segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Um incunábulo muito ilustrado

Decifre se for capaz! Impresso no século XV, livro ilustrado é uma obra rara, armazenada na Biblioteca Nacional de Lisboa

Silvio de Almeida Toledo Neto

A História de Vesasiano é um dos primeiros incunábulos impressos em português. Chama-se de incunábulo todo texto impresso desde os primórdios da tipografia até 1500, inclusive. O livro foi impresso em papel e faltam-lhe as três primeiras folhas, de um total de 44. Não há numeração dos cadernos além da assinatura. Traz 20 gravuras, sem contar as que se repetem. A gravura ao lado representa a corte romana no século I. O curioso é que a ambientação e os trajes dos personagens são atualizados para o século XV, procedimento habitual na época. São góticos os tipos, ou caracteres impressos, empregados no texto. O gótico era o sistema de escrita mais divulgado no norte da Europa. O uso do gótico nos primeiros impressos em Portugal explica-se por terem sido alemães alguns dos primeiros tipógrafos ali instalados.
Os caracteres variavam de uma oficina tipográfica para outra. Entre os tipos maiúsculos, dos que se veem aqui são claros para o leitor atual E e S. O R capitular, que abre a página, assemelha-se a um caractere manuscrito da época, por ser ornamentado com motivos vegetais. Alguns tipos minúsculos são peculiares: o s longo semelhante a um f, uma das variantes do r, semelhante ao numeral 2, e o e aditivo, semelhante ao numeral 7. O uso frequente de abreviaturas caracteriza os manuscritos e os impressos da época. Veem-se, por exemplo, o q com til sobreposto (abreviatura de que) e o p com traço à esquerda (abreviatura de pro, em prometido). A pontuação é rara, ocorrendo no caso apenas o ponto final. As escolhas gráficas são mais livres do que atualmente, como se vê na variação entre profeta e propheta. O texto apresenta traços linguísticos típicos da época, como o emprego da segunda pessoa do plural, hoje rara no português brasileiro: fordes etrouxestes ou, com a forma antiga, auees (haveis) e poderees (podereis). Há formas hoje não adequadas ao português escrito culto, mas aceitas na época, como trazerey em vez detrarei. São frequentes as orações coordenadas e o emprego de termos com significado diferente do atual, comomestre salla, na acepção de oficial encarregado do cerimonial da corte.
 
Silvio de Almeida Toledo Neto é professor de Letras da Universidade de São Paulo e coorganizador de Por minha letra e sinal: documentos do ouro do século XVII (Ateliê, 2006) e de Caminhando mato dentro: documentos do ouro do século XVIII (Espaço Editorial, 2009).
 
O vingador de Jesus
 
A Estoria do muy nobre Vespesianoemperador de Roma, também conhecida atualmente como História de Vespasiano, é uma obra extremamente rara. Conserva-se em exemplar único, sob os cuidados da Biblioteca Nacional de Lisboa. O exemplar data de 1496 e foi publicado por Valentim Fernandes, impressor alemão estabelecido em Lisboa. O texto é uma tradução anônima feita provavelmente a partir do castelhano que, por sua vez, remonta à fonte francesa. Narra a história de Tito Flávio Sabino Vespasiano (9-79 d.C.), imperador de Roma, curado de lepra pelo véu de Verônica, no qual figurava a face de Jesus Cristo. Vespasiano vinga a morte de Jesus destruindo Jerusalém.
 
Solução do “Decifre” [Edição: Cuidado para não modificar a transcrição.]
 
|| b2v.|| REspondeo o emperador de todas estas cou
sas que me auees dito creo eu firmem?te . e di-
go vos em verdade que se o santo profeta jesu
christo todo poderoso me quer dar saude no meu cor
po seg?do a eu tijnha que eu vingarey a sua morte e lhe
cõprirey todo quãto lhe tenho prometido . E rogo vos
que me façaes vijnr a molher que vos trouxestes de jheru...

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http://www.revistadehistoria.com.br/secao/decifre/um-incunabulo-muito-ilustrado 




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