"Em
Belém o calorão dilata os esqueletos e meu corpo ficou exatamente do tamanho da
minha alma”, registrou o escritor Mário de Andrade, em sua obra O
Turista Aprendiz, de quando esteve na capital paraense em maio de
1927. Batizada em 12 de janeiro de 1616, Belém completa 400 anos sendo
carinhosamente chamada pelos seus de ‘Cidade Morena’ e popularmente conhecida
pelo calor do início de tarde seguido pelas chuvas vespertinas.
Para
comemorar o quarto centenário da cidade, o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan), publicará vários títulos alusivos à cidade e ao
estado do Pará, como Azulejaria de Belém, de
Dora Alcântara, Stella Brito e Thais Sanjad; Cerâmicas da Amazônia, de
autores diversos e feito em parceria com o Museu Emílio Goeldi, além do Dossiê Carimbó, material que agrega
extensa pesquisa sobre esse Patrimônio Cultural Brasileiro Registrado em
2014.
O
Turista Aprendiz, livro de Mário de Andrade, também será relançado durante a
programação que contará com mesas redondas sobre o patrimônio cultural da cidade.
O Iphan no Estado apoia ainda outras iniciativas da sociedade civil
relacionadas à data comemorativa por meio da Rede Casa do Patrimônio do Pará, a
exemplo do Roteiro Geoturístico; do Projeto Circular Campina – Cidade Velha;
e do Projeto Conhecer o Patrimônio da Associação de Agentes de Patrimônio da
Amazônia (Asapam).
Belém e seu patrimônio
O
primeiro tombamento feito pelo Iphan no Pará foi das Coleções Arqueológicas e
Etnográficas do Museu Paraense Emílio Goeldi no ano de 1940, contemplando
também a ocupação pré-colonial dessa parte da Amazônia e do Brasil.
Em 1941, a partir de uma proposta modernista de construção de
uma identidade nacional que na época elegeu o período colonial e o barroco
brasileiro como representação maior de uma autentica arte e arquitetura
brasileiros, foram protegidos federalmente a Igreja da Sé, a Igreja do Carmo, a
Igreja de Santo Alexandre e o antigo colégio, a Igreja e convento dos
Mercedários e a igreja de São João Batista.
Os
tombamentos das décadas de 1970 e 1980 irão contemplar alguns conjuntos
representativos do século XIX e primeiras décadas do XX, como o Palacete Pinho;
o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Ver-o-peso,
incluídos os mercados; os conjuntos das avenidas Governador José Malcher e
Nazaré com seus sobrados ecléticos azulejados, exemplares representativos de
uma forma de morar mais modesta.
A
partir de 2000, a atuação do Iphan no Pará vai identificar, documentar e
reconhecer, por meio do registro algumas das principais manifestações culturais
do Pará como patrimônio cultural brasileiro:Círio
de Nazaré, também reconhecido pela UNESCO como patrimônio da humanidade; Carimbó,
Festividades de São Sebastião no Marajó e cuias do Baixo Amazonas. Embora
algumas se concentrem em outros municípios, todas, sem exceção, mantêm estreita
relação com a cidade de Belém decorrente da circulação pelo território paraense
de produtos e detentores. Cabe mencionar ainda os inventários preliminares de
referências culturais realizados e em andamento no Pará: Marajó; Ver-o-peso,
Povo Tembé, Pássaros Juninos, Sairé, comunidades quilombolas de Oriximiná.
Já no
ano de 2012, a proteção dos conjuntos dos bairros Campina e Cidade Velha vai
reconhecer a importância e a dimensão do conjunto arquitetônico e paisagístico
da cidade de Belém com toda a sua trajetória e transformações ao longo dos
séculos XVII ao XXI.
No
Programa PAC Cidades Históricas lançado em 2014, Belém foi contemplada com 15
projetos, na ordem de R$ 47 milhões, destes o Iphan concluiu a obra do Mercado
de Peixe. São parceiros no programa a Prefeitura de Belém, Universidade Federal
do Pará e a Secretaria de Estado da Cultura. Destaca-se ainda neste ano a
inclusão do conjunto Ver-o-peso na lista de candidatura a patrimônio mundial,
tendo Iphan e prefeitura trabalhando desde então para que no final de 2016 o
dossiê Ver-o-peso seja enviado para a UNESCO na tentativa de que sua indicação
seja votada em 2017.
Essa
trajetória de Belém, pode-se dizer, está hoje representada nacionalmente pelos
monumentos tombados pelo Iphan, na cidade de Belém, e nos bens registrados nos
últimos 12 anos, que extrapolam os marcos edificados e monumentais espalhados
pela cidade e estão impressos nos saberes e fazeres da população.
A história
No
entorno das primeiras instalações do Forte do Presépio, da Capela do Santo
Cristo e depois da igreja de Nossa Senhora das Graças (Sé), desenvolveu-se a
ocupação denominada Feliz Luzitânia. Dalí irradiaram os caminhos em direção a
novos templos católicos nas versões em taipa de pilão e pau-a-pique – como o da
Nossa Senhora do Carmo e São João Batista -, consolidando a estrutura local,
hoje o bairro Cidade Velha.
A
chegada dos Franciscanos do Minho à Belém e a instalação de seu Convento vai
dar início à ocupação do que viria a ser a freguesia da Campina e,
consequentemente, a criação de sua paróquia com a construção das igrejas de
Santana, Mercês, Rosário dos Pretos. Ao longo desses caminhos instalaram-se
habitações e comércios. O aterramento e drenagem do Piry, vai induzir a maior
interiorização e a expansão urbana com implantação de novos bairros.
Com a
vinda da Comissão Demarcadora de Limites para a Amazônia, em meados do século
XVIII, chega à Belém o arquiteto italiano Antônio Landi que irá, com o apoio do
governo Pombalino, realizar muitas intervenções na cidade, conferindo-lhe novas
feições. Praticamente todas as primeiras igrejas serão reformadas por Landi,
ganhando monumentalidade e refinamento nos acabamentos, passando a destacar-se
na paisagem. Também é de autoria do arquiteto o Palácio dos Governadores, além
de muitas outras contribuições que extrapolam a arquitetura.
A
influência europeia é uma marca notória nas edificações distribuídas
especialmente na área designada como centro histórico de Belém, bem como no
projeto urbanístico do final do XIX que definiu o atual desenho do boulevard
Castilho França, estendendo-se pela praça do Relógio, doca do Ver-o-peso e
praça Dom Pedro.
Para
além dos portugueses, as presenças negras e indígenas são marcantes na
configuração social e na formação histórica da cidade, e tiveram suas
participações impressas nas paredes das igrejas e em imagens sacras,
demonstrando claramente que o processo de constituição da cidade teve (e tem) a
participação de diversos atores e agentes em situações muitas vezes díspares,
mas resistentes. São os filhos e filhas da terra reivindicando seus lugares na
história nas linhas da vivência do presente.
Entre o
final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, Belém vai passar por
grandes transformações que serão financiadas pelos recursos provenientes da
exploração e exportação da borracha. Um grande processo de urbanização e
‘embelezamento’ da cidade que vai ganhar melhor infraestrutura, ruas
pavimentadas e arborizadas com mangueiras (daí o título de Cidade das
mangueiras), muitos palacetes, construções e elementos urbanos pré-fabricados
em ferro decorado ao gosto art noveau. A decoração eclética, com forte
influência art noveau vai marcar as decorações de interior das residências, mas
também de alguns edifícios coloniais, como o Palácio dos Governadores, o
Palácio Antônio Lemos, o paço municipal e o Teatro da Paz.
Vale
destacar que a realização de todas estas intervenções arquitetônicas, estéticas
e estilísticas na capital do estado só foram possíveis graças à ação de mãos
trabalhadoras brancas, negras e indígenas, no primeiro momento. Não demorou
muito Belém tornou-se um celeiro de imigrantes (judeus-marroquinos, sírios,
libaneses, barbadianos, portugueses, espanhóis, franceses, e tantos outros), um
lugar de encontro de diferentes povos, resultado de uma nova política
colonizadora e civilizatória para a região. As drogas do sertão e o látex
esperançavam pessoas que chegavam de diversas partes do mundo e do Brasil,
especialmente do nordeste.
Lindo é o pôr-do-sol no meu Guajará...
Santa-Maria do Grão-Pará, minha querida Belém
(Xaxá, compositor)
Simples como a beleza de uma rosa,
Mundana, que não pertence a ninguém
(Alcyr Guimarães, compositor)
Belém, Belém acordou a feira
Que é bem na beira do Guajará
Belém, Belém, menina morena
Vem ver-o-peso do meu cantar
Belém, Belém és minha bandeira
És a flor que cheira do Grão Pará
(Chico Senna, compositor)
Saiba mais
Fonte: http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/3456/belem-do-para-comemora-400-anos
Fonte das Imagens: Site Iphan
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