Instrumento usado em expedição de Vasco da Gama à Índia, encontrado onde duas naus naufragaram em 1503, acaba de entrar para o livro dos recordes.
Quando Pedro Álvares Cabral tomou conhecimento da existência do Brasil, em 1500, os portugueses queriam mesmo era saber das Índias. Portugal estava doido para consolidar uma rota marítima que levasse as especiarias indianas diretamente até a Europa. Tornar-se o primeiro estado europeu a estabelecer essa rota era uma imensa vantagem comercial. Acaba de entrar para o Guinness Book, o livro dos recordes, uma relíquia dessa época: um astrolábio português perdido em naufrágio de 1503 foi declarado o mais antigo do mundo.
O instrumento era uma mão na roda para os exploradores da época. Bastava apontá-lo para o céu, durante uma noite estrelada, para que ele determinasse a posição dos astros — o que permitia ter certeza de que o barco navegava na direção certa. Com origens que remontam à Grécia Antiga, o primeiro astrolábio moderno usado para fins náuticos é atribuído a uma viagem de portugueses pela costa ocidental da África em 1481. Daí para a frente, todos os grandes navegadores usaram-no: Cristóvão Colombo, Bartolomeu Dias, Vasco da Gama.
O astrolábio tornou-se bastante popular na era das Grandes Navegações. O que acaba de entrar para o Guinness estava a bordo de uma das duas embarcações que naufragaram durante a quarta armada de Portugal às Índias, comandada por Vasco da Gama. Aportadas perto da pequena ilha de Al Hallaniyah, a poucos quilômetros do litoral de Omã, na Península Arábica, as naus Esmeralda e São Pedro afundaram em 1503 após uma forte tempestade. O local ganhou o nome de Sodré, comandante do pequeno esquadrão militar.
Pesquisadores da Universidade de Warwick, no Reino Unido, recuperaram o histórico objeto durante escavações conduzidas no local em 2014. Mais detalhes sobre a descoberta foram publicados neste sábado (16) no periódico International Journal of Nautical Archaeology. Auditores do Guinness Bookacabam de certificar que, de fato, o astrolábio de Sodré é o mais antigo de que se tem registro entre os 104 exemplares conhecidos no mundo. São considerados os mais raros e valiosos artefatos que se pode resgatar de naufrágios.
Os especialistas acreditam que o instrumento tenha sido construído entre 1496 e 1501, pois suas características são únicas. Além de ostentar o brasão de armas de Portugal, algo que não era comum, o achado também preenche uma lacuna. É uma espécie de elo entre os primeiros modelos de astrolábio, que tinham forma de planisfério, e versões aprimoradas de discos com janelas abertas que se tornaram comuns a partir de 1517.
O astrolábio de Sodré é um disco metálico bem leve e pequeno, com 344 gramas e 17,5 centímetros de diâmetro. Seu pioneirismo tecnológico na Era dos Descobrimentos foi atestado pelos pesquisadores através de técnica de escaneamento a laser. Um modelo virtual 3D do objeto foi criado e uma posterior análise do espaçamento entre as marcas da escala comprovou que se trata do astrolábio mais antigo já descoberto. Historiadores e cientistas agora podem entender melhor os navios portugueses — e como eles navegavam.
(David Mearns/Divulgação)
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