domingo, 26 de fevereiro de 2017

Cidades sustentáveis

Velocidade acelerada do crescimento urbano é um problema real que precisa ser abordado com planos e métricas quantificáveis

Por Eduardo Athayde
Diretor do Worldwatch Institute (WWI) no Brasil

Quando a ONU realizou a primeira Conferência sobre o Meio Ambiente Humano (1972), em Estocolmo, as consequências da degradação ambiental para um planeta com 3 ,7 bilhões de habitantes foram destacadas. Em 1987, com 5 bilhões de habitantes, a ONU publicou o relatório intitulado Nosso Futuro Comum, afirmando que o desenvolvimento deve satisfazer às necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das futuras gerações. Hoje, com uma população de 7,3 bilhões de seres humanos, 59% vivendo em cidades, as discussões globais estão focadas no ambiente urbano. Viramos seres urbanos liderando uma economia planetária.
Impactada pelo crescimento desenfreado, a civilização humana dedicou um encontro ao tema pela primeira vez na história, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco 92 (1992), no Rio, onde o conceito de ¿Desenvolvimento Sustentável¿ foi oficializado como senso comum. Entre a Eco 92 e a Rio+20 (2012), em apenas duas décadas, acrescentamos mais 1,6 bilhão de habitantes/consumidores e mais 50 trilhões de dólares em PIB, ao planeta. Como civilização, continuamos a crescer a um ritmo acelerado de 80 milhões de habitantes por ano.
A velocidade do crescimento impacta a todos. Em 1804, atingimos o primeiro bilhão de seres humanos. Cento e trinta anos depois, em 1934, atingimos o segundo bilhão e, de lá para cá, aceleramos a um ritmo desenfreado, acrescentando ao planeta mais 5 bilhões de novos habitantes/consumidores em apenas oito décadas. Em 1900, cerca de 150 milhões de pessoas moravam em cidades. Em 2000, eram 2,8 bilhões. Desde 2008, mais de 50% da população da Terra vive amontoada em cidades, fazendo dos humanos uma ¿espécie urbana¿ cada vez mais imobilizada. No Brasil já somos 84% urbanos e, segundo o IBGE, seremos 90% em 2020. Hoje, a velocidade dos carros nas grandes cidades é igual à das carruagens, literalmente puxadas a ¿dois cavalos¿ de força, do início do século 20.
O Acordo de Paris, assinado em dezembro de 2015 por 195 países, entrou em vigor em 4 de novembro de 2016, inclusive no Brasil, determinando a descarbonização da economia, uma imperiosa necessidade que, dentre muitos benefícios para pessoas, cidades e o planeta, implica um robusto e lucrativo negócio, com investimentos iniciais de US$ 100 bilhões/ano, começando pela eficiência energética. O novo presidente americano, Donald Trump, com a força que tem, terá que observar o que ensina o provérbio chinês: ¿Existe a sua verdade, a minha verdade, e a verdade verdadeira¿ – essa última move o mundo.
Desregrado, o mundo faz rebrotar o modismo do ¿compliance¿, que nada mais é do que a busca da conformidade, governança baseada no respeito às regras, um dos pilares do desenvolvimento equilibrado, também chamado de sustentável. O novo relatório internacional do Worldwatch Institute, Cidades Podem Ser Sustentáveis? (452 páginas), publicado há 33 anos consecutivos em 20 idiomas, e cuja edição deste ano está sendo traduzida para o português, mostra, com fatos e dados, inclusive virtuais, iniciativas exitosas de cidades do mundo focadas no bem estar das pessoas, a chamada sustentabilidade de resultados, com projetos, orçamentos, prazos e entregas. Sem métricas quantificáveis, ficamos apenas no blá-blá-blá da sustentabilidade.
Neste novo espaço de nuvens virtuais que conecta o dia a dia frenético de 3,7 bilhões de pessoas internetizadas (só o Facebook tem 1.2 bilhão de conexões) onde smartphones passaram a ser uma espécie de extensão digital do corpo humano, a ecologia interior das pessoas, das casas, das famílias, dos amigos e do trabalho reclama o seu espaço, buscando ambientes sadios e uma cultura da paz.


















Só no Brasil, a população urbana já representa 85% do total de habitantes e, segundo o IBGE, seremos 90% em 2020
- Foto: Jefferson Botega / Agencia RBS








Hoje, com uma população de 7,3 bilhões de seres humanos, as discussões globais estão focadas no ambiente urbano - Foto: SARAH DAWALIBI / AFP


















Repercussões das mudanças climáticas atingem a fauna global e provocam protestos ao redor do mundoFoto: Sandy Huffaker / AFP

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Incêndio destrói prédio da antiga Estação Ferroviária de Rio Pardo

A suspeita da Brigada Militar é que usuários de drogas, que frequentam o local, tenham ateado fogo no prédio










Foto: Letícia Mendes/Gazeta do Sul
Um incêndio atingiu e destruiu um prédio que pertence à antiga Estação Ferroviária de Rio Pardo na madrugada deste sábado, 18. Por volta das 4h55 da manhã, as chamas se espalharam pelo local. O prédio, que fica na Avenida General Osório, está atualmente desativado, pois se trata de um antigo depósito.
A suspeita da Brigada Militar é que usuários de drogas, que frequentam o local, tenham ateado fogo no prédio. O telhado acabou desabando com as chamas, ficando somente as paredes da Estação de pé. Os bombeiros utilizaram duas viaturas, uma principal e outra de apoio, e 15 mil litros de água para controlar as chamas. O trabalho dos combatentes terminou por volta das 7 horas. Ninguém ficou ferido.
Na foto abaixo, de 2015, é possível ver o prédio que foi atingido pelas chamas:










Foto: Rodrigo Assmann | Banco de Imagens













Imagens: do site

domingo, 19 de fevereiro de 2017

O Projac da Colônia

LUIZ HENRIQUE FITARELLI PASSOU MAIS DE UMA DÉCADA MONTANDO UM CENÁRIO PARA APRESENTAR UMA GRANDE COLEÇÃO DE OBJETOS ORIGINAIS DA COLONIZAÇÃO ITALIANA REUNIDOS AO LONGO DE UMA VIDA. PERFECCIONISTA, ELE AINDA NÃO SABE QUANDO SUA GRANDE OBRA ESTARÁ PRONTA.

Fitarelli está se sentindo pressionado. Ultimamente tem ouvido da mulher que, “ora, 12 anos já é tempo demais”. Meses atrás, a filha mais velha resolveu endossar o coro: vai se casar ainda em 2017 e não, não tem outra opção, a festa será na cantina. É melhor que fique logo pronta. Até a prefeitura não vê a hora para, enfim, poder divulgar a mais nova atração turística de Garibaldi, na serra gaúcha.
Só que Fitarelli não tem pressa. Ele diz que tem algumas coisas prontas, e mais um monte delas por terminar. Reclama que precisaria de uma rede de energia elétrica em sistema trifásico, porque a atual, de uma fase só, não dá conta do recado. Avisa que está vendo o trabalho de mais de uma década chegar bem perto do fim. Só que o fim é exatamente o detalhe que lhe falta: descobrir uma forma de fazer com que a obra que construiu ganhe vida própria – em outras palavras, que se sustente daqui para frente.
– Acredito que, dentro de pouco tempo, vou achar um caminho. Aí pretendo abrir ao público em breve. Só não posso prometer o quão breve, porque promessa é dívida. Mas estou trabalhando para que isso aconteça logo – responde ele às pressões, com forte sotaque italiano, desconversando sobre prazos.
O que há tanto tempo está em desenvolvimento e ainda de portas fechadas é o Museu Etnográfico da Imigração Italiana, idealizado e em construção por Luiz Henrique Fitarelli, 57 anos. Não há exagero em afirmar: trata-se da maior coleção de objetos do tempo dos colonos italianos que povoarama Serra no fim do século 19 – são mais de 8 mil peças reunidas. Isso já seria um feito e tanto. Só que Fitarelli, todos sabem, é um cara caprichoso. Não colocaria em qualquer lugar o acervo que selecionou ao longo da vida, desde quando tinha 12 anos. Então, imaginou um cenário de novela, onde cada item seria colocado em seu devido lugar, como se ainda estivesse em uso. E assim fez: um cenário de novela, a céu aberto. Um verdadeiro “Projac da colônia”.
Achou uma área rural distante 20 quilômetros de Garibaldi, cercada por árvores, às margens de um córrego. Uma paisagem bucólica, com um certo desnível no relevo. Colocou propositalmente uns pares de ovelhas e teve sorte quando apareceram por conta uns casais de quero-quero, dando ainda mais vida ao local. Projetou e ali ergueu ferraria, capela, casa com armazém, tanoaria, marcenaria, estrebaria e uma cantina – tudo construído a partir de técnicas utilizadas pelos imigrantes italianos e com os mesmos materiais, pedra e madeira. O trabalho é resultado de anos dedicados a incursões pelo interior dos municípios serranos e horas de observações atentas a cada detalhe das casas em que pedia licença e entrava. Buscou antigas construções à venda, escolheu tábua por tábua, caibro por caibro. Estava junto para ajudar a carregar e também ordenar o corte, onde e com que angulação cada material deveria ser encaixado. Tem na ponta da língua: só na cantina, são mais de 3,5 mil pedras e 20 metros cúbicos de madeira. Haja força no braço – e dinheiro no bolso.
– Não tenho estimativa de quanto já gastei nisso tudo. Foi algo que nunca me interessou muito saber. Mas foi bastante. Claro que muitas vezes consegui fazer compras a preços interessantes, até porque o pessoal não dava valor. E também teve coisas que saíram caro. Mas o custo disso não tem essa importância. O valor do acervo que está dentro destas construções é muito maior, porque é histórico – afirma Fitarelli.
O gosto por colecionar surgiu ainda quando criança, talvez motivado por um hábito tipicamente “gringo”: o de guardar qualquer coisa que pudesse vir a ser útil. Em tempos de dinheiro curto e distâncias longas, não era assim fácil ir até a cidade e comprar tudo novo em folha – então, guardavam-se pregos tortos, pedaços de ferros, tocos de madeira, latas, o que fosse. O acervo começou com pequenas peças pertencentes aos nonos – o ferreiro Tercílio Accorsi e o tanoeiro e agricultor Pedro Fitarelli, que repassavam ao neto os relatos da colonização contados pelos bisavós italianos. E só cresceu.
O jovem se formou em Veterinária e pôde, então, por conta própria, sustentar o “vício”, tornando o acervo cada vez mais sério. Viajava de camionete a trabalho, e voltava com a caçamba cheia de móveis e objetos. Parecia um frete andando pelas estradas de chão. Não demorou para que as peças começassem a se empilhar pelos cômodos da própria casa – e dos outros também.
Alguns móveis, aqueles que não tinham tanta relação com a imigração italiana, passaram a preencher um imóvel ao lado de onde Fitarelli mora – um sítio de gramado verde, flores e gatos correndo soltos, cravado bem próximo ao centro da cidade. Era o local onde o avô paterno vivia. Ali é a chamada Villa Fitarelli, que abriga um antiquário onde estão cristaleiras, enormes mesas de madeira maciça e uma infinidade de relíquias. Tudo à venda. Ao lado, foi criada uma oficina de restauro, onde os móveis danificados passam por reparos e outros novinhos são produzidos. À moda antiga, é evidente. O apreço pelo passado virou hobby. E também profissão – deixou a veterinária há quatros anos.
Para o museu, foram aqueles objetos de valor inestimável pela história que contam. Esses dias um especialista em acervos passou por lá e catalogou 1.170 peças relacionadas à produção de vinho. Entre elas, ferramentas utilizadas no processo da tanoaria e barris, que totalizam 300 unidades. Tudo foi pesado, medido, descrito e colocado organizadamente em uma prateleira. Há também os antigos materiais utilizados por marceneiros, como um banco de trabalho onde se posicionavam para cortar e trabalhar a madeira. Tem a coleção de plainas, de artigos de sapataria (profissão do pai), uma série de pilões e mais um punhado de coisas que os mais jovens não devem nem imaginar para que um dia serviram. Um destes objetos é um cortador de palha, vendida em formato quadrado, para a confecção manual de cigarrilhas.
É tanta coisa espalhada no interior das construções que ainda neste ano deve sair um longa-metragem sobre o trabalho de preservação feito por Fitarelli – os depoimentos e imagens foram gravados no museu e também na Itália, em lugares correlatos, como marcenarias, ferrarias e cantinas. A esta altura, pode-se dizer que rlr já está acostumado com as câmeras. Há algum tempo, abriu as portas do museu para a gravação de cenas da novela das seis Além do Tempo, da Rede Globo, exibida entre 2015 e 2016. Em 2015, o espaço serviu de palco para um comercial da Coca-Cola. Também se desenrolaram ali episódios da minissérie Decamerão: A Comédia do Sexo, criada por Jorge Furtado, e o documentário em curta-metragem Para Ficar na História, da RBS TV.
Com tanta demora para abrir o espaço ao público, parece que Fitarelli tenta manter a obra em sigilo. O problema é que criou um paraíso estético e histórico – e, bem, é difícil guardar lugares assim em segredo.
– Foram muitos anos de trabalho, mas tudo foi feito com prazer. Esta é a grande diferença.
A ideia não é ganhar dinheiro. Se eu quisesse ficar rico, eu não teria feito um museu. Se fiz, foi por satisfação. E faria mais uma vez. É gratificante receber o reconhecimento das pessoas pelo meu trabalho. Encontrar pessoas que admiram a preservação da história é o melhor pagamento que existe – afirma Fitarelli.
Mas não é o único. É por isso que, aos poucos, o colecionador conta estar recebendo alguns grupos de turistas. Ele mesmo guia as visitas na tentativa de criar uma metodologia para o passeio e também, claro, conferir como as coisas se comportam, como ele mesmo diz. Só depois de encontrar um formato e uma equipe para ajudá-lo é que irá abrir as portas do museu. Pretende, até lá, ter um restaurante no local e a cantina reformada, que será disponibilizada para a realização de eventos, como festas de casamento.
O comentário que corre em Garibaldi, no entanto, é que Fitarelli jamais abrirá o museu.
É ciumento demais, dizem, a boca pequena.
– É verdade. Mas como que eu não vou ser? É uma vida de trabalho. Eu busquei isso, sei a história de tudo o que tem aqui. Para onde eu olho, tem a minha mão. Eu que trouxe, que achei, que comprei, que transportei, que coloquei no lugar. Construí minha própria história contando e preservando esta belíssima história, que é a da saga da imigração italiana na esperança de melhorar a vida – ele explica.
Quando questionado pelos ansiosos, segue conjugando no futuro o aviso que há tempos está na página do museu na internet: “quando pronto para visitação comunicaremos via site”.























Fonte das imagens: do site - http://especiais.zh.clicrbs.com.br/especiais/zh-singular/garibaldi.html

sábado, 4 de fevereiro de 2017

Jockey Clube de Porto Alegre

No último Docomemos, publicamos, na seção Edifícios em Risco, o caso do Jockey Clube de Porto Alegre (RS), conhecido como Palácio de Cristal e tombado pela Prefeitura desde 2008. Em resposta, recebemos dos arquitetos Flávio Kiefer e Lídia Fabrício, informações de que o edifício em questão está passando por ações emergenciais de proteção dos dois pavilhões citados.
Apesar de não ser um restauro completo do conjunto, Kiefer ressalta que com essas ações já se conquistou um Plano Diretor para o complexo, a transferência da Vila Hípica para o entorno da pista, foram feitas benfeitorias no Pavilhão Social e há uma política de sustentabilidade em marcha. “O mais importante, porém, é o reconhecimento do poder público e da direção do clube da necessidade de restauração de sua arquitetura”, segundo bem pontua o arquiteto.
Parabenizamos Flavio Kiefer e Lidia Fabrício pelo trabalho desenvolvido no Jockey Clube, agradecemos as informações e desejamos que todo o trabalho seja levado a um bom termo, fazendo com que a integridade do conjunto seja mantida.








Salão do Jockey Clube. Foto: Flávio Kiefer

Casa Vanna Venturi é tombada na Filadélfia

A pioneira Vanna Venturi House projetada por Robert Venturi para a sua mãe em Chestnut Hill, nos arredores da Filadélfia, foi oficialmente tombada pelo Philadelphia Register of Historic Places. Projetada em 1962 e construída entre 1963 e 1964, a casa é um dos ícones da arquitetura pós-moderna. Tendo passado pelas mãos de apenas dois proprietários quando adquirida meses atrás, a casa está hoje integralmente conservada. O atual proprietário está plenamente comprometido com sua preservação.

Fonte: http://docomomo.org.br/noticias/casa-vanna-venturi-e-tombada-na-filadelfia/
















Vanna Venturi House. Foto: Carol Highsmith