas culturas, muitas vezes distante de sua realidade, e isso reflete no modo de vida e organização das cidades.
Podemos também verificar uma tendência para a exacerbação dos conflitos, dificuldade de coexistência entre as diversas camadas e classes da população, isto porque um setor, ao ver o outro invadindo o seu, acaba reagindo, muitas vezes com violência.Enumerei alguns dos principais problemas das cidades contemporâneas da América, mas há outros tantos – apropriação de espaços públicos por parte da população mais pobre, construções irregulares, condomínios que ao invés de promover a integração dos habitantes, acaba fazendo o papel ao contrário.
Soluções? Penso que não só arquitetos e urbanistas, mas toda a sociedade deveria interagir com o poder público na busca de soluções urbanas inovadoras, capazes de tornar nossas cidades um espaço melhor para viver.Buscar parcerias internacionais, acordos com Ongs e indústrias.Procurar também aprender com o modelo europeu, não que as cidades européias não tenham problemas, mas estão hoje em um nível superior ao nosso.Então, ao juntarmos essas soluções, podemos quem sabe tornar nossas cidades mais humanas.

Eder Santos Carvalho
Encruzilhada do Sul, Agosto de 2009

Bibliografia:
- Jáuregui, Jorge Mário- Megacidades, exclusão e mundialização.Do ponto de vista da América Latina – Artigo – Portal Vitrúvius – Abril 2002
- Ultramari, Clóvis – Guerras, desastres, pobreza, mas também resiliências urbanas – Artigo – Portal Vitrúvius – Agosto 2006
- Strauss, Claude Lévi – Tristes Trópicos – Companhia das Letras – São Paulo – 4º ed. – 2001

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