Única edificação construída da série idealizada pelo
governo argentino para comemorar, em 2010, os seus 200 anos de
independência, o Museu do Bicentenário não deixa entrever, por fora, sua
real magnitude. Situado entre a Casa Rosada e a praça de Maio, um dos
mais notáveis pontos turísticos de Buenos Aires, e estendendo‑se ao
longo de 400 metros de comprimento na cota subterrânea, tem partido de
bloco único, pavilhonar, com implantação linear.
O Museu do Bicentenário é produto da recuperação das ruínas da
Alfândega Nova de Buenos Aires, mais conhecida como Aduana de Taylor
(projetada em 1854 pelo arquiteto britânico Edward Taylor).
Ele fez parte do conjunto de obras públicas com que o governo
nacional buscou comemorar o bicentenário da Revolução de 25 de Maio,
que, em 1810, marcou a fundação da nação argentina.
O estúdio de arquitetura B4FS foi encarregado do trabalho por ter
ganho anteriormente o concurso internacional de anteprojetos para a
construção do Centro Cívico do Bicentenário, no antigo Palácio dos
Correios, próximo da Casa Rosada, sede do Executvo nacional.
Como a competição pedia também ideias para a criação de um
corredor urbano, o parque do Bicentenário, cuja área de implantação
inclui a antiga alfândega, o governo incumbiu o mesmo ateliê de desenhar
o museu. De todo esse ambicioso plano, contudo, ele é a única obra
concluída e inaugurada.
A Aduana de Taylor, construída originalmente no setor mais baixo
da antiga área ribeirinha, vizinha à praça de Maio, foi demolida no
final do século 19, quando se conquistaram terras do rio da Prata,
aplanando-se a área em declive a fim de se construir o porto de Buenos
Aires.
A alfândega era um edifício de planta circular (cujo rastro
sobrevive na atual praça Colón), do qual resta apenas o pátio de
manobras - uma rua sulcada de trilhos por onde circulavam carruagens de
carga, que permaneceu enterrada durante um século.
O pátio está ladeado por uma galeria abobadada e com arcadas
pertencentes ao antigo Mercado da Real Fazenda, onde funcionavam os
depósitos da alfândega, e ao antigo Forte de Buenos Aires.
Daniel Becker, um dos responsáveis pelo projeto, explica que o desafio foi criar “um âmbito museológico contemporâneo com condições adequadas de habitabilidade, segurança e conforto”, no qual seja fácil “distinguir o velho do novo”, e uma proposta de intervenção “o mais sutil e silenciosa possível”.
O projeto consistiu, por um lado, em unificar o pátio de manobras (que o tempo havia convertido numa espécie de pátio inglês) sob o nível de pedestres com as galerias, cujos arcos estavam recobertos por muros de cerâmica desconectados do pátio. Também era preciso resolver o fechamento superior com uma cobertura que, garantindo iluminação natural eficaz, fosse o mais baixa possível, “para não interferir na vista da Casa Rosada”, explica Becker.
A solução foi desenhar uma peça única, uma lâmina envidraçada sustentada por sistema metálico que se desenvolve no nível zero, cobrindo todo o pátio inglês. A decisão mais importante consistiu em concebê-la de modo que o seu extremo sul tivesse uma dobra suave para cima, como uma folha de papel ou uma onda do mar, a fim de gerar um acesso público sem interromper sua continuidade orgânica.
Ela é formada por uma estrutura de peças metálicas revestidas com alumínio, que serve de armação para os painéis de vidro e permite o ingresso da luz zenital filtrada pela retícula de vigas e brises metálicos.
Daniel Becker, um dos responsáveis pelo projeto, explica que o desafio foi criar “um âmbito museológico contemporâneo com condições adequadas de habitabilidade, segurança e conforto”, no qual seja fácil “distinguir o velho do novo”, e uma proposta de intervenção “o mais sutil e silenciosa possível”.
O projeto consistiu, por um lado, em unificar o pátio de manobras (que o tempo havia convertido numa espécie de pátio inglês) sob o nível de pedestres com as galerias, cujos arcos estavam recobertos por muros de cerâmica desconectados do pátio. Também era preciso resolver o fechamento superior com uma cobertura que, garantindo iluminação natural eficaz, fosse o mais baixa possível, “para não interferir na vista da Casa Rosada”, explica Becker.
A solução foi desenhar uma peça única, uma lâmina envidraçada sustentada por sistema metálico que se desenvolve no nível zero, cobrindo todo o pátio inglês. A decisão mais importante consistiu em concebê-la de modo que o seu extremo sul tivesse uma dobra suave para cima, como uma folha de papel ou uma onda do mar, a fim de gerar um acesso público sem interromper sua continuidade orgânica.
Ela é formada por uma estrutura de peças metálicas revestidas com alumínio, que serve de armação para os painéis de vidro e permite o ingresso da luz zenital filtrada pela retícula de vigas e brises metálicos.
A luminosidade resultante é própria de um prédio a céu aberto,
qualificando toda a planta livre do antigo pátio de manobras, hoje
convertido num grande salão multiuso, onde a Presidência da República
vem realizando atos oficiais. As intervenções foram precedidas por um
árduo trabalho de recuperação e solução de patologias, em especial
relacionadas à infiltração de água.
As tarefas mais urgentes foram consolidar pilares, arcos e
abóbadas cerâmicas que se encontravam erodidas; construir uma grande
calha perimetral de concreto para evitar infiltrações, e, uma vez
resolvido o problema da umidade, limpar exaustivamente as superfícies de
alvenaria.
Por fim, instalou-se no meio do museu uma caixa de vidro, também
desenhada pelo escritório B4FS, que contém um mural do artista mexicano
David Alfaro Siqueiros, Ejercicio plástico, pintado originalmente sobre
as paredes do sótão abobadado de uma mansão suburbana.
A obra é hoje a principal atração do museu, junto com a mostra permanente sobre os 200 anos de história argentina.
Texto de Ariel Hendler*
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 393 Novembro de 2012
Publicada originalmente em PROJETODESIGN
Edição 393 Novembro de 2012
*Ariel Hendler, jornalista e escritor argentino,
escreve no Diario de Arquitectura desde 2002 e é autor de livros sobre a
história recente da Argentina, como La guerrilla invisible, de 2010, e
Darío Santillán, el militante que puso el cuerpo, de 2012
Vista da área dos trilhos do velho pátio de manobras
O museu apresenta linguagem neutra e contemporânea
Cobertura metálica
A cobertura de metal e vidro fornece luz zenital filtrada
Zonas contrastantes de luminosidades definem os espaços
Em meio ao pátio, a caixa com o mural de Siqueiros
Imagens: Portal Arcoweb
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