Sobrado construído a mando de D. Pedro I para abrigar sua amante, a Marquesa de Santos, em 1826, pode ser transformado em Museu da Moda. A notícia vem gerando críticas por parte de historiadores
Gabriela Nogueira Cunha
“O soberano a cobria de presentes e uma casa, perto da Quinta de São
Cristóvão, estava sendo construída para que ficassem mais próximos (...)
D. Pedro não hesitava em confessar que seguia a ‘opinião de sua
amásia’, a quem, segundo o imperador, não faltava bom-senso.” Retirado
do romance de Mary Del Priore, A Carne e o Sangue
– livro que narra as peripécias amorosas de D. Pedro I e sua amante
Domitila de Castro Canto e Melo - o trecho fala sobre a construção do
Solar da Marquesa de Santos, em 1826. Naquela época, o que acontecia
entre as quatro paredes do atual Museu do Primeiro Reinado já dava o que
falar. Hoje, a polêmica em torno da casa é um pouco diferente: um
projeto da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro pretende
transformá-lo em Museu da Moda, fato que vem despertando a preocupação
de historiadores
A notícia
da transformação foi publicada no site oficial do Governo do Estado, no
último mês de março. A nota promete a consolidação da economia criativa
na Zona Norte, movimentando a indústria têxtil em São Cristóvão, assim
como a revitalização do bairro imperial. Depois de uma manifestação por
parte do professor José Murilo de Carvalho, da UFRJ, foi a vez de Nireu
Cavalcanti, uma sumidade em Rio de Janeiro, se pronunciar contra a
desconstrução histórica da casa da marquesa. A crítica foi publicada
pelo jornal O Globo: para os pesquisadores, a ideia de usar o lugar como
Museu da Moda seria “uma idiotice”.
A birra, claro, não é contra a moda, mas em defesa do fortalecimento do
Museu do Primeiro Reinado, tombado pelo Iphan em 1938 e transformado em
museu na década de 1970. Hoje, ainda se encontra fechado para restauro,
um projeto iniciado em 2011. “Eu defendo que o museu que conta a
história do reinado de Pedro I seja exemplar. Com tanto imóvel vazio na
cidade não faz sentido perpetuar esse crime contra a história pátria”,
reclamou Cavalcanti.
Cenário do romance vivido pelo Imperador e a Marquesa de Santos, entre
1827 e 1829, o terreno foi adquirido em 1826 e coube ao arquiteto
francês Pierre-Joseph Pézerat conceber um novo projeto para o imóvel. As
pinturas decorativas foram confiadas a Francisco Pedro do Amaral,
pupilo do artista francês Jean-Baptiste Debret.
Mas o solar também foi palco de acontecimentos da maior relevância da
corte. Segundo a historiadora Mary del Priore, quando não sediou
eventos, o casarão sempre esteve a eles conectado. “Ali, D. Pedro I
passou os primeiros anos que se sucederam ao processo de emancipação e
não só namorando a Marquesa de Santos.
Continua o texto no link: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/a-nova-moda-do-imperador
O projeto
As obras de restauração da Casa da Marquesa de Santos entraram agora em
sua segunda fase, com a elaboração de projetos executivos. A primeira
etapa foi realizada pela fundação Espírito Santo Cultura. Mas, o plano é
que, em breve, o terreno em torno do solar seja desapropriado para a
construção de anexos que serão ocupados pelo Museu da Moda e o Rio
Criativo. O complexo vai abrigar cerca de 20 incubadoras de empresas,
mais ateliês, lojas e restaurantes.
A Secretaria de Cultura do estado, no entanto, afirmou por meio de sua
assessoria de imprensa tratar-se de um projeto embrionário, ainda em
estudo, que está sendo desenvolvido em parceria com o Instituto Zuzu
Angel e a Fundação Getúlio Vargas. “Se vier a ser realmente firmado como
projeto, só ficaria pronto depois de 2016. E seria instalado num prédio
a ser construído em um terreno contíguo ao da Casa da Marquesa de
Santos, não nela.”
Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/a-nova-moda-do-imperador
Solar da Marquesa de Santos, em São Cristóvão, abriga atualmente o Museu do Primeiro Reinado
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