O setor imobiliário de Campina Grande, no Agreste da Paraíba,
é apontado como um dos mais dinâmicos do Estado. Nesse cenário, as
novas construções se misturam e disputam espaço com os prédios
históricos que compõem a paisagem da cidade. A cidade conta com
aproximadamente 98 empresas do ramo de construção civil e engenharia,
segundo o banco de dados do Cadastro Industrial da Paraíba,
disponibilizado através da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba
(Fiep).
Somente a área central abriga pelo menos seis prédios simbólicos para a
história da cidade. A Catedral de Nossa Senhora da Conceição, com a
fachada que representa o estilo neoclássico, e o Museu Histórico da
Furne, em estilo barroco, estão localizados na Avenida Floriano Peixoto e
são alguns desses patrimônios.
Mas, segundo os especialistas, nem todas as edificações recebem os
cuidados de conservação adequados. “Há um considerável descaso. Desde a
população, que por desconhecimento não dá o devido valor ao patrimônio,
como também a classe empresarial, que através da especulação imobiliária
prioriza o lucro em detrimento da preservação da história vivenciada na
cidade através da permanência dos seus edifícios”, diz Eduardo Araújo
Lucas, professor do curso de Arquitetura da Facisa.
O pesquisador lamenta que o patrimônio histórico representado pelos
prédios e casarões esteja sendo destruído. “Ainda há uma dificuldade
muito grande em fiscalizar as construções e demolições porque os
investimentos públicos destinados aos órgãos de controle ainda são muito
baixos, o que acarreta em escassez de mão de obra e infraestrutura
adequada a um trabalho eficiente, por mais competentes e engajados que
sejam os profissionais envolvidos”, fala.
Ruínas do Eldorado servem de abrigo para moradores de rua
O prédio que abrigou um dos cassinos mais famosos do país se encontra em ruínas. O Eldorado fica localizado no coração da Feira Central de Campina Grande e a fachada, que remete a década de 1930, resguarda aspectos da Art Decó.
O prédio que abrigou um dos cassinos mais famosos do país se encontra em ruínas. O Eldorado fica localizado no coração da Feira Central de Campina Grande e a fachada, que remete a década de 1930, resguarda aspectos da Art Decó.
Hoje o local apresenta visíveis marcas do abandono daquele que foi o
marco da boêmia na região. Assim, a estrutura serve de abrigo
improvisado para moradores de rua. “Um dos mais importantes prédios da
cidade já foi motivo de tombamento, o Casino Eldorado. Não por sua
arquitetura, mas pelo que representa hoje, o fausto da elite do algodão,
da pecuária e do comércio na cidade”, informa o professor PhD em
História, Josemir Camilo de Melo, que atua na Universidade Estadual da
Paraíba (UEPB).
O local é um dos focos da ação da Secretaria de Planejamento, que prevê
uma reforma na estrutura. “Dentro do projeto de requalificação da Feira
inserimos também a reforma do Eldorado. Queremos devolver isso a
Campina, reforçar a ideia de que podemos tornar esse local um ponto de
visitação turística”, explica o secretário de planejamento do município,
Márcio Caniello.
Para o historiador Josemir Camilo, o abandono aos prédios históricos da
cidade é um problema que acarreta a perda de identidade municipal. “O
que restará para dizermos aos nossos filhos? Mostrar o prédio onde
ocorreu a prisão de Frei Caneca, um revolucionário que passou por
Campina no século XIX, local onde hoje funciona o Museu Histórico e
Geográfico. Ou mostrar o exemplo da genialidade campinense, o
‘ferro-de-engomar’ (já cadastrado pelo IPHAEP e localizado na avenida
Getúlio Vargas). O mesmo pode-se dizer da residência do professor
Clementino Procópio, hoje garagem de ônibus. Ficamos cobrando uma
identidade municipal nas escolas de ensino fundamental, mas nós mesmos
destruímos símbolos, emblemas, não preservamos o patrimônio intangível
[a cultura] nem o tangível [a arquitetura]”, lamenta.
Mudanças na economia influenciam a construção
Segundo o pesquisador e professor PhD em História, Josemir Camilo de Melo, a arquitetura é capaz de exemplificar o tipo de desenvolvimento que ocorreu na cidade. “Como a fase da cultura do algodão [início do século XIX], por exemplo, se edificaram prédios em estilo art nouveau, eclético e art déco. Na rua Irineu Joffily, alguns prédios ainda exemplificam esses estilos, embora já reformados.”, lembra.
Segundo o pesquisador e professor PhD em História, Josemir Camilo de Melo, a arquitetura é capaz de exemplificar o tipo de desenvolvimento que ocorreu na cidade. “Como a fase da cultura do algodão [início do século XIX], por exemplo, se edificaram prédios em estilo art nouveau, eclético e art déco. Na rua Irineu Joffily, alguns prédios ainda exemplificam esses estilos, embora já reformados.”, lembra.
Camilo também destaca que “o art déco substitui todo o eclético e art
nouveau da Maciel Pinheiro, restando, hoje, pouca coisa; também hoje
muita coisa da arquitetura moderna, chamada de funcional, do estilo de
Niemayer, está sendo derrubada para dar lugar a edifícios de muitos
andares, de concreto e vidro”.
Já para o professor do curso de Arquitetura da Facisa, Eduardo Araújo
Lucas, “esses edifícios trazem à tona a relação entre espaço e lucro e
expressam a dinâmica mercadológica imobiliária na cidade”.
Outro espaço que ilustra a relação entre a economia e as construções da
cidade é o edifício da Fiep (construído entre 1978 e1983). “É um modelo
que representa, com potencial segurança, um momento de afirmação
econômica da cidade com conceitos formais ainda sólidos nos dias
atuais”, informa o arquiteto Eduardo Araújo.
O contexto atual, no entanto, sugere outras configurações do espaço. “O
que mais se observa atualmente em Campina são as inúmeras construções
verticais, os edifícios. Do ponto vista estrutural é necessário que a
cidade possibilite tal desenvolvimento, pois a locomoção urbana torna-se
mais complexa quanto mais densa for a população”, fala Eduardo.
Novos edifícios ocupam cada vez mais espaço em Campina Grande, acompanhando dinâmica da economia (Foto: Ligia Coeli)
Edifício do Eldorado está abandonado no Centro de Campina Grande (Foto: Ligia Coeli)
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