domingo, 28 de setembro de 2014

Copan era para ser um hotel de luxo


A facilidade de se encantar pelas curvas do edifício Copan, no Centro de São Paulo, é a mesma em relação à sua história. No livro A História do Edifício Copan, da Imprensa Oficial, o arquiteto Carlos Lemos conta como foi o processo de construção daquele que se tornou um dos símbolos paulistanos.

Lemos foi o arquiteto designado por Oscar Niemeyer a conduzir e fiscalizar a construção do edifício, que durou 18 anos. Em três volumes, ele relata a história do prédio, situando-o no contexto da evolução urbana da cidade e do sistema imobiliário que despontava.

O texto também recorda as dificuldades cotidianas no canteiro de obras, as alterações do projeto, os procedimentos de incorporação imobiliária e os profissionais de inúmeras áreas que nela trabalharam.

Segundo Lemos, o período entre 1952 e o fim de 1954 foi dedicado aos preparativos da instalação das fundações e a concretagem das primeiras lajes do subsolo. Em seguida, foram decididas as construtoras que, em conjunto tocariam as obras – até 1960.

Inicialmente encomendado pela Companhia Pan-Americana de Hotéis e Turismo, o empreendimento deveria se tornar um grande complexo hoteleiro que compreendia, além de apartamentos de luxo, teatro, cinemas, restaurantes, jardins, lojas e garagens subterrâneas.

Rockefeller – A ideia era inspirada no Rockefeller Center, de Nova York, condomínio que unia um grande centro comercial e de lazer a residências. “Um monumento à grandeza da terra paulista. O Rockfeller Center de São Paulo”, dizia o anúncio de lançamento do edifício Copan, datado de 25 de maio de 1952.

No entanto, o projeto não foi levado a diante e acabou sendo assumido pelo Banco Nacional Imobiliário, da construtora e incorporadora CNI. Do que se vislumbrava inicialmente, quase tudo foi executado, com exceção do hotel e do teatro e, finalmente, o prédio foi inaugurado em 1966.

O leitor tem acesso aos desenhos técnicos do projeto reproduzidos em escala menor. Plantas, a tipologia dos apartamentos nos seis blocos do edifício, fotos da cidade, do sistema de construção, de sua arquitetura e da comercialização do Copan, por meio de anúncios e matérias de jornais, ilustram o livro.

Mesmo com a passagem do tempo, todas as fases de construção ainda estão vivas nas recordações de Lemos. Foram seis meses para compilar suas anotações e separar as fotos que foram recuperadas com o mestre de obras do Copan. “Vivemos aquilo com muita intensidade e sei que, além de ter um valor sentimental para mim, o Copan é querido por todos os paulistanos por tudo o que ele representa”, diz o arquiteto.

Restauração – Perto de completar 50 anos (em 2016), o cartão-postal da cidade de São Paulo se prepara para ficar de cara nova. O síndico Affonso Celso Prazeres de Oliveira, no cargo desde 1993, garante que o edifício não passará por uma reforma completa, mas uma restauração de fachada, onde serão recolocadas pastilhas brancas e cinzas. Além de recuperar sua aparência original, a restauração é uma tentativa de garantir a segurança de quem passa por ali.

“O acabamento da fachada não foi bem feito e, de um tempo pra cá, os problemas começaram a surgir. A própria estrutura do prédio está expulsando as pastilhas e com o vento elas se soltam facilmente”, explica o síndico. O prédio de 115 metros de altura e 35 andares tem uma fachada de 46 mil metros quadrados.

Apesar da proteção azul instalada no edifício há algumas semanas, a obra ainda está longe começar. “Sendo muito otimista diria que podemos ter novidades em outubro, mas ainda estamos buscando autorizações, documentos e definindo os materiais que serão utilizados. Mas a intervenção já foi autorizada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico”, diz o síndico.

Museu – Segundo ele, o condomínio já tem R$ 10 milhões para o restauro. Mas a obra é orçada em, pelo menos, R$ 20 milhões. Outro projeto que segue em andamento no Copan é o museu em homenagem ao prédio. A intenção é reunir cerca de duas mil fotos e documentos.

Também estão guardados dois elevadores da década de 50, máquinas de imprimir boletos de aluguel, uma enceradeira de 1958, fichas de cadastro de moradores, cadeiras, relógios, tubulações antigas e muitas outras peças que contam a história do nosso "Rockfeller Center".


Fonte: http://www.dcomercio.com.br/2014/09/25/copan-era-para-ser-um-hotel-de-luxo



A construção do Edifício Copan, que durou 18 anos. Projeto original previa complexo com hotel de luxo e lojas. / Reprodução




















O Copan e seu entorno em São Paulo - Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/?attachment_id=456875

sábado, 27 de setembro de 2014

Concurso de projeto para a requalificação do MIS do Rio de Janeiro

Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro traçou para os próximos anos a meta de tornar-se referência mundial em cultura brasileira. O primeiro passo nessa direção foi dado com o anúncio da construção da nova sede do museu, em Copacabana, prevista para ser inaugurada no primeiro semestre de 2015.
A Secretaria de Estado da Cultura, à qual o MIS é vinculado, avançou em seus planos e lançou concurso nacional de arquitetura, organizado pelo IAB-RJ, para selecionar a melhor proposta de requalificação do prédio do MIS na Lapa. As bases do concurso estão disponíveis na página oficial e as inscrições já estão abertas.
O vencedor, além de receber o prêmio de R$ 50 mil, será contratado para desenvolver os projetos executivos e complementares.
Para participar do concurso, o arquiteto precisa estar em situação regular no Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil. Os concorrentes poderão se inscrever individualmente ou em equipe e os profissionais inscritos (e demais membros da equipe) somente poderão se vincular a um único projeto.
As inscrições serão feitas através da ficha disponível no site do concurso, que deverá ser encaminhada à sede do IAB-RJ por via postal, até o dia 31 de outubro, mediante o pagamento de taxa no valor de R$ 60. O prazo para entrega dos trabalhos é até o dia 24 de novembro, às 18h.
A divulgação dos vencedores acontecerá no dia 3 de dezembro, às 19h, na sede do Instituto de Arquitetos. Ao todo, serão distribuídos R$ 100 mil em prêmios. O primeiro colocado receberá R$ 50 mil, a título de adiantamento dos honorários para o desenvolvimento dos projetos executivos e complementares. O segundo e terceiro colocados receberão R$ 30 mil e R$ 20 mil, respectivamente.
CRONOGRAMA
  • 24 de setembro a 31 de outubro – Período de inscrições e consultas
  • Visitas 6 de outubro (tarde) e 7 de outubro (manhã)
  • Realização de Seminário Técnico 7 de outubro (tarde)
  • Recebimento dos trabalhos na sede do IAB-RJ até 24 de novembro às 18h.
  • 01 a 04 de dezembro - Período de Julgamento
  • 05 de dezembro – Divulgação do resultado e exposição
  • 10 de dezembro – Prazo para apresentação de recursos
  • 17 de dezembro – Prazo para respostas dos recursos
  • 19 de dezembro – Homologação do resultado
  • 22 de dezembro - Entrega dos Prêmios
Para mais informações, por favor, acesse a página oficial do concurso.
Fonte:Romullo Baratto. "Concurso de projeto para a requalificação do MIS do Rio de Janeiro" 27 Sep 2014.ArchDaily Brasil. Acessado 27 Set 2014.









Cortesia de IAB-RJ

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Jardim Público se torna oficialmente patrimônio histórico em Rio Claro, SP

O Jardim Público de Rio Claro (SP) se tornou oficialmente patrimônio histórico do Estado de São Paulo. O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) confirmou no início de agosto o tombamento do local que reúne esculturas, natureza e muita história. A partir de agora será proibida qualquer mudança que altere as características do jardim.
O espaço fica no Centro da cidade em meio a mais de 100 espécies de árvores e esculturas como o Anjo da concórdia, o Índio e a Ana caçadora. O ambiente também é palco de atrações culturais. “Havia vários encontros aos domingos de manhã, com pintores, escultores e poetas, então era muito pulsante essa praça. Hoje ainda tem algumas apresentações teatrais e performances. É um espaço muito significativo para Rio Claro, por isso a importância do tombamento”, explicou o escritor Jaime Leitão.
“A história do jardim se confunde com a história de Rio Claro, que foi fundada em 1827 e, por volta de 1850, o então barão de Grão-Mogol sentiu a necessidade da construção do Jardim Público”, afirmou o ecólogo Tadeu Ferreira.
Para o aposentado Plácido Puga, a infância foi em meio à natureza. Quando era criança costumava ir brincar no Jardim Público quase todos os dias. “Na época tinha balança, gangorra e tudo pra turma brincar. Eu nasci em Itirapina me mudei pra cá na Rua 4, em 1936. Saia da minha casa pra brincar na balança”, relembrou.
Na adolescência as brincadeiras deram espaço para as paqueras e eram nos bancos do parque que ele arrumava namorada. Hoje aos 85 anos a rotina não mudou muito, o aposentado ainda gosta de ficar no local entre as plantas para descontrair com os amigos. “É um lugar que tem bastante história”, disse Puga.
Centenas de pessoas circulam no local diariamente entre elas a cuidadora de idosos Verli Marques Vidal que aos sábados e domingos aprecia a natureza. “Eu moro aqui desde os 7 anos, é minha cidade e é muito bonita”, contou.









Jardim Público de Rio Claro reúne natureza, esculturas e histórias (Foto: Felipe Lazzaroto / EPTV)

Justiça determina restauração da casa do Visconde da Parnaíba em Oeiras

A casa do brigadeiro Manoel de Sousa Martins, conhecido como o Visconde da Parnaíba, será totalmente restaurada por meio de uma determinação judicial. A residência, com construção datada do século XVIII, está localizada no Centro Histórico de Oeiras, sendo esse espaço tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O Visconde da Parnaíba é considerado um dos principais nomes que lutou pela Independência do Piauí. 

A decisão foi divulgada nesta sexta-feira pelo Ministério Público Estadual (MPE). O órgão informou que o processo pedindo a restauração tramitava na Justiça Federal desde 1997, mas o atual proprietário do imóvel relutava porque queria pequenas mudanças na estrutura com aprovação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. As alterações não foram aceitas, pois o pedido do MPE era de total restauração, não apenas preservação do espaço.
Por causa da aprovação do Iphan, a Justiça do Piauí determinou que o “proprietário fosse intimado para apresentar novo projeto dentro do prazo de 60 dias, e ainda oficiou o IPHAN para que a proposta aprovada atendesse estritamente ao conteúdo da decisão”, declarou o MPE, por meio de nota.









Casa do Visconde da Parnaíba (Foto: Secretaria de Cultura de Oeiras)

Brasil profundo

Pesquisadores do Amapá encontram poço funerário construído há quase mil anos por povos indígenas

Déborah Araujo
Um litoral povoado e um interior vazio. Esta foi, durante muito tempo, uma concepção de demografia histórica que fez sucesso no país. A arqueologia, entretanto, mostra o contrário: por conta das transformações naturais e das geradas pelo homem, diversas regiões possuem características diferentes das que apresentavam séculos antes. “Muitos locais que hoje são cobertos por florestas, como é o caso da Amazônia, eram habitados por diversas populações, até mais que no litoral”, ressalta o professor de arqueologia Eduardo Góes Neves, da Universidade de São Paulo. Segundo ele, a região possui uma grande diversidade de sítios arqueológicos no que se refere a aterros feitos pelo homem, como também vestígios em cerâmica. “Acho que existe uma correlação entre a diversidade natural na Amazônia e a variabilidade dos povos antigos da região”. Um exemplo disso é o poço funerário localizado próximo à cidade de Macapá (AP) por pesquisadores do Instituto de Pesquisas do Amapá (Iepa).
O poço encontrado tem uma forma inédita: são várias câmaras mortuárias para sepultamentos simultâneos ao invés de uma câmara separada. Os restos mortais eram sepultados em urnas feitas de cerâmica pertencentes à etnia Palikur, e colocadas nas câmaras. O local teria sido construído por povos indígenas que habitaram a região entre 1.000 e 1.300 da nossa era. “Esse poço está muito distante da área onde geralmente se conhecia sua ocorrência. É a primeira vez que encontramos diversas câmaras laterais onde foram encontradas as urnas”, explica João Darcy de Moura Saldanha, arqueólogo do Iepa e coordenador da pesquisa. A descoberta foi feita em um sítio arqueológico de quatro hectares, em 2010, a cerca de dois quilômetros da comunidade quilombola do Curiaú, na zona norte de Macapá.
Para abrir o poço funerário, foram utilizadas máquinas escavadeiras que, controladas pelos arqueólogos, decapam o solo gradualmente até a localização de estruturas. “Com isto temos áreas enormes que são abertas e o número de achados cresce de forma exponencial, aumentando a chance de descobertas inéditas como esta”, ressalta o arqueólogo João Saldanha. E esse é só o início das pesquisas na área. “Calculamos, pela dispersão dos materiais arqueológicos, que o poço deve medir 8 mil metros quadrados e só escavamos pouco mais de mil”, acrescenta ele.
Os vestígios encontrados – materiais cerâmicos e ossos humanos – até agora estão em processo de análise no laboratório de Arqueologia do Iepa, em Macapá.  “Queremos, em parceria com a comunidade do Quilombo do Curiaú, montar uma pequena exposição com os materiais mais representativos, uma forma de dar um retorno com informações da história do território de ocupação no próprio território”, ressalta o arqueólogo. Essa proximidade do sítio arqueológico indígena pré-cabralino como quilombo construído na região no século XIX também é um destaque para a pesquisa, uma vez que “a presença de comunidades quilombolas na região Amazônica ainda é um tema pouco estudado”, observa Eduardo Góes Neves. Uma proximidade entre tradições materiais que, literalmente, é uma das bases do Brasil.












As urnas de cerâmica encontradas no poço funerário pertenceram à etnia indígena palikur, que teria habitado a região entre 1.000 e 1.300. (Foto: Divulgação / João Saldanha)












(Foto: Divulgação / João Saldanha)

Cais do Valongo pode se tornar mais um Patrimônio da Humanidade no Rio de Janeiro

A Prefeitura do Rio de Janeiro e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) deram início à elaboração do dossiê técnico para reconhecer a candidatura do Cais do Valongo a Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO. O primeiro passo foi dado em janeiro, quando houve a aceitação da proposta de candidatura. O pedido de inclusão que obedece a critérios e procedimentos preestabelecidos pelo Comitê do Patrimônio Mundial - fase principal do processo - se dá justamente no momento em que se comemoram os 450 anos de fundação da cidade do Rio de Janeiro e a década do Afrodescendente instituída pela Assembleia Geral da ONU. A candidatura faz parte de um processo de reconhecimento das matrizes africanas da cidade do Rio de Janeiro, expressa no Circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana.
De forma assegurar a participação social, a legitimidade, a autenticidade e a inserção comunitária, fundamentais para a preservação dos bens culturais protegidos, todo o trabalho será acompanhado pelo Comitê Consultivo da Candidatura do Cais do Valongo a Patrimônio da Humanidade. Composto por membros de associações sociais e comunitárias, acadêmicos, pesquisadores e representantes das três esferas de governo, o Comitê manterá permanente diálogo com a equipe técnica responsável, composta por especialistas na preservação do patrimônio cultural. A posse e primeira reunião do Comitê será no dia 30 de setembro, às 16h, na Sala Portinari do Palácio Capanema, à Rua da Imprensa, 16, 2º andar, no Centro.
Revelado em 2011 durante as obras do Porto Maravilha, que está revitalizando área de 5 milhões de metros quadrados na Região Portuária do Rio, o Cais do Valongo foi construído em 1811 pela Intendência Geral de Polícia da Corte do Rio de Janeiro, com o objetivo de concentrar o comércio de escravos, que antes era principalmente localizado na antiga Rua Direita, hoje Primeiro de Março. A vinda da família real portuguesa para o Brasil e a intensificação da cafeicultura ampliaram consideravelmente o tráfico. Entre sua construção e a proibição do tráfico em 1831, ingressaram no país entre 500 mil a um milhão de escravos de diversas nações africanas.
A inscrição do Cais do Valongo na lista do Patrimonio Mundial representará o reconhecimento do seu valor universal excepcional, como memória da violência contra a humanidade representada pela escravidão, fortalecendo as responsabilidades históricas, não só do Estado brasileiro, como de todos os países membros da UNESCO. É, ainda, o reconhecimento da inestimável contribuição dos africanos na formação dos povos do continente americano.
SERVIÇO:
Primeira reunião do Comitê Consultivo da Candidatura do Cais do Valongo a Patrimônio da Humanidade
Data:
 30 de setembro de 2014, 16h
Local: Salão Portinari – Palácio Gustavo Capanema
            Rua da Imprensa, 16 – 2º andar – Centro
            Rio de Janeiro – RJ
Mais informações para a imprensa
Assessoria de Comunicação IPHAN/MinC

comunicacao@iphan.gov.br
Adélia Soares – adelia.soares@iphan.gov.br
Isadora Fonseca – isadora.fonseca@iphan.gov.br
(61) 2024-5479 – 9381-7543
Chico Cereto – chicocereto@gmail.com
(21) 2233-6334 – 9927-7387
Jefferson Lessa – jefferson.lessa@cdn.com.br
(21) 3626-3757 – 3626-3700
Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH)
Leonardo Borges – imprensa.patrimonio@gmail.com
(21) 2976-3175 – 98498-9437 
Cdurp - Porto Maravilha
Luciene Braga – lubraga@cdurp.com.br
(21) 2153-1404 – 98909-1623 
Leandro Ravaglia – leandro@cdurp.com.br
(21) 2153-1407 – 98459-6633

Fonte: ASCOM - IPHAN



terça-feira, 23 de setembro de 2014

Relegados ao esquecimento, monumentos históricos de Porto Alegre somem ou são depredados

Às voltas com programa de restauração que promete recuperar peças roubadas ou danificadas ao longo dos anos, Porto Alegre tem histórico de cidade que não preserva estátuas, bustos e obras em vias e parques
21/09/2014 |

A prefeitura de Porto Alegre está realizando no Parque Farroupilha uma modalidade peculiar de obra: o restauro de monumentos que não existem. Anunciado como "um presente" para a cidade pelo prefeito José Fortunati e propagandeado em diversos pontos da Redenção por meio de painéis enormes, o projeto consiste na recuperação de 12 peças, incluindo bustos, cabeças e placas de bronze. O detalhe é que já não há muito a recuperar. As obras originais foram roubadas.
Boa parte da rapina ocorreu entre o final de 2013 e o começo deste ano. Na falta das esculturas, relevos e placas com inscrições, o que os trabalhadores mais têm feito é renovar pedestais de pedra. A Secretaria Municipal da Cultura (SMC) promete, nos casos em que for possível, substituir peças furtadas por réplicas feitas com material sem valor comercial, como resina ou pedra.


A dilapidação é um retrato do que ocorre em diversos pontos da cidade. Nos últimos anos, monumentos da Capital foram depenados. Um patrimônio artístico e histórico único, formado ao longo de décadas, está perdido.

— Em tempos de paz, não existe outra cidade do mundo que tenha sofrido uma destruição da arte pública como a que Porto Alegre sofreu — lamenta o doutor em história da arte José Francisco Alves, que pesquisa o tema há décadas e é autor de livros como A Escultura Pública de Porto Alegre.
Alves questiona o uso do termo "restauro" para o que está sendo feito no Parque Farroupilha. Ele observa que restaurar significa tomar medidas para que o bem volte ao estado original:
— Não se pode falar em restauro ao limpar cepos de bustos que não existem mais. É uma atitude tão patética quanto o que restou, cepos de granito ou alvenaria que não dizem nada, com as homenagens e as placas roubadas. Pelo menos quatro dos 12 monumentos que a prefeitura incluiu na restauração estavam no parque até o ano passado e foram roubados recentemente.
Um exemplo são bustos de médicos localizados junto à Avenida João Pessoa. Em outubro, a Liga Homeopática do Rio Grande do Sul percebeu o sumiço da escultura em homenagem a um dos pioneiros da especialidade, Licínio Cardoso, inaugurada em 1952 (foto acima). Representantes da entidade procuraram a prefeitura, denunciaram o furto e pediram providências. 

Pouco depois, constataram o roubo do busto do médico Annes Dias, de 1949. Voltaram a fazer alarde.No começo de janeiro, foi a vez do busto do fundador da homeopatia, Samuel Hahnemann, inaugurado em 1943, ser levado.

— A prefeitura foi lenta. A cidade está mergulhando em um esquecimento total e ninguém investiga para onde todas essas obras roubadas estão indo. A perda foi irreparável — alerta o responsável pelo departamento científico da Liga, Ben-Hur Dalla Porta.
Os homeopatas foram informados de que os bustos serão refeitos — não mais em bronze, e sim em resina. O historiador e arqueólogo Francisco Marshall, professor da UFRGS, faz objeções ao projeto da prefeitura no parque, uma parceria com o Sindicato da Construção Civil (Sinduscon/RS):
— O setor da prefeitura que cuida dos monumentos foi manipulado por uma ação de marketing. Isso não é politica de restauração. O que me preocupa é que o destino do que ainda existe em bronze na cidade é o roubo. O próximo passo será serrarem os monumentos.
Luiz Antônio Custódio, coordenador da memória cultural da SMC, afirma que o projeto na Redenção tem importância educativa. E justifica a iniciativa:
— Muitos desses monumentos têm vínculos afetivos para quem os produziu ou para quem os doou. Essas pessoas querem vê-los recuperados.

Estátuas foram de uma secretaria para outra

Algumas das peças que sumiram da Redenção não foram roubadas, mas retiradas pela Secretaria do Meio Ambiente (Smam) para prevenir furtos, afirma a prefeitura. A remoções ocorreram até 2011, abrangendo 11 placas de bronze, uma placa de granito, três bustos e uma máscara de leão em bronze. Smam e SMC não detalham quais peças foram recolhidas, mas acredita-se que entre elas possam estar os bustos de Luiz Englert, Assis Brasil e Padre Cacique. No caso dos monumentos que foram roubados, Custódio afirma que há chance de recuperação:
— Vamos buscar alternativas técnicas. Podem existir casos em que não há possibilidade, porque não existem vestígios. Logo, não serão feitas réplicas. Não podemos inventar arte. Mas quando houver base, vamos recuperar.
No começo deste ano, com a justificativa de deter a destruição da memória cultural de Porto Alegre, a prefeitura transferiu a responsabilidade pelos monumentos da cidade. A atribuição, que era da Smam, foi assumida pela a Secretaria Municipal da Cultura (SMC). Enquanto o bastão passava de uma pasta para outra, criminosos faziam uma limpa em praças e parques.
A promotora Ana Maria Marchesan, da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, não viu avanços e reforça que a SMC tem uma "estrutura mínima, até pior do que a da Smam".
— É uma inércia incrível. É tudo muito demorado — afirma.
Mesmo assim, Ana Maria não deposita toda a responsabilidade sobre a prefeitura:
— As coisas são muito radicais em Porto Alegre. A gente vê pelos movimentos sociais, que quando têm oportunidade destroem tudo. Há muitos grupos anarquistas, a quem debito grande parte das ações. É pesado debitar toda a conta no poder público. Nossa sociedade está muito degradada.
Responsável pelo setor de memória cultural da SMC, Luiz Antônio Custódio garante que houve avanços. Ele lista a publicação de uma nova diretriz para conservação do patrimônio e contratação de um inventário dos monumentos da cidade, que quando estiver pronto vai permitir estabelecer prioridades de recuperação.
— Além disso, começamos uma ação conjunta com Ministério Público, Brigada Militar, Guarda Municipal e governo estadual para verificar alternativas. Estamos não só conservando, mas montando um material didático escolar para que as crianças aprendam a importância dos monumentos, de forma a diminuir a sanha do vandalismo.
Cuidado com as peças deveria ser cotidiano
Segundo Custódio, o setor tem recursos, mas esses recursos não permitem fazer tudo. Ele também rebate a crítica de que a prefeitura é lenta demais para lidar com furtos e depredações.
— No serviço público ninguém faz o que quer, faz o que é possível. E o possível é o processo, que para qualquer coisa leva meses. E não é por burocracia, é a lei. As pessoas dizem: a prefeitura não fez. Mas e a sociedade, fez o quê? Sobra sempre para o poder público. Não há lugar que não tenha deterioração. Não é só aqui. É aqui e no mundo.
José Francisco Alves, que é professor de escultura do Atelier Livre da prefeitura e pesquisa a arte pública de Porto Alegre há décadas, não conhece lugar em que se repita a deterioração vista na capital gaúcha:
— Não comparo Porto Alegre com Paris ou Barcelona. Comparo com Rio, com Vitória, com Belém, com Florianópolis, com Curitiba, onde as obras estão iluminadas, limpas, bonitas. Se você vai a Salvador e olha o Monumento ao Dois de Julho, uma estrutura enorme de mármore, não tem um pingo de pichação. Enquanto isso, os nossos principais monumentos estão podres. É algo sem parâmetro no país e no mundo. Porto Alegre precisa ir a um psiquiatra.
Alves diz que a forma de combater a deterioração é fazer conservação e manutenção cotidiana — até porque restaurar depois sai caro. Ele considera um bom modelo o do Rio de Janeiro, que tem uma equipe exclusiva para cuidar dos monumentos. Em Porto Alegre, cita como bom exemplo a recente restauração do Chafariz do Menino com a Concha, na Redenção, que segue íntegro porque há um funcionário designado para mantê-lo limpo e em funcionamento.
Farrapos ao pé da letra

Os líderes da Revolução Farroupilha nunca mereceram tanto a alcunha de farrapos como agora. Nos monumentos que os homenageiam em Porto Alegre, estão em condição miserável. Um forasteiro que visitar a estátua equestre de Bento Gonçalves vai ter dificuldade para acreditar que ele é o herói máximo dos festejos de nossa data maior, o 20 de Setembro.
O imponente monumento realizado pelo escultor Antônio Caringi e inaugurado em 1936 vive uma situação de envergonhar qualquer gaúcho. Além de estar totalmente pichado, em tintas das mais variadas cores, teve recentemente uma cantaria de 400 quilos arrancada do pedestal. Os bandidos quebraram a pedra para tentar arrancar a placa que ela emoldurava.Não conseguiram.
Quem também sai de mais uma Semana Farroupilha em estado vexatório é a estátua de Giuseppe e Anita Garibaldi, inaugurada em 1913. Feito na Itália em mármore de carrara pelo renomado artista Filadelfo Simi, que dedicou três anos ao trabalho, o monumento é considerado um dos mais valiosos do país em termos históricos e artísticos. Mas está abandonado.
Enegrecido de imundície, foi coberto de pichações. No pedestal estão colados há uma eternidade cartazes que ninguém se dá ao trabalho de retirar. A Secretaria Municipal de Cultura afirma que a recuperação do monumento a Giuseppe e Anita Garibaldi é prioridade e que o processo para que isso aconteça já foi finalizado — um ano atrás, quando ZH publicou uma reportagem relatando os mesmos problemas, uma recuperação já era anunciada. A estátua de Bento Gonçalves vai ter de esperar mais.
— Está na nossa lista de prioridades para o ano que vem — afirma o coordenador da memória cultural, Luiz Antônio Custódio.












Na Redenção, esculturas, bustos e placas de metal com inscrições foram dilapidados, restando apenas as basesFoto: Reprodução/Bruno Alencastro / Agência RBS












O busto do médico Annes Dias, de 1949, também foi roubado recentemente
Foto: Fernando Gomes/Reprodução












Estátua de Giuseppe e Anita Garibaldi é uma das mais valiosas do país
Foto: Fernando Gomes 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Rio Pardo (RS) – Banco do Brasil muda agência para prédio histórico

Após três anos de obras de recuperação, o prédio do antigo Sul Hotel desde terça (16) sedia no pavimento térreo a agência do Banco do Brasil de Rio Pardo. A inauguração das novas instalações da instituição financeira contou com apresentações da Banda dos Dragões, da Banda Marcial Fortaleza e do coral do projeto AABB Comunidade.
O espaço une a preservação histórica do prédio protegido por lei, cuja construção começou 1925 e terminou dois anos depois, e o ambiente moderno na parte interna onde funcionam as atividades bancárias. A unidade é a segunda na área da superintendência regional de Santa Cruz do Sul com o novo padrão visual para atendimento – a primeira foi Sinimbu – e uma das primeiras no Rio Grande do Sul instalada em imóvel de valor histórico.
O processo para a transferência das instalações da agência durou mais de dois anos, envolvendo desde a decisão pelo local até a aprovação das obras. Depois da compra do imóvel em 4 de janeiro de 2010, os irmãos Rosi Meri Severo da Rosa e José Adão Severo da Rosa e a promotora Christine Mendes Ribeiro Grehs assinaram no dia 2 de julho do mesmo ano, no Ministério Público de Rio Pardo, o termo de ajustamento de compromisso de ajustamento de conduta para a recuperação do prédio, na Rua João Pessoa.
Os proprietários do imóvel explicam que as obras de recuperação começaram em 2011, com a remoção de toda a parte interna do prédio, permanecendo apenas as ruínas das paredes externas até o início da construção da nova estrutura interna. Rosi Meri Severo da Rosa e José Adão Severo da Rosa afirmam que foram diversas etapas de trabalho para a conclusão dos serviços, com a manutenção da fachada original, trazendo uma nova referência na preservação do patrimônio histórico e cultural da cidade.
Fonte: GAZ