Cidade suíça palco da 'diplomacia difícil' abriga conferência sobre a Síria.
País acolheu tratativas sobre guerras mundiais e programa iraniano.
Tradição pacífica
A cidade suíça de fato tem uma forte tradição quanto o assunto é negociar a paz. Após os horrores da Primeira Guerra Mundial, Genebra foi escolhida - com pequena margem sobre Bruxelas - como sede da então recém-criada Liga das Nações, órgão cuja missão era impedir a eclosão de um novo conflito.
A cidade suíça de fato tem uma forte tradição quanto o assunto é negociar a paz. Após os horrores da Primeira Guerra Mundial, Genebra foi escolhida - com pequena margem sobre Bruxelas - como sede da então recém-criada Liga das Nações, órgão cuja missão era impedir a eclosão de um novo conflito.
As expectativas quanto à Liga eram enormes na época, explica David
Rodogno, historiador no Instituto Graduado de Genebra. "(Isso) porque
muitos líderes internacionais achavam que a 1ª Guerra seria a última.
Então 1919 e 1920, os primeiros anos da Liga, eram certamente anos de
esperança".
Mas o órgão não conseguiu impedir a Segunda Guerra. Em vez disso,
tornou-se a "casa'"da ONU na Europa, e as negociações de paz se tornaram
frequentes. Os motivos são variados: a neutra Suíça é um país-sede
aceito por todos; e, numa questão mais prática, o voo para Genebra é
fácil tanto de Moscou como de Washington.
Art deco
Hoje, pouco mudou no "Palácio das Nações", obra em art deco criada para abrigar a Liga das Nações.
Hoje, pouco mudou no "Palácio das Nações", obra em art deco criada para abrigar a Liga das Nações.
Imponentes corredores de mármore levam a salas cuidadosamente
desenhadas, cada uma doada por um Estado-membro e decorada com as
iniciais L e N nas portas. "É um lugar maravilhoso para trabalhar", diz
Michael Moller, diretor-geral da ONU em Genebra, sobre seu escritório no
salão holandês, que data de 1935 - atmosfera necessária no momento, em
meio aos preparativos para a conferência síria.
Uma dor de cabeça é a supervisão do primeiro dia de negociações, que
está sendo realizado nesta quarta-feira (22) na localidade próxima de
Montreux.
"Declaramos Montreux um subúrbio da ONU (durante o encontro)", diz
Moller. "O motivo é que estará acontecendo uma enorme conferência de
relojoeiros suíços em Genebra - algo que obviamente tem preferência na
Suíça, por ser nosso ganha-pão".
Por isso, toda a estrutura de um grandioso evento da ONU foi movida a
Montreux, incluindo uma gigantesca operação de segurança que envolve a
polícia e o Exército suíços. O espaço aéreo da cidade será fechado, e
suas estradas, bloqueadas.
Negociações
Na quinta-feira (22), o aparato será levado de volta a Genebra, onde representantes do regime sírio e da oposição serão colocados frente à frente pela primeira vez. Moller espera que os arredores, com sua longa tradição de fomento à paz, sirva de estímulo às negociações.
Na quinta-feira (22), o aparato será levado de volta a Genebra, onde representantes do regime sírio e da oposição serão colocados frente à frente pela primeira vez. Moller espera que os arredores, com sua longa tradição de fomento à paz, sirva de estímulo às negociações.
"Estas paredes respiram história, e você sente isso ao andar pelos
corredores", filosofa. "Não me lembro de nenhuma grande reviravolta no
último século que não tenha vindo parar aqui - (os conflitos nos)
Balcãs, no Oriente Médio, no Chipre, no sudeste da Ásia".
Por conta disso, é raro encontrar um diplomata que não tenha se
hospedado no Hotel Intercontinental de Genebra em algum momento da
carreira. "(Henry) Kissinger, (Andrei) Gromyko, (Ronald) Reagan,
(Mikhail) Gorbachev... e mais recentemente, os diálogos sobre o programa
nuclear iraniano", diz Jurgen Baumhoff, gerente do hotel. "Se essas
paredes falassem, teriam muito a dizer".
No 18º andar do hotel, Baumhoff oferece o que espera ser o ambiente
ideal para conversas diplomáticas informais - mas muitas vezes cruciais -
fora das salas de negociação oficiais.
"Estas portas são sólidas", diz ele. "Você pode dar privacidade (aos
negociadores) no momento em que quiser". Será que o ambiente favorecerá
que governo e oposição sírios encontrem um meio-termo? "Nosso lema é:
nada é impossível", agrega Baumhoff.
Assim, por quase um século, Genebra tem sido a cidade escolhida pelo
mundo para a diplomacia difícil e - espera Michael Moller - o lugar onde
ainda persiste a esperança de pôr fim ao sangrento conflito sírio.
"Todos estamos cruzando os dedos. Se não (houver acordo), não será um bom presságio para nossos pobres amigos na Síria".
Fonte: http://g1.globo.com/mundo/siria/noticia/2014/01/entenda-como-genebra-se-tornou-palco-de-negociacoes-historicas.html
Sala de negociações em Genebra pode decidir futuro para a paz na Síria (Foto: AFP)
No vídeo abaixo, um pouco da cidade de Genebra
Nenhum comentário:
Postar um comentário