Mio, um gato surdo de dez anos, mal sabe que seu deslizar suave e
livre pelos 430 m² de área construída do Casarão do Belvedere (1927),
tombado pelo patrimônio histórico há uma década, está com dias contados.
O dono do local, o ator Paulo Goya, 61, afirma estar “muito cansado,
desanimado e falido” para manter o trabalho diário que exige a
instalação e consome R$ 10 mil por mês, em média.
Ele pretende nos próximos meses fechar as portas da casa, hoje ponto
de encontro de músicos e palco de manifestações artísticas diversas.
Diz não aguentar mais o descaso e a falta de apoio público para
manter viva a memória do local, que fica na rua Pedroso, na Bela Vista,
no centro da cidade.
Construído por Raphael Lanzara para os bisavós de Goya, imigrantes
franceses, o casarão tem 11 cômodos com paredes e teto ornamentados,
rodeado de árvores.
“Uma parte do telhado está com infiltração e vai desabar em breve. O
orçamento para arrumar é de R$ 110 mil. Não tenho condições de arcar. Já
coloquei R$ 570 mil do bolso em pequenas reformas para manter a casa
aberta. Agora chega”, diz o ator.
O desabafo de Goya faz eco entre proprietários de outros 32 imóveis,
contando apenas casas e casarões, tombados pelo conselho do patrimônio
municipal, desde 1988, na cidade de São Paulo.
Eles reclamam da falta de apoio para conseguir manter em pé as instalações protegidas e a memória dos bens.
“Jamais pedi dinheiro público para colocar no casarão. O que sempre
quis foi apoio para fazer os projetos de restauração, que são caros e
complexos. Ninguém do setor público me deu caminhos para viabilizar o
bem tombado.”
A construção de um prédio de 20 andares no terreno ao lado também
desanima o proprietário, que reclama do descompromisso com áreas de
entorno de casas como a dele.
“Como o bairro cresceu de qualquer maneira, o casarão foi perdendo
visibilidade na rua. Nem a caixa que trabalha no mercado da esquina
conhece aqui. Tentei que colocassem uma placa marrom indicativa de
patrimônio histórico, mas nem isso consegui. Tudo é difícil.”
Como protesto, Goya protocolou na prefeitura pedido de destombamento.
“Quero ver se, pelo menos, vão me chamar para conversar. Não tenho
muita esperança, mas, talvez, alguém veja que o imóvel tem IPTU de R$ 23
mil por ano e resolvam dar algum valor.”
Alternativas
Por meio da assessoria de imprensa, o Departamento do Patrimônio
Histórico informou que “está à disposição para discutir com o dono do
casarão alternativas para preservação do bem tombado”.
Segundo o órgão, “a nova gestão [encabeçada pela arquiteta Nadia
Somekh], iniciada há poucos meses, está baseando toda a construção das
políticas públicas para a cidade em torno do diálogo”. Por Jairo Marques
Fonte: http://defender.org.br/2013/05/28/sem-apoio-ator-promete-fechar-casarao-tombado-em-sp/
Casarão do Belvedere (centro de SP), construído em 1927; seu dono, o ator Paulo Goya, afirma que não consegue manter o local. Fotos: Victor Moriyama/Folhapress
Casarão do Belvedere (centro de SP), ponto de encontro de músicos; seu dono, o ator Paulo Goya, afirma que não consegue manter o local.
Os 430 m² de área construída do Casarão do Belvedere (centro de SP) servem como palco de diversas manifestações artísticas.
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