sexta-feira, 24 de julho de 2009

A contribuição Açoriana na Formação do Povo Encruzilhadense

A chegada efetiva dos açorianos no Rio Grande do Sul foi entre 1752 e 1754, tendo em vista o povoamento das chamadas Missões Orientais, território cedido pela Espanha a Portugal, pelo Tratado de Madri, em troca da Colônia de Sacramento. Na Capitania de São Pedro do Rio Grande, os imigrantes açorianos se estabeleceram inicialmente em Viamão, dispersando-se a seguir para Rio Pardo, Santo Amaro e Taquari.
De Rio Pardo, chegaram até Encruzilhada por volta de 1810, que nessa época era habitada por tropeiros e soldados portugueses aqui instalados para defender o Forte Jesus Maria José do ataque dos espanhóis. A partir dessa data, começa efetivamente o desenvolvimento da malha urbana do município, com a nítida influência dos traçados portugueses, traçados que se fazem de acordo com a topografia, com ruas retas, mas não tão retas assim, pois nem sempre são paralelas ou ortogonais umas em relação às outras.
Essa influência no urbanismo se estende também aos prédios. A Igreja, situada em um ponto central, de preferência o mais alto, tem uma arquitetura simples, se comparada à arquitetura religiosa do centro do país. É interessante notar que na maioria das cidades que recebem imigrantes açorianos, a igreja se configura como o ponto central da cidade, e a partir dela, se organiza toda a malha urbana da cidade. A influência açoriana marcou presença também nos prédios públicos e residências.Arquitetura que hoje, ainda que precariamente, é preservada.
Os açorianos deixaram um legado que vai além da arquitetura e do urbanismo. Deixaram marcas acentuadas na estrutura social do povo encruzilhadense, com a língua usada em todos os recantos do município, os usos e costumes do povo, as brincadeiras infantis, as canções de ninar, os festejos populares e as festas religiosas.
Eder Santos Carvalho
Encruzilhada do Sul, 23 de Julho de 2009
Bibliografia consultada
Memória Encruzilhadense - Humberto Castro Fossa – Vol.3. Alice Therezinha Campos Moreira, Dione Teixeira Borges Moreira (org.). Porto Alegre. Evangraf - 2008
BARROSO, Vera Lucia Maciel (org.). Presença açoriana em Santo Antonio da Patrulha e no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: EST, 1993.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

APEAÇABENSES

Em 1943, quase passamos a ser chamados apeaçabenses, em vez de encruzilhadenses, pois, naquele ano, o governo Vargas entendeu que não deveria haver no país duas ou mais localidades com a mesma denominação.Em vista disso, não iria existir mais de uma Encruzilhada no território brasileiro.
Por essa razão, os burocratas federais resolveram que tal nome só poderia ficar com um município baiano, sob o argumento de que a referida comuna vinha com esta denominação desde o século XVI e, para a nossa Encruzilhada escolheram, arbitrariamente, o nome de Apeaçaba.
A alfadada escolha, como não deveria deixar de ser, causou indignação entre a população local e levou o prefeito municipal, Cel. Honório Carvalho, a travar um batalha com o conselho Nacional de Geografia, luta essa iniciada com um memorial enviado ao Conselho Regional e seguido de telegramas endereçados ao embaixador Macedo Soares e ao nosso conterrâneo ministro Pedro Mibielli, solicitando a interferência desses ilustres homens públicos, no sentido de que fosse mantido o nome de Encruzilhada para este município, nome vindo do tempo em que aqui acampavam os contingentes luso – brasileiros que vigiavam e combatiam os invasores castelhanos.
Com a finalidade de resolver o impasse e não descontentar baianos e gaúchos, o Dr. Leite de Castro, então secretário do Conselho Nacional de Geografia, sugeriu o nome de Encruzilhada do Sul para o nosso município, uma vez que o homônimo nortista não seria de forma alguma mudado.Para nos livrarmos do patromínico apeçabense, o negócio foi aceitar a denominação de Encruzilhada do Sul como se entende lendo o telegrama enviado àquela autoridade pelo Cel. Honório Carvalho: “resposta telegrama vossência informo aceitamos nome Encruzilhada do Sul”.
Assim, a 1º de janeiro de 1944, no antigo salão nobre da atual prefeitura, em sessão solene presidida pelo juiz de direito da Comarca, Dr. Pedro Marques da Rocha, com a presença de autoridades e pessoas gradas, depois de cantado o hino Nacional seguido pro vibrante salva de palmas, o magistrado com “voz clara e pausada”, em nome do governo do estado, confirmou para este torrão histórico, tão cheio de glórias, o nome de Encruzilhada do Sul.
Humberto Castro Fossa - Historiador
Jornal 19 de julho, 10 de julho de 1951
Texto extraído do livro:
Memória Encruzilhadense - Humberto Castro Fossa – Vol.3. Alice Therezinha Campos Moreira, Dione Teixeira Borges Moreira (org.). Porto Alegre. Evangraf - 2008

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A Capela dos Índios em Encruzilhada do Sul

O historiador, Dr. Alcides de Freitas Cruz, em um trabalho sobre Encruzilhada, publicado no anuário da Província do Rio Grande do Sul (1901), do Dr. Graciano Azambuja, afirmou, depois de ter examinado aqui antigos documentos, inventários e registros paroquiais, que os primitivos habitantes do nosso município procediam das ilhas dos Açores, da Vila de Laguna, da São Paulo e de Rio Pardo.Assinalou, também, o autor, que um contingente indígena das Missões foi trazido para cá provavelmente no início do século XIX.Na realidade, esses guaranis faziam parte de um contingente maior que, após a Guerra Guaranítica, veio com o general português Gomes Freire de Andrade para Rio Pardo. Parte deles seguiu para Cachoeira, e a leva mais importante ficado em Rio Pardo foram transferidos para Encruzilhada e aqui assentados na Aldeia Velha, local situado hoje no perímetro urbano, junto ás atuais ruas 4 de Dezembro e Ernesto Dorneles.
É bom esclarecer que este aldeamento não se constituiu em uma redução jesuítica aos moldes das que formaram no século XVII os Sete Povos das Missões. Aqui não tivemos a presença dos padres da Companhia de Jesus. Os aldeados, na parte religiosa, eram assistidos pelos padres da freguesia. Só não sabemos é se os índios daqui eram sujeitos ás mesmas restrições impostas a seus irmãos na Aldeia dos Anjos, onde, além de serem proibidos de falar o idioma nativo, tiveram seus nomes trocados por nomes portugueses como nos seguintes exemplos anotados pela professora Ana Cristina Oliveira Álvares na obra Os índios da Aldeia dos Anjos. O índio Cababayu passou a ser chamado Dionísio Pereira; Poti ficou sendo Miguel de Sousa, Tiripá foi “rebatizado” como Estanislau Goularte, e assim por diante.
Mal fechados em Encruzilhada, os índios trataram logo de erguer uma capela na Aldeia Velha, onde colocaram seus santos de madeira e um sino que, segundo o historiador oriental Uruguay Veja Castilhos, com quem conversamos a respeito, teria vindo das missões argentinas. Esta hoje, no Museu Municipal, junto á Biblioteca Público. Nele esta gravada a seguinte inscrição: Ano de 1766 – Apostoles S. Pero.
Abaixo da capela, no correr da Rua 4 de Dezembro, os índios tinham seu cemitério. Anos atrás, em escavações feitas no local, foram encontradas ossadas humanas.
Com o passar do tempo, esses indígenas foram se dispersando. Lá pelo ano de 1890 já restavam poucos. Entre esses ficou uma velha índia muito conhecida na vila pelo apelido de Chica Pancha, a qual, segundo se sabe, foi a última guardadora dos santos de madeira, do sino e das alfaias da capela. Ela faleceu aqui a 6 de fevereiro de 1893, portanto há cem anos. Seu passamento foi registrado pelo jornal local A Encruzilhada, dois dias depois, com os seguintes termos: “Anteontem foi sepultado o corpo da china velha Francisca, vulgarmente conhecida por China Pancha”.
Com isto, comprova-se ter existido no passado mais um templo em Encruzilhada. Tivemos, assim, fora a atual Matriz, a Capela de Santa Bárbara, a Capela do Cemitério, próxima a atual Praça Barão do Guarai, e a Capela dos índios Missioneiros, na Aldeia Velha.
Humberto Castro Fossa - Historiador
Caminhos, Boletim da Paróquia de Santa Bárbara, maio de 1993
Texto extraído do livro:
Memória Encruzilhadense - Humberto Castro Fossa – Vol.3. Alice Therezinha Campos Moreira, Dione Teixeira Borges Moreira (org.). Porto Alegre. Evangraf - 2008
Eder Santos Carvalho
Encruzilhada do Sul, 06 de Julho de 2009