domingo, 25 de outubro de 2015

Ismael Caneppele: uma cidade que agoniza

O escritor e dramaturgo, que escreve para o Caderno PrOA, fala sobre Porto Alegre

A Ponte de Pedra, um dos cartões-postais de Porto Alegre, está localizada no Largo dos Açorianos, logo depois do Viaduto da Borges. Inaugurada em 1854, veio para substituir a ponte de madeira que ligava o Centro Histórico ao arraial do Menino Deus. Ao custo declarado de 980 contos, foi construída com mão de obra escrava durante a Guerra dos Farrapos. Por baixo da ponte passava um dos braços do Arroio do Dilúvio, que então se bifurcava antes de chegar ao Guaíba. Em 1937, quando o arroio foi retificado, a ponte perdeu a sua função e se transformou em monumento histórico. Em 1979, o monumento  recebeu um espelho d’água. Hoje, o espelho é um acúmulo de lodo, capim e sujeira.

Os verões de 2013 e 2014, em Porto Alegre, foram marcados pela multidão de jovens que, nas noites de terça-feira, se reuniam à beira do lago da Ponte de Pedra. Não faz tanto tempo assim. Caminho pelo Centro acompanhado de uma amiga que me apresentou a cidade em 2013, quando aqui cheguei. Das coisas que não se podia deixar de fazer em Porto Alegre, ir ao lago da Ponte de Pedra nas noites de terça-feira era uma delas. Debaixo das árvores, acontecia de tudo. Eram centenas de pessoas reunidas para conversar, fazer música, projetar filmes, consumir itens veganos, beber cerveja artesanal, trocar ideias, comparar bicicletas... Um piquenique espontâneo que começava ao cair do sol e seguia até as primeiras horas da madrugada. Minha amiga porto-alegrense achava tudo aquilo natural. Eu, acostumado com São Paulo, me surpreendia e me apaixonava por essa cidade cujos habitantes pareciam não ter medo de estar na rua.

Minha amiga que me apresentou a cidade hoje não mora mais aqui. Desde que cheguei, percebi que porto-alegrenses estão quase sempre indo embora. Hoje sou eu quem reapresento a cidade a ela. Morando em Berlim, quando retorna a Porto Alegre, o que ela mais sente é medo. Tem medo de pegar táxi, tem medo de ir andando, tem medo de andar de bike, tem medo de estacionar o carro, tem medo de ser atropelada, tem medo de que olhem... “Ser mulher em Porto Alegre é não poder ser”, ela tenta me explicar. Eu entendo. Aqui, é preciso ser homem para poder ser livre. Tomávamos o café do fim da tarde. No jornal, buscávamos sempre evitar as últimas páginas. A última, mais especificamente. Ela perguntou sobre a polêmica do cais Mauá. Respondi que, depois do texto que publiquei defendendo o cais, fui muito xingado de comunista. São estranhos esses tempos em que detestar ir ao shopping, não ter tesão algum em consumir e dispensar um chope com bolinho de bacalhau servidos por garçons em camisa branca nos transforma em comunistas. Rimos, e seguimos andando. Só nos resta rir diante do olhar equivocado do outro.

Optamos por ir caminhando pela parte de baixo do Viaduto da Borges. Minha amiga diz que, sozinha, jamais passaria por ali.  Eu digo que comigo nunca aconteceu nada. “Não aconteceria”. Lembro que sou homem. Assusta olhar a cidade pelos olhos da mulher que caminha sozinha. Chegamos à Ponte de Pedra. É noite de terça-feira, é primavera, começa a fazer calor no hemisfério sul. Olhando para a o espelho d’água, hoje convertido em um brejo fedorento e sujo, lembro dos cookies da Luara, dos chinelos perdidos do Paulinho e dos cigarros do Felipe planejando ir embora. Eram intensas as noites de terça-feira no entorno da Ponte de Pedra. Hoje, o lago está seco, os peixes estão mortos e o cheiro é de coisa podre. Hoje já quase ninguém quer ficar por ali, exceto os mendigos. Hoje, passa-se pelo largo dos Açorianos com medo. Onde antes havia o estar, hoje impera a fuga.

Porto Alegre é uma cidade que agoniza. Uma triste terra de ninguém. A Redenção e seus tapumes horrendos, o cais Mauá fechado às pessoas, o morro Santa Tereza com sua linda e perigosa vista, o viaduto da Borges sempre fedendo a merda e mijo, o monumento aos Açorianos cercado por uma tela de galinheiro e correndo o risco de desabar, o lago da Ponte de Pedra convertido em criadouro de ratos, os contêineres de lixo transbordando imundícies pelas ruas do Centro Histórico, o horrível e inútil muro da Mauá, o entorno do Mercado Público transformado em estacionamento, a Biblioteca Pública e sua reforma interminável, o Multipalco que também nunca fica pronto, o Renascença fedendo a mofo e agora a nossa orla, que será sufocada atrás de mais tapumes em uma obra que, como tantas outras, talvez nunca fique pronta. Não há mais uma Copa apressando os prazos.

Mas, talvez, a solução esteja próxima.Mais próxima do que se possa imaginar. É possível que, para cada espaço da cidade que o poder público tratou de sucatear, exista um shopping disposto a revitalizar a área. Tristes tempos para uma cidade que agoniza.






Ponte de Pedra, localizada no Largo dos Açorianos, em obras Foto: Lara Ely / Agencia RBS

Vídeo: Paulo Mendes da Rocha e o Museu dos Coches de Lisboa

Por ocasião da recente inauguração do Museu dos Coches, em Lisboa, o Sopro Coletivo organizou entre os meses de setembro e outubro a exposição "Fado Tropical", com 26 fotos de Fernando Guerra e uma entrevista com o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, que completa hoje 87 anos.
Primeira obra do Pritzker brasileiro na Europa, o edifício às margens do Tejo foi cercado de polêmicas em sua construção e hoje surpreende visitantes de todas as partes, abrigando a maior coleção da carruagens do mundo. Paulo Mendes concedeu a entrevista em seu escritório e discorre sobre a especificidade daquele território, sua abordagem do contexto histórico e da memória relacionada aos coches e a concisão de adaptar o extenso programa à complexidade do entorno.
As fotografias de Fernando Guerra, nomeadas de acordo com as próprias palavras do arquiteto, ilustram o percurso que paulatinamente transcende da escala da metrópole ao artefato coche. Assim, arquitetura, fotografia e discurso se complementam para demonstrar a pertinência desta que é uma das obras-primas de Paulo Mendes da Rocha.
Fonte:Romullo Baratto. "Vídeo: Paulo Mendes da Rocha e o Museu dos Coches de Lisboa" 25 Out 2015. ArchDaily Brasil. Acessado 25 Out 2015.







Paulo Mendes da Rocha - Museu dos Coches de Lisboa
from Sopro Coletivo on Vimeo.

sábado, 24 de outubro de 2015

MPF obtém sentença que obriga IPHAN a proteger sítios arqueológicos em Governador Celso Ramo

Com a decisão, o IPHAN tem 30 dias para comprovar as medidas adotadas, sob pena de multa diária no valor de R$ 10 mil.

A Justiça Federal determinou que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) realize vistoria nos sítios arqueológicos na região da Ilha de Anhatomirim e entorno, para a efetiva delimitação e proteção dos sítios arqueológicos existentes no Município de Governador Celso Ramos, na região da Grande Florianópolis.
A sentença atende a pedidos da ação civil pública (ACP) do Ministério Público Federal, proposta pela procuradora da República Analúcia Hartmann. O órgão ministerial sustentou que o IPHAn não adota medidas para demarcar e proteger os sítios arqueológicos existentes na localidade e que delega tais cuidados aos proprietários e moradores das áreas protegidas.
A Justiça Federal entendeu que o IPHAN não vinha cumprindo seu papel legal de demarcar e proteger as áreas de sítios arqueológicos, razão pela qual determinou que o órgão realize a vistoria ou inspeção nesses locais, comunicando os atos ao Judiciário e ao MPF. 

Igreja Nossa Senhora da Assunção (ES) recebe projeto de requalificação

Construída em 1579 pelo padre José de Anchieta e um dos símbolos da presença jesuíta no Brasil, a Igreja Nossa Senhora da Assunção, no município Anchieta, Espírito Santo, recebe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-ES) no próximo dia 29 de outubro um projeto de conservação e qualificação. A entrega do projeto acontecerá às 19h no Jardim da residência dos Padres Jesuítas, ao lado do Santuário.
Entre as adequações propostas ao espaço que abriga a Igreja Nossa Senhora da Assunção e residência, o Santuário São José de Anchieta e o Museu, está maior acessibilidade às pessoas com dificuldade de locomoção, banheiros adaptados conforme normas técnicas, plataformas elevatórias para que os visitantes possam ter acesso tanto à Cela de São José de Anchieta quanto às salas do museu. 
O projeto também propõe projetos museológicos e museográficos para organização de acervo e adequação do espaço físico da antiga habitação dos jesuítas, tratamento paisagístico da área externa com a criação de um espaço para velário e contemplação da natureza, como ainda a identificação de ações para a conservação do bem tombado pelo Iphan em 1943. 
O projeto contratado inclui ainda todos os projetos complementares, como de instalações elétricas, luminotécnica, hidráulicas e sanitárias, de prevenção e combate à roubo, fundação e estrutural; além de comunicação visual, telefonia e lógica, instalações de prevenção e combate a incêndio, proteção contra descargas atmosféricas e drenagem pluvial. Também está no planejamento uma pequena lanchonete para atender os fieis e peregrinos. 
As obras e a implementação do projeto estarão a cargo do Santuário Nacional São José de Anchieta, tendo o Padre Cesar Augusto, Reitor do Santuário, como o interlocutor com Iphan para a implementação futura do projeto.
Igreja Nossa Senhora da Assunção 
O aldeamento de Reritiba foi fundado em 1587 pelo Padre José de Anchieta. Após a expulsão dos jesuítas em 1759 o aldeamento passou a se chamar Vila Benevente, hoje cidade de Anchieta. 
Do antigo aldeamento de Reritiba só restam a Igreja, dedicada a Nossa Senhora de Assunção e parte da Residência, que hoje é ocupada pelos padres, e sedia também o Museu Padre Anchieta, inaugurado em 1997, ano do IV Centenário da Morte do Beato José de Anchieta. Chama atenção no Conjunto Anchietano a Igreja de Nossa Senhora de Assunção por possuir três naves. O partido arquitetônico da igreja com três naves não é um exemplo comum no Brasil e, no caso de Igreja da Companhia de Jesus, é exceção, que só se repete na Igreja de São Pedro de Aldeia, no Rio de Janeiro. 
Destaca-se na capela mor a pintura parietal remanescente do primeiro retábulo, em figuras geométricas datada do século XVIII. Possui acervo significativo de imaginária barroca, distribuída na igreja e no museu, que também abriga o sítio arqueológico visitável e peças dos respectivos achados. 
Serviço:
Data:
 29 de outubro de 2015, às 19h 
Local: Jardim da residência dos Padres Jesuítas, ao lado do Santuário. 
           Anchieta, Espírito Santo.
Informações:
Iphan-ES: (27) 3223-0606
E-mailiphan-es@iphan.gov.br

Obra de Lina Bo Bardi é exibida em seis livros

Um legado arquitetônico singular que transforma a materialidade em poesia. Em poucas palavras, assim é possível descrever a arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi que, como poucos, entendeu a cultura brasileira, disseminando um espírito revolucionário que transformou as formas de se entender a arte e a arquitetura no Brasil. Integrando a série de atividades em comemoração ao seu centenário (1914-2014), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e as Edições Sesc São Paulo, lançam, em parceria com o Instituto Lina Bo Bardi, uma coleção de seis livros sobre sua obra, sendo um inédito (sobre o Solar do Unhão) e cinco revistos e ampliados. Com organização de Marcelo Ferraz, textos da própria Lina, de André Vainer, Cecília Rodrigues dos Santos, dentre outros, os livros trazem croquis, aquarelas, desenhos simples feitos à mão, imagens da época das maquetes e construções e fotos atuais. 
Sua obra intelectual e profissional estava em consonância com a herança libertária dos movimentos de vanguarda do início do século XX, marcado pela renovação da arte de caráter social e revolucionário,  que instaurou a modernidade no país. A coleção, que será lançada no próximo dia 22 de outubro, no  Sesc Pompeia, em São Paulo (SP), descreve algumas obras mais importantes: Solar do Unhão, em Salvador; Igreja do Espírito Santo do Cerrado, em Uberlândia; e os paulistanos MASP, Sesc Pompeia, Teatro Oficina e Casa de Vidro. A edição bilíngue (português e inglês) traz depoimentos de Lina Bo Bardi a respeito de seus projetos, somados a análises contemporâneas dessas obras e farta ilustração. Os títulos foram originalmente publicados em Portugal.
Museu de Arte de São Paulo (MASP)
Uma das obras mais icônicas da capital paulista, o projeto é analisado tanto nas questões de sua estrutura, como de seu uso. No livro, a arquiteta conta uma curiosidade a respeito do seu famoso vão: “não foi uma excentricidade, o que em linguagem popular se poderia chamar uma ‘frescura arquitetônica’”. Ela detalha que o terreno foi doado por uma família de São Paulo que impôs como condição a manutenção daquela vista, que deveria ficar para sempre na história da cidade. Se a vista fosse perdida, o terreno voltaria aos herdeiros. Esta publicação também conta com textos do arquiteto holandês Aldo van Eyck. 
Sesc Pompeia
Com textos de Lina, André Vainer, Marcelo Ferraz e Cecília Rodrigues dos Santos, este livro remonta a história da obra, a partir do primeiro contato da arquiteta com o local. “Entrando pela primeira vez na então abandonada Fábrica de Tambores da Pompeia, em 1976, o que me despertou curiosidade, (...) foram os galpões distribuídos racionalmente conforme os projetos ingleses do começo da industrialização europeia (...). Na segunda vez em que lá estive, num sábado, (...) (encontrei) um público alegre de crianças, mães, pais e anciãos passava de um pavilhão a outro”, rememora Lina Bo Bardi na publicação. 
Solar do Unhão
Segundo André Vainer, “Sua proposta para uma dialética entre o conhecimento popular das técnicas dos artesãos de ofício e o conhecimento científico via universidade criou um programa extremamente ambicioso de ensino e produção em contraponto com a extrema simplicidade de sua intervenção em um monumento histórico, o que explodiu em um museu totalmente sui generis”
Teatro Oficina 
Neste livro, o arquiteto Edson Elito, narra, sobre a grande reforma do espaço, nos anos 1980, que “as reuniões de trabalho eram feitas ao redor de uma grande mesa circular de mármore, após a pasta e o vinho, ou ao pé da lareira, na Casa de Vidro, residência de Pietro e Lina”. Na publicação, ainda há texto de José Celso Martinez Corrêa, diretor teatral à frente do Oficina há mais de 60 anos e que vem encenando inúmeros textos teatrais e épicos em seu espaço. 
Casa de Vidro 
O livro dedicado à residência oficial de Lina e seu marido, Pietro, em São Paulo, tem textos da própria Lina e de Marcelo Ferraz. Lina conta que “a casa Bardi foi a primeira que se construiu no Jardim Morumbi, quando o bairro ainda tinha esse nome (antiga Fazenda de Chá Müller Carioba). (...) Atrás da antiga Casa da Fazenda, toda branca e azul, que conservava ainda os ferros e as correntes do tempo da escravidão; os enormes tachos, bacias de cobre e outros utensílios; e atrás ainda da senzala (...), estendia-se o lago (...), com uma mata Atlântica ao fundo”. 
Igreja Espírito Santo do Cerrado
Única obra de Lina em Minas Gerais, na cidade de Uberlândia, hoje tombada como patrimônio cultural, é um conjunto de igreja, centro comunitário e casa paroquial e foi construída em conjunto com a comunidade. Lina conta: “A igreja foi construída por crianças, mulheres e pais de família, em pleno cerrado, com materiais muito pobres: coisas recebidas de presente, em esmolas. (...) O que houve de mais importante na construção da Igreja do Espírito Santo foi a possibilidade de um trabalho conjunto entre arquiteto e mão de obra”.
Ficha técnica
Coleção Lina Bo Bardi
Organização Marcelo Ferraz
ISBN: 978-85-7995-181-7
Formato: 24 × 16,5 cm (caixa com seis livros)
Português/inglês
Serviço:
Lançamento Coleção Lina Bardi (caixa com seis livros)
Organização Marcelo Ferraz
Data: 
22 de outubro de 2015
Horário: a partir de 20h
Local: Sesc Pompeia – Choperia (SP)
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Teatro Municipal de Ouro Preto reabre após revitalização


A reabertura da Casa da Ópera, Teatro Municipal de Ouro Preto, acontece nesta quinta-feira, 22 de outubro de 2015, às 20h30. Entre as autoridades presentes, estará a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Jurema Machado.

A Casa da Ópera foi fechada em agosto de 2014, a pedido da Secretaria Municipal de Cultura e Patrimônio, pois o edifício apresentava problemas na parte elétrica, no sistema de prevenção e combate a incêndios e um ataque de cupins em uma das vigas do palco.

Neste ano de 2015, o Teatro Municipal recebeu obras de revitalização do sistema elétrico, revisão do sistema de prevenção e combate a incêndios e descupinização de uma das vigas do interior do edifício. As obras tiveram início no dia 08 de junho de 2015 e terminaram neste mês de outubro. O valor gasto ficou em torno de R$ 340 mil, proveniente do Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Ouro Preto.

Para celebrar essa obra, haverá nos dias 22 e 23 de outubro, às 20h30, apresentações, abertas ao público,  da Orquestra Ouro Preto. Sob a regência do maestro Rodrigo Toffolo, o concerto terá a participação especial do compositor, regente e pianista Nelson Ayres. No repertório, músicas autorais do pianista Nelson, além de obras de Villa-Lobos, Ernesto Nazareth, Piazzolla, Tom Jobim, Edu Lobo e Chico Buarque. Os arranjos foram preparados especialmente para a reabertura da Casa da Ópera.

A Casa da Ópera de Ouro Preto é o mais antigo teatro em funcionamento das Américas. Foi construído em 1769, por João de Souza Lisboa, e inaugurado em 06 de junho de 1770, no aniversário do Rei Don José I. Seu endereço é Rua Brigadeiro Musqueira, 04, Centro de Ouro Preto.


Fonte: http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/3335/teatro-municipal-de-ouro-preto-reabre-apos-revitalizacao


















quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Jornadas do Patrimônio: Como valorizar a arquitetura e o patrimônio histórico

Nadia Somekh


Nos dias 19 e 20 de setembro de 2015, a convite do governo francês, tive o privilégio de participar das Jornadas do Patrimônio na cidade de Paris na sua 32ª edição.
O tema deste ano, capitaneado pelo Ministério da Cultura e da Comunicação, foi “O patrimônio do século 21, uma história de futuro”. A própria ministra, na apresentação das Jornadas, explica a possível perplexidade em relação ao tema: a vitalidade da arquitetura contemporânea, bem como os debates da COP 21, conferência do clima a ser realizada em dezembro próximo em Paris, coloca a questão ambiental no cerne da preservação do patrimônio histórico. Segundo a ministra, Fleur Pellerin, o que transmitiremos para as gerações futuras prepara-se desde já. Nesse patrimônio, a criação contemporânea tem o seu lugar no projeto de lei apresentado ao Congresso Nacional na semana que antecede ao evento em foco.
O referido projeto de lei permite aos arquitetos atualizarem o patrimônio histórico, principalmente o do século 18 e 19, com intervenções contemporâneas, estas também já constituídas em um novo patrimônio.
Essa concepção deu origem a uma exposição realizada na “Cite de l Architecture et du Patrimoine”, onde 72 projetos escolhidos na Europa apontam possibilidade de superar a mera reabilitação de prédios históricos e valorizá-los através da “ideia de transformação como ato de criação integral”, segundo Francis Rambert, organizador da mostra.
Organizada em oito seções temáticas propostas numa perspectiva cronológica em escala mundial, abarca no seu recorte 50 anos do debate transformação versusdestruição.
A linha do tempo desse debate tem na sua origem a Fábrica Ghirardelli em São Francisco, de 1964, e o Sesc Pompéia em São Paulo, de 1977, entre outros, como contraponto à destruição total do conjunto habitacional de Pruitt-Igoe, em 1972, e a possibilidade de valorizar o patrimônio a partir da arquitetura contemporânea.
Para a diretora regional de assuntos culturais de Paris o patrimônio histórico foi associado aos grandes monumentos do passado, principalmente igrejas e palácios, elementos que contam apenas uma parte da história da cidade. Hoje, conjuntos urbanos fazem parte de um patrimônio protegido, que às vezes passa despercebido pela população; para ela, o patrimônio histórico não se resume a uma questão estética, mas também o interesse técnico e social de um bem cultural. Como exemplo, foi apontado o da manufatura de 1980, com seus tijolos aparentes típica da periferia operária, que se transformou no Centro Dramático Nacional de Val de Marne.
Uma antiga edificação ferroviária contígua a Gare d’Austerlitz, com 300 metros de comprimento, foi transformada em incubadora de start-up, congregando além da proteção do patrimônio a possibilidade de geração de trabalho de forma contemporânea.
O aspecto de sensibilização das jornadas é apontado como essencial, além da constatação que as áreas envoltórias dos bens tombados fazem parte dos planos de urbanismo local.
A arquitetura moderna da primeira metade do século 20 é protegida por uma chancela estabelecida pela Região Metropolitana de Paris, onde 500 edifícios foram listados a partir de critérios da inovação da obra, podendo auferir do prestígio e de isenções fiscais.
No seminário, organizado no dia anterior as jornadas, foi apontado que a transmissão de valores intergeracionais repousa sobre os ombros da comunidade. Como a comunidade enquanto ator e não expectador depende do grau de consciência social, torna-se importante as Jornadas do Patrimônio, que faz parte de uma estratégia de comunicação mais ampla, que congrega saber técnico, militantes, simpatizantes, poder local, além do reconhecimento do Estado Nacional.
A França nos dá um ótimo exemplo de como proteger os bens culturais a partir de intervenções contemporâneas.
sobre a autora
Nadia Somekh é professora da graduação e pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie e Presidente do Conpresp.
 

Escola de Arquitetura Paris Val de3 Seine. Arquiteto Frederic Borel. Evento "Patrimoine du XXIe Siècle, une histoire d'avenir", Paris
Foto Nadia Somekh

















Entrada da exposição. Evento "Patrimoine du XXIe Siècle, une histoire d'avenir", Paris
Foto Nadia Somekh














Texto curatorial da exposição. Evento "Patrimoine du XXIe Siècle, une histoire d'avenir", Paris
Foto Nadia Somekh














Fundação Jérôme Seydoux-Pathé, Paris, Renzo Piano Building Workshop. Exposição "Patrimoine du XXIe Siècle, une histoire d'avenir", Paris
Foto Nadia Somekh

Praça e ladeira da Barroquinha Salvador, BA, 2015

Metro Arquitetos Associados [Gustavo Cedroni, Martin Corullon, Marcelo Macedo, Isadora Marchi, Miki Itabashi, Luis Tavares, Rafael de Souza, Flavio Bragaia e Renata Mori]


Localiza no centro da cidade de Salvador, a praça é delimitada ao norte pelo edifício do Espaço Itaú de Cinema, ao sul pela Ladeira da Barroquinha, a oeste pela Rua Chile (fim da Av. Sete de Setembro) e a leste pela praça da igreja da Barroquinha. O projeto para a requalificação da área pretende acomodar novos usos, mobiliário urbano e materiais, além de valorizar os edifícios históricos do entorno e do cinema, este tombado pelo IPHAN.
A praça tem como principal objetivo servir o público passante e do entorno. Será um lugar de encontro, de recepção, de acolhimento, de estar, uma extensão do próprio cinema e de toda a atividade de ir ao cinema. Conta com um projetor ao ar livre sobre o pano cego da fachada sul do edifício do cinema e com isso assume protagonismo e define cenário para toda a praça. A praça, pela sua situação elevada em relação ao entorno próximo tem como vocação natural se tornar um mirante sobre a igreja da Barroquinha, a leste, e para a baía de Todos os Santos, a oeste. A morfologia da praça acompanha os desníveis da Rua Chile. O partido do projeto da praça aproveita este desnível continuo e cria patamares ou plataformas em concordância com a inclinação da rua. O desenho das plataformas, portanto, respeita as cotas da rua, permitindo o acesso em nível e originando com isso um desenho orgânico que se manifesta em degraus mais estreitos e largos patamares. O patamar com a cota mais baixa abriga o estacionamento para vinte automóveis, dentre estes, uma vaga acessível. O acesso para o estacionamento é feito pela Rua Chile.
A esplanada do café do cinema se situa na zona leste, próximo a escadaria de pedras que dá acesso a Igreja da Barroquinha. O serviço da esplanada será feita através de um balcão que se abre para o exterior e pelas portas secundárias de acesso ao edifício. Através do grande vão do café, será possível uma comunicação direta entre a esplanada exterior e o café/foyer interior. Nesse trecho da praça foram projetadas mesas e cadeiras ao ar livre aproveitando as vistas da igreja da Barroquinha e no lado oposto, a vista ao mar. A atividade de ir ao cinema não se restringe apenas ao período diurno e, por isso, a iluminação exterior é de grande relevância para a atividade noturna. A iluminação foi estudada de forma a permitir o conforto dos usuários abrangendo maior área da intervenção e também valorizar o patrimônio construído. Um grande poste de luz com escala urbana tem pétalas em diferentes alturas para criar diferentes ambientes de luz com o mínimo de suporte no piso.
A Ladeira da Barroquinha é delimitada pelas seguintes características: a norte pelo muro de pedra que forma a praça do cinema, a sul por um conjunto de edifícios com comércios no térreo que se abrem para a ladeira, a oeste pela calcada e meio fio da Avenida Sete de Setembro e por fim a leste pela praça da Igreja da Barroquinha. A Ladeira da Barroquinha é o caminho de muitos pedestres que partem do Terminal da Barroquinha em sentido do centro histórico da cidade e vice versa. Esse caráter transitório incentiva o comércio de rua e por isso mesmo hoje a ladeira é mais conhecida popularmente como ”rua do couro”. O muro de pedras mencionado anteriormente já foi um importante símbolo para a cidade e atualmente encontra-se barrado pelas barracas de comércio de rua e uma vasta vegetação que ao que tudo indica, apresenta graves problemas de conservação.














Praça e ladeira da Barroquinha, vista superior. Metro arquitetos associados
Foto Ilana Bessler














Praça e ladeira da Barroquinha, desnível vencido pela praça ladeira entre a rua Chile e a igreja. Metro arquitetos associados
Foto Ilana Bessler