Portal desenvolvido por ONG reúne mais de 200 artigos escritos por
indígenas para ajudar professores a trabalhar com o tema em sala de aula
Gabriela Nogueira Cunha
“O índio descobriu primeiro”. Este é o título de um dos muitos artigos
que compõem o site Índio Educa, projeto desenvolvido pela ONG Thydewá e
formado por um time de universitários indígenas de diferentes etnias e
regiões do Brasil. A ideia surgiu em 2008 e hoje o portal já conta com
cerca de 200 textos escritos por eles, que ajudam recontar a história,
indo de encontro com versões mais tradicionais. Aqui, a resposta para a
famosa pergunta “Quem descobriu o Brasil?” é outra.
Em 2008, impulsionados pela Lei 11.645 – que torna obrigatório o ensino
das Histórias Afro-Brasileira e Indígena no currículo oficial da rede
de ensino –, o pessoal da organização Thydewá começou a reunir jovens
interessados em produzir material que servisse de apoio a professores e
alunos. Em 2011, o portal Índio Educa estava pronto para seu lançamento. Para o presidente da ONG, Sebastian Gerlic, “a época do índio sem voz está terminando”.
A plataforma online tem o objetivo de produzir material educativo,
tentando desconstruir alguns preconceitos como a ideia de que índios
ainda vivem nus. “O portal responde às perguntas formuladas na cabeça
das pessoas que, desde quando se ouvia falar de índio, condicionavam (e
ainda condicionam) o estereotipo de indígena”, explica Hemerson Dantas,
colaborador da Aldeia Pataxó de Pau Brasil.
“O Índio Educa é destinado a professores, que podem utilizar livremente
o conteúdo lá contido em suas aulas para que os alunos entendam o
indígena da maneira mais real possível. Pensando assim, nada melhor do
que o próprio índio contando sua história, ou seja, sendo protagonista”,
conclui Hemerson.
Creative Commons
O conteúdo do site encontra-se em formato de Recurso Educacional Aberto, com licença Creative Commons.
O que significa que o material pode ser utilizado e modificado por
outras pessoas, como professores que queiram montar um conteúdo didático
próprio. Segundo o estudante de História Alex Makuki, um dos gestores
do Índio Educa, qualquer um pode se tornar colaborador. “Quem posta no
portal são os cinco indígenas que fazem parte da gestão e mais outros
colaboradores. Nós recebemos artigos, fotos e textos e damos todos os
créditos ao autor”.
Sobre a gama variada de temas abordados no site, como as moradias
indígenas, Makuki reafirma a necessidade da desmistificação de certos
conceitos enraizados pelo senso comum, como a ideia de casa de índio é
sempre de palha. “Cada texto postado no portal tem uma pitada de senso
critico, no sentido de contar uma história partindo do ponto de vista
dos povos indígenas.”
Para a pesquisadora Simone de Athayde, do Programa Xingu do Instituto
Socioambiental (ISA), iniciativas como esta são de extrema relevância
para o estudo e ensino da História do Brasil. “No caso dos povos
indígenas, ouvir a história contada por eles vem a enriquecer o nosso
conhecimento, e considerar que a nossa história se inicia bem antes do
‘descobrimento’ em 1500. Acho que além de iniciativas como este site,
deveríamos incluir mais abordagens como estas nas aulas e nos livros
didáticos utilizados em escolas publicas e privadas no Brasil”, conclui.
Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/sala-de-aula/indio-educa-1
Foto: portal Índio Educa
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