Formação rochosa em Maricá, Região dos Lagos, que foi descrita por Charles Darwin corre risco de sumir por conta da implantação de um terminal portuário
Gabriela Nogueira Cunha
A bordo do navio HMS Beagle, em sua
famosa volta ao mundo que resultou na teoria evolucionista, Charles
Darwin deu as caras pela costa brasileira no dia 9 de abril de 1832. Ao
passar pela restinga que liga Maricá a Saquarema, municípios da Região
dos Lagos fluminense, ele descreveu uma formação rochosa do tipo
sedimentar, tornando-a famosa internacionalmente e catapultando-a para a
história da ciência. Hoje, este mesmo patrimônio natural está ameaçado
pelo projeto que prevê a implantação de um terminal portuário na Praia
de Jaconé, que tem apoio da prefeitura de Maricá.
A criação do chamado Terminal Ponta Negra (TPN), orçado em R$ 5,4
bilhões e previsto para 2015, visa atender a necessidades logísticas
principalmente da indústria de óleo e derivados do petróleo que vai
explorar a região da Bacia de Santos. Para a prefeitura, o terminal é um
investimento no desenvolvimento da região. Por meio de sua assessoria
de imprensa, afirmam que “o licenciamento ambiental do futuro porto não
cabe à esfera municipal”. Caberia a eles apenas cobrar para que todos os
aspectos sociais, ambientais e econômicos sejam considerados.
O problema é que sua criação acarretará a destruição completa daquelas rochas de praia, chamadas de beachrocks,
que foram descritas por Darwin em seu diário de bordo, publicado em
forma de livro em 1839. “No Rio de Janeiro temos alguns poucos locais de
ocorrência, contudo, a partir de estudos que eu e outros pesquisadores
fizemos, datamos essas rochas de Jaconé em cerca 6 mil anos, o que as
coloca como as mais antigas do estado. Isso aumenta seu valor”, explica o
geólogo Vitor Nascimento, da Universidade Federal Fluminense, lembrando
os arrecifes como exemplos dessas formações. “Os homens pré-históricos
fizeram uso daquelas rochas, pois foram encontrados fragmentos das
mesmas em antigas habitações: os sambaquis da Beirada e de Moa, em
Saquarema”, explica.
Segundo Nascimento, as descrições geológicas de Darwin têm relevância internacional e o afloramento das beachrocks,
valor geológico, científico e cultural. “O patrimônio pode ser
enquadrado na categoria dos patrimônios naturais, contudo, trata-se de
um tipo que só recentemente tem sido estudado no Brasil, que é o
patrimônio geológico”, comenta o pesquisador, que faz parte da Revista Brasileira de Geociências,
que também denuncia os impactos da construção do terminal. “Nós não
temos condições de efetivar a proteção em si, mas de chamar a atenção
para essa necessidade”.
Juntamente com ONGs, como a “SOS Jaconé – Porto Não!”, os integrantes
da revista formam um grupo de gestão provisória do Geoparque Costões e
Lagunas, que propõe o desenvolvimento sustentável do local. A
iniciativa, que está em fase de reconhecimento pela Rede Global de
Geoparques da Unesco, dita o uso racional do patrimônio geológico,
unindo o desenvolvimento através de atividades ligadas ao geoturismo e
seus usos educativos.
A Secretaria de Meio Ambiente de Maricá resumiu suas declarações ao afirmar que a construção do megaporto não comprometerá as beachrocks.
Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/patrimonio-em-perigo-praia-de-jacone-marica-rj
A face leste da praia de Ponta Negra, onde é possível ver as formações rochosas
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