Por Claudia Bojunga
Há 250 anos o Rio de Janeiro
ganhava o status de sede do Estado do Brasil (o que não inclui o Estado
do Grão-Pará e Maranhão), posto até então ocupado por Salvador. A
mudança contribuiu para uma transformação marcante da paisagem urbana
carioca. Com construções como o Passeio Público e o chafariz de mestre
Valentim, o Rio ganhou características renovadas, calcadas na estética
barroca. A configuração de suas ruas, praças e monumentos eram reflexo
do projeto de poder que se instaurava na cidade.
A política
colonial naquela década estava sob o firme comando do marquês de Pombal,
secretário de Estado do rei português D. José I. Foi ele quem decidiu
pela transferência da sede. No poder desde 1750, Pombal buscava sempre
reforçar o poder do rei. O projeto colonial se afirmava pelo
fortalecimento do Estado.
O Brasil – que vivia o ciclo do ouro
desde o final do século XVII – passara a despertar a atenção de Portugal
em meio a tantos outros domínios. “Até então, a joia da Coroa era a
Índia. O ouro vai afirmando o Brasil no contexto do império colonial
português”, observa Paulo Knauss, professor de história da Universidade
Federal Fluminense (UFF) e diretor-geral do Arquivo Público do Estado do
Rio de Janeiro. Na segunda metade do século XVIII, o Brasil e,
particularmente, o Rio de Janeiro passariam a desempenhar papel central
para os interesses da metrópole.
Ponto de articulação da região
meridional do império atlântico português, o Rio foi se tornando cada
vez mais estratégico. A proximidade em relação à região do rio da Prata,
alvo de disputas territoriais de longa data com os espanhóis, fazia com
que a cidade fosse um ponto de apoio importante na defesa da porção sul
dos territórios lusitanos. Além da ocupação do território, os
portugueses se preocupavam com as riquezas geradas na área, devido ao
intenso comércio realizado abaixo da linha do trópico, que tinha entre
seus produtos o charque, o couro e a prata.
Comparando com
Salvador, o Rio de Janeiro também ficava mais perto da chamada região
das minas. Em 1763, o ciclo do ouro já não estava em seu auge. Por
paradoxal que pareça, é justamente por isso que a Coroa tinha a
preocupação em manter a área sob seu controle. “Antes, a distribuição de
riqueza era farta; na hora em que ela diminui, a presença do Estado se
fez mais importante. Provavelmente, o governo queria estancar a perda de
arrecadação”, esclarece Knauss.
Na arquitetura, a cidade
precisava refletir toda essa importância. Sob o governo do vice-rei Luís
de Vasconcelos e Souza (1778-1790), é erguido o belo chafariz de mestre
Valentim, no largo do Carmo – hoje, praça XV, no centro do Rio. O local
do monumento à beira do porto foi escolhido a dedo por causa de sua
simbologia. “O chafariz vira uma espécie de obelisco, tornando-se a
grande porta da entrada da cidade,” explica José Pessôa, arquiteto,
urbanista e professor da Escola de Arquitetura da UFF. Hoje, parte da
área foi aterrada e o chafariz perdeu o destaque de outrora.
Mas a
obra de mestre Valentim é apenas um dos aspectos das mudanças
realizadas no largo do Carmo. O Palácio dos Governadores – depois Paço
Imperial – recebeu um andar extra. A reforma lhe conferiu magnificência.
A praça também ganhou piso radial, que, dadas as devidas proporções,
era similar ao da praça do Capitólio em Roma, projetada por Michelangelo
– piso esse que não existe mais.
Leia esta matéria na íntegra na História Viva 122
Claudia Bojunga é jornalista.
Fonte: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/rio_de_janeiro_capital_brasil.html
Vista da lagoa do Boqueirão e do aqueduto da Carioca e convento de Santa Teresa, óleo sobre tela, Leandro Joaquim, 1790
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