A inundação de quatro depósitos do Arquivo Nacional causada pela
chuva há uma semana não foi um episódio isolado, mas um problema
recorrente no prédio da instituição, localizado no centro da capital
fluminense, segundo a Associação dos Servidores do Arquivo Nacional
(Assan). Há dois anos, a entidade já alertava para esse cenário. Em
documento, datado de 8 de julho de 2011, a Assan pediu à direção do
órgão providências a respeito de goteiras, rachaduras, infiltrações e
portas e janelas que não fechavam.
“As denúncias sobre os depósitos foram enviadas também ao Ministério
da Justiça com vários documentos”, disse o secretário da Assan, Leonardo
Augusto Silva Fontes. “No ano passado, tivemos problemas com fungos e
relatamos isso também”.
No dia 29 de julho, a diretoria respondeu, a pedido do Ministério da
Justiça por meio de um ofício, que o problema era pontual e que a
impermeabilização das calhas dos prédios A, B e C resolveria os pontos
de vazamento. Sobre as portas e janelas, a carta informou que essas
“muitas vezes são abertas indevidamente, no caso das janelas, e
esquecidas abertas”.
Os prédios A, B e C foram os mais atingidos pela chuva que atingiu
130 caixas com documentos, incluindo alguns da época de dom João VI e da
ditadura militar. Em visita ao Arquivo Nacional na manhã do dia de 12, a
equipe da Agência Brasil esteve em locais interditados
desde janeiro por causa de um temporal que danificou parte do acervo. É
o caso do Bloco D, que está em pior estado, com cheiro de mofo, terra e
água pelo chão e montanhas de documentos manchados ou totalmente
danificados.
O técnico da coordenação de Documentos Escritos, Cristiano de
Carvalho Cantarino, que também é da Assan, explicou que a maioria da
documentação no Bloco D, que não é climatizado, refere-se a processos de
ex-menores de idade internados na Fundação Centro Brasileiro Para a
Infância e Adolescência, antiga Funabem (Fundação Nacional do Bem-Estar
do Menor), que serve de consulta para comprovação de direitos. “Esses
documentos estão interditados desde janeiro devido a uma chuva que
danificou boa parte do acervo. E esses documentos são também os mais
consultados aqui no Arquivo Nacional”, contou.
O representante do Arquivo Nacional, Mauro Lerner, coordenador da
área de Documentos Escritos, informou que na sexta-feira passada (8) a
direção do órgão, que pertence ao Ministério da Justiça, pediu R$ 2,5
milhões ao governo federal para refazer as calhas em cárater
emergencial, reforçar portas e janelas e restaurar o Bloco D.
“Esperamos, com essa verba, resolver o problema de maneira
definitiva, sem que tenhamos que dar jeitinhos”, disse Lerner. “Enquanto
isso, não podemos esperar por outra chuva e estamos transferindo os
documentos dos depósitos atingidos para outros depósitos que não
oferecem as melhores condições, mas que, pelo menos, não correm risco de
serem atingidos pela chuva”, informou. O coordenador também revelou que
falta espaço para guardar os arquivos. “O empenho da direção geral é
comprar estantes deslizantes para aumentar o espaço”.
O coordenador da área de preservação, Mauro Domingues, explicou que como
o prédio, ex-sede da Casa da Moeda, é antigo e tombado qualquer
intervenção é extremamente cara. “Realmente, às vezes, entra chuva pelas
janelas”, admitiu. “A grande dificuldade é que esse prédio não foi
construído para essa finalidade. O ideal é que a reserva técnica e o
acervo sejam construídos em prédios específicos, que na verdade é um
caixote climatizado”, contou. Domingues disse que existe área para a
construção de um prédio exclusivo para o acervo. O custo para obra chega
a aproximadamente R$ 45 milhões. “Mas os depósitos já funcionariam bem
após as obras emergenciais”, ponderou. Por Flávia Villela - Repórter da Agência Brasil / Edição: Carolina Pimentel
Fonte: http://www.defender.org.br/rio-de-janeirorj-inundacao-no-arquivo-nacional-e-problema-recorrente-dizem-servidores/
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