quarta-feira, 23 de março de 2016

Ato de vandalismo na igreja São Francisco de Assis da Pampulha em Belo Horizonte

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vem à público repudiar o ato de vandalismo ocorrido na madrugada de segunda-feira, 21 de março, quando a lateral da igreja de São Francisco de Assis e o painel de azulejos pintados por Cândido Portinari foram pichados. A Igreja de São Francisco de Assis compõe o Conjunto Moderno da Pampulha, juntamente da Casa de Baile, do Iate Tênis Clube, do Museu de Arte da Pampulha (antigo Cassino) e da Casa Kubitscheck. A igreja foi tombada em nível federal em 1947.
O Iphan, em parceria com o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA/MG) e a Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte (FMC/PBH), trabalham para avaliar os danos e providenciar a limpeza dos azulejos e da lateral da igreja. Uma equipe especializada em restauração de azulejos irá iniciar os trabalhos de limpeza na próxima quinta-feira, 24. O ocorrido não compromete a candidatura do Conjunto Moderno da Pampulha a Patrimônio da Humanidade e os órgãos responsáveis pela candidatura estão comprometidos em cumprir todos os compromissos assumidos junto à UNESCO.
O incidente acende alerta para a necessidade da intensificação de ações efetivas de conscientização e de educação patrimonial junto aos cidadãos, para que fatos como este não ocorram e para que todos possam ajudar a preservar a memória e a história do povo brasileiro, materializada e expressa em nosso patrimônio cultural. O Iphan lamenta o ocorrido e espera que os responsáveis por essa agressão ao patrimônio cultural brasileiro sejam identificados e que as autoridades policiais adotem as providências cabíveis.

domingo, 6 de março de 2016

UNESCO lança publicações sobre sítios arqueológicos e patrimônios mundial e imaterial no Brasil

Um livro pode nos levar a lugares longínquos, nos causar diferentes sensações e possibilitar variadas descobertas. Quando se une essa capacidade à vontade de viajar e conhecer belos lugares e que tenham valor extraordinário para a humanidade, a curiosidade é geral.
Duas publicações produzidas em coedição pelo escritório da UNESCO no Brasil e a Editora Brasileira e que priorizam as imagens – acompanhadas por breves textos (em português e em inglês) – reforçam o prazer das muitas viagens que começam nas páginas de um livro.
As publicações “Patrimônio da Humanidade no Brasil: suas riquezas culturais e naturais”, com textos de Marilúcia Botallo, fotos de Marcos Piffer e ilustrações de Paulo Von Poser, e “Sítios arqueológicos brasileiros”, com textos de Cristiane de Andrade Buco e introdução de Niède Guidon, foram lançadas semana passada. 
A primeira teve o patrocínio da Deicmar e da Cerâmica Portinari e a segunda, da Mineração Jundu/Saint Gobain. Ambas contam com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil e poderão ser adquiridas nas Livrarias Cultura de vários estados e em grandes livrarias como Saraiva, FNAC, Travessa e outras.
Patrimônio da Humanidade no Brasil: suas riquezas culturais e naturais
Brasil possui hoje 19 sítios inscritos na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO, sendo 11 sítios do Patrimônio Cultural, sete sítios do Patrimônio Natural e um sítio na categoria de Paisagem Cultural, que é o Rio de Janeiro – o primeiro desta categoria em todo o mundo. Conheça aqui quais são os sítios brasileiros que estão na lista da UNESCO.
Eles são regidos pela Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, de 1972, da qual o Brasil é signatário. Com imagens deslumbrantes, todos os sítios do país estão representados na publicação Patrimônio da Humanidade no Brasil: suas riquezas culturais e naturais.
Além desses bens, a publicação traz também informações e ilustrações sobre os itens brasileiros inscritos na Lista do Patrimônio Imaterial da UNESCO, que é regida pela Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, de 2003.
São eles: Expressões Orais e Gráficas dos Wajãpis, do Amapá; Samba de Roda do Recôncavo Baiano, Bahia; Yaokwa, ritual do povo enauenê-nauês para a manutenção da ordem social e cósmica, Amazônia; Museu Vivo do Fandango, das comunidades costeiras do Sul e Sudeste do Brasil; Frevo, artes cênicas do carnaval de Recife, Pernambuco; Círio de Nazaré na cidade de Belém, Pará, e Roda de Capoeira, manifestação cultural afro-brasileira. Mais informações sobre esses itens que fazem parte dessa outra lista da UNESCO você encontra aqui.
O objetivo da publicação é difundir os sítios que são patrimônio mundial no Brasil e os que estão na Lista do Patrimônio Imaterial como forma de valorizar e reforçar a importância cultural do país em sua região e em todo o mundo.
Sítios arqueológicos brasileiros
A exploração de sítios arqueológicos no Brasil traça novas hipóteses sobre a chegada do homem à América, questão que sempre desperta grande interesse não apenas dos estudiosos mas da sociedade em geral. Quem não quer saber mais sobre o passado da Humanidade?
Um dos principais sítios arqueológicos brasileiros, se não o principal, é o da Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, no sudeste do estado do Piauí, um dos pontos de estudo em que se descobriram vestígios de civilização datados de 40 mil anos. As escavações costumam revelar como aconteceu o povoamento dos espaços, os tipos de vida o homem levava e os aspectos culturais que eram relevantes na época.
A publicação fala da Serra da Capivara com destaque, mas mostra vários outros sítios arqueológicos noBrasil, apresentando ao leitor informações históricas e científicas sobre o planeta Terra, o Brasil e a cultura pré-histórica, além de oferecer opções de visitação a parques arqueológicos e paisagens naturais.
Livro: Patrimônio da Humanidade no Brasil: suas riquezas culturais e naturais
Textos de Marilúcia Botallo, Fotos de Marcos Piffer, Ilustrações de Paulo Von Poser
Formato: 31,5×23,5 cm; capa dura; 220 páginas

Livro: Sítios arqueológicos brasileiros
Textos de Cristiane de Andrade Buco, Introdução de Niède Guidon
Formato: 24,5×24,5 cm; capa dura; 200 páginas

Via ONUBr






Igreja de São Francisco de Paula. Image © Leandro Neumann Ciuffo, via Flickr. CC

terça-feira, 1 de março de 2016

Capela de São Sebastião Agoniza na Zona Rural de Pouso Alegre - MG

Associação tenta recuperar templo dedicado ao mártir da Igreja Católica, erguido no século 19 em Pouso Alegre. Cercada de mato, construção em estilo mourisco corre o risco de ruir.
No lugar das flechas, esteios de eucalipto; em vez de missas, abandono completo; e no entorno, muito mato. A centenária Capela de São Sebastião está a própria imagem do seu padroeiro, mártir da Igreja Católica, protetor dos fazendeiros e santo poderoso contra a peste, a fome e a guerra. Localizado na zona rural de Pouso Alegre, a 34 quilômetros de Paracatu, na Região Noroeste, o templo erguido em 1860 sofre todo tipo de flagelo, como degradação, falta de ações de preservação e, principalmente, descaso das autoridades.
Quem olha a construção singela, em estilo mourisco, não deixe de compará-la à escultura de São Sebastião, que traz o corpo marcado pelo sangue das flechadas disparadas. No caso da capela dedicada a ele, vertem pedaços de reboco, despencam telhas e desaparecem lentamente partes de uma história escorada pela madeira. Um aspecto muito especial é que as terras onde se encontra a capela foram doadas ao santo, no século 19, pelo fazendeiro Imiliano Silva Neiva, um dos homens mais ricos do Noroeste mineiro. Hoje, o caso está na Justiça para retomar parte delas.
Há exatos 20 anos, a Associação dos Amigos da Cultura de Paracatu luta para recuperar a Capela de São Sebastião do Pouso Alegre, como é conhecida pela população. “Além da celebração de missas, realização de casamentos e outras cerimônias, o templo sempre foi o local de reunião de comunidades rurais, como Pouso Alegre, Sotero, Ribeira, Nova Divineia e Carapinas”, informa a presidente da entidade, Graça Jales, residente no Centro Histórico da cidade. “Nossa associação foi criada para tentar salvar a capela e pedir providências ao poder público, mas até hoje nada conseguimos, embora tenham sido apresentados muitos projetos”, afirma.
Em 1986, segundo a presidente da associação, foi apresentado um projeto ao Ministério da Cultura (MinC) e, conforme ela foi informada, houve acompanhamento do processo pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O imóvel não é tombado em nível federal, mas é o único bem sob proteção do município, desde 1958. “Até agora, não tivemos qualquer resposta. Tudo o que conseguimos foi com a colaboração de pessoas conhecidas, que elaboraram os projetos sem cobrar”, explica Graça. Diante da situação, tudo indica que somente o santo de casa poderá fazer milagre, contrariando o dito popular.

Terras do Santo. A estrada que conduz à comunidade de Pouso Alegre, no sentido Brasília (DF), tem oito quilômetros de caminhos vicinais, ladeados por extensas lavouras de soja. No fim do trajeto, é surpreendente ver a arquitetura da capela, com uma escada de madeira lateral, e um susto deparar com a penúria de um bem cultural e religioso morrendo à míngua no meio do mato. Num canto, há montes de tijolos de adobe, mas o mais assustador é ver as escoras de madeira para amparar a fachada do prédio. “Ela já se encontra em estado de emergência, pois a nave está se descolando da capela. É muito difícil preservar o patrimônio”, alerta a presidente da associação. De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura, os projetos estão a cargo da associação, que busca os recursos no MinC.

Profundamente preocupada e, ao mesmo tempo, esperançosa de que a capela pertencente à diocese de Paracatu seja recuperada, Graça revela outro round na batalha pela preservação. Em 1860, ao construir a capela, o fazendeiro Imiliano Silva Neiva, que não deixou filhos, doou 350 hectares a São Sebastião, de quem era muito devoto. No início do século, no entanto, um bispo vendeu parte da gleba, ficando 45 hectares para o santo. Bem mais tarde, um fazendeiro pediu a retificação das terras, apropriando-se do terreno. “A diocese recorreu na Justiça e já ganhou em duas instâncias”, alegra-se a presidente da associação.
Segundo informações da Superintendência do Iphan em Minas, o projeto está em análise pela equipe técnica visando à captação de recursos, via lei federal de incentivo à cultura, do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac). Faltam, de acordo com os técnicos, complementação de documentos e itens da planilha orçamentária para que, finalmente, sejam obtidos recursos e feita a obra. A expectativa é de que, ao ficar pronta, o templo volte a reunir as comunidades rurais e a ter seus cultos. “Ela sempre foi bem dinâmica”, resume Graça.
História e lendas
Todas as peças sacras, como as imagens, foram retiradas do templo, que já foi saqueado e está envolto em muitas lendas: alguns afirmam ter existido, no seu interior, uma imagem de São Sebastião de 1,5 metro. O certo mesmo é que, há alguns anos, foi encontrado um andor, virado, num canto da igreja. Ao colocá-lo na posição normal, os fiéis encontram um santo preso a ele, com o nome de Manoel Pereira Maia e o ano de 1883. Mesmo degradada, a capela é um dos ícones culturais de Paracatu, nascido no início do século 18, com o nome de São Luiz e Santana das Minas do Paracatu. O município de cerca de 84 mil habitantes tem sua história vinculada ao movimento das bandeiras que corriam a região em busca de ouro. Antes de 1730, já ocorria a povoação do primitivo arraial. De acordo com as pesquisas, foi em 20 de outubro de 1798 que um alvará da rainha de Portugal Dona Maria I (1734-1816) elevou o local à categoria de Vila de Paracatu do Príncipe. Já à de cidade se deu em 1840.
Por Gustavo Werneck

Fonte original da notícia: em.com.br
Escorada por pedaços de madeira, a capela construída em terras doadas ao santo por um fazendeiro espera por socorro. (Foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)