Em vez de bisturis, espátulas, estiletes e lâminas, um grupo de
restauradores lançou mão de equipamentos de última geração para analisar
as paredes e os murais da Capela Nossa Senhora da Boa Morte, localizada
no centro da edificação da Santa Casa de Misericórdia de Campinas. Além
de acelerar o processo de coleta de dados, as técnicas usadas são
consideradas não destrutivas. Após o levantamento, os restauradores irão
avaliar a necessidade de intervenção e de que forma ela será feita para
se chegar à pintura original. A expectativa é encontrar sob as diversas
camadas de tintas um verdadeiro tesouro sobre a história da capela de
142 anos e da cidade de Campinas.
Entre os aparelhos utilizados estão tomógrafo, microscópio digital,
termovisor e uma paleta automática. A restauradora-pesquisadora
Elizabeth Kajiya, do Instituto de Física Nuclear da Universidade de São
Paulo (USP) e do Grupo de Conservação e Restauro da Arquitetura e Sítios
Históricos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) trabalha em
parceria com o restaurador Antônio Sarasá, responsável pelo projeto da
capela. Elizabeth explicou que será feito um levantamento constitutivo
do material usado nas pinturas decorativas da capela. Em análise
preliminar, já foi possível verificar que há períodos distintos de
pintura e que sob uma das paredes do lado direito há um desenho.
Uma das técnicas que serão utilizadas é a análise de superfície,
chamada imageamento. Os restauradores farão uma espécie de escaneamento
da pintura sem precisar raspar a parede com o bisturi, como é feito na
técnica convencional. “Com a luz infravermelha vamos tentar identificar
as camadas internas, as técnicas artísticas utilizadas e, tendo todo
esse levantamento, ver se houve intervenções de restauro e diferenciar
as etapas.” Além da luz infravermelha, será usada luz ultravioleta, que
vai avaliar a interação do material, as áreas de retoques antigos e
recentes, e luz rasante, que vai mostrar as deformações, craquelamento e
fissuras.
Além das paredes e murais da capela, a imagem de Nossa Senhora da Boa
Morte, trazida da França, em 1907, e, aparentemente bem preservada,
também será analisada pelos restauradores. Ela deverá ser submetida a um
tomógrafo que vai avaliar o seu real estado de conservação. Depois da
análise, os restauradores vão poder dizer o quanto a capela está
danificada e se precisa ser restaurada. A coleta de dados deve levar 15
dias e a análise das informações deve ficar pronta em quatro meses. Com
os dados em mãos, os pesquisadores irão definir se haverá necessidade de
intervenção. As possibilidades são restaurar ou conservar como está. “O
objetivo final não é a restauração, mas a preservação da história. O
mais importante é deixar a história inteira”, afirmou Sarasá,
restaurador responsável pelo projeto.
As primeiras intervenções, consideradas emergenciais, começaram a ser
feitas na capela em 2009 e foram propostas pelo Instituto de Saúde
Integrada (ISI). Elas incluíram a retirada de cupins, limpeza de calhas,
reboco externo. Já o trabalho iniciado ontem é considerado a etapa
artística. “Até então, foi utilizada a técnica do bisturi, descascando
camada a camada até chegar à pintura original. É válida e permitida no
processo de restauro, mas tem a desvantagem do tempo, que é maior, e da
dificuldade de encontrar profissionais especializados”, afirmou Leide
Mengatti, diretora-executiva do ISI. Segundo Reinaldo Masson, um dos
restauradores, a expectativa é restaurar 70% da pintura original. O
custo estimado do trabalho é de R$ 9 milhões e até agora tem contado com
a doação de fiéis e da comunidade.
Riqueza histórica
A capela foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) em 1972 e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) em 1988. O altar-mór da capela, as duas pias de água benta e o piso do presbitério são em mármore de Carrara. As grades que cercam o altar principal foram construídas pela fundição Irmãos Bierrenbach. O frontispício da igreja é adornado por três estátuas artísticas de mármore simbolizando a fé, a esperança e a caridade. Por Inaê Miranda
A capela foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) em 1972 e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) em 1988. O altar-mór da capela, as duas pias de água benta e o piso do presbitério são em mármore de Carrara. As grades que cercam o altar principal foram construídas pela fundição Irmãos Bierrenbach. O frontispício da igreja é adornado por três estátuas artísticas de mármore simbolizando a fé, a esperança e a caridade. Por Inaê Miranda
Fonte: Correio Popular
Fonte: http://defender.org.br/2013/05/11/campinas-sp-tecnologia-auxilia-restauro-de-capela/
O restaurador Antonio Sarasá e Elizabete Kajiya, do Instituto de Física Nuclear da USP, com o aparelho termovisor no interior da capela. Foto: Elcio Alves/AAN
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