A memória do futuro.
Fronteira, Pampa, Campanha, Bagé, História, Patrimônio Cultural…
Há algum tempo, não tanto quanto deveria, mas em tempo para que muito
ainda possa ser feito, Bagé e a região da Campanha começaram a receber o
olhar interessado de historiadores, pesquisadores e governantes para a
importância de sua História e de seu Patrimônio Cultural. Várias ações
começaram a ser implementadas, como o restauro de prédios e monumentos,
assim como projetos de preservação da memória.
A arquiteta e urbanista da Secretaria Municipal de Coordenação e Planejamento, Joelma Silveira, especialista em restauração, apresenta ao Caderno Arte e Cultura (Jornal Minuano) os projetos de valorização histórica e conta um pouco sobre a importância de preservar a memória de um povo através da herança material e da recuperação daquilo que o tempo e o “vencedor da guerra” consumiram, como é o caso do Forte Santa Tecla, que será transformado em um grande parque e memorial.
A arquiteta e urbanista da Secretaria Municipal de Coordenação e Planejamento, Joelma Silveira, especialista em restauração, apresenta ao Caderno Arte e Cultura (Jornal Minuano) os projetos de valorização histórica e conta um pouco sobre a importância de preservar a memória de um povo através da herança material e da recuperação daquilo que o tempo e o “vencedor da guerra” consumiram, como é o caso do Forte Santa Tecla, que será transformado em um grande parque e memorial.
Caderno Arte e Cultura – Por que é importante preservar a memória?
Arquiteta Joelma Silveira. Foto: Divulgação
Joelma Silveira – Todo
mundo tem memória. As pessoas são constituídas de memória. A formação
da personalidade tem muito da memória. Ao sentir o cheiro de um
determinado doce sou remetida à infância, e isso sempre vai acontecer.
Ao ver o pampa, no caminho de Aceguá , por exemplo, e reconhecê-lo
bonito e nosso, voltando ao passado e entendendo tudo isso por
afetividade, é a expressão de nossa memória.
Uma cidade é constituída de memória. De nada adianta querer crescer
sem levar em conta o patrimônio da cidade, pois não terá história para
contar. E nossa região é riquíssima de história. Aqui foi uma região de
enfrentamento, de um povo guerreiro com histórico muito marcante, muito
forte. É um lugar de história bonita, apesar de violenta.
Caderno Arte e Cultura – Muita batalha, muita luta, muita participação do exército.
Joelma Silveira– E isso tem de ser levado em conta e, inclusive,
explorado turisticamente. É um prato cheio. Se começarmos a trabalhar
isso é um grande potencial. Sou otimista e apaixonada por tudo isso
(essa valorização histórica). Acredito que mais cedo ou mais tarde, isso
vai acontecer.
Caderno Arte e Cultura – Em tempos de atenção ao patrimônio histórico, vamos distinguir: O que é reforma e o que é restauro?
Joelma Silveira – São bem diferentes. Os restauros são feitos em
prédios antigos, levando em conta o material original utilizado.
Geralmente, para nós aqui, com materiais que vem de fora e com técnicas
diferentes das utilizadas hoje, técnicas que não existem mais. É preciso
gente especializada que saiba executar essa técnica para ensinar o
pessoal da mão de obra a fazer. Para a construção desses prédios não
existia concreto armado, era outro tipo de estrutura, de pedra, de
tijolo. Então, é tudo muito diferente. O tamanho do tijolo, a telha
feita na coxa dos escravos… São coisas que não se podem jogar fora.
Já na reforma, conserta-se podendo usar qualquer tipo de material.
Caderno Arte e Cultura – Esses prédios antigos apresentam muitos detalhes, com tons artísticos impressionantes.
Joelma Silveira – O mestre da obra, em geral, dominava várias
técnicas, desde a carpintaria à parte ornamental. Mas, muitos dos
ornamentos de fachada chegavam aqui prontos. E também adornos de dentro
das casas. Por exemplo, no prédio do Imba, um adorno “se abriu” e
verificamos que era feito de jornal francês.
Caderno Arte e Cultura– Como assim? Como se fosse papel machê?
Joelma Silveira– Isso. Exatamente. Todo feito de jornal, o adorno
foi produzido na França. Não há como colocar fora, isso tem um valor
histórico muito grande. Em outra ocasião, limpando a parede do próprio
Imba nos deparamos com uma pintura com molde (usando termos bem simples e
direto). Não tem como cobrir uma coisa dessas é preciso deixar essas
“janelas do tempo” para que as pessoas possam ver. É preciso no restauro
chegar bem próximo ao que era.
Caderno Arte e Cultura– De onde vem a arquitetura de nossos prédios?
Joelma Silveira – Basicamente, a herança é portuguesa, mas tem
também espanhola. O eclético está bastante presente, que é a mistura.
Existem outros tipos de construção, inclusive de projetos que vieram
prontos, de fora, como o Palacete Pedro Osório. Há uma dúvida se veio da
Itália ou da França. Aliás, é um projeto que para nós não funciona
muito bem no frio.
Caderno Arte e Cultura – O que mais te encanta nessa busca da memória?
Joelma Silveira – A questão humana. Por exemplo, estamos
trabalhando no projeto da Ponte Seca. O secretário do Planejamento,
Gustavo Morais, vai nos conseguir uma locomotiva e dois vagões. O pai
dele foi ferroviário, ele trouxe até nós (idealizadores do projeto) a
associação dos ferroviários, e existem muitas histórias. É uma questão
humana, cultural. Ali será feito um memorial, na Ponte Seca, em um vagão
de trem. Tem, inclusive, uma pessoa que vivenciou a estação antiga, que
foi incendiada, antes do prédio que hoje é o Centro Administrativo da
Prefeitura. Isso é bárbaro. Têm materiais, fotos, testemunhas. É o
legado que será deixado.
Caderno Arte e Cultura– Esse é outro aspecto da recuperação da memória, a criação de um monumento, um memorial, no caso da Ponte Seca.
Joelma Silveira – Serão dois acessos, pela rua José Otávio e pela
Marechal Deodoro, na frente do Daeb, até a Ponte Seca. A ideia é manter
a ponte como está, ali será feita uma passarela, em vidro. Os barrotes
serão recuperados. De um lado, faremos uma área infantil, com
brinquedos, trenzinho para crianças e uma série de equipamentos. A estrutura é boa, mas a parte de madeira está muito comprometida.
Objetivo do projeto
Considerado Patrimônio Histórico e Cultural do Município, o local denominado Largo da Ponte Seca, localizado na parte central da cidade próximo a antiga Estação Férrea, sob a avenida Presidente Vargas, formada pelos quarteirões delimitados pela rua Caetano Gonçalves e rua José Otávio e possuindo aproximadamente 3.450m² de superfície. O projeto prevê a conservação e restauração da ponte seca e dos dois largos onde se encontra – um deles com acesso pela rua Marechal Deodoro e outro pela rua José Otávio, com uma nova concepção de uso espaço público preservando o meio ambiente agregando espécies nativas, promovendo a acessibilidade, funcionalidade e o embelezamento, possibilitando a conexão com os demais espaços urbanos, bem como, a valorização da história da cidade.
Considerado Patrimônio Histórico e Cultural do Município, o local denominado Largo da Ponte Seca, localizado na parte central da cidade próximo a antiga Estação Férrea, sob a avenida Presidente Vargas, formada pelos quarteirões delimitados pela rua Caetano Gonçalves e rua José Otávio e possuindo aproximadamente 3.450m² de superfície. O projeto prevê a conservação e restauração da ponte seca e dos dois largos onde se encontra – um deles com acesso pela rua Marechal Deodoro e outro pela rua José Otávio, com uma nova concepção de uso espaço público preservando o meio ambiente agregando espécies nativas, promovendo a acessibilidade, funcionalidade e o embelezamento, possibilitando a conexão com os demais espaços urbanos, bem como, a valorização da história da cidade.
Histórico da Estação Ferroviária de Bagé
A primeira Estação Ferroviária de Bagé foi inaugurada em 12 de dezembro de 1884 e era a estação terminal da linha que se iniciava em Rio Grande. Segundo registros históricos, o prédio foi destruído por um incêndio em 1926, já no relatório da VFRGS do ano de 1929, a antiga estação foi demolida para a construção da nova, que, hoje, abriga a Prefeitura de Bagé.
A primeira Estação Ferroviária de Bagé foi inaugurada em 12 de dezembro de 1884 e era a estação terminal da linha que se iniciava em Rio Grande. Segundo registros históricos, o prédio foi destruído por um incêndio em 1926, já no relatório da VFRGS do ano de 1929, a antiga estação foi demolida para a construção da nova, que, hoje, abriga a Prefeitura de Bagé.
Projeto Forte Santa Tecla
Forte Santa Tecla. Foto: Divulgação
Projeto Forte Santa Tecla. Foto: Divulgação
aderno Arte e Cultura – Existe outro projeto de memória, esse para o Forte Santa Tecla.
Joelma Silveira – Lá será feita uma área dividida em duas. O
nosso forte é um forte de campanha, não é de estrutura permanente. É de
barro. Cavavam o fosso e construíam a muralha. Até hoje nenhum projeto
para ali foi aprovado, porque todas as propostas eram de reconstruir.
Não tem como reconstruir uma mentira, porque não se sabe exatamente como
era. Existe ideia de dimensões, mas como era, não. A minha
proposta foi de dividir em duas áreas. Fizemos uma reunião no Iphan para
discutir a proposta e a minha ideia recebeu carta branca, com área de
preservação onde está localizado o forte e um deck de madeira do fosso
para fora. Trata-se de uma área de demarcação para que a pessoa possa
caminhar pelos limites do forte, para ter uma noção do tamanho. E nesse
caminhar existem painéis para mostrar o que tinha dentro da estrutura,
como o paiol, cozinhas, colunas, uma série de construções. Em cada ponta do forte vamos ter baluartes, uma espécie de totem com iluminação. A
outra área dessa divisão é mais pública, com lazer, quiosques, a
recuperação do Museu Patrício Corrêa da Câmara e, também, propus a
ampliação de memorial, com maquete (grande) do forte. No mesmo local,
haverá uma estrutura de parque. E no meio disso tudo, na área
de lazer, um elevador de vidro com a visão do baluarte em toda a
extensão que é possível nos horizontes do pampa. Estive ali quando criança, meu pai me levava, e hoje tenho a oportunidade de trabalhar nesse projeto.
Fonte: http://www.defender.org.br/bage-rs-patrimonio-cultural-que-historia-e-essa/
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