A velha janela da foto acima está aberta para quem quiser voltar a um
passado que estima-se beirar os 200 anos de história e que se mantém
vivo em Cachoeira do Sul. A Fazenda da Tafona, antiga São José, na
localidade de Porteira Sete, a cerca de 17 quilômetros do centro da
cidade, preserva aparatos dos escravos e peças que remontam meados do
século 19. A propriedade é da aposentada Gemina Vieira da Cunha, 97
anos, que conserva o que considera “verdadeiras relíquias”.
O clima que remete a antigamente é sentido em qualquer parte da
Tafona, da fachada do casarão de 19 peças aos cômodos, móveis,
utensílios e objetos. O aposentado Arnaldo Vieira da Cunha, filho de
Gemina, observa que a casa é coberta com telhas que eram moldadas nas
coxas dos escravos. Construída antes da abolição da escravatura, a
propriedade em estilo colonial foi erguida com tijolos maciços de
argila, mas já sofreu rachaduras e teve de ser reformada com concreto.
O nome da fazenda remete ao moinho de farinha de mandioca e de
polvilho que funcionava na propriedade. Naquela época, a Tafona era
ocupava por escravos, que além de trabalhar faziam do engenho o seu lar.
O moinho sobrevive intacto ao tempo e fica ao lado do casarão da
Fazenda da Tafona. Todos os equipamentos usados na produção de farinha
de mandioca e polvilho estão desativados, mas seguem no prédio.
Figueira – Para quem visita a fazenda, vale a pena
dar uma caminhada e conhecer os campos. Além da paisagem bonita, tem uma
figueira cheia de história na propriedade. Segundo Arnaldo, os escravos
acreditavam que tinha ouro embaixo da árvore. “De tanto cavocar, a
figueira ficou enfraquecida e uma forte ventania tombou ela para um lado
e continuou crescendo”, relata.
Para entender melhor – Quem é Gemina Vieira da Cunha
- Gemina Vieira da Cunha é tetraneta de José Vieira da Cunha,
português que se radicou no Brasil. José casou-se com a filha de Antônio
Gomes de Campos, um dos primeiros povoadores de Cachoeira do Sul.
Acredita-se que José tenha recebido a Estância São José (hoje Fazenda da
Tafona) por dote (bens que antigamente o marido recebia da família da
esposa quando casava).
- José Sebastião Vieira da Cunha, neto de José Vieira da Cunha,
nasceu em 1846 e foi casado com Maria Manoela Pereira da Cunha. O
enxoval foi encomendado de Portugal, de onde veio em um baú, em 1870,
com as letras iniciais do nome de Maria Manoela (MMPC) grafadas com
taxas. José faleceu em 1916, aos 70 anos.
- EmÍlia Vieira da Cunha (Miloca), filha de Sebastião, última
herdeira de 11 filhos, foi quem doou as terras da Fazenda da Tafona à
sua sobrinha Gemina. Gemina foi casada com Sylvio Martins da Silva e
teve cinco filhos, Flávio, Luiz Felipe, Arnaldo, Carlos Alberto e Maria
Irtília (Marô).
- De acordo com a diretora do Núcleo de Cultura de Cachoeira do Sul,
Miriam Ritzel, a Fazenda da Tafona está inscrita como museu junto ao
Sistema Estadual de Museus (SEM/RS).
- A proprietária Gemina, depois que sofreu uma fratura no fêmur no
ano passado, reside no centro de Cachoeira do Sul. Na fazenda moram os
caseiros Iracema e Floriano Freitas Rodrigues.
- A fazenda tem hoje 58 hectares, saldo de uma extensa propriedade de
duas léguas de sesmaria, o equivalente a 8.712 hectares. Não se sabe
exatamente a idade da fazenda, mas segundo os estudos da família a casa
começou a ser erguida em 1813.
Um passeio pela Fazenda da Tafona
Chapinha
E não é que a chapinha já era uma aliada
das mulheres no tempo da escravidão? Em uma versão arcaica, elas usavam
um pente de ferro aquecido na brasa. O instrumento era usado para
alisar os cabelos das negras.
Ralador
No moinho, para iniciar o processamento da
mandioca que virava farinha, era usado um ralador movido por um boi ou
um burro. Com movimentos em sequência da peça, a mandioca era triturada.
Prensa
A mandioca ralada era transportada para uma
prensa, que socava o alimento. Do líquido era feito o polvilho e as
raspas eram levadas para o forno para ser produzida a farinha de
mandioca.
Bilros
A sala do casarão tem duas mesas com peças antigas, entre elas os
bilros, que eram utilizados para fazer renda, e os bastidores para
produção de tapeçaria.
Compra de escravos
Entre a documentação que faz parte da história da fazenda há
registros originais de compra de escravos feita por José Vieira da Cunha
no estado do Rio de Janeiro e em Pelotas, no Rio Grande do Sul. As
transações são da década entre 1820 e 1830. Não há registros do número
de escravos que chegaram a ocupar a Tafona. As cartas oficiais de compra
não revelam o número de escravos adquiridos.
Obra de arte
Em 1997, a artista plástica Itamara Avena fez tela com documentos
originais de compra e venda de escravos da Tafona. Os papéis foram
amassados e colados nos círculos que representam o Continente Africano e
a América do Sul. “São vidas que ficarão ilustradas durante muito tempo
no quadro”, destaca Arnaldo Vieira da Cunha ao mostrar o quadro em uma
das paredes do casarão.
Quartos
Na casa, os quartos são dispostos um ao lado do
outro. Na época da escravidão, as moças ficavam no quarto do meio e,
para chegar a outros cômodos, tinham de passar pelo dormitório dos pais.
Esta estratégia era usada para evitar que as filhas tivessem contato
íntimo com os escravos enquanto os pais dormiam.
Retrato
Na
sala tem um retrato de Sebastião Vieira da Cunha, obra dos irmãos
Callegari, reconhecidos no Dicionário de Artes Plásticas do Rio Grande
do Sul. Por ilusão de ótica, os olhos de Sebastião acompanham a
movimentação de quem observa o quadro.
Quem quiser visitar a Fazenda da Tafona deve fazer o agendamento pelo telefone 9233-0677. O ingresso custa R$ 3,00.
Fonte da Reportagem: http://www.defender.org.br/cachoeira-do-sulrs-uma-fazenda-com-dois-seculos-de-historia/
Sede da Fazenda
Prensa para dividir o líquido e raspas da mandioca
Cama em um dos cômodos do casarão
Instrumento usado para chapinha
Que máximo!!!
ResponderExcluirQuero conhecer!
=)
Muito bom. Apenas a guisa de colaboração, corrigindo o nome do sogro do José Vieira da Cunha casado com a Rosa Joaquina de Souza, era o de nome João Pereira Fortes casado com a Eugênia Rosa.
ResponderExcluirMuito bom. Apenas a guisa de colaboração, corrigindo o nome do sogro do José Vieira da Cunha casado com a Rosa Joaquina de Souza, era o de nome João Pereira Fortes casado com a Eugênia Rosa.
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