Andar pelas cidades e bairros que compõem a Baixada Fluminense, tenho
me questionado sobre as razões que levaram à degradação desse imenso
patrimônio cultural e ecológico que insiste em sobreviver, diante do
inchaço populacional, que ultrapassa três milhões e meio de habitantes. A
região é caso típico, neste imenso Brasil que apresenta desorganização
no espaço urbano.
Não há aqui o trato com o meio ambiente, em principal com o
saneamento e seus vetores, como o lixo, a água e o esgotamento
sanitário. O que diríamos, então, dos diversos aspectos da cultura e da
memória urbana? Além de cuidar do meio ambiente e das matrizes
culturais, é preciso rever o processo de educação do povo, que é a
origem de tudo o que vemos.
Ao mudar o homem e seus comportamentos, mudaremos a maneira de
administrar a cidade. É do seio da sociedade que sairão seus governantes
e administradores. O descaso com a cultura e o meio ambiente é
consequência direta do anacrônico sistema educacional e seus conteúdos.
Cássia Magald, em ‘O Direito à Memória’, diz: “Nas cidades
brasileiras, ainda com maior força, as ideias de progresso e modernidade
têm levado a uma sistemática destruição das marcas do passado. A
sintomática ausência de preocupação com o problema e a virtual
fragilidade dos órgãos públicos de preservação e planejamento urbano têm
criado na Baixada uma situação de extrema gravidade no que diz respeito
à necessária convivência entre o ‘antigo’ e o ‘novo’.
Se no ‘antigo’ reside uma parcela importante da memória social e da
identidade cultural dos habitantes da cidade, desconsiderar a questão do
patrimônio histórico-ambiental urbano é exilar o cidadão, alijá-lo de
seu próprio meio — fazer da cidade um ambiente hostil e estranho à
maioria da população.
Na Grécia antiga, a mãe das musas, Mnemosyne, protetora da história e
das artes, com seus poderes divinos, impedia o esquecimento dos fatos
decorrentes da vida, concebendo o conceito de memorável. A memória
confere identidade a uma pessoa ou a uma localidade; é composta por seu
presente e passado e não fica concentrada em um objeto, fazendo uma
conexão entre a objetividade e a subjetividade do homem.
Assim, os patrimônios materiais e imateriais e ecológicos
constituem-se em fragmentos de memória do povo. Um bom projeto de
reorganização urbana não pode prescindir de lançar luz em um patrimônio
que fica muitas vezes na obscuridade de nossa gente com sua cultura
material e imaterial. A problemática urbana faz parte do movimento
histórico. O urbanismo mal gerido estrangula princípios elementares da
organização de uma cidade.
O Instituto de Pesquisa e Análises Históricas da Baixada Fluminense
(Ipahb), em parceria com o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural
(Inepac), pesquisou, na gestão 2005/2008, a memória urbana edificada da
cidade de São João de Meriti, gerando riquíssimo material para ser
publicado e servir de base para tombamento e preservação do patrimônio.
Oferecido ao governo municipal na gestão 2009/2012, foi rejeitado.
A mesma ideia de projeto foi elaborada em Nilópolis na gestão
2009/2012, com a publicação do livro ‘Inventário dos Bens Culturais de
Nilópolis — Arquiteturas e Paisagens Culturais’. Agora, espera-se os
desdobramentos pelo governo que assumiu o município no início deste ano.
Em Mesquita, com o apoio do governo que assumiu em 2009, foi lançado o
livro ‘Nossas Ruas têm História’. Lamentavelmente, a cultura ainda é
vista como política de governo e não da municipalidade. Aí, depende do
governo. As informações são de Genesis Torres
Prédio histórico da estação de São Matheus, em Meriti | Foto: Divulgação
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