sexta-feira, 30 de junho de 2017

Diamantinenses recebem Praça JK após obra de requalificação

Principal ponto de convergência do centro de Diamantina (MG), a Praça JK é um marco na cidade. Pedestres e veículos circulam dia e noite pelo local, que também atrai dezenas de turistas, posando ao lado da estátua do ex-presidente Juscelino Kubitschek ou apreciando a belíssima vista da Serra dos Cristais. Esse espaço público de inegável importância para a vida da cidade mineira foi requalificado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), inserido no PAC Cidades Históricas, e será entregue à população no próximo dia 26 de junho.
A solenidade será iniciada na Igreja de São Francisco de Assis, na Praça JK, às 18 horas, com a presença do diretor do PAC Cidades Históricas, Robson de Almeida, da superintendente do Iphan-MG, Célia Corsino, do prefeito de Diamantina, Juscelino Roque, e demais autoridades locais. O evento celebra as ações conduzidas na Praça desde julho do ano passado, visando o melhoramento urbano da área com condições de acessibilidade, segurança e qualidade de vida, por meio da valorização do patrimônio cultural diamantinense.
Com recursos de cerca de R$ 787 mil do Governo Federal, via PAC Cidades Históricas, a obra de requalificação da Praça JK foi gerida pela Prefeitura Municipal e teve a parceria da Caixa Econômica Federal, que atuou como agente financeiro. Foram realizadas ações de requalificação do paisagismo, inserção de mobiliário urbano, instalação de rampas de acessibilidade e alargamento dos passeios, além de higienização do Chafariz da Câmara, recuperação das balaustradas e repintura de dois bens tombados na praça, a Igreja de São Francisco de Assis e a Casa do Fórum.
Marco de Diamantina
Considerado marco na evolução urbana de Diamantina, a Praça Juscelino Kubitschek é o ponto de convergência de sete ruas, originadas ainda no século XVIII. Seu nome é uma homenagem ao filho mais ilustre da cidade, que também figura em uma estátua localizada na Praça e voltada para a rua em que o ex-presidente morou durante sua infância. Além do fluxo intenso e frequente de moradores e turistas, anualmente a Praça JK também é o cenário da entrega da Medalha JK, concedida pelo Governo Estadual.
No século XVIII, Diamantina chegou a ser o maior centro de extração de diamantes do mundo, o que refletiu na evolução da cidade e formação de seu espaço urbano, emoldurado pela Serra dos Cristais. Tombado pelo Iphan em 1938, seu centro histórico foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial em 1999. Ainda hoje seu conjunto urbanístico e arquitetônico encontra-se bastante íntegro, com monumentos e marcos significativos da passagem do tempo – dos primeiros anos de ocupação até as obras de Oscar Niemeyer do século XX.
Diamantina é uma das oito cidades mineiras incluídas no PAC Cidades Históricas, com previsão de execução de treze obras e R$29,29 milhões em investimentos, sendo que a requalificação da Praça JK é a primeira delas a ser concluída. O PAC Cidades Históricas está presente em 44 cidades de 20 estados brasileiros, totalizando R$1,6 bilhão em investimentos em 424 ações. O Programa é uma linha exclusiva do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), criada em 2013 para atender os sítios históricos urbanos protegidos pelo Iphan, proporcionando a revitalização das cidades históricas, a restauração dos monumentos e a promoção do patrimônio cultural.
Serviço:
Entrega da Requalificação da Praça JK / Diamantina (MG)

Data: 26 de junho de 2017
Horário: 18h
Local: Praça JK, Centro, Diamantina (MG)
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Conjunto Histórico de Fernando de Noronha é o mais novo Patrimônio Cultural do Brasil

Dotado de atributos naturais excepcionais, Fernando de Noronha, em Pernambuco, permeia o imaginário de turistas em todo o mundo. Considerado um paraíso brasileiro, o arquipélago, além de ser destino de viagens, também é abrigo das memórias, das histórias, das tradições e das narrativas que contribuem para formação da identidade cultural do País.
Em reconhecimento ao seu valor histórico e cultural, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, reunido na sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília, aprovou, nesta quinta-feira, 22 de junho, por unanimidade, o tombamento do Conjunto Histórico do Arquipélago Fernando de Noronha. Com a decisão, as fortificações e o conjunto urbano da Vila dos Remédios, incluindo algumas de suas edificações históricas, passam a ser Patrimônio Cultural do Brasil.
Segundo a avaliação dos conselheiros, o tombamento simboliza um momento muito importante para o Iphan e para a trajetória das políticas de preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro como um todo, podendo ser considerado um marco histórico nas comemorações dos 80 anos da instituição. Isso porque se trata de um projeto construído coletivamente, de forma que o parecer apresentado corrobora com o que a população clamava. A identificação dos bens notáveis foi feita por meio de um diálogo conduzido pelo Iphan com a comunidade de Fernando de Noronha, com um olhar voltado para as necessidades da população nativa.
Conjunto Histórico do Arquipélago de Fernando de Noronha
Fazem parte do Conjunto Histórico do Arquipélago de Fernando de Noronha o Sistema Fortificado, composto pelos Fortins de Santo Antônio, de Nossa Senhora da Conceição, de São Pedro do Boldró e o Reduto de Santana; o Conjunto Urbano da Vila dos Remédios, incluindo a vila ou colônia prisional e o centro urbano do povoamento da ilha; além dos seguintes bens isolados: a Vila da Quixabá, a capela de São Pedro dos Pescadores, o prédio da Air France e um testemunho da presença Americana na Ilha (“iglu” da Vila dos Americanos). 
Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
O Conselho que avalia os processos de tombamento e registro é formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo, são 23 conselheiros, que representam o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), a Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Ministério da Educação, o Ministério das Cidades, o Ministério do Turismo, o Instituto Brasileiro dos Museus (Ibram), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), e mais 13 representantes da sociedade civil, com especial conhecimento nos campos de atuação do Iphan.
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quarta-feira, 7 de junho de 2017

Niemeyer eterno: obras do arquiteto viram patrimônio histórico nacional

Prédios públicos em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo passam a ser preservados pelo Iphan


O Ministério da Cultura determinou o tombamento de 27 obras públicas projetadas pelo arquiteto e urbanistas Oscar Niemeyer (1907-2012). Passam a fazer parte do patrimônio histórico brasileiro o Palácio do Planalto, o Palácio da Alvorada, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal, o Itamaraty, o Museu de Arte Contemporânea em Niterói, o Sambódromo do Rio de Janeiro, o Conjunto do Parque Ibirapuera em São Paulo e a Casa de Chá em Belo Horizonte. Agora a preservação de todas essas edificações fica a cargo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Constitui patrimônio histórico elementos “cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”. Segundo o Iphan, a medida representa uma consolidação do processo iniciado pelo próprio Niemeyer em 2007.
A decisão ratifica a importância de Oscar Niemeyer para a Arquitetura, brasileira e mundial. Seus traços sinuosos agregaram poesia à arquitetura. Ele ensinou ao mundo que a beleza é leve. “É o arquiteto que construiu a obra mais diversa em toda a história da civilização humana, com sua presença inscrita em todos os continentes”, afirma o arquiteto e urbanista Cláudio Queiroz, professor da UnB e parceiro de Nimeyer em diversos projetos. “As colunas criadas por Niemeyer, a exemplo do Palácio Alvorada, são os feitos arquitetônicos mais importantes desde as colunas gregas, o primeiro grande tratado do Ocidente”.

“Niemeyer é indiscutivelmente a grande referência da arquitetura brasileira, está acima de qualquer crítica. Embora não seja perfeita, é uma obra soberba”, avalia o professor José Carlos Córdova Coutinho, um dos principais pesquisadores da obra de Niemeyer no Brasil. “Eles sempre perseguiu, confessadamente, surpresa, emoção, encantamento. Sua obra é espetacular, pois entende a arquitetura como espetáculo”.

CONFIRA A LISTA COMPLETA DAS OBRAS TOMBADAS COMO PATRIMÔNIO HISTÓRICO


  • Praça dos Três Poderes
  • Congresso Nacional
  • Conjunto do Palácio da Alvorada
  • Palácio do Planalto
  • Supremo Tribunal Federal
  • Ministérios e anexos
  • Quartel General do Exército
  • Palácio Jaburu
  • Palácio da Justiça
  • Palácio Itamaraty e anexos
  • Museu da Cidade
  • Espaço Lúcio Costa
  • Panteão da Liberdade e Democracia
  • Teatro Nacional
  • Memorial JK
  • Memorial dos Povos Indígenas
  • Conjunto Cultural Funarte
  • Espaço Oscar Niemeyer
  • Conjunto Cultural da República
  • Edifício do Touring Club do Brasil
  • Casa de Chá
  • Pombal
  • Capela Nossa Senhora de Fátima
  • Casa das Canoas (Rio de Janeiro)
  • Conjunto da Passarela do Samba (Sambódromo da Marques de Sapucaí)
  • Museu de Arte Contemporânea – MAC (Niterói)
  • Conjuntos do Parque do Ibirapuera (São Paulo), especificamente: a Grande Marquise, o Palácio das Nações (Pavilhão Manoel da Nóbrega), o Palácio dos Estados (Pavilhão Francisco Matarazzo Sobrinho), o Palácio das Indústrias (Pavilhão Armando de Arruda Pereira), o Palácio de Exposições ou das Artes (Pavilhão Lucas Nogueira Garcez, também conhecido como “Oca”) e o Palácio da Agricultura



















Congresso Nacional e Palácio do Planalto (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)
















Museu de Arte Contemporânea em Niterói (RJ)


















Pavilhão Gov. Lucas Nogueira Garcez (Oca) no Parque Ibirapuera, em São Paulo

domingo, 4 de junho de 2017

Nos Passos de Dom Pedro I

A PARTIR DA CARTA ESCRITA PELO IMPERADOR À SUA MULHER, DONA LEOPOLDINA, E NA COMPANHIA DE DOIS PESQUISADORES, ZH REFAZ O ITINERÁRIO DA COMITIVA IMPERIAL PELO LITORAL NORTE, EM DEZEMBRO DE 1826. FOI A ÚNICA VISITA DE PEDRO AO RIO GRANDE DO SUL – E ESTÁ REPLETA DE MITOS

 A crise conjugal entre Dom Pedro I e Dona Leopoldina fez bem à História. O imperador, durante sua passagem pelo sul do Brasil rumo à Guerra da Cisplatina, em 1826, escreveu uma carta a sua mulher com a nítida preocupação de lhe dar satisfações. Leopoldina estava doente no Rio, delirando após um aborto ainda hoje controverso – seria resultante de uma suposta agressão do marido?
Graças a esse documento aparentemente motivado por uma desavença matrimonial, hoje podemos saber detalhes de seu périplo por localidades como as atuais Torres, Arroio do Sal e Santo Antônio da Patrulha. Quase dois séculos depois, Zero Hora refaz os passos iniciais do monarca em sua única visita ao Rio Grande do Sul – Pedro I veio tendo como destino final a cidade de Rio Grande, mas não participou da guerra em razão do estado de saúde da imperatriz, que morreria justamente quando ele estava por estas plagas.
A comitiva imperial foi de Florianópolis a Rio Grande, de barco, a pé ou a cavalo, em uma jornada de 37 dias. Na correspondência íntima, Pedro I detalhou o caminho pelo litoral norte gaúcho. É esse o percurso que ZH reproduziu, ao lado do jornalista e acadêmico de História Nelson Adams Filho, autor do livro A Viagem Maluca de Dom Pedro I pelo Sul do Brasil, e do historiador Rodrigo Trespach, que escreveu sobre a imigração alemã, o Litoral Norte e a II Guerra Mundial. Os dois pesquisadores amparam-se na carta, em outros documentos e na história oral para dar respostas e deixar perguntas no ar. Por exemplo: é inexato o período total em que Pedro esteve no Litoral Norte. Trespach faz algumas considerações, tentando dimensionar melhor o tempo e alinhá-lo ao espaço:
– Na vinda, ele ficou do dia 5 de dezembro (em Torres) ao dia 6 (em Santo Antônio da Patrulha). Chegou a Viamão no dia 7. O imperador voava no cavalo! Na volta, Dom Pedro estava em Tramandaí no dia 24 e em Torres no dia 25. Quanto tempo permaneceu em Torres? Sabe-se que, no dia 31, ele estava em Florianópolis. Talvez tenha ficado em Torres mais dois ou três dias.
O tempo e o espaço não são as únicas curiosidades, dúvidas e contestações dos pesquisadores.
– Sabemos que Dom Pedro I tinha grande apetite sexual. Costumava chamar mulheres na rua para satisfazer seus desejos. Quem garante que ele não deixou descendentes no nosso litoral? – especula Trespach, comentando o contexto que aparece como o pano de fundo histórico de Novo Mundo, a atual novela das seis da TV Globo, em que o imperador é interpretado pelo ator Caio Castro.
Com faro de jornalista que passou por diversas redações, como as de O Globo e Folha de S. Paulo, Nelson Adams Filho se deu conta da fragilidade do que vinha sendo contado a respeito da passagem por Torres e Santo Antônio da Patrulha, lugares onde o monarca teria pernoitado. Não há, segundo ele, “prova concreta e coerente das histórias narradas, que parecem uma compilação de fatos distintos e contraditórios, senão inverídicos”. Mas é a história oficial, a que ficou.
 5/12/1826, A CHEGADA
Qual a percepção do imperador ao chegar ao Estado? Eis suas próprias palavras: “Sempre areia e mar. Enquanto nos dias anteriores só avistávamos uma praia esbranquiçada que se confundia com o céu na linha do horizonte, hoje, ao menos, deparamos dois montes denominados Torres, porque realmente avançam mar adentro, como duas torres arredondadas”. No município gaúcho, a artista plástica Cibele Souto Amade pintou uma tela que busca retratar a cena.
Em A Viagem Maluca de Dom Pedro I pelo Sul do Brasil, Adams Filho escreve: “Às 5h e três quartos do dia 5 de dezembro, uma terça-feira, Dom Pedro montou a cavalo, deixou a barraca de sapé na Sesmaria dos Rodrigues, atual Passo de Torres (SC), e saiu do mato em direção à praia, onde chegou 15 minutos depois. Portanto, a referida barraca – que certamente era de serventia a pescadores – ficava perto da beira-mar. Às 6h30min, ele encontrou ‘um oficial do Batalhão de São Paulo que vinha com ofícios’, conforme descreve no itinerário. Era o tenente-coronel Francisco de Paula Soares Gusmão, comandante do Baluarte. Meia hora depois, a comitiva chegou às margens do Mampituba. Às 8h, Dom Pedro chegava ‘às Torres’, lavou-se, comeu e foi à ‘Estância do Pacheco’. ‘Ali dormimos’, relatou o imperador”.
No descampado de algo como 10 quilômetros, hoje pontilhado por alguns casebres de madeira, ninguém sabe de uma família Pacheco. Venderam a propriedade? O sobrenome mudou em razão de casamentos nos quais o nome do pai era outro?
Adams Filho conta:
– No livro Batizados e Casamentos da Paróquia de Domingos das Torres, de Marco Antônio Velho Pereira, existe o registro de número 113 que aponta o batizado de Joaquina, em 30 de maio de 1830. Os avós maternos são Manoel Pacheco e Maria Cardoso de Jesus, ambos procedentes de Laguna e pais de Ana Cardoso de Jesus.
A conclusão a que o pesquisador chega é de que Dom Pedro I pernoitou na propriedade de Manoel Pacheco dos Santos, morador da chamada Estância do Meio (atualmente em Arroio do Sal). Por isso, o imperador falava em “estância do Pacheco”, hoje uma vasta área em Arroio do Sal.
A história oficial conta que Dom Pedro foi recebido com pompa e circunstância em Torres e Santo Antônio da Patrulha. Teria sido disparada uma salva de 101 tiros de canhão quando do seu ingresso no Estado, em Torres, no ensolarado 5 de dezembro de 1826. Ali, teria visitado colonos alemães recém chegados. Depois, dormiu na casa do Alferes Manuel Ferreira Porto Filho. A casa ainda está lá, em Torres, como ponto turístico, que atrai curiosos, e é habitada por Maria Vitorino, uma senhora de idade que vive reclusa. Os dois pesquisadores refutam a tese dos tiros de canhão. Diz Adams Filho:
– Eram quatro os canhões. É de se supor que os tiros fossem divididos, cabendo 25 a cada canhão. Computado o tempo mínimo de quatro a cinco minutos entre o disparo e a recarga, são pelo menos duas horas disparando. Imagine o que isso representaria de barulho para a pacata Torres, com não mais de 1,2 mil almas.
COM OS ALEMÃES EM TORRES
Em seu livro O Lavrador e o Sapateiro (EdiPUCRS, 2013), Trespach apresenta a transcrição de uma carta (“inédita na historiografia brasileira”) do colono alemão Valentin Knopf, escrita em 1º de dezembro de 1827.
– Trata-­se da única carta encontrada até agora em que um imigrante alemão faz um relato a seus parentes na Alemanha sobre a colonização em Três Forquilhas, onde a leva de colonos protestantes (luteranos e calvinistas) havia sido assentada em 1º de agosto de 1827. A chegada a Torres ocorreu em 17 de novembro de 1826. Knopf faz relato pormenorizado da vida e da situação do Vale do Três Forquilhas. Em certa altura da carta, informa que, quando o imperador esteve de passagem por aqui, deu graciosamente a cada pai de família 4 mil réis.
A carta de Knopf talvez seja o único documento conhecido e público que ateste a visita do imperador. O “por aqui” de Knopf, de acordo com Trespach, “refere-se a Torres, pois o imperador, de fato, passou por ali em 5 de dezembro de 1826, quando os alemães ainda estavam aguardando a distribuição dos lotes”.
No relato de Dom Pedro à imperatriz, não há menções aos colonos alemães, que estavam por lá havia 18 dias. Mas as evidências indicam que, sim, o encontro seria plausível.
– A vinda dos imigrantes alemães ao Brasil,­ colonos e soldados mercenários, era um projeto coordenado pessoalmente pelo imperador. E a esposa, dona Leopoldina, era austríaca, de língua alemã como os colonos. Teria sido natural que Dom Pedro fosse ver pessoalmente os imigrantes, como havia feito muitas vezes quando da chegada dos navios de estrangeiros ao Rio de Janeiro. Por outro lado, uma testemunha ocular da História, o tenente-coronel Francisco de Paula Soares Gusmão, comandante do Presídio das Torres e Inspetor da Colônia Alemã, relata o encontro com o imperador e as salvas de canhão, mas não faz referência ao encontro com os alemães – diz o historiador. – É difícil acreditar que Paula Soares tenha deixado de mencionar um encontro com os colonos, que tinham vindo ao Brasil por meio de um projeto de Pedro. Nem mesmo o visconde de São Leopoldo, que se encontrou com o imperador em 25 de dezembro, relatou que Dom Pedro teria se encontrado com os colonos.
Os pesquisadores especulam, então, que o dito encontro com os colonos só pode ter ocorrido no retorno de Dom Pedro, no Natal de 1826.
– Na chegada, Dom Pedro teve pouco tempo para para visitar o arranchamento dos alemães,­ não mais do que quatro ou cinco horas,­ e ainda entregar dinheiro a cada uma das famílias, conforme descreveu o colono Knopf – diz Trespach.
De acordo com a carta do imperador, ele dormiu “numa barraca de sapê abandonada” junto ao Arroio Grande (que hoje não existe mais), em área do futuro município do Passo de Torres (SC) e que era, na época, a Sesmaria dos Rodrigues. Avistou Paula Soares­ e seguiu adiante para transpor o rio e chegar ao Baluarte Ipiranga, em Torres. Seu primeiro ato quando chegou foi se banhar e tomar café da manhã.
– Essa ação teria durado cerca de duas horas. O imperador estaria livre às 10h30min. Nada há relatado em sua carta, apenas que almoçou e às 14h15min montou a cavalo e se dirigiu à Estância do Pacheco, onde pernoitou. Com ele estavam, entre outros, o fiel companheiro Chalaça (conselheiro Francisco Gomes Pinto) e o Marquês do Alegrete – conta Trespach.
Era Chalaça quem fazia as vezes de alcoviteiro para o imperador. Se nesse intervalo entre 10h30min e 14h15min houve alguma urgência sexual a resolver, natural que não estivesse relatada na carta a Dona Leopoldina.
Trespach e Adams Filho também debruçam-se sobre uma passagem da carta em que o imperador diz que, ao chegar a Torres, “lavamo-nos”.
– Banho era coisa rara. Tomava-se semestralmente. Acreditava-se que a camada de gordura sobre a pele evitava doenças – conta o historiador. – Ele certamente estava com a farda toda suja. Estava cavalgando havia seis dias e dormira naquela noite numa cabana de sapê abandonada. Seria natural que passasse direto pelos colonos em direção ao Baluarte do Ipiranga, uma paragem mais adequada. E ainda havia pressa em chegar à capital e inteirar-­se sobre os acontecimentos da Guerra Cisplatina, motivo de sua viagem ao Sul.
A VISITA QUE PODE NÃO TER ACONTECIDO
Às 5h15min de quinta-feira, 6 de dezembro, Dom Pedro I e comitiva já cavalgavam à beira-mar depois de terem deixado a Estância do Pacheco. Foram duas horas e 45 minutos até o “Sítio do Ignacinho”, que, perto do mar, era uma pequena choupana próximo à Lagoa dos Quadros, hoje município de Capão da Canoa. A choupana era cuidada por um preto velho. Tudo pertencia a Santo Antônio da Patrulha, um dos quatro primeiros municípios gaúchos, com Rio Pardo, Viamão e Rio Grande.
Em Santo Antônio da Patrulha, Dom Pedro I teria sido recebido por grande comitiva e depois dormido nas casa do médico Marcos Cristino Fioravanti. À noite, diz o relato usualmente feito na cidade, serviram-lhe jantar, e ele bebeu água do chafariz, ficando preocupado com o abastecimento de água da cidade e autorizando a construção de uma fonte, hoje ponto histórico. A casa é sede do Museu Antropológico Caldas Júnior e guarda relíquias da passagem do imperador.
– Pedro I não passou pela cidade nem dormiu ali em sua viagem de ida até Porto Alegre. A passagem pode ter ocorrido, com um tempo exíguo,­ em seu retorno de Rio Grande a Torres – diz Trespach. – Boa parte das histórias que contam pode não ser verdade. O documento de próprio punho do imperador, endereçado à imperatriz, contradiz muito do que já foi contado sobre sua passagem pelo Litoral Norte.
Na carta a Dona Leopoldina, Dom Pedro diz que saiu de Tramandaí às 13h30min, chegando à Estância do Peixoto, nas proximidades de Santo Antônio da Patrulha, às 16h45min e ficando ali mesmo. No dia seguinte, às 5h30min, seguiu viagem até Porto Alegre. Nem mesmo uma suposta missa teria ocorrido naquele momento de passagem por Santo Antônio da Patrulha na ida até a atual capital gaúcha.
Ao contrário da Estância do Pacheco, a Estância do Peixoto, no território de Santo Antônio, é mais conhecida hoje. Na verdade, eram duas estâncias com esse nome, ambas distantes do núcleo urbano. A primeira mais a leste e junto à Lagoa dos Barros, a 20 quilômetros da barra do Tramandaí e pertencente a Francisco Silveira Peixoto, parte da família Peixoto com a qual o médico Fioravanti tinha parentesco. A outra, a oeste, ficava em um curral onde se guardava, vendia e separava gado utilizado pelos tropeiros.
A MORTE DA IMPERATRIZ
Com assinatura do imperador, a carta a Dona Leopoldina é datada de 8 de dezembro daquele ano e foi escrita em Porto Alegre. Dom Pedro se diz “esposo amante e saudoso” e relata a viagem à mulher. Quem descobriu a relíquia foi o historiador Fernando Lauck, que a mantém no Museu Imperial, em Petrópolis (RJ).
Dona Leopoldina morreu sem ler a carta. Pereceu em 11 de dezembro, depois de agonizar 10 dias. Dom Pedro estava em Porto Alegre e soube quase uma semana depois, no dia 17, em Rio Grande. Tratou de retornar. No dia 23, estava em Porto Alegre, e, dois dias depois, chegava novamente a Torres, para, a partir dali, voltar ao Rio de Janeiro.
– Nenhum documento pessoal até hoje foi encontrado sobre o itinerário de Dom Pedro entre Rio Grande e Torres. Alguns documentos da época afirmam que Pedro sequer retornou à Capital, seguindo diretamente até Santa Catarina, por terra, via Torres. Foi em Torres, dia 25 de dezembro, ao receber do Marquês de Quixeramobim as cartas da Corte, que Dom Pedro soube da situação delicada no Rio de Janeiro – diz Trespach.
E qual seria essa situação delicada?
– Corriam boatos de que a imperatriz teria sido envenenada por Domitila de Castro, a Marquesa de Santos e amante do imperador. A casa de Domitila tinha sido apedrejada e ameaçada de invasão. Pelas ruas, pessoas protestavam e choravam a morte da imperatriz – diz o historiador, sublinhando que dona Leopoldina, uma mulher culta e generosa, era muito benquista pela corte e pela população.
Dona Leopoldina sequer recebeu a carta do marido. Havia o estafeta encarregado, mas o tempo era curto, e, a 1,5 mil quilômetros, ela era acometida de alucinações desde o dia 6. Pouco dormia. Os médicos estavam atônitos. Esgotavam todos os recursos da é poca. Pelas ruas do Rio, dos escravos às autoridades, as pessoas rezavam. Gostavam da imperatriz, vista como uma estadista que defendera a independência brasileira. Em 7 de dezembro, Dom Pedro acordou cedo. Estava em Santo Antônio da Patrulha. Tinha ainda 80 quilômetros pela frente. Não sabia da precária saúde de sua mulher. Não havia telégrafos, e ele não tinha acesso a navios. Chegou a Viamão e cavalgou mais uma hora rumo a Porto Alegre, ainda tendo metade do seu trajeto pelo Sul até Rio Grande, palco da guerra. Em Porto Alegre, chegou às 19h15min. No dia seguinte, 8 de dezembro, escreveu a carta para a imperatriz, a mesma carta que hoje clareia os caminhos do tempo e elucida fatos históricos.
TEXTO
Léo Gerchmann
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Carlos Macedo
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EDIÇÃO
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O jornalista Nelson Adams Filho com a tela pintada por Cibele Souto Amade que imagina a chegada de Dom Pedro I a Torres










EM ARROIO DO SAL, O DESCAMPADO ONDE TERIA EXISTIDO A ESTÂNCIA DO PACHECO, LOCAL DE POUSO DE DOM PEDRO I APÓS A CHEGADA A TORRES
















PREOCUPADO COM O ABASTECIMENTO DE ÁGUA, O IMPERADOR AUTORIZOU CONSTRUIR A FONTE QUE VIROU PONTO TURÍSTICO DE SANTO ANTÔNIO DA PATRULHA
















A CASA QUE PERTENCEU AO ALFERES MANUEL FERREIRA PORTO FILHO, ONDE, SEGUNDO A HISTÓRIA OFICIAL, O IMPERADOR DORMIU EM TORRES