Policiais do Batalhão de Choque entraram no antigo Museu do Índio, no
Maracanã, na Zona Norte do Rio, e os indígenas começaram a desocupar o
prédio por volta das 11h45 desta sexta-feira (22). O clima ficou tenso,
houve confronto, e os PMs utilizaram spray de pimenta e gás
lacrimogêneo. Os policiais dispararam tiros de bala de borracha.
Manifestantes revoltados, muitos com os rostos pintados, ocuparam as
vias no entorno e bloquearam a Radial Oeste nos dois sentidos. Um dos
manifestantes passou mal e foi socorrido pelo Samu.
Após a retomada do museu, PMs do 4º BPM (São Cristóvão) vão patrulhar o local até o começo das obras do Museu Olímpico.
A invasão aconteceu após término da negociação, que começou às 3h com a
chegada do Choque. Pouco antes das 11h, a PM começou a desfazer o
cerco, dando indício de que havia um acordo, mas o clima de
tranquilidade durou pouco: às 11h30, um grupo ateou fogo em uma oca
erguida no terreno e começou a fazer uma dança. Bombeiros foram
acionados para apagar as chamas.
Pouco depois, o Choque se posicionou e invadiu o local. Segundo o
coronel Frederico Caldas, a decisão de entrar no antigo museu ocorreu
por causa do incêndio na oca. "A Polícia Militar agiu na legalidade para
uma saída negociada até que eles resolveram por fogo, que já estava se
alastrando pelas árvores", afirmou o oficial. Segundo o coronel, na
operação havia 200 policiais do Bope. Ainda de acordo com Caldas, não
foram índios que atearam fogo na oca, mas militantes.
Por volta das 12h20, as ruas ao redor do antigo Museu do Índio pareciam
uma praça de guerra. Manifestantes com pedras, paus e faixas tentavam
fechar algumas das vias.
A todo momento era possível ouvir disparos feitos por policiais do Batalhão de Choque. Manifestantes foram detidos.
A ação foi acompanhada pelo deputado Marcelo Freixo, que criticou a
atuação da PM. "De repente você tem tiro para cima, spray de pimenta nos
parlamentares, no promotor, no defensor público. Não é possível dizer
que é necessário. Mesmo que alguns resistissem era possível que eles
fossem retirados sem violência", declarou Freixo. "Nós vamos agir contra
esse procedimento da polícia", afirmou.
O defensor público federal Daniel Macedo, que representa os índios,
criticou a entrada da PM no antigo museu. Para Macedo, os policiais do
Batalhão de Choque agiram de maneira truculenta. “Foi uma
arbitrariedade. Não precisava disso, eles [os índios] já estavam prestes
a sair. Apenas um pequeno grupo permanecia no prédio. Eles me pediram
10 minutos para fazer uma dança de despedida, quando os PMs entraram.
Vou analisar imagens e talvez entre com uma representação pedindo a
responsabilidade da polícia.”
O major da PM Ivan Blaz afirmou que se houve truculência durante a
desocupação do antigo Museu do Índio, será averiguado. “Ainda estamos em
ação. Tudo vai ser verificado e apurado no seu momento. Por enquanto
ainda estamos em operação. Peço a compreensão de todos para que a gente
possa liberar a via para que milhões de pessoas possam voltar às suas
rotinas”, declarou.
Detidos e feridos
Entre os manifestantes havia estudantes, integrantes de grupos sociais e até ativistas do Femen. Uma delas, de seios de fora, foi detida pouco antes da invasão. Revoltada, ela gritava "assassinos".
Entre os manifestantes havia estudantes, integrantes de grupos sociais e até ativistas do Femen. Uma delas, de seios de fora, foi detida pouco antes da invasão. Revoltada, ela gritava "assassinos".
Mais cedo, o advogado Arão da Providência, que diz ser irmão de um dos
índios que vivem no prédio, pulou o muro para falar com os indígenas.
Ele foi repreendido por policiais militares do Batalhão de Choque,
contido com uso de força e levado para o camburão. A manifestante Mônica
Bello também foi detida após discutir com os PMs.
O fotógrafo do jornal "O Globo" Pablo Jacob foi atingido na perna por granada de efeito moral.
Entenda o caso
A polêmica sobre o destino do espaço começou em outubro de 2012, quando o governo do estado anunciou mudanças no entorno do Maracanã, para que o estádio pudesse receber a Copa das Confederações, em 2013, a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016.
A polêmica sobre o destino do espaço começou em outubro de 2012, quando o governo do estado anunciou mudanças no entorno do Maracanã, para que o estádio pudesse receber a Copa das Confederações, em 2013, a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016.
Pelo projeto da Casa Civil, o Maracanã seria transferido para a
iniciativa privada, que deveria construir um estacionamento, um centro
comercial e áreas para saída do público. Para isso, alguns prédios ao
redor do estádio deveriam ser demolidos, entre eles o casarão do antigo
Museu do Índio, que funcionou no local de 1910 até 1978.
O edifício com área de cerca de 1.600 m² está desativado há 34 anos. O
grupo de indígenas que ocupa o prédio – e deu ao museu o nome de Aldeia
Maracanã – está no local desde 2006.
Esse ano, no entanto, a 8ª Vara Federal Cível do Rio de Janeiro concedeu imissão de posse em favor do governo estadual. Os índios foram notificados em 15 de março.
Fonte: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/03/batalhao-de-choque-da-pm-entra-no-antigo-museu-do-indio-no-rio.html
Batalhão de Choque entrau na área do museu no final da manhã (Foto:
Reprodução/TVGlobo)
Integrante do Femen é detida pela PM
(Foto: Christophe Simon/ AFP Photo)
Manifestante passa mal ( Reprodução / TV Globo)
Fotógrafo Pablo Jacob foi ferido por uma bomba de
gás lacrimogêneo (Foto: Isabela Marinho / G1)
Índios colocaram fogo em oca que fica no terreno do antigo Museu do Índio. (Foto: Reprodução / TV Globo)
Os pertences dos índios que ocupavam o antigo museu, no Maracanã, foram retirados por volta de 13h10. (Foto: Alba Valéria Mendonça / G1)
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