Conjunto de prédios no bairro
Floresta está entre os 15 trabalhos selecionados para a mostra que será realizada no pavilhão
brasileiro
Por: Renata Maynart
20/05/2016 -
04h00min | Atualizada em 20/05/2016 - 04h00min
A 15ª Bienal Internacional de
Arquitetura de Veneza, que será aberta no próximo dia 28, promete lançar uma
provocação ao cenário mundial. Com o tema Reporting from the Front, esta edição
– liderada pelo arquiteto chileno Alejandro Aravena, vencedor do prêmio
Pritzker 2016 – convocará o mercado para menos conceito e mais ação. Ou,
traduzido na prática, fará uma defesa de projetos mais humanos e direcionados
às passividades das grandes cidades em questões primordiais, como moradia,
mobilidade e sustentabilidade.
No pavilhão brasileiro, o destaque
será a mostra Juntos, com curadoria do arquiteto e urbanista Washington
Fajardo, que selecionou 15 projetos como representantes do país. As escolhas,
afirma Fajardo, apontam autores inseridos na sociedade, e não sendo endeusados
por ela. Entre esses escolhidos, Porto Alegre se faz presente com o conjunto de
prédios Vila Flores, localizado no bairro Floresta e construído na década de
1920 conforme projeto do arquiteto alemão Joseph Lutzenberger (1882 – 1951).
– Temos que acabar com a ideia de
obra-prima. Os trabalhos selecionados têm soluções alcançadas com tempo e
esforço. Gosto de dizer que é uma arquitetura conquistada – afirma
Fajardo.Presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade e do Conselho
Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, Fajardo
descreve o conjunto Vila Flores como uma ¿restauração orgânica¿. Nesse
conceito, criar vivência no local ao mesmo tempo em que as obras são realizadas
torna-se mais valioso do que priorizar questões exclusivamente técnicas, como
as cores originais das paredes ou a madeira usada na estrutura.
– A vitalidade é o melhor
procedimento de restauração – afirma Fajardo. – Garantir vida ao patrimônio é o
princípio mais sustentável que podemos ter. Vejo no Vila Flores de Porto Alegre
um trabalho continuado de uso, e que é feliz na sua forma e ressignifica o
lugar. Faz sentido ao estar aberto às pessoas, mesmo em processo constante de
renovação.
Conjuntos habitacionais, parques,
sinalizações em comunidades carentes e até mesmo uma escola integram a seleção
brasileira que será apresentada na exposição em Veneza. Ao destacar elementos
como cultura negra e centralidades históricas em sua seleção, Fajardo também
vislumbra a possibilidade de mostrar novas percepções da arquitetura do Brasil
aos demais países participantes:
– Somos muito relacionados ao
modernismo ou às favelas. Será importante sair desse binário.
Contudo, os olhos internacionais
ainda parecem se voltar à geração modernista brasileira. Foi o que se viu, há
duas semanas, com o anúncio do prêmio Leão de Ouro, da Bienal de Arquitetura de
Veneza, para o arquiteto e urbanista brasileiro Paulo Mendes da Rocha, 87 anos,
pelo conjunto de sua obra. Segundo o Conselho de Diretores da Bienal, ¿o
atributo mais marcante de sua arquitetura é a atemporalidade¿.
O diálogo entre inclusão e uso
consciente de materiais ganha força na figura do curador desta Bienal. À frente
do escritório Elemental, com sede no Chile, Aravena tem entre seus mais
relevantes trabalhos obras de baixo custo e inclusão social. Destoante das
grandes estrelas, é criador do conceito de meia-casa: imóveis de medidas
enxutas, com previsões estruturais para futuros ¿puxadinhos¿. Projeto que
tentou implementar sem sucesso em São Paulo, em 2008 – experiência que
classificou como decepcionante.
Para a Bienal, a proposta do
arquiteto chileno é ir contra o ¿Não faça isso em casa¿. Na divulgação à
imprensa, Aravena complementou: ¿Dada a complexidade e variedade de desafios
aos quais a arquitetura tem que responder, Reporting from the Front tratará de
escutar aqueles que foram capazes de ganhar certa perspectiva e,
consequentemente, estão na posição de compartilhar conhecimento e experiências
com aqueles de nós que estão no nível do solo.¿
A 15ª Bienal Internacional de
Arquitetura de Veneza, também classificada como uma cruzada contra a
indiferença, terá em seu calendário, que se encerra em 27 de novembro, 19
projetos paralelos, em uma proposta de ocupação por toda a cidade.
O pátio é o local onde a maior parte das atividades culturais
são realizadas. São, no total, 33 unidades no Vila FloresFoto: Omar Freitas / Agencia RBS
Entre as características que chamaram a atenção do curador da
mostra Juntos está a vivência durante as obras de restauroFoto: Omar Freitas / Agencia RBS
Detalhe do pátio, que ganhou intervenções do locatários,
também chamados de residentes. São 22 empresas no momentoFoto: Omar Freitas / Agencia RBS
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