Matéria publicada do site Defender RS, que reproduzo abaixo:
A arquitetura deixou de ser um ofício ligado ao planejamento
estratégico das cidades. Também não é mais uma disciplina a serviço da
democracia – ao contrário, consiste cada vez mais em desenhar espaços
privados para os que podem pagar por eles. Essa é a tese central da
exposição A Banalidade do Bem, que está em cartaz no Centro
Cultural São Paulo como parte integrante do circuito da X Bienal de
Arquitetura. Trazida ao Brasil pelo escritório holandês Crimson
Architectural Historians, a exposição se apoia em um estudo sobre
cidades planejadas pelo mundo desde o final da Segunda Guerra Mundial
até hoje.
O gráfico abaixo, que integra a exposição, analisa cidades planejadas
em todos os continentes do planeta desde a década de 50. Nele é
possível notar como a iniciativa, os investimentos e a execução dessas
novas cidades têm migrado do poder público local para as empresas
privadas nacionais e globais.
Esse segundo gráfico é uma consequência do primeiro. Com investimentos
em empreendimentos arquitetônicos vindo majoritariamente da iniciativa
privada nacional e internacional, o foco no planejamento estratégico
local se perdeu. Em vez disso, as cidades mais recentes passaram a ser
refúgios planejados para pessoas de classes sociais mais altas.
Já o terceiro diagrama da exposição mostra como as áreas de atuação dos
arquitetos pelo mundo mudaram ao longo dos anos e hoje se concentram
principalmente em equipamentos culturais. Com o título “Do Interesse
coletivo para o Cartão Postal”, esse gráfico aponta como a arquitetura
diminuiu sua atuação em áreas estratégicas como a execução de planos
diretores ou projetos habitacionais para focar em equipamentos
estéticos.
As reflexões trazidas pela exposição A Banalidade do Bem reforçam a
ideia de que o planejamento urbano potencializou o processo de construir
cidades mas sua lógica de financiamento subverteu o foco estratégico no
bem estar das pessoas. Nas palavras do arquiteto Wouter Vanstiphout, do
Crimson: “as estruturas urbanas deixaram de ser pensadas para as
pessoas, um erro que está mudando os paradigmas do planejamento urbano,
trazendo de volta à tona a necessidade de uma gestão mais democrática
das cidades”. Voltando à reflexão que encerrou o post da semana passada:
em vez de formatar pessoas que caibam nas estruturas das cidades,
precisamos recuperar a habilidade de planejar cidades que contemplem a
diversidade das pessoas.
Natália Garcia é jornalista especializada em planejamento urbano e criadora do Cidades para Pessoas
Fonte: Super Interessante
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