Iphan conclui pesquisa documental para registrar bois-bumbás do Médio Amazonas como patrimônio cultural brasileiro
Mauro de Bias
Garantido ou Caprichoso? A famosa disputa que divide a cidade de
Parintins e praticamente iguala bois a clubes de futebol está prestes a
se tornar patrimônio cultural do Brasil. A Superintendência Regional do
Iphan, no Amazonas, concluiu em janeiro a pesquisa documental do
processo para registrar os bois-bumbás do Médio Amazonas como parte
fundamental da cultura brasileira, e agora inicia a fase de registros
audiovisuais. Também serão preservados os festejos de Manaus,
Itacoatiara, Itapiranga, Nova Olinda do Norte, Maués, Boa Vista do Ramos
e Barreirinha.
Heloíza Araújo, superintendente substituta do Iphan-AM, explica que o
objetivo é proteger as expressões culturais. “Essa manifestação
artística ocorre em todo o território nacional. Só no Nordeste há 29 mil
identificadas, mas apenas o bumba meu boi do Maranhão é registrado como
patrimônio cultural. Por isso o interesse do Iphan em levantar
informações do Médio Amazonas”, diz.
A origem das festas remete ao século XIX. O boi-bumbá apareceu na
Amazônia com a chegada de cearenses e maranhenses durante o ciclo da
borracha. “Vários costumes e tradições acabaram sendo filtrados e até
mesmo adaptados para as circunstâncias encontradas aqui”, explica
Heloíza.
Surgido no Nordeste, o bumba meu boi foi “exportado” para outras
regiões com diferentes nomes. Na Amazônia – onde a festa ganhou destaque
nacional – ele foi batizado de boi-bumbá. “As lendas amazônicas, a
presença do indígena, tudo isso foi adicionado ao contexto do bumba meu
boi”, acrescenta a superintendente.
Se hoje o Iphan pretende registrar o boi-bumbá como patrimônio cultural
brasileiro, não se pode dizer que a festa tenha sido sempre bem
recebida. No início, havia rejeição aos festejos, como explica o
antropólogo e historiador Sérgio Ferretti. “As primeiras documentações
eram sempre para reclamar do barulho, da desordem. Sempre algo negativo.
Não se sabe exatamente como tudo começou, mas se sabe que já havia
protestos desde o início”, conta.
Segundo o especialista, os bois ainda foram reprimidos pelo próprio
poder público. “A festa era popular, tinha presença do negro, do pobre.
Até os anos 1950 o boi nem podia se movimentar livremente pela cidade.
Só era permitido em certas partes. Os governos os associavam à violência
também”, analisa Ferretti.
A festa só começou a ganhar status positivo diante de outros
setores da sociedade quando passou a ser valorizada por intelectuais e,
principalmente, em função de gerar turismo e renda. “A partir dos anos
1960, os bois passaram a ser vistos como expressão da nossa identidade”,
conta o pesquisador.
Agora o Iphan vai fazer diversos registros dos bois amazonenses. Fotos,
vídeos, entrevistas com trabalhadores envolvidos nas festas e material
iconográfico serão recolhidos ao longo do ano para montar o dossiê de
registro como patrimônio cultural. O trabalho só deve ser concluído em
2014.
Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/disputa-e-festa-preservadas
Boi Mimoso / Reprodução
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