Reportagem da Revista Arquitetura & Construção, da edição de Março de 2013, que reproduzo abaixo:
Já pensou em morar numa igreja, estação de trem, fábrica ou até mesmo numa catacumba? Pois transformar lugares assim em casa tem sido cada vez mais comum, como você verá nos exemplos desta reportagem. À busca pelo novo somam-se o sentimento ecológico e a fantasia, ingredientes que estimulam os inusitados retrofits. "Essas revitalizações surgem da necessidade de integrar funções, eliminando diferenças entre morar, trabalhar e divertir-se. E refletem a flexibilidade do homem moderno", avalia o arquiteto sueco Per-Johan Dahl, autor, junto de Caroline Dahl, do livro Loft P, que analisa o conceito dos precursores dessa onda: os primeiros galpões indutriais convertidos em casas, há 20 ano.
Trilhado na Europa e nos Estados Unidos desde os anos 60, esse caminho popularizou-se na década seguinte, sob influência de intelectuais com Jane Jacobs - autora de Morte e Vida de Grandes Cidades, um clássico do urbanismo. Quase na virada do século passado, ganhou novo impulso. "O retrofit de hoje é uma extensão do movimento dos anos 90 em converter espaços industriais em lofts", confirma Cher Potter, editora de macrotendências do portal WGSN, especializado em captar esses sinais nas mais variadas áreas. Estimulado pelo inconformismo, sintetiza um novo jeito de morar, de sentir, de ver o mundo. "Meu prédio manteve sua herança cultural, e é muito bom saber que ele ainda estará aqui em 10 anos", fala Ronald Olthof, dono da casa-igreja. Outros aspectos também atraem o interesse dos moradores: dimensões, valor dos imóveis e qualidade construtiva. Edifícios mais velhos apresentam uma paleta de materiais que muitas obras atuais já não podem se dar ao luxo de utilizar, como ferro fundido e madeira nobre. Juntos, os três pontos são o retrato de um movimento urbanístico bem mais amplo, em que entrarm desde a revitalização de áreas deterioradas por intermédio de projetos inovadores até o ímpeto coletivo de trocar o carro pela bicicleta. "Executado com sensibilidade, o retrofit mantém intacta a alma do lugar", lembra Francis D.K. Ching, professor do departamento de Arquitetura do College of Built Environments, da Universidade de Washington. "O mix entre o velho e o novo dá a sensação de viver entre dois mundos e ter o melhor de cada um", resume o designer Jeroen van Zwetsellar, da casa estação.
Reportagem: Liége Copstein / Design: Renata Rise
A Igreja
Por fora uma típica capela, por dentro uma casa moderna. Ao restaurar o prédio dos anos 20 para abrigar sua nova morada, um Haarlo, na Holanda, o arquiteto Ronald Olthof, do estúdio LKSVDD Architecten, tentou preservar ao máximo a construção original, de 180 m². Telhas e tijolos de barro e a torre do sino foram apenas lavados com água e sabão. O interior, porém, passou por uma reformulação e tanto. Teve o forro demolido para deixar as vigas à mostra e ganhou piso de concreto aerado, além de mezanino, onde fica o quarto. No térreo, distribuem-se sala, cozinha e escritório - este na elevação antes destinada ao altar.
Crédito das fotos: http://www.z3projetos.com/apps/blog/gods-loft-story-a-transforma%C3%A7%C3%A3o-de-uma
Vizinha ao parque nacional de Zuid-Kennemerland, nos arredores de Amsterdã, a construção do final do século 19 estava abandonada desde os anos 90. Mas depois da transformação assinada por Steven Nobel, do Zecc Architecten, e Jeroen van Zwetselaar, do ZW6 interiors, virou a acolhedora residência do designer e seu filho de 4 anos. A primeira medida foi retirar alterções recentes que descaracterizavam a antiga estação. Depois, para crescer a planta em 80 m², a dupla adicionou duas estruturas de aço cortencom amplas portas de vidro duplo e cavou o subsolo, onde abriu espaço aos dois quartos e ao banheiro.
Crédito das fotos: http://www.archdaily.com.br/87710/railway-house-santpoort-zecc-architects/
A Fábrica
Com 3 mil m², uma antiga fábrica de cimento em Barcelona tornou-se o imponente refúgio do arquiteto Ricardo Bofill, do Taller Arquitectura. Dos 30 sílos originais, oito foram mantidos e cuidadosamente limpos para deixar à vista sua estrutura de concreto bruto. Finalizados com spray oxidante à base de partículas de ferro, as paredes ganharam efeito de pátina no tom ocre. Os prédios do complexo, batizado de The Factory, divididos em quatro pavimentos, abrigam não só a residência como também o escritório, um laboratório, biblioteca, salas de recreação e um fabuloso jardim de oliveiras, ciprestes, palmeiras e eucaliptos distribuídos em 5 hectares de terreno.
Crédito das fotos: http://tudo-arrumado.blogspot.com.br/2011/05/fabrica-de-cimento-vira-casa-super.html
Na cidade histórica de Civita di Bagnoregio, na Itália, do Studio F Design, criou um incrível espaço de lazer numa rede subterrânea de túneis com 200 m² de área. Sob a construção do século 14, uma escada escavada na rocha conduz a cavernas da era etrusca, transformadas em sala de estar e de meditação, galerias de arte, adega, piscina e jardim suspenso sobre os penhascos. Em respeito ao acervo precioso, um geólogo acompanhou toda a obra. Materiais modernos foram adicionados com parcimônia - muitos vindos de demolições. A terracota usada no piso é artesanal; as pedras vulcânicas, originais.
Crédito das fotos: http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=26972
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