quinta-feira, 30 de maio de 2019

Múmia egípcia que estava em museu de Cerro Largo tem origem confirmada por universidade gaúcha

Após um ano de pesquisas, a confirmação: crânio pertenceu a mulher que viveu no Egito entre 768-476 antes de Cristo.

Por mais de três décadas, um crânio humano coberto parcialmente com faixas de tecido envelhecido ficou preservado numa caixa de vidro, no museu do Centro Cultural 25 de Julho, na cidade de Cerro Largo, no Noroeste do Rio Grande do Sul. Conhecida como a Múmia de Cerro Largo, a peça não tinha comprovação científica, permanecia no armário coberto por uma cortina e era apresentada a alguns visitantes. 

Neste mês, depois de um ano de pesquisas que envolveram até o exame para datação por radiocarbono (C14), realizado num laboratório nos Estados Unidos, veio a confirmação: o crânio pertenceu a uma mulher na faixa dos 40 anos, que viveu no Egito no período entre 768-476 antes de Cristo. A múmia autenticamente egípcia é uma das duas identificadas hoje no Brasil — a outra, chamada de Tothmea, está no Museu Egípcio e Rosa Cruz, em Curitiba (PR). 

A descoberta foi realizada pelo pós-doutor em História, pesquisador e caçador de relíquias Édison Hüttner, também coordenador do Grupo de Estudo Identidades Afro-Egípcias da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Em junho de 2017, convidado pelo integrante do museu de Cerro Largo, o filósofo, historiador e psicólogo Guido Henz, ele conheceu o crânio e obteve autorização para uma investigação mais aprofundada. No ano passado, a peça foi levada para as dependências da PUCRS, em Porto Alegre. 

Para legitimar a origem, o caçador de relíquias convidou estudiosos de diferentes áreas, entre eles, Moacir Elias Santos, arqueólogo especializado em Egito Antigo, coordenador do projeto Tothmea, no Museu Egípcio e Rosa Cruz, em Curitiba, e integrante do Museu de Arqueologia Ciro Flamarion Cardos, em Ponta Grossa (PR), e o cirurgião bucomaxilofacial Éder Hüttner, responsável pelo laudo que identificou nove dentes intactos no crânio — um deles serviu como base para os estudos de carbono 14. No primeiro exame de tomografia, realizado no Instituto do Cérebro da PUCRS, foi identificada a existência de um olho artificial feito com rocha. Por conta desta descoberta, o crânio passou a ser chamado de Iret-Neferet — em egípcio antigo, significa olho bonito. 

— O olho é uma das partes muito bem trabalhadas nesta peça. Ainda há restos do linho utilizado para preencher o globo ocular e segurar o olho de pedra. Os egípcios acreditavam que o corpo precisava estar muito bem preservado para que a alma voltasse e o encontrasse novamente — relata Hüttner

Cálculo da idade feito a partir de análise do dente

Outro momento importante da pesquisa foi o envio aos Estados Unidos de um pequeno pedaço de um dos dentes para análise da presença de C14 — durante a vida, os seres vivos absorvem o C14 presente na atmosfera. De acordo com a pesquisadora Rosalia Barili da Cunha, do Instituto do Petróleo e dos Recursos Naturais da PUCRS, que também participou dos estudos, o cálculo é feito pelos cientistas com base no comportamento do componente ainda existente nos restos mortais, permitindo o enquadramento do artefato em um período mais específico do contexto histórico ou pré-histórico, já que é possível datar objetos de até 60 mil anos.

No início deste ano, Hüttner recebeu o laudo assinado pelo diretor do laboratório Beta Analytic, professor Ronald E. Hatfield. Conforme a data calibrada, 768-476 a.C., a múmia viveu no período Sátira-Persa (Período Tardio). 

— É uma descoberta fantástica para o Brasil. Principalmente, depois do incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro — comenta Hüttner. 

O arqueólogo especializado em Egito Antigo concorda com o pesquisador gaúcho. Santos afirma que o crânio identificado no Rio Grande do Sul tem extrema relevância para o Brasil. A perda das seis múmias egípcias — cinco trazidas por Dom Pedro I, em 1826, e outra trazida por Dom Pedro II, em 1875 — e de todo o restante da coleção que estava no Museu Nacional deixou o país praticamente órfão desta parte da história dos povos antigos. Atualmente, há apenas um exemplar em exposição, a Tothmea, no museu do Paraná. Santos, que veio a Porto Alegre para analisar o crânio mumificado, confessa ter se impressionado com a qualidade do trabalho dos embalsamadores da época. Ele detectou uma perfuração de 12mm no osso etmoide da cabeça, por onde o cérebro foi removido com um gancho de metal, inserido pela narina esquerda — ato comum no processo de mumificação.

Secagem do corpo não foi suficiente

Santos ressalta que os indícios são de que o trabalho foi realizado numa época tardia, feito em larga escala. No auge das múmias no Egito, quando apenas reis eram preservados, a função poderia levar até 70 dias. No caso de Iret-Neferet, o processo foi mais rápido, pois não há conservação total dos tecidos moles nem resina de cedro, sicômoro ou acácia no lugar do cérebro. Há vestígios de cabelos e também da musculatura, confirmando que a secagem do corpo não foi suficiente. Pelo menos, 22 faixas de linho foram identificadas pelos cientistas no entorno do crânio. 

— Fiquei fascinado com a descoberta, pois é um material muito raro para ser estudado. É preciso ter cuidado e respeito, pois estamos trabalhando com pessoas. E elas viveram num período muito antigo da nossa História — afirma Santos, que já sabia da existência do crânio em Cerro Largo antes do início dos estudos avançados. 

Como a múmia foi parar em Cerro Largo

Mas como uma múmia foi parar na cidade de 14 mil habitantes, no interior gaúcho? Quem explica é Henz, voluntário cultural de Cerro Largo e integrante do Centro Cultural 25 de Julho. No início dos anos de 1950, um advogado natural da região e que vivia no Rio de Janeiro ganhou a peça de presente de um amigo egípcio, que estava com câncer e tinha os dias de vida contados. Ao retornar para o Rio Grande do Sul, o advogado carregou o crânio para diferentes cidades onde morou. A múmia ficava sempre numa sala reservada da casa da família. No final dos anos de 1970, o advogado, que também acabou sendo vítima de um câncer — na garganta —, decidiu doar a peça a Henz para ser incluída no catálogo de 2 mil artigos existentes no local. Henz conta que a família do advogado não queria mais o crânio por considerá-lo maldito. O doador morreu no início dos anos 1980. Desde então, Iret-Neferet ficou reservada no museu de Cerro Largo. 

— Este meu amigo tinha muito apreço pela história das civilizações e queria que guardássemos o material para as próximas gerações. Ele dizia que o crânio havia pertencido a uma rainha. Nosso maior desejo é que seja feito um exame de DNA para comprovar a qual linhagem egípcia ela pertenceu — comenta Henz. 

Para Hüttner, o trabalho de identificação da múmia de Cerro Largo ainda não terminou. Neste momento, está em desenvolvimento uma análise de fungos no Instituto do Petróleo e Recursos Naturais da PUCRS. Ele planeja também encaminhar uma amostra para estudos de sequência de DNA, a serem realizados na Alemanha. 

No próximo dia 11, Iret-Neferet será apresentada ao público na Biblioteca Central Irmão José Otão, no Campus Central da PUCRS. A exposição ficará até 28 de julho. 

— Imagino que só exista a cabeça porque transportar um corpo completo chamaria muito a atenção. Iret-Neferet surgiu nas esquinas da História e veio vindo, até chegar o momento de ser identificada. E foi agora — comemora o caçador de relíquias. 

Para visitar a Iret-Neferet

A cabeça de Iret-Neferet estará em exposição gratuita e aberta ao público na Biblioteca Central Irmão José Otão, no Campus Central da PUCRS, Avenida Ipiranga, 6.681.
A exposição ocorrerá de 11 de junho a 28 de julho. 
A abertura da exposição será no dia 11 de junho, às 19h.

Fonte da Imagem: do site

Museu do Eclipse reabre as portas em Sobral (CE), após obra de requalificação

No dia 29 de maio, Sobral (CE) celebra e relembra o mais famoso eclipse solar da história, ocorrido há exatamente cem anos. Naquela ocasião, uma expedição composta por cientistas brasileiros, britânicos e norte americanos se reuniu na cidade cearense, onde seria possível ver com totalidade o eclipse solar e, com isso, conseguiu a comprovação final da Teoria da Relatividade, elaborada por Albert Einstein. Para marcar as comemorações da data que simboliza um verdadeiro avanço na ciência mundial, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia do Ministério da Cidadania, e a Prefeitura de Sobral entregam a obra do Museu do Eclipse, que acaba de ser completamente requalificado.

O Iphan, por meio do PAC Cidades Históricas, investiu quase R$ 1 milhão no Museu, que é ícone da divulgação histórica e científica no país. Localizado na Praça do Patrocínio, no ponto exato em que foi observado o eclipse solar de 1919, o equipamento foi construído há 20 anos e possui um importante acervo, que inclui o telescópio mais avançado das regiões Norte e Nordeste brasileiras e equipamentos originais da referida expedição internacional. Agora, após nove meses de obras, o edifício está todo reestruturado, com novas instalações elétricas, sanitárias, climatização, sonorização, adequação às normas de acessibilidade e ampliação e modernização do projeto museográfico. Além disso, um importante trabalho de impermeabilização foi realizado, solucionando os problemas de infiltração, que levaram ao seu fechamento em 2016.

A obra, executada pela Prefeitura Municipal, foi entregue em cerimônia no dia 29 de maio, às 19h, com a presença da presidente do Iphan, Kátia Bogéa, do diretor do Departamento de Projetos Especiais do Iphan, Robson de Almeida, do superintendente do Iphan-CE, Otacílio Macedo, do prefeito Ivo Gomes, entre outras autoridades locais. O evento é parte de uma série de comemorações que que começaram há um ano em Sobral, com a instituição do Ano Municipal das Ciências, realizado em parceria com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e o Governo do Estado do Ceará. Além da solenidade de reinauguração do Museu do Eclipse, a cerimônia também contou com a apresentação da Orquestra Internacional Jovem Eurochestries.


Museu do Eclipse 
Fundado em maio de 1999, em comemoração aos 80 anos da comprovação da Teoria da Relatividade em Sobral, o Museu do Eclipse é composto por um complexo, que inclui o Observatório Astronômico Henrique Morize. Seu acervo é composto por um simulador de eclipses, réplicas de planetas e satélites do Sistema Solar e diversos outros materiais científicos e astronômicos, utilizados nos estudos de ciências das escolas da região. Em parceria com a Universidade Estadual Vale do Acaraú, o museu também realiza atividades externas, em praças e instituições de ensino, com um planetário móvel e telescópios de pequeno porte.

Os investimentos na completa requalificação do museu são parte das ações do Iphan voltadas ao Patrimônio Cultural de Sobral. Pelo PAC Cidades Históricas, já foram concluídas as obras das praças Samuel Pontes e Senador Figueira com recursos de R$ 1,3 milhão. Além disso, ainda no dia 29, serão assinados os termos de compromisso para início dos trâmites licitatórios para as obras de restauração do Abrigo do Sagrado Coração, do Museu Dom José e da Igreja do Menino Deus, com previsão de outros R$ 6,2 milhões em recursos.

Assessoria de Comunicação 
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)

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Déborah Gouthier – deborah.gouthier@iphan.gov.br
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Fonte: http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/5103/

















Fonte das Imagens: do site Iphan

sábado, 4 de maio de 2019

Pesquisadores descobrem maior painel de arte rupestre de São Paulo

Gravuras do painel serão transformadas em modelo 3D.

Na cidade de Ribeirão Bonito, região central do Estado de São Paulo, pesquisadores da USP, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) escavaram um painel de 80 metros de comprimento, dos quais 50 metros lineares apresentam figuras esculpidas. As gravuras seguem um padrão observado em outros sítios arqueológicos da região e lembram pegadas de pássaros, chamadas por arqueólogos de “tridígitos”. Segundo Astolfo Araujo, professor do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP e coordenador da escavação, o painel é o maior já encontrado em território paulista. Além das figuras, foram encontradas pedras lascadas, ossos de animais e carvão queimado no local.

Da USP, participaram professores do MAE, do Instituto de Biociências (IB) e da Escola Politécnica (Poli). A equipe explora a região desde 2014, em um projeto financiado pela Fapesp com o objetivo de estudar a ocupação Paleoíndia do Estado de São Paulo – povos que viveram no início do período geológico atual, o Holoceno. Em 2015, os pesquisadores localizaram o sítio arqueológico mais antigo do Estado, no município de Dourado, a menos de 20 km de Ribeirão Bonito. Batizado de Bastos, o lugar continha vestígios com mais de 12,5 mil anos de idade. Moradores locais indicaram, então, a localização do novo painel.

O Sudeste brasileiro é peça chave no entendimento dos movimentos populacionais no leste da América do Sul. E a diversidade de arte rupestre que tem sido encontrada pelos pesquisadores pode ajudar a revelar quem passou pelo região. “A impressão que a gente tem é que São Paulo era um ponto de encontro de populações vindas do norte, do leste, via Pantanal, e do sul, pelo Pampas”, diz o arqueólogo. De acordo com o pesquisador, acreditava-se que a região não possuía arte rupestre em abundância, e o painel de Ribeirão Bonito contribui para a contestação dessa crença.

Sítios para download

Os pesquisadores estão desenvolvendo modelos virtuais dos sítios encontrados em parceria com o Centro Interdisciplinar de Tecnologias Interativas (CITI), ligado à Escola Politécnica (Poli) da USP. Marcelo Zuffo, professor do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Poli e coordenador do CITI, explica que no abrigo de Ribeirão Bonito foram usadas três técnicas de recolhimento de dados: o escaneamento a laser, o escaneamento via fotogrametria – dezenas de milhares de fotos feitas por drones – e a fotogrametria com câmeras de 360 graus.

Marcelo Zuffo diz que a criação de protótipos 3D tem uma série de vantagens. “As equipes interdisciplinares que trabalham com arqueologia podem analisar as informações sem as condições estressantes do trabalho em campo. E as restrições físicas e temporais também são eliminadas, já que os pesquisadores podem acessar, nos acervos da Universidade, sítios com até 500 km de distância da capital paulista”. Segundo Zuffo, o escaneamento intensivo pode eventualmente detectar padrões que o olho humano não consegue enxergar. Outra vantagem é que, se os sítios forem alvo de vandalismo ou interferências da natureza, há um modelo digital que preserva suas informações.

“O método usado pela equipe do professor Zuffo permite a reprodução 3D com precisão milimétrica, sendo possível preservar as gravuras para as gerações futuras, além de permitir a análise das mesmas por pesquisadores em qualquer parte do mundo. Basta, para isso, enviar os dados pela internet, e alguém poderá ‘fazer o download’ do sítio arqueológico e reproduzi-lo”, confirma Araujo.

O próximo passo da pesquisa, segundo Marcelo Zuffo, será a análise icônica das gravuras que têm sido encontradas no Estado de São Paulo, em parceria com a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Mais informações: e-mails astwolfo@usp.br e mkzuffo@usp.br

Fonte: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/pesquisadores-descobrem-maior-painel-de-arte-rupestre-de-sao-paulo/








Painel descoberto em Ribeirão Bonito tem 50 metros de gravuras rupestres  – Foto: Divulgação







Gravuras lembram pés de pássaros e são chamadas de “tridígitos” – Foto: Divulgação







Os pesquisadores descobriram o painel com ajuda de moradores locais – Foto: Divulgação







Modelo 3D do sítio Bastos, que tem a datação mais antiga do Estado de São Paulo – Foto: Divulgação