Quando cheguei a Brasília, comecei a ficar aflito pela falta de
referências de cidade com as quais todo mundo está acostumado. Não tem
esquina, não tem pracinha, não tem igreja no fim da rua. Então, em um
belo dia em que eu estava entediado, olhei para cima e descobri que
Brasília é mais olhando para cima do que para o lado", recorda. "Esse
céu é uma bênção, uma coisa maravilhosa."
O objetivo do pedido, segundo ele, era garantir a integridade do
horizonte brasiliense, evitando, por exemplo, edificações muito altas.
"Não é uma coisa simplesmente poética, lírica. Tem a ver com a proteção
do céu. Fazem coisas feíssimas. Vejo Brasília dividida em várias épocas:
a de Juscelino, que é bonita, lindíssima, leve. Depois a dos militares,
que vieram com prédios pretos, feios, muito pesados, uma arquitetura
muito dura, que não combinava com a leveza de Juscelino. E agora parece
uma caricatura de Miami."
Na época, lembra o arquiteto, os colegas reagiram dizendo que a ideia
de tombar o céu da capital era "bonitinha", mas nunca discutiram a
possibilidade de levá-la adiante. Alguns anos depois, em 2010, Delphim
assumiu a coordenação-geral de patrimônio natural do Iphan e teve que se
instalar na capital do país. O encantamento com o céu e com a cidade só
aumentou.
"Brasília é como se fosse uma bandeja levantada, e o horizonte está
abaixo da bandeja. Parece que a cidade se criou acima do horizonte. Tem
uma diferença. Parece que Brasília está imersa dentro do céu e acima do
próprio horizonte. Quem não consegue captar essa relação com o sol
talvez não consiga captar o que Brasília tem de mais bonito, mais
sutil", diz.
A cidade, entretanto, tem também uma porção de defeitos para o
arquiteto. Delphim diz não gostar da falta de espaços melhor delimitados
para os pedestres, além de reclamar do calor.
"Para mim, o que tem de mais bonito em Brasília é o céu, a obra de
Niemeyer e a gentileza das pessoas. As pessoas são muito delicadas,
especialmente as mais humildes. Tem algumas exacerbações muito
estranhas, o comportamento de alguns muito ricos, as mulheres se
maquiando com excesso, os saltos tão altos como os edifícios, mas ainda
assim, em geral, as pessoas são muito gentis."
Como desejo à cidade pelos 53 anos completados neste domingo,
o arquiteto diz que espera que a capital passe a ter mais sombras e
estrutura para pedestres. "É impossível andar a pé em Brasília,
principalmente se você tiver um problema de locomoção. Tem lugares que
você nunca pode atravessar. E não tem como as pessoas que andam a pé se
sentirem reconhecidas, como se elas existissem. Queria que Brasília
desse menos valor aos carros e tivesse um transporte coletivo digno. Não
tem mais onde estacionar."
Mais que cartão postal
Uma única visita foi suficiente para que o jornalista Bruno Rios se apaixonasse pela capital do país. "A primeira coisa que me chamou atenção em Brasília foi o céu limpo que encontrei assim que desembarquei no Aeroporto JK. Parecia coisa de cinema, algo com o que não estou acostumado em Santos, onde vivo, ou em São Paulo", lembra.
Uma única visita foi suficiente para que o jornalista Bruno Rios se apaixonasse pela capital do país. "A primeira coisa que me chamou atenção em Brasília foi o céu limpo que encontrei assim que desembarquei no Aeroporto JK. Parecia coisa de cinema, algo com o que não estou acostumado em Santos, onde vivo, ou em São Paulo", lembra.
Continua o texto no link: http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2013/04/arquiteto-pede-que-iphan-declare-ceu-de-brasilia-patrimonio-natural.html
Nuvens durante o pôr do sol na Esplanada dos Ministérios (veja galeria de fotos enviadas pelos leitores) (Foto: Maik Becker/VC no G1)
Céu de Brasília fotografado por internauta
O arquiteto Carlos Fernando de Moura Delphim, que pediu ao Iphan o tombamento do céu de Brasília como patrimônio natural (Foto: Celma de Souza Pinto/Divulgação)
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