segunda-feira, 30 de março de 2015

“Superquadras”: uma experiência modernista

“Na esteira da industrialização, surgiram novos materiais e novas formas de se estruturar a vida nas cidades. A arquitetura e o urbanismo encamparam com entusiasmo o modernismo, criando artefatos que impactariam para sempre a história. Brasília é um exemplo vivo dessa fase e a Superquadra se consagra como uma das mais abarcantes e longevas experiências modernistas. Entretanto, a expansão da cidade vem desconsiderando a proposta e o conhecimento gerado sobre como se fazer uma cidade melhor.”
É assim que Mário Salimon apresenta seu curta-metragem “Superquadras”, lançado há pouco mais de três meses com o apoio financeiro do Fundo de Apoio à Cultuda do Distrito Federal (FAC-DF).
Através de entrevistas com renomados arquitetos e urbanistas, justapostas a imagens antigas e atuais, o filme problematiza um dos elementos mais emblemáticos do urbanismo da capital federal – e que dá nome ao próprio documentário: a Superquadra.
Fonte: Romullo Baratto. "“Superquadras”: uma experiência modernista" 30 Mar 2015. ArchDaily Brasil. Acessado30 Mar 2015.














Fonte da Imagem: CAUBR

sexta-feira, 27 de março de 2015

Após 20 anos, Capitólio reabre com mostra de clássicos em Porto Alegre

Após um longo processo de restauração, a Cinemateca Capitólio reabre suas portas nesta sexta-feira (27), dentro da programação do aniversário de Porto Alegre, e no Dia do Cinema Gaúcho. O histórico prédio foi sucesso na época dos cinemas de rua da capital da década de 20. Após fechar as portas, em 1994, começou a ser reformado em 2004 e teve sua reabertura adiada oito vezes. Dez anos depois, retoma as atividades com uma programação especial, que exibirá clássicos de Fellini, Luchino Visconti e Godard.
“É um momento histórico para vida cultural da cidade. Porto Alegre passa a ser uma das poucas cidades do Brasil a ter conseguido preservar um palácio de cinema, como eram chamadas essas salas de exibição que foram construídas com todo o luxo. É um privilégio, não é qualquer cidade, qualquer estado do país, que tem isso”, diz ao G1 Marcus Mello, coordenador de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria da Cultura de Porto Alegre.
A cerimônia oficial de inauguração será às 10h30. As atividades ao público começam a partir das 19h. Os participantes poderão visitar o prédio e assistir à sessão inaugural. No programa, serão exibidos o curta-metragem “Início do Fim”, de Gustavo Spolidoro (filmado nas ruínas do prédio), e o longa “Vento Norte”, de Salomão Scliar (primeiro longa-metragem de ficção sonoro realizado no Rio Grande do Sul). A obra foi cedida pelo Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, que detém a cópia.
Ao longo do fim de semana, 28 e 29 de março, as portas também estarão abertas ao público, com exibições gratuitas de três grandes clássicos do cinema, “A Doce Vida”, de Federico Fellini, “O Leopardo”, de Luchino Visconti, e “Alphaville”, de Jean-Luc Godard (confira a agenda completa abaixo).
A partir de terça (31), a programação muda, com a estreia do premiado "Era Uma Vez na Anatólia", dirigido pelo turco Nuri Bilge Ceylan, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Outros dois títulos gaúchos de animação também ganham sessão: "As aventuras do avião vermelho" (baseado em romance de Érico Veríssimo), de Frederico Pinto e José Maia, e "Até que a Sbórnia nos Separe", de Otto Guerra e Ennio Torresan Jr.

O novo Capitólio
Além de recuperar a vocação original do espaço como sala de exibição de filmes, a obra também teve o objetivo de transformar o prédio em um local destinado à preservação da memória audiovisual do Rio Grande do Sul. O restauro foi financiado pela Petrobras, pelo BNDES e pelo Ministério da Cultura, e ainda com recursos da Prefeitura de Porto Alegre, proprietária do prédio.

A sala de cinema stadium é equipada com dois projetores 35mm, conta com 164 lugares, além de um espaço reservado a quatro cadeirantes, e terá uma agenda de sessões de cinema permanentes, de terças a domingos, com três horários diários. Mas o Capitólio abrigará ainda uma biblioteca, sala multimídia, cafeteria, salas de pesquisa, espaço para exposições e uma área inteira dedicada à preservação de filmes, roteiros, fotos, livros, cartazes e outros itens relacionados à memória do cinema e do audiovisual.
Nomeado inicialmente como Cine-Theatro Capitólio, localizado na esquina da Borges de Medeiros com Demétrio Ribeiro,  foi inaugurado em 1928. No final dos anos 60, o prédio passou por uma reforma e mudou de nome para Premier. No início da década de 80, sofreu outra remodelação e voltou ao nome original. Encerrou as atividades em 1994, quando foi adquirido pela Prefeitura de Porto Alegre. No ano seguinte, foi declarado Patrimônio Histórico do Município de Porto Alegre. O Estado do Rio Grande do Sul fez o mesmo reconhecimento em 2007.
Cinemateca Capitólio
Endereço: Rua Demétrio Ribeiro, 1085 – Centro
Ingressos: R$ 12 (com meia entrada)

Programação
27 de março
10h30 - Cerimônia Oficial de reabertura da Cinemateca Capitólio
19h às 23h - Abertura da Cinemateca para o público,com exibição do curta- Início do Fim, de Gustavo Spolidoro e do longa Vento Norte, de Salomão Scliar.

28 de março
16h - A Doce Vida, de Fellini.
19h - Alphaville, de Godard, seguido de debate com Hélio Nascimento, Goida e Enéas de Souza.

29 de março
17h - O Leopardo, de Visconti.









Cinemateca Capitólio reabre nesta sexta-feira (27) (Foto: Betina Carcuchinski/PMPA)








Com programação especial, Cinemateca Capitólio reabre (Foto: Divulgação/Prefeitura de Porto Alegre)







Prédio fico no Centro Histórico de Porto Alegre (Foto: Divulgação/Prefeitura de Porto Alegre)










Cinema foi fechado em 1994, mas obras começaram em 2004 (Foto: Betina Carcuchinski)

segunda-feira, 23 de março de 2015

Entrevista do Historiador Sérgio da Costa Franco ao Jornal Zero Hora

Mais notório pesquisador da história da Capital compartilha um pouco do conhecimento que acumulou sobre a cidade.
Um dia, Sérgio da Costa Franco resolveu dirigir até o Shopping Center Iguatemi e se perdeu em um emaranhado de ruas desconhecidas. Comprovou a existência de uma Porto Alegre com a qual não tinha qualquer intimidade.
Existe uma outra Porto Alegre, no entanto, na qual ele circula com uma desenvoltura sem igual, conhecedor de cada arroio, de cada beco, de cada praça. É a cidade do passado, à qual dedicou anos de pesquisa em arquivos esquecidos e que desenterrou do esquecimento em obras como Porto Alegre e seu Comércio, Gente e Espaços de Porto Alegre, Porto Alegre Sitiada, Os Viajantes Olham Porto Alegre e Porto Alegre Ano a Ano.
É um trabalho que o mais notório pesquisador da história da Capital ainda não deu por encerrado. Dias atrás, encaminhou ao editor um punhado de laudas inéditas que serão acrescidas à nova edição de Porto Alegre: Guia Histórico, sua obra mais emblemática. Em forma de dicionário e construída a partir de laboriosas consultas às atas da Câmara Municipal e a outros documentos, o livro resgata a evolução das ruas e logradouros da cidade.
Costa Franco nasceu em 1926, mas é como se tivesse vivido 243 anos – os 243 anos que Porto Alegre comemora no próximo dia 26. Na entrevista a seguir, concedida em seu apartamento no bairro Menino Deus, ele compartilha um pouco do conhecimento que acumulou sobre a cidade – e também do afeto que nutre por ela.
O senhor mudou-se para Porto Alegre em 1935. Qual foi a primeira impressão que teve?
Eu tinha sete anos e vinha de uma cidade muito pequena e sem movimento, Jaguarão (onde nasceu). O bonde elétrico eu já conhecia de Pelotas, mas aqui foi um choque. A cidade tinha uns 200 mil habitantes, mas para mim era uma metrópole.
Os limites de Porto Alegre eram bastante diferentes dos atuais.
Muito mais acanhados. Eu agora fiz um livro de encomenda sobre a evolução histórica da cidade. Nas plantas daquele tempo, de 1935, não aparecem Tristeza, Ipanema, nada da Zona Sul. Também nada além do Passo D’Areia, que era o limite para o norte.
Como era a vida nessa cidade de 80 anos atrás?
Era tranquila. Morávamos no Menino Deus. Como gurizinho, aos oito anos, a minha mãe me mandava tomar o bonde e ir ao Centro fazer compras. Os bairros não tinham comércio. Eu pegava o bonde, ia o Centro, fazias as compras e voltava sozinho. Ninguém faz isso hoje com uma criança de oito anos.
O senhor reconhece na Porto Alegre de hoje algo daquela Porto Alegre de sua infância?
A mudança foi radical. Morei aqui no Menino Deus dos sete aos 12 anos, na José de Alencar. Naquele tempo havia vastos terrenos baldios, com cem metros de comprimento por 30 metros de largura. Dava peladas formidáveis.
O que daquela época persiste na cidade?
As diferenças são profundas. O que logo se destaca é a qualidade de vida. As casas não tinham grades, havia um outro modo de vida. No bairro, os rapazes saíam de pijama a caminhar na rua. De pijama, que na época era o equivalente ao abrigo esportivo de hoje. A pessoa chegava em casa, botava o pijama e depois saía. Era uma característica do arrabalde. Dependendo da rua, colocavam-se cadeiras na calçada para conversar. O movimento de automóveis era reduzidíssimo. Em 1950, eram 6 mil carros na cidade.
O que o encantava particularmente na cidade?
A primeira coisa é o Guaíba, onde a gente tomava banho. Conheci minha mulher, numa tarde de sábado, tomando banho em Ipanema. A cidade era muito aprazível. Até 1950, era uma cidade muito agradável, muito boa. Morei em vários pontos, conhecia muito bem. Hoje não conheço mais. Se me largam no Quarto Distrito, eu me perco. Não conheço nada para outros lados. Quando tinha automóvel, fui lá ao Iguatemi. Para voltar, me desorientei.
Há quem diga que aquela região tornou-se uma espécie de novo centro da cidade.
É. Mas o centro para mim é o Centro Histórico. A idade e os joelhos estragados não me permitem mais conhecer essa outra cidade.
Como nasceu seu interesse pela história de Porto Alegre?
Porto Alegre era uma cidade sem historiografia. Não havia quase nada escrito. Os jornais diziam bobagens incríveis. Rigorosamente, o que havia era um livro cheio de erros, A Fundação de Porto Alegre, do Augusto Porto Alegre, de 1906. Ele falava em 1742 como data da fundação. Até acho que foi por erro gráfico, porque em 1742 não aconteceu nada em Porto Alegre. Em 1752, sim, houve a chegada dos açorianos. Mas todo mundo que escreveu depois usou essa data de 1742. Senti que a história de Porto Alegre era um campo virgem. Minha opção foi fazer um livro em forma de dicionário, com verbetes, o Guia Histórico. Passei uns três anos no arquivo municipal, registrando, anotando, e fiz uma ficha para cada rua, cada logradouro importante.
O 26 de março é a data mais adequada para comemorar o aniversário?
Porto Alegre tem duas fundações. A primeira é em 1752, com a chegada dos açorianos. Mas aí o que nasceu foi uma povoação precária, que nunca passou de um aglomerado de casas de palha na região da Rua da Praia, da Riachuelo, talvez da Duque de Caxias. Não se sabe nada sobre esse aglomerado, porque não ficou nada, não teve nem igreja. Naquele tempo, as comunidades nasciam quando se oficializava a freguesia. Foi o que aconteceu 20 anos mais tarde, em 1772, quando se cria a freguesia. Nesse momento, tratava-se de expulsar os espanhóis que tinham tomado Rio Grande em 1763. Porto Alegre, como vila organizada, sob comando de um militar, o José Marcelino de Figueiredo, nasce em grande parte em função disso. José Marcelino ergue um palácio para ele, ergue casa para a Junta da Real Fazenda, ergue a igreja. E daí o bispado cria a freguesia de Nossa Senhora da Madre de Deus. O 26 de março é o dia da fundação da freguesia.
Mas na época já havia uma população aqui?
Já tinha uma população, mas era inexpressiva. Tive o cuidado de investigar isso. Na época, o abate de carne para consumo era licitado perante a Câmara Municipal. Disputava-se uma espécie de leilão. Então se sabe quanto se arrematava para Viamão, para Gravataí, para Triunfo. E a mais baixa, a mais insignificante é a de Porto Alegre, então Porto dos Casais. Os açorianos chegaram e ficaram esquecidos aí. O governo os largou aí.
Até quando foi uma cidade açoriana?
A imigração dos Açores para cá nunca cessou, ela continuou ao logo do tempo. Foi realimentada. Até o fim do século 18 ainda é expressiva. Depois eles foram saindo. Os açorianos se disseminaram. O interior está cheio de famílias de origem açoriana.
Restou alguma herança deste início açoriano?
Talvez essas casinhas de porta e janela que existem na Cidade Baixa. Porto Alegre destruiu praticamente tudo que tinha do século 18.
Um fato pouco conhecido do passado, pesquisado pelo senhor, os enforcamentos na cidade. Como era isso?
Em 1816, dada a criminalidade alta no Rio Grande do Sul, Dom João VI criou a Junta de Justiça, um tribunal criminal, com poder de julgar em última instância, sem recurso. Esse tribunal começou a enforcar gente, a partir de 1820. Levantei 22 enforcados. Depois houve mais, porque a pena de morte existiu no Brasil até a República. Ocorreram dezenas de execuções em Porto Alegre, no Largo da Forca, hoje Praça Brigadeiro Sampaio.
Qual era o impacto na vida da cidade?
A forca não era permanente. A cada execução era uma briga, porque a Câmara Municipal não queria dar verba para erguer a forca, os juízes reclamavam. Os moradores iam assistir. O troço era um espetáculo. O réu era levado em procissão desde a cadeia até o lugar da execução, o oficial de justiça ia lendo em voz alta a sentença. Só faltava banda de música. Em geral, executavam escravos. Depois do enforcamento, o juiz mandava cortar a cabeça e exibir para o povo.
Outro livro do senhor, Os Viajantes Olham Porto Alegre, reúne relatos de visitantes estrangeiros feitos ao longo de mais de um século. Há algo de recorrente nesses textos?
O aspecto alemão é observado por quase todos. Muitos desses viajantes eram alemães e se sentiam em casa. Elogiavam a cidade por isso. No mais, o Guaíba sempre foi motivo de atração. Poucas cidades têm esse presente divino, um lago desse tamanho.
Como é que ocorreu essa germanização?
Os alemães vieram em 1824, ano de fundação de São Leopoldo, e em seguida começaram a ter forte influência em Porto Alegre. A partir de meados do século 19, aparecem até conflitos raciais, culturais, da população luso-brasileira e dos alemães. Em 1881 houve uma exposição brasileiro-alemã, organizada pelo Von Koseritz, que foi incendiada.
Qual era o peso dos alemães na população?
Eles tinham peso econômico. Populacional, nem tanto. Mas os viajantes que passam dizem que 20% da população era alemã ou de origem. Os alemães foram os industriais e também os comerciantes mais importantes. A certa altura, o gosto alemão na arquitetura predominou, a ponto de os próprios lusos menosprezarem o que tinham feito. Por isso não conservaram nada. Demoliu-se a cidade toda.
Essa influência germânica tornou Porto Alegre uma cidade diferente das outras capitais?
Ah, sim. Porto Alegre é muito alemã. E essa população alemã sofreu duas grandes guerras, com discriminação, humilhações e pressão, além de prejuízos graves. Houve depredações de casas comerciais, um negócio terrível. Isso abateu muito o próprio ânimo, a iniciativa econômica.
Um certo declínio econômico da cidade se explicaria por isso? Porque, quando se olham as estatísticas do começo do século 20, Porto Alegre era um polo industrial que ombreava com São Paulo.
Quase chegava lá. Tem uma estatística de 1910, por aí, em que a produção industrial de São Paulo é de 120 mil contos e a de Porto Alegre, 90 mil. Essa produção era muito germânica. As guerras influíram negativamente no desenvolvimento da cidade. Na II Guerra eu já era guri e fui testemunha das depredações. Vi quebrarem todas as lojas da Rua da Praia que tinham nomes alemães. Na I Guerra, foi mais grave até. Um quarteirão inteiro foi incendiado, ali na Siqueira Campos com a General Câmara.
O senhor diria que Porto Alegre não soube conservar seu patrimônio?
Do patrimônio histórico, arquitetônico, o que era luso-brasileiro não foi conservado. A Igreja do Rosário, do começo do século 19, foi demolida. A catedral era de 1780, construída pelo fundador da cidade, José Marcelino, e foi demolida para erguer-se a nova. Isso já no começo do século 20. Não havia a preocupação de conservar o patrimônio cultural. A Igreja do Rosário foi um crime. Ergueram no lugar um troço de gosto italiano, sem atrativo. A original não era um primor, mas tinha sido construída por uma sociedade de escravos ou de libertos. Os negros tinham feito a Igreja do Rosário. Só por isso ela merecia consideração. Foi demolida sem maiores protestos.
Um momento traumático da história da cidade, ao qual o senhor dedicou um livro, foram os quatro anos de sítio durante a Revolução Farroupilha. Por que isso é tão pouco lembrado?
Porque predominou o pensamento do Partido Republicano, que valorizou a República Rio-Grandense. A bandeira dos farrapos virou a bandeira do Estado, o hino dos farrapos virou o hino do Estado etc. Não se falou mais de Porto Alegre, especialmente porque ela foi “leal e valorosa”, leal ao Império.
O fato de Porto Alegre ter se mantido aliada ao Império teve papel decisivo para o Rio Grande do Sul continuar brasileiro?
Teve, porque os farrapos se obrigaram a manter aqui boa parte de suas forças, cercando a cidade, por quatro anos. O Rio Grande estava dividido. O norte da província não acompanhou. Foi um enfrentamento da Campanha, dos charqueadores, com Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, que tinham fortes ligações comerciais com o norte do país, com o Rio de Janeiro, e nunca foram farroupilhas.
O senhor disse que Porto Alegre era mais acanhada que Viamão e Gravataí, no século 18. O que explica ela se tornar a metrópole do Estado?
O principal fato foi ter sediado o governo. A geografia da cidade favoreceu o porto fluvial, que foi muito importante.
Então o desenvolvimento da cidade decorre, em parte, de o litoral gaúcho não oferecer condições favoráveis para a construção de portos?
Sim. Rio Grande foi a primeira capital, pode-se dizer, foi a sede da capitania, mas se revelou vulnerável aos espanhóis. Essa foi a principal razão para, depois, quando se funda Porto Alegre, a sede ser aqui. Porto Alegre era um porto fluvial que dava acesso a todo o interior e era bem protegido.
O senhor disse que no passado havia pouca pesquisa sobre a história da cidade. Isso mudou?
A bibliografia hoje é relativamente rica. Agora tomei conhecimento de um trabalho muito bom de uma professora da UFRGS (Tânia Marques Strohaecker), sobre os loteamentos. A expansão de Porto Alegre para os bairros foi toda à base de grandes empresas loteadoras. Essa professora fez o trabalho que eu gostaria de ter feito. Os caras compravam chácaras nos arredores da cidade e loteavam. Um dos grandes loteadores era também dono da Carris. Então a Carris estendia linhas de bonde para valorizar terrenos e vender terrenos.
A Carris não era empresa pública nessa época?
Era particular, uma sociedade anônima, e esteve na mão de Possidônio da Cunha, de Manuel Py, grandes proprietários de terrenos. Isso deu margem a críticas violentas, porque a Carris estendia linhas a lugares despovoados, em prejuízo do acionista minoritário que não estava interessado nesse tipo de expansão. O Caldas Junior, fundador do Correio do Povo, denunciava, dizia que a Carris estava a serviço de interesses imobiliários. A Carris estendeu linhas para a Glória e Teresópolis, que eram vazios demográficos.
E já tinham bonde. A gente pega os jornais da época e vê que as empresas loteadoras ofereciam churrasco nos domingos, e tinha bonde à vontade para ir para lá. Era um negócio de vender terreno.
Houve um tempo em que o senhor banhava-se no Guaíba. A cidade teve um jeito praiano?
Acho que sim. Cheguei a tomar na Praia de Belas. A geografia local mudou muito. O estádio Beira-Rio, o Parque Marinha, tudo aquilo é aterrado. O litoral passava pela margem da atual Avenida Praia de Belas.
Os aterros que a cidade sofreu ao longo da história foram bons ou ruins para a cidade?
Esse julgamento é difícil. A cidade sempre teve com o Guaíba uma relação de amor e ódio. O pessoal gostava do Guaíba, tomava banho, bebia a água. Mas este lado que costeia a Praia de Belas era raso, não permitia a navegação. Era forte a sugestão de aterrar aquilo, converter em terreno e local de moradia. Foi o que fez o Brizola quando prefeito, em 1955.
Mesmo no início da cidade, quando o Guaíba chegava à Rua da Praia, aterrou-se bastante. Quem fez isso foram os primeiros moradores?
Os moradores da Rua da Praia dilatavam os seus terrenos para os fundos. Aí nasceu a Sete de Setembro, com o nome de Rua Nova da Praia. Em determinado momento, quando foi urbanizada, era uma rua litorânea. Os aterros no Centro foram muito grandes e consolidados. Além da Siqueira Campos, tudo é conquistado ao rio. Para se construir o porto, se aterrou uma grande faixa.
Quem foram as figuras que influíram mais decisivamente nos rumos da cidade?
Nós tivemos três administradores marcantes: Otávio Rocha, Alberto Bins, que foi o sucessor dele, e depois o Loureiro da Silva. Eles foram remodeladores. A cidade que o Otávio Rocha encontrou era fechada, com becos de pedra irregular e ladeiras íngremes, uma cidade estrangulada, incompatível com o automóvel. Ele abriu a cidade, fez a Julio de Castilhos, abriu a Borges de Medeiros, fazendo a ligação do Centro com a Cidade Baixa. O Alberto Bins deu continuidade a isso, foi quem concluiu a Borges de Medeiros e a Otávio Rocha, ligou a Otávio Rocha com a Alberto Bins. O Loureiro da Silva fez a Farrapos, que é uma abertura fantástica para o Quarto Distrito e a área do São João, fez a Jerônimo de Ornellas e fez a Salgado Filho, que era outro beco, o Beco da Cadeia.
Esses três nomes tinham uma visão de futuro?
Certamente. Mas era uma preocupação apenas com o aspecto viário. Não tiveram sensibilidade. Para um zoneamento industrial, por exemplo. Resultado: grande parte das indústrias saiu de Porto Alegre.
A abertura para os carros teve influência no processo de degradação do Centro?
Os centros das cidades sempre se degradam. Vivi uma época em que, se alguém precisava comprar alguma coisa, um pacote de manteiga, tinha de ir no Centro. As mulheres só iam nas lojas da Rua da Praia. O que acontece é que o crescimento do comércio nos bairros tornou anêmico o comércio do Centro. Existe uma campanha no sentido de revalorizar o Centro, mas é uma causa meio perdida. Nunca vai voltar ao que foi. Pela posição topográfica, num canto da cidade, com o trânsito congestionado, todo mundo evita o Centro. Eu passo meses sem ir.
O senhor gosta do que vê em Porto Alegre hoje, dos caminhos que a cidade está seguindo?
A cidade está estrangulada. Não houve desenvolvimento viário. Arquitetonicamente, há os que se insurgem contra as torres, mas isso eu acho fatal, morar empilhado para não ir morar tão longe, pela extensão que a cidade assumiu. E hoje todo mundo tem medo. É uma cidade gradeada.
Por Itamar Melo
Costa Franco, 86 anos, em seu apartamento no Menino Deus, bairro que o acolheu na infância, em 1935. Foto: Adriana Franciosi / Agencia RBS
Nos anos 1960, estavam em curso os aterros que permitiriam o Beira-Rio e os parques.​
Porto Alegre demoliu na década de 1950 a Igreja do Rosário erguida por negros no século 19.
Nos anos 1920, abertura de Avenida Borges de Medeiros e construção do Viaduto Otávio Rocha.

Unesco aceita candidatura da Pampulha a patrimônio, diz prefeitura

Documentação foi considerada completa; outras avaliações serão feitas. 
Se aprovada nos próximos passos, título pode ser concedido em 2016.


Do G1 MG

Após envio de documentos em dezembro de 2014, a candidatura do complexo arquitetônico da Pampulha como Patrimônio Cultural da Humanidade foi aceita pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O que significa que a documentação foi considerada completa e outros procedimentos avaliativos serão iniciados. Se a avaliação for positiva, o título é concedido. Segundo a Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, a notícia chegou à prefeitura nesta semana, por meio de documento encaminhado pelo Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty).

De acordo com a prefeitura, entre os meses de julho e setembro, é esperada uma comissão da Unesco para avaliar o espaço. O relatório final com o resultado deve ficar pronto em julho de 2016. O documento será apresentado na 40ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, em Bonn, na Alemanha.

As construções que fazem parte do projeto de tombamento são: a Igreja de São Francisco de Assis, a Casa de Baile, o Iate Tênis Clube, o Cassino (atual Museu de Arte da Pampulha) e a Casa Kubitscheck.


Chamado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de Conjunto Moderno da Pampulha, o complexo foi construído em 1943 pelo então prefeito da capital mineira Juscelino Kubitscheck. O tombamento foi feito em 1997, pelo próprio instituto. As edificações no estilo moderno foram projetadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer, com paisagismo de Roberto Burle Marx, painéis de Cândido Portinari e esculturas de Alfredo Ceschiatti.

O título é concedido a espaços e monumentos que tenham valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico ou antropológico.

Em Minas Gerais, fazem parte da lista de patrimônio da Unesco o centro histórico de Ouro Preto e de Diamantina e o Santuário do Bom Jesus do Matozinhos, em Congonhas.

'Comissão de Gestão' é criada para gerenciar intervenções na Pampulha
Foi publicado no Diário Oficial do Município (DOM), nesta quinta-feira (19), a portaria que cria um Comissão de Gestão que irá gerenciar intervenções na Região da Pampulha, em Belo Horizonte.

A Fundação Municipal de Cultura (FMC) lidera o grupo de 16 órgãos municipais que integram a comissão. Ações de revitalização estão em andamento. Uma delas, é a obra na Praça Dino Barbieri. Há ainda previsão de restauração da Igrejinha da Pampulha no segundo semestre deste ano. O entorno da Igrejinha deve ganhar nova iluminação e os jardins de Burle Marx têm previsão de serem restaurados de acordo com projeto original.


Fonte: http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2015/03/unesco-aceita-candidatura-da-pampulha-patrimonio-diz-prefeitura.html




















A Igreja São Francisco de Assis, conhecida como Igreja da Pampulha, foi a última obra de Niemeyer a ser erguida no complexo arquitetônico (Foto: Reprodução/TV Globo)

sábado, 21 de março de 2015

Reforma na Casa de Cultura em Pará de Minas deve terminar em setembro

Entre as melhorias está construção de acessos para deficientes.
Unidade é tombada pelo Patrimônio Histórico do município.


Do G1 Centro-Oeste de Minas
O prédio da Casa da Cultura em Pará de Minas está sendo reformado. As obras que começaram neste ano devem ser finalizadas em setembro, durante as comemorações do aniversário da cidade. A unidade é tombada pelo Patrimônio Histórico do município. Com a mudança, a entrada do Teatro Municipal Geraldina Campos de Almeida será pela portaria principal da Casa da Cultura.
Entre as melhorias, está a construção de acessos para pessoas com necessidades especiais e a pintura da fachada. As obras estão orçadas em mais de R$ 500 mil.
O projeto ainda prevê a construção de uma bilheteria para o teatro e uma bomboniere. “Pará de Minas conta hoje com um espaço cultural que vem recebendo elogios de artistas renomados que por aqui se apresentam. Mas, ainda há muito o que se fazer e ações como esta promovem a cultura e o patrimônio histórico de Pará de Minas”, ressaltou o secretário de Cultura e Comunicação Institucional, Lu Pereira.









Obras devem ser finalizadas até setembro (Foto: Prefeitura/ Divulgação)

Aos 254 anos, igreja de São José vira patrimônio histórico do Amapá

Com sanção, parceiros serão mobilizados para reforma do prédio.
Igreja é a edificação mais antiga do estado e teve apenas uma reforma.


Abinoan SantiagoDo G1 AP
Construída em 1761, a Igreja Matriz de São José de Macapá foi oficialmente tombada em âmbito estadual. O governo do Amapá sancionou a lei que torna o prédio patrimônio histórico. Com 254 anos, a estrutura é a mais antiga do estado e, segundo a Defesa Civil, apresenta desgaste pela falta de reformas. A única restauração no prédio aconteceu há cerca de quatro décadas, conforme a Diocese de Macapá.
A sanção da lei que tomba a Igreja Matriz de São José faz parte de uma mobilização de fiéis, entidades, Diocese de Macapá e autoridades do estado que querem garantir recursos para a restauração do prédio. Com o título de patrimônio histórico, existe maior possibilidade de acesso a recursos de instituições interessadas em investir na estrutura da igreja.
Situada no Centro de Macapá, a Igreja Matriz de São José apresenta paredes tomadas por cupins e marcas de infiltrações causadas pelo tempo e fortes chuvas que atingem a região. As calçadas externas estão deterioradas e até pichações podem ser vistas. A Diocese chegou a retirar o histórico lustre do teto da igreja por causa do risco de queda do objeto.
As falhas na estrutura foram identificadas em 2013 pela Defesa Civil. Além de infiltrações e aparecimento de cupins, os bombeiros constaram o apodrecimento na estrutura de madeira do forro e na cobertura do prédio. Apesar do laudo, o local não foi interditado.
Mesmo sendo tombada oficialmente em âmbito estadual, ainda existe a possibilidade de a igreja ser tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em âmbito federal. O órgão informou que o processo inicia a partir de um pedido, o que ainda não aconteceu. O benefício de ser reconhecido na esfera da União possibilita o investimento de recursos federais na preservação do prédio.
História
A Igreja Matriz de São José de Macapá foi construída no século XVIII. Ela foi inaugurada em 5 de março de 1761. Foram nove anos de obras. Ela está situada no reconhecido Centro Histórico de Macapá, que abrange a Biblioteca Pública Elcy Lacerda e Largo dos Inocentes.
Durante o período colonial, o prédio tornou-se referência e ponto de encontro. A frente da Igreja Matriz era espaço para rodas de marabaixo, dança tradicional do Amapá.








Igreja de São José foi construída há 254 anos (Foto: Abinoan Santiago/G1)







Área externa da igreja também apresenta infiltrações (Foto: Cassio Albuquerque/G1)








Igreja Matriz fica no Centro de Macapá (Foto: Abinoan Santiago/G1)