A onda da sedução
Concreto à imagem de água ondulante é o apelo sedutor
do Museu de Arte do Rio (MAR), inaugurado no início de março, na zona
portuária carioca. O simbolismo diverte, mas é pouco se confrontado com o
papel articulador da cobertura sinuosa do complexo, que, o primeiro de
grande porte do processo de transformação urbana em curso naquela
região, sela a dissolução do escritório Bernardes Jacobsen Arquitetura.
Até o infográfico caprichado, apontando o passo a passo da
concretagem da cobertura em 16 segmentos com cerca de 5 x 5 metros de
projeção (moldados por peças maciças de isopor confeccionadas por
cenotécnicos do samba), serviu de munição à imprensa diária para
explicar aos leitores a engenharia da obra - que teve entre seus
consultores o português Jorge Nunes da Silva, braço direito de Álvaro
Siza no projeto estrutural do Museu Iberê Camargo, em Porto Alegre.
O fato é que foi em meio ao concurso para a nova unidade do Museu
da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (MIS/RJ), atualmente em construção
na orla de Copacabana, que em 2009 se cogitou, para a concepção do MAR,
a escolha dos arquitetos do BJA - desmembrado em 2012 nos escritórios
de Thiago Bernardes (Bernardes Arquitetura) e Paulo e Bernardo Jacobsen
(Jacobsen Arquitetura).
Simultaneamente ao MIS, cujo concurso foi vencido por Diller
Scofi dio + Renfro (leia PROJETO DESIGN 356, outubro de 2009), estava em
formatação um museu para dar nova vida ao Palacete D. João 5º, bem
arquitetônico inaugurado em 1931 e que, tombado pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), se deteriorava na
zona portuária, bem em frente ao ponto privilegiado de desembarque dos
milhares de turistas que povoam os grandes navios de cruzeiro.
Essa opção culturalmente mais interessante à ideia preliminar de
transferir para o imóvel a sede da prefeitura contou com a simpatia de
dois importantes agentes: o curador de arte Paulo Herkenhoff, um dos
jurados da competição do MIS, e o jornalista Leonel Kaz, que, em São
Paulo, assinou a direção e o conteúdo do Museu do Futebol (leia PROJETO
DESIGN 346, dezembro de 2008).
O MAR, portanto, extrapolando o espaço do palacete, já nasceu
bipartido. O momento e o local - berço da formação do Rio de Janeiro -
demandavam uma ação não convencional, que vinculasse o acervo especial
sobre a história da cidade - arte que fala da transformação da paisagem -
à ação educativa em escala muito maior do que a das salas fechadas e
isoladas das instituições culturais. Algo que, com o nome Escola do
Olhar, fosse tão popular quanto o sugerido pela proximidade com o morro
da Conceição.
Ao palacete, assim, somou-se no programa a área do prédio
vizinho, obra moderna, dos anos 1940, que abrigou a primeira rodoviária
do Rio, funcionou como terminal de ônibus e, no final de 2008, amargava
os últimos suspiros como hospital da polícia, já parcialmente
desativado.
Os governos municipal e estadual, proprietários dos imóveis,
deram o sinal verde, e a junção entre o eclético tardio e o austero
moderno seguiu adiante. Então, com as curadorias em conceituação, os
arquitetos passaram a estudar formas de unir as duas edificações, não
necessariamente estendendo uma laje no vão de dez metros que as
distancia.
Continua a matéria no link: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/bernardes-jacobsen-arquitetos-mar-museu-arte-rio-05-04-2013.html
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