terça-feira, 23 de novembro de 2021

Conheça a história da casa "mal-assombrada" do fundador da Renner em Porto Alegre


Casarão fica no complexo do DC Shopping e pode virar espaço cultural

LEANDRO STAUDT

Quando o jovem Anton Jacob Renner decidiu deixar São Sebastião do Caí, procurou local para morar e transferir a fábrica têxtil em Porto Alegre. O bairro Navegantes foi escolhido para a indústria, que depois deu origem às Lojas Renner. O empresário queria morar junto à fábrica. Uma casa "mal-assombrada" estava à venda, mas logo o empresário esclareceu os "eventos sobrenaturais". O complexo industrial começou a ser construído em 1914 e a mudança definitiva ocorreu três anos depois.

O neto Mário Renner conta a história que ouviu o avô contar. Desde o início, A. J. Renner não acreditou na conversa sobre os eventos sobrenaturais. Procurou o dono do imóvel, que alertou sobre o prédio balançar em alguns horários. Mário relata que o avô foi convidado a passar uma noite na casa e aceitou. No final da madrugada, testemunhou o tremor, com quadros balançando nas paredes.

A explicação para tudo aquilo era simples, como descobriu A.J. Renner. A região era alagadiça, perto do Guaíba, com terreno instável. A linha férrea passava perto. Quando o trem cruzava o bairro, tudo tremia. Desfeito o mistério, o negócio foi fechado. O trem partia da estação no Centro, percorria a Avenida Voluntários da Pátria até a Igreja dos Navegantes, de onde seguia pelo atual leito do Trensurb.

A. J. Renner morou com a família na casa do Navegantes até a década de 1930, quando se mudou para nova residência no bairro Moinhos de Vento. O antigo casarão faz parte atualmente do complexo do DC Shopping e está listado no patrimônio histórico. Nos últimos anos, é ocupado pela Mezanino Produções, empresa dos atores e empreendedores Zé Victor Castiel e Rogério Beretta. Eles têm plano de restauração do sobrado e transformação em espaço cultural.

Zé Victor, que lá trabalha, garante que nunca viu fantasmas ou sentiu tremores. A casa da Rua Frederico Mentz não é mal-assombrada.



















Fonte: Do Site

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Vikings chegaram às Américas quase 500 anos antes de Colombo, revela estudo

Pesquisa em sítio arqueológico no Canadá mostra que um grupo de vikings habitou a região há exatos mil anos.

Um estudo publicado na revista científica Nature revelou que os vikings chegaram às Américas quase 500 anos antes de Cristóvão Colombo.

Há 60 anos, um casal de exploradores noruegueses descobriu um sítio arqueológico chamado de “L' Anse aux Meadows”, no nordeste do Canadá. Lá, encontraram vestígios de pelo menos sete casas, muito parecidas com as que os vikings faziam. Os pesquisadores também encontraram muitos objetos que definitivamente eram vikings, como uma abotoadura de bronze que eles usavam para fechar os casacos.

É o único sítio arqueológico viking encontrado no continente americano, hoje uma atração turística. Há anos os cientistas tentam entender em que momento da história eles habitaram esse lugar.

A nova pesquisa analisou três pedaços de madeira usados na construção. Para saber a idade de um pedaço de madeira, os cientistas analisam a concentração de carbono 14. Funciona assim: toda árvore enquanto está viva absorve carbono 14 da atmosfera. Quando a árvore morre, acontece o contrário, ela vai perdendo, todo ano, carbono 14, na mesma quantidade.

Então, se os cientistas descobrem quanto carbono 14 ainda tem numa árvore morta, eles descobrem quando a árvore foi cortada.

Em entrevista ao Jornal Nacional, o geólogo holandês Michael Dee, um dos responsáveis pela pesquisa, diz que esse método não é muito preciso, mas que uma nova descoberta deu aos cientistas o poder de saber exatamente quando a árvore foi cortada, porque, em alguns momentos da história, houve tempestades solares raras. As explosões no Sol aumentaram a concentração de carbono 14 na Terra naquele período.

No microscópio, o pesquisador percebeu que a madeira apresentava marcas de uma tempestade solar que aconteceu no ano 992. E as árvores formam um novo anel por ano. Assim, os pesquisadores determinaram que a árvore foi cortada por um machado viking precisamente no ano de 1021, há exatos mil anos, que foi quando essa vila existiu.

Cem anos antes disso, os vikings colonizaram a Islândia, pequena ilha do Atlântico Norte. As sagas islandesas escritas no século 13 falam de um explorador chamado Leif Ericson, que teria saído da Islândia e encontrado um novo mundo.

Pesquisadores acreditam que seja “L' Anse aux Meadows”. As sagas narram encontros com os povos nativos, mas ninguém sabe o quanto das narrativas fantásticas é mito ou realidade.

Estudos sugerem que um grupo de 100 pessoas morou lá por até 13 anos e depois abandonou tudo e foi para a Groenlândia.

Michael Dee diz que temos agora pelo menos um fato: uma data para esse conto de fadas, que prova que 470 anos antes de Cristovão Colombo colocar o pé na América, um viking foi o primeiro europeu a chegar no Novo Mundo.

Fonte: https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/10/21/vikings-chegaram-as-americas-quase-500-anos-antes-de-colombo-revela-estudo.ghtml




terça-feira, 10 de agosto de 2021

Sítio Roberto Burle Marx é reconhecido como Patrimônio Mundial da Unesco

23º bem brasileiro a integrar a Lista do Patrimônio Mundial, Sítio é um laboratório de experimentações botânicas e paisagísticas que sintetiza a obra de Burle Marx.

O Brasil acaba de receber mais um título de Patrimônio Mundial. Legado do paisagista brasileiro que criou o conceito de jardim tropical moderno, o Sítio Roberto Burle Marx (SRBM) foi reconhecido por unanimidade nesta terça-feira, 27 de julho, durante a 44ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Realizada em Fuzhou, na China, a reunião foi transmitida via internet para todo o mundo.

Com a nova chancela, o Brasil passa a ter 23 bens inscritos na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco, registro dos bens considerados como portadores de valor universal excepcional para a cultura da humanidade. O SRBM foi reconhecido na categoria de Paisagem Cultural, na qual se enquadram bens que referenciam a interação entre o ambiente natural e as atividades humanas, resultando em uma paisagem natural modificada.
Localizado na Barra de Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro (RJ), o Sítio tem 405 mil metros quadrados de área e abriga uma coleção botânica com mais de 3.500 espécies de plantas tropicais e subtropicais, cultivada em viveiros e jardins.

O sítio é uma unidade especial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo.

“O Sítio Roberto Burle Marx é certamente uma obra de arte, onde as paisagens são o elemento de maior destaque, ligando todo o conjunto com poderosa personalidade. Os espaços ajardinados do Sítio materializam tanto os princípios paisagísticos da obra de Burle Marx quanto os processos de análise, cultivo e experimentação que impulsionaram a criação do paisagismo tropical moderno. A vegetação organizada em diálogos de forma, cor e volume que permeiam todos os ambientes, mas também se articulam e interagem com a mata nativa, com a topografia e os acidentes naturais do terreno e com elementos artísticos e arquitetônicos de diferentes épocas e culturas, resultando numa paisagem notável e singular”, ressalta a diretora do SRBM, Claudia Storino.

Jardins, viveiros de plantas, sete edificações e seis lagos integram este espaço singular. A propriedade também guarda um acervo museológico de mais de três mil itens, que inclui um grande repertório da produção artística de Burle Marx, suas coleções de arte moderna, cuzquenha, pré-colombiana, sacra e popular brasileira, de cristais e de conchas, além do mobiliário e dos objetos de uso cotidiano da casa.

Maior e mais importante registro da obra de Burle Marx, o SRBM recebe cerca de 30 mil visitantes por ano. Conhecido internacionalmente como um dos mais relevantes paisagistas do século XX, Roberto adquiriu o Sítio em 1949 e ali viveu entre 1973 e 1994. Ao longo de 45 anos, reuniu na propriedade plantas de diversas partes do mundo e dos diversos biomas brasileiros, algumas atualmente em risco de extinção.

Todo esse conjunto acaba de passar por uma vasta requalificação, que fortaleceu e subsidiou o processo da candidatura ao título de Patrimônio Mundial. Por meio da Lei de Incentivo à Cultura, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) investiu aproximadamente R$ 5,4 milhões em projetos e intervenções para valorizar espaços de visitação, implementar medidas de acessibilidade, ampliar o acesso público e potencializar ações de pesquisa. Fruto de parceria firmada entre o Iphan e a Associação Intermuseus, associação civil sem fins lucrativos (Oscip), a requalificação iniciou em outubro de 2018 e foi concluída em fevereiro de 2021.

Na articulação entre espaços ajardinados, arquitetura e acervo botânico, o SRBM testemunha de forma única o pensamento de Roberto Burle Marx e sua contribuição para um importante momento da história da humanidade - o período moderno do século XX -, que se materializou na arquitetura, nas artes, no planejamento urbano e, mais especificamente, na criação de paisagens.

Burle Marx foi pioneiro na luta pela conservação da natureza e ferrenho defensor do ambiente. Compreendendo desde cedo o potencial estético e a importância científica da flora tropical, introduziu o uso de espécies nativas em seus projetos paisagísticos, criando o conceito de jardim tropical moderno, alinhado ao movimento moderno na arquitetura e nas artes, que produziu grande impacto no campo mundial do paisagismo.

Claudia Storino explica que há camadas de conhecimento científico que precedem e permeiam os jardins. “Evidenciando essa dimensão conceitual, Burle Marx referia-se ao Sítio como o seu ‘cadinho’. Essa metáfora não é força de expressão ou referência fortuita. A energia depositada na constituição de sua coleção botânica; sua concentração na construção do conhecimento científico necessário ao cultivo, à reprodução e à utilização das espécies; a dedicação intensa e permanente à realização dos experimentos, juntando os diversos elementos vegetais sob os determinantes naturais de terra, água e luz, em busca dos resultados estéticos que o tempo se encarregaria de amadurecer. Tudo isso traça paralelos com o trabalho dos alquimistas. No caso da produção do jardim tropical moderno, o Sítio foi de fato o cadinho, ou crisol, onde os elementos foram misturados de modo a produzir uma obra nova, com novos princípios e nova expressão plástica”, esclarece a diretora.

Etapas da candidatura

O processo de construção de candidatura começou com a inscrição na lista indicativa brasileira a Patrimônio Mundial, em 2015. Desenvolvido pelo Iphan com a contribuição de muitos parceiros, o dossiê final do Sítio Burle Marx foi entregue à Unesco em janeiro de 2019. O documento defende o valor da propriedade como laboratório botânico e paisagístico.

No segundo semestre de 2019, o Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) realizou a “missão de avaliação” no Sítio, parte importante do processo de candidatura. A visita se desdobrou no relatório final, que subsidiou a análise pelo Comitê do Patrimônio Mundial.

O título da Unesco cria um compromisso internacional de preservação do local. Um dos próximos passos será a formalização de um plano de gestão para o Sítio e seu entorno, na perspectiva do patrimônio mundial, envolvendo diversas instituições governamentais e atores da sociedade civil e definindo a matriz de responsabilidades de todos os parceiros. O plano mapeará riscos e apontará ações para minimizar possíveis ameaças ao valor universal excepcional do SRBM.

O ministro do Turismo, Gilson Machado Neto, destaca que o Sítio Roberto Burle Marx é um importante Patrimônio Cultural brasileiro tombado pelo Iphan, e a sua inscrição como Patrimônio Cultural Mundial reforça a sua importância também para o mundo. “A chancela representa o reconhecimento sobre a importância do Sítio também para a humanidade, aumentando os compromissos com a sua proteção, conservação e gestão, o que deve atrair ainda mais visitantes para conhecer este, que é um dos mais importantes registros da influência e da obra do artista Roberto Burle Marx”, disse Machado Neto.

A história do Sítio

Em 1949, Roberto Burle Marx e seu irmão Guilherme Siegfried compraram o imóvel com a finalidade de abrigar coleção botânica, testar novas associações de plantas e cultivar mudas. A partir de então, a casa foi sucessivamente reformada e ampliada; foram construídos a Loggia, o Salão de Festas (conhecido como Cozinha de Pedra), a Casa de Pedra, o Prédio da Administração e o Ateliê; a Capela de Santo Antônio da Bica, do século XVII, foi restaurada e mantida em uso pela comunidade.

No ano de 1985, Burle Marx doou o Sítio ao governo federal a fim de assegurar sua preservação, a continuidade das pesquisas, a disseminação do conhecimento adquirido e o compartilhamento daquele espaço único com a sociedade. Após a morte do artista em 1994, o sítio passou a ser gerido pelo Iphan e se tornou um centro cultural.

O legado de Burle Marx

Nascido em 1909, em São Paulo, Burle Marx foi criado no Rio de Janeiro, onde faleceu em 1994. Com milhares de projetos espalhados pelo mundo, concebeu paisagens de grande destaque no país, como os jardins do Complexo da Pampulha, em 1942; o jardim do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1954; o paisagismo do Aterro do Flamengo, em 1961; os jardins da sede da Unesco, em Paris, e o famoso traçado do “calçadão” de Copacabana, em 1970.

Além de paisagista, Burle Marx foi também artista plástico, pintor, escultor, designer de joias, figurinista, cenógrafo, ceramista e tapeceiro. Todas as facetas da sua obra podem ser apreciadas no SRBM, um grande laboratório de experimentações botânicas e artísticas.
Na propriedade também se encontram exemplares das 34 espécies que possuem relação direta com Burle Marx: duas delas descritas diretamente pelo paisagista, 16 nomeadas em homenagem a ele e outras 16 cujas descrições utilizaram materiais coletados nas expedições promovidas por Roberto.
Parte do acervo museológico do Sítio está disponibilizada em um banco de dados específico para registro, gestão, pesquisa e acesso público. Consulte aqui e conheça também o folheto do SRBM.

SÍTIO ROBERTO BURLE MARX:
Estrada Roberto Burle Marx, No. 2019 - Barra de Guaratiba CEP: 23020-255 - Rio de Janeiro/RJ Tel.: (21) 2410.1412
Agendamento de visitas por e-mail: visitas.srbm@iphan.gov.br
Devido à pandemia, as visitas estão acontecendo em pequenos grupos, de 3ª feira a sábado, às 13h, 13h30 e 14h. São obrigatórios uso de máscaras, higienização das mãos, álcool em gel e distanciamento.
Crédito da imagem 1: Marlon da Costa Souza
Crédito das imagens 2, 3, 4 e 5: Oscar Liberal / Iphan













  • sábado, 26 de junho de 2021

    Uma cidade, vários estilos: guia ajuda a encontrar tesouros da arquitetura em Porto Alegre

    Criado por dois arquitetos, ArqPOA é um site que reúne fotos e curiosidades de cem obras da Capital

    Mesmo que pouca gente escute, a história de Porto Alegre é contada todos os dias pelo cimento, pelo aço, pelos tijolos. No mesmo quarteirão, é possível voltar ao século 18 com um sobrado luso-brasileiro, fotografar um prédio centenário de inspiração neoclássica e entrar em uma obra da arquitetura moderna.

    — Cada geração grava seu depoimento na arquitetura da cidade — grafa a arquiteta Luisa Durán Rocca, professora do Departamento de Arquitetura e do programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

    Entender o que informam as linhas, as janelas ou o detalhe do telhado de uma construção demanda algum trabalho, mas habilita a viver um caça-tesouros interessante. E, desde maio, há um mapa para ajudar nessa busca, acessível na tela do celular.

    riado pelos arquitetos e urbanistas Rodrigo Poltosi e Vlademir Roman, o Guia ArqPOA é um site que reúne dezenas de obras de arquitetura e urbanismo que se destacam em Porto Alegre. O usuário escolhe algum prédio no mapa da cidade e confere fotografias e curiosidades sobre ele, gratuitamente.

    O material já havia sido lançado em formato de livro em 2017, mas na versão digital possibilita a colaboração de novos autores.

    — Tem vindo contribuições de arquitetos e estudantes e sugestões de pessoas de outras áreas. Já estamos recebendo informações para aumentar o guia — conta Poltosi.

    Os arquitetos destacam que São Paulo, Rio de Janeiro, Montevidéu, Buenos Aires e até Pelotas e Caxias do Sul já tinham seus guias de arquitetura, e eles sentiam falta de um registro abrangente na capital gaúcha.

    — O objetivo do guia online é aumentar o relacionamento das pessoas com a cidade, fazer com que elas aprendam a olhar e passem a conhecer e valorizar seu patrimônio arquitetônico. A cidade é um livro de pedras. Se a gente não lê, não a reconhece como cultura e testemunho da história — diz Roman, parafraseando o filósofo Walter Benjamin.

    De uma lista inicial de 200 espaços, os arquitetos selecionaram cem. Priorizaram locais possíveis de visitar, para que o material fosse consumido por moradores e turistas, não só por arquitetos. O projeto foi desenvolvido a partir de um edital lançado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU-RS), através do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RS).

    O Guia

    Pode ser acessado gratuitamente neste link. Já há cem obras arquitetônicas, urbanísticas, paisagísticas, históricas e culturais de Porto Alegre cadastradas, mas a ideia é que a relação seja ampliada. Qualquer pessoa pode participar, submetendo resumos de edificações que ainda não constem no acervo ou em eventuais correções e sugestões. Essa interação se dá por meio de um botão no canto direito do site, “colabore”.

    Aprenda a "ler" a arquitetura de Porto Alegre

    Entenda quais são os estilos e as referências mais importantes da arquitetura de Porto Alegre e o que eles podem ensinar sobre a história da capital gaúcha

    Luso-brasileiro


















    Solar Lopo Gonçalves foi construído entre 1845 e 1855 e hoje abriga o Museu de Porto Alegre Joaquim FelizardoMateus Bruxel / Agencia RBS

    Também conhecidos como coloniais, os prédios de estilo luso-brasileiro são os mais antigos da cidade: remontam ao começo de Porto Alegre, nos séculos 18 e 19. Os portugueses trouxeram as correntes estilísticas da Europa, adaptando-as aos materiais que encontraram na cidade.

    Caracterizavam-se por paredes em taipa ou alvenaria com pintura de cal, janelas guilhotina, de arco abatido, e pelas casas alinhadas em fita, com poucas aberturas, muito simples.

    Havia diversos exemplares desse estilo na área central, mas muitos foram postos abaixo na virada do século 19 para o 20, destaca o presidente do departamento do Rio Grande do Sul do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-RS), Rafael Passos. Pela renovação, e talvez também pelo desconhecimento da sua importância, foram demolidos.

    O Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo, na Cidade Baixa, é um dos sobreviventes. Chamado de Solar Lopo Gonçalves, foi construído entre 1845 e 1855, com porão alto e acesso pela escadaria lateral. As janelas frontais têm quadro superior ornado com meias rosáceas. As paredes externas foram construídas em alvenaria e, as internas, em estuque (barro, madeira e folhas de palmeira).

    Eclético


















    Theatro São Pedro - Mateus Bruxel - Agência RBS

    Porto Alegre viveu uma transformação arquitetônica no começo do século 20, abusando de um estilo que resulta da fusão de vários: o eclético. Especialista em conservação e restauro do patrimônio cultural e professor da Uniritter, Lucas Volpatto destaca que arquitetos como o alemão Theo Wiederspahn trouxeram da Europa para Porto Alegre esse mix de estilos.

    Claro que os prédios podem ter linguagens predominantes, como o neoclássico, uma releitura da arquitetura grega, vista na simetria, nas colunas, no frontão — a Cúria Metropolitana, o Palácio Piratini e o Theatro São Pedro são alguns exemplos encontrados na Capital. Já o antigo prédio dos Correios e Telégrafos, hoje Memorial do Rio Grande do Sul, e o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) têm forte influência barroca, e a Catedral Metropolitana pende ao neorrenascentismo.

    Mais tarde, ainda viria a art déco. Volpatto lembra que ela chegou com o centenário da Revolução Farroupilha e sua mastodôntica exposição no parque da Redenção, em 1935. É caracterizada pelas linhas retas ou geométricas e pela simplicidade na ornamentação. A Paróquia São Geraldo, no 4º Distrito, e o Posto de Saúde Modelo, no bairro Santana, são exemplos de art déco.

    A professora da UFRGS Luísa Rocca também destaca a incidência da art nouveau, expressão francesa para “arte nova”. Esse usa referências a formas naturais, não só de flores e plantas, mas de linhas curvas. Como no Observatório Astronômico da UFRGS, de 1908.

    A Casa Godoy, na Avenida Independência, perto da Rua Barros Cassal, é outra obra em art nouveau relacionadas pelo Guia ArqPOA. Esse casarão de 1907 tem frontões curvos e vazados, vitrais, molduras das aberturas curvas e painéis com elementos fitomórficos, com formatos de vegetais tropicais na parte inferior e de carvalho no frontão, onde linhas curvas emolduram a figura de um corvo.

    Modernismo


















    Palácio da Justiça - Mateus Bruxel - Agência RBS

    É inevitável lembrar de Oscar Niemeyer ao pensar em modernismo no Brasil. Esse estilo, em que o aço e o concreto começam a ser utilizados de maneiras inovadoras, chegou pela década de 1950 a Porto Alegre, seguindo referências do que estava sendo feito no Rio de Janeiro. Demorou um pouco para ganhar o solo gaúcho porque o eclético bombava no Estado na primeira metade do século 20.

    — A sociedade gaúcha estava feliz com a arquitetura dos imigrantes. Resistiu a trocar profissionais maduros, que eles já sabiam que dava certo, por guris recém-formados que vêm do Rio — explica a professora Luisa Rocca, da UFRGS.

    O Palácio da Justiça, o Museu Iberê Camargo e o Centro Administrativo Fernando Ferrari são algumas das obras mais importantes do modernismo na cidade. O prédio que abriga as secretarias do Estado tem 22 pavimentos: as fachadas norte e sul apresentam grandes janelas em fita, enquanto as fachadas leste e oeste são grandes empenas curvas em concreto, fazendo uma referência à arquitetura de Niemeyer.

    E a cidade tem também um original dele, considerado o maior arquiteto do país. Localizado atrás da Federação Gaúcha de Futebol, o Memorial Luiz Carlos Prestes é uma edificação circular fechada com placas de vidro, que lembra uma nave flutuando. Uma rampa vermelha circunda parte do prédio até o seu acesso. A obra, a única de Niemeyer na Capital, foi inaugurada em 2017.

    Contemporâneo


















    Slice House, na esquina da Bastian com a Rua Baronesa do Gravataí, no bairro Menino DeusMateus Bruxel / Agencia RBS

    A arquitetura contemporânea, que brilha nos dias de hoje, busca uma continuidade do modernismo, segundo a professora a UFRGS Luisa Rocca, dentro de um leque infindável de propostas. Luisa explica que esse estilo está mais focado no processo do que na forma.

    — Uma coisa muito importante é a questão da sustentabilidade. Há obras contemporâneas comprometidas com os recursos naturais — acrescenta.
    Muitas vezes, as obras desse período têm formato irregular, janelas em grandes dimensões e, é claro, o apelo ao uso de materiais reutilizáveis. Na esquina da Bastian com a Rua Baronesa do Gravataí, no bairro Menino Deus, a pequena e residencial Slice House (“fatia de casa”, em inglês) foi uma das mapeadas pelo guia ArqPOA. Com uma geometria prismática complexa, a estrutura de concreto moldada in loco é utilizada como planos que se desdobram, não sendo possível distinguir elementos estruturais como colunas e vigas, que acabam se fundindo ao corpo da casa. Os acabamentos metálicos também chamam atenção.

    Fonte da Matéria e das Imagens: https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2021/06/uma-cidade-varios-estilos-guia-ajuda-a-encontrar-tesouros-da-arquitetura-em-porto-alegre-ckqbc97gl001w01802efpfrpo.html

    sábado, 5 de junho de 2021

    Arquitetura mais antiga do mundo conta uma nova história do surgimento da civilização

    Localizado no sudeste da Turquia, o Göbekli Tepe, de 11 mil anos, é considerado o templo mais antigo do mundo, superando em muito o Stonehenge, na Inglaterra, e as pirâmides egípcias. O antigo local, listado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco em julho de 2018, antecede a cerâmica, a escrita e a roda, levando arqueólogos como Klaus Schmidt a considerar se Göbekli Tepe pode ser, de fato, não apenas a primeira arquitetura do mundo, mas um catalisador crucial para o surgimento da civilização.

    Espalhado por oito hectares perto da cidade de Sanliurfa, Göbekli Tepe é uma colina artificial que abriga uma série de estruturas circulares enterradas, adornadas com esculturas de calcário, que se acredita terem sido ocupadas por milhares de anos antes caírem no abandono.

    A estrutura de 11 mil anos de idade foi encontrada pela primeira vez na era moderna por uma equipe de antropólogos da Universidade de Chicago e da Universidade de Istambul na década de 1960. No entanto, seu significado só foi verdadeiramente revelado pelo arqueólogo alemão Klaus Schmidt em 1994.

    O sítio contêm enormes esculturas de pedra feitas na pré-história sem o auxílio de ferramentas de metal, cerâmica ou técnicas agrícolas. Sem evidências de que pessoas residiram permanentemente no lugar, acredita-se que o Göbekli Tepe fora um local de culto sem precedentes, ou, como Schmidt descreve, a primeira "catedral" da humanidade.

    Anos de escavações revelaram lentamente colunas de calcário monolíticas em forma de T, dispostas em círculos, com colunas maiores, até cinco metros de altura, localizadas em seu centro. Uma vez que os anéis de pedra eram entalhados, colocados na vertical e finalizados, os construtores da pré-história os cobriam com terra, para então construir o próximo anel a partir da altura do anterior.

    Com o passar do tempo, esse ato repetitivo resultou em um local de adoração no topo de uma colina. As esculturas abstratas de figuras humanas e animais nos pilares de pedra são particularmente fascinantes, dado que foram produzidas seis mil anos antes da invenção da escrita. Ao passo que Schmidt está certo de que Göbekli Tepe fora uma estrutura religiosa, uma teoria definitiva de qual era sua função, a quem se dedicava, ou quem está ali enterrado, continua inexistente.

    O debate sobre Göbekli Tepe gira menos em torno de sua função e mais em torno de seu potencial de inverter nossa compreensão de como a civilização se desenvolveu. Especialistas há muito argumentam que o tempo, o planejamento e os recursos necessários para construir essas estruturas só seriam possíveis em uma sociedade rural já assentada. A descoberta de Göbekli Tepe leva Schmidt a teorizar o contrário - que o desejo de construir obras arquitetônicas tão intrincadas pode ter sido o catalisador para o desenvolvimento de sociedades complexas e sedentárias.

    Schmidt argumenta que Göbekli Tepe teria exigido centenas de mãos, o que exigiria moradia e alimento. Embora a descoberta de ossos de animais no local sugerisse que caça acumulativa ainda era uma prática comum na época, esse método por si só não poderia ter sustentado a força de trabalho necessária para construir um templo tão elaborado.

    Schmidt acredita que os construtores de Göbekli Tepe estavam à beira de uma grande mudança na forma como as pessoas viviam, com evidências de caça acumulativa combinada com agricultura básica, como ovelhas selvagens e grãos com potencial de cultivo.

    A descoberta de animais domesticados e grãos em uma aldeia pré-histórica próxima, supostamente 500 anos mais nova, sugere que a construção de Göbekli Tepe coincidiu com um movimento revolucionário crucial em que os humanos passaram de caçadores nômades às sociedades sedentárias agrárias - que acabariam se tornando a gênese dos assentamentos urbanos que conhecemos hoje.

    Fonte da Matéria e das fotos: https://www.archdaily.com.br/br/900962/arquitetura-mais-antiga-do-mundo-conta-uma-nova-historia-do-surgimento-da-civilizacao?ad_medium=gallery





    sexta-feira, 4 de junho de 2021

    O Legado de Jaime Lerner

    Em 2010, foi escolhido pela revista “Time” como um dos 25 pensadores mais inovadores do mundo, e pela revista Planetizen (EUA) como o segundo urbanista mais importante do mundo (depois de Jane Jacobs)

    O Brasil perde mais de um seus arquitetos e urbanistas que conquistaram reconhecimento mundial por meio de sua prática profissional e de gestor público inovadora e ousada. É com consternação que o CAU Brasil noticia que morreu hoje o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, autor de grande projetos urbanos e de edificações, que foi três vezes prefeito de Curitiba, duas vezes governador do Paraná e presidente da União Internacional dos Arquitetos (UIA). Em 2010, foi escolhido pela revista “Time” como um dos 25 pensadores mais inovadores do mundo, e pela revista Planetizen (EUA) como o segundo urbanista mais importante do mundo (depois de Jane Jacobs). Sua mais recente obra de destaque foi Parque Urbano da Orla do Guaíba, em Porto Alegre, inaugurada em 2018.

    Em nota de pesar, a presidente do CAU Brasil, Nadia Somekh, ressaltou que o arquiteto “era querido em todo mundo, não apenas entre os colegas de ofício, em reconhecimento pela transformação de Curitiba em exemplo de cidade planejada para pessoas, integrando urbanismo com políticas culturais e econômicas. O legado de Jaime Lerner vai além, por seus trabalhos em outras cidades do país e do exterior, e como pensador de questões urbanas com grande poder de comunicação e ressonância”.

    Nascido em Curitiba (1937), formou-se na mesma cidade, pela Universidade Federal do Paraná, em 1964. Destacou-se rapidamente em concursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil e no mundo. Em 1967, ele venceu o Concurso Nacional de Projetos para o Edifício-Sede da Polícia Federal, em Brasília. Ficou em segundo lugar no Concurso Internacional Eurokursaal (Espanha) e no “International City Design Competition”, da University of Wisconsin (EUA), além de vários prêmios do Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB, seções estadual e nacional.

    Sua imagem, porém, é mais conhecida pelo seu trabalho como prefeito de Curitiba. No seu primeiro mandato, em 1971, Jaime Lerner iniciou as transformações da cidade e implantou o Sistema Integrado de Transporte Coletivo, reconhecido internacionalmente pela sua eficiência, qualidade e baixo custo. Tinha apenas 33 anos de idade. Na época, Curitiba passou a pautar três transformações básicas: a física (reestruturação de vias, zoneamento e uso do solo, e sistema de transporte coletivo), a cultural (o curitibano assume sua identidade com a cidade, a partir do calçadão de pedestres da Rua das Flores, dos parques, do Teatro do Paiol e da Fundação Cultural de Curitiba) e a econômica (puxada pela implantação da Cidade Industrial de Curitiba). Foi reeleito mais duas vezes, em 1979 e 1989.

    GOVERNADOR DO PARANÁ E PROFESSOR

    Depois, assumiu dois mandatos consecutivos como governador do Paraná (1995-2002). Entre diversas iniciativas, criou o primeiro fundo brasileiro, através do Programa “Paraná Urbano” destinado exclusivamente para a melhoria da qualidade de vida nos municípios paranaenses: construção de praças, creches, centros de saúde, iluminação pública, pavimentação de ruas, transporte escolar, etc. Com as “Vilas Rurais”, o governo e as prefeituras implantaram 412 comunidades atendendo a 16.000 em casas de alvenaria de 44,5 m2, água e energia elétrica. Somando-se os programas de moradia urbana, totalizaram-se mais de 57.000 unidades habitacionais em 350 cidades.

    Desenvolveu planos urbanísticos para várias cidades do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, Aracaju, Natal, Goiânia, Campo Grande e Niterói; prestou assessoria internacional para cidades como Caracas (Venezuela), San Juan (Porto Rico), Shangai (China), Havana (Cuba) e Seul (Coréia do Sul), e foi consultor em assuntos urbanos para as Nações Unidas. Em 2007 recebeu da XI Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires o prêmio conjunto pela urbanização do bairro Pedra Branca; e em 2009 o Prêmio Brasil Olímpico, agraciado pelo Comitê de Candidatura Rio 16, pela participação no desenvolvimento do Projeto BRT e por serviços de consultoria à cidade do Rio de Janeiro relativos a sua candidatura a sede olímpica.

    No campo da educação, foi professor da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná, e professor convidado e conferencista nas universidades americanas de Berkeley (Califórnia), Cincinnati, Columbia (NY), e na universidade japonesa de Osaka, além de conduzir seminários em diversos países como Colômbia, Porto Rico, Espanha, Reino Unido, Japão, EUA e China.

    SEMPRE PRODUTIVO

    “Estou sempre com um brinquedo novo”, disse o arquiteto na II Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo, promovida pelo CAU Brasil em 2017. “Procuro fazer de cada dia uma alegria. Não faço nada que não seja por prazer. Tenho encontrado tantos colegas que pensam a mesma coisa, e isso me dá uma alegria que não se paga”. Na ocasião, deu lições poderosas sobre otimismo, inovação e a construção de cidades mais justas e sustentáveis. “Temos que ter a coragem de fazer coisas simples e imperfeitas. A Arquitetura as vezes é um compromisso com a simplicidade e imperfeição. Temos que ter orgulho da nossa constelação de arquitetos-estrelas, mas precisamos mais de uma constelação de arquitetos preocupados com as cidades. Menos ego-arquitetos, mais eco-arquitetos”, afirmou.

    Para ele, rapidez é uma atribuição muito importante para os arquitetos e urbanistas. “Por isso começamos com a ideia de acupuntura urbana, transformações rápidas com uma atuação pontual que pode criar uma sinergia para melhorar a cidade. Às vezes nós demoramos porque queremos ter todas as respostas, não podemos ser tão prepotentes assim”, explicou. “Precisamos entender que planejamento é uma trajetória onde nós podemos começar mas temos que deixar que a população nos corrija quando estivermos no caminho errado. Começar, fazer rápido. Queremos discutir demais, perdemos a oportunidade da mudança”. Para ele, a solução para as cidades está em apenas três medidas: (i) usar menos carros; (ii) morar perto do trabalho; e (iii) separar e reciclar o lixo.

    “O brasileiro fica encantado com as cidades europeias, mas não reproduz as soluções aqui. Quando chega de volta ao Brasil, volta a querer separar, dar prioridade ao automóvel, volta a se entregar a soluções que não vão fundo no problema”, disse em entrevista à BBC Brasil. Para quem quer conhecer mais da obra do arquiteto e urbanista, uma boa dica é começar pelo documentário “Jaime Lerner – Uma história de Sonhos”, lançado em 2016.

    Fonte: https://www.caubr.gov.br/falece-o-arquiteto-e-urbanista-jaime-lerner-ex-prefeito-de-curitiba/










































    Fonte das imagens: Site CAU BR


















    Sistema de transporte de BRT foi criado por Jaime Lerner. — Foto: Cesar Brustolin/SMCS - Fonte: Site G1

    segunda-feira, 24 de maio de 2021

    O Adeus ao Último Gigante da Arquitetura Brasileira

    Á frente de obras como o Museu da Língua Portuguesa e a reforma da Pinacoteca, o urbanista é um dos grandes nomes da arquitetura mundial
    Famoso por suas obras que já garantiram prêmios no mundo todo, bem como por sua filosofia sobre a arquitetura como ferramenta pública para a cidade, o arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha faleceu no dia 23 de maio, aos 92 anos de idade. Ele lidava com um câncer no pulmão e estava internado em São Paulo.
    Condecorado por seu trabalho, Paulo Mendes da Rocha já recebeu prêmios como Leão de Ouro na Bienal de Veneza, Prêmio Imperial de Artes do Japão, Medalha de Ouro do RIBA e o Pritzker em 2006. Se você mora ou conhece São Paulo, com certeza já esbarrou em algum dos projetos do famoso arquiteto – apesar de já ter assinado projetos em outros estados e até foram do país.

    Quem foi Paulo Mendes da Rocha?

    Antes de apresentar suas obras mais conhecidas, é importante entender quem foi o urbanista e sua importância para a arquitetura no Brasil.
    Apesar de seu vasto trabalho centralizado em São Paulo, Paulo Mendes da Rocha nasceu em Vitória, em 25 de outubro de 1928. Filho de pai engenheiro, isso o inspirou e deu uma visão mais abrangente sobre o papel da arquitetura e a sua relação com a geografia.
    Em 1954, Mendes da Rocha se formou em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie. A partir de 1960, iniciou sua carreira acadêmica na FAU, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
    Em sua trajetória, o arquiteto teve passagens como assistente de João Batista Vilanova Artigas e foi professor na universidade em que assumiu a cadeira de presidente do Instituto Brasileiro de Arquitetos.
    A seguir, conheça algumas das mais importantes obras da carreira de Paulo Mendes da Rocha.

    Sesc 24 de Maio

    Com uma arquitetura bastante moderna que se destaca no centro urbano de São Paulo, entre as ruas 24 de Maio com a Dom José de Barros, o Sesc foi um projeto de Mendes da Rocha concluído em 2017.
    O espaço é contemplado por um revestimento de cimento aparente que ocupa quase todo o prédio. Ah! E uma dica esperta para quem pretende conhecer o espaço é visitar o espelho d’água, que fica no andar inferior ao da piscina.
    Com 15 cm de água, as pessoas podem se debruçar quando estiverem molhadas, sem que caia água na rua ou em quem transita pelo local.

    Pinacoteca de São Paulo

    Apesar de ter sido projetado no século XIX pelo arquiteto Ramos de Azevedo, o prédio passou por uma ampla reforma nos anos 90 feita por Mendes da Rocha.
    A Pinacoteca, da forma como conhecemos hoje, tem uma influência grandiosa do estilo do arquiteto. Uma das manobras adotadas para o projeto foi a rotação do eixo principal de visitação por meio de um cruzamento sutil das pontes com os espaços vazios – como os pátios internos – o que contribuiu para uma relação mais profunda da edificação com a cidade.
    A reforma garantiu ao arquiteto o Prêmio Mies van der Rohe de Arquitetura Latino-Americana, em 2000.

    Museu dos Coches

    Apesar da forte influência do brasileiro para a arquitetura paulistana, o seu trabalho não ficou restrito e o Museu dos Coches é um belo exemplo disso.
    Localizado em Lisboa, Portugal, o museu conta com um pavilhão principal em que acontecem as exposições e um anexo com as partes administrativas e de lazer, como: recepção e administração, restaurante e auditório.
    Novamente, vale exaltar o potencial minimalista das obras de Paulo Mendes da Rocha, que contemplam uma atmosfera em concreto simplista, mas com soluções funcionais de um bom projeto de urbanismo de caráter atemporal.

    Museu da Língua Portuguesa

    O Museu da Língua Portuguesa teve as mãos e mente de Paulo Mendes da Rocha em sua criação. Sua influência arquitetônica tão influente foi inclusive preservada para a restituição do espaço após o incêndio que sofreu em 2015.
    O local contava com amplo espaço para exposições e o investimento em tecnologia foi fundamental. Para o novo projeto, alguns conceitos discutidos na época em que Mendes assumiu voltam à tona e pretendem fazer bonito na reestruturação do espaço.
    A previsão para reabertura do Museu para visitação é no dia 5 de julho deste ano.

    Praça do Patriarca

    O projeto Praça do Patriarca é uma verdadeira intervenção urbana localizado próximo ao Viaduto do Chá em São Paulo. O estilo futurista da construção contrasta com os prédios antigos do centro de São Paulo.
    A passagem de pessoas acontece de forma fluida e livre. O projeto propõe uma verdadeira mudança no tráfego viário, bem como das paradas dos ônibus na região.

    Casa Gerassi

    Apesar de sua forte influência em arquitetura e urbanismo, Mendes da Rocha também se aventurou em projetos residenciais. A Casa Gerassi é um belíssimo exemplo disso.
    A casa foi construída para um casal com duas filhas e utilizou uma estrutura pré-fabricada de concreto aramado, o que garantiu agilidade, modernidade e custo moderado ao resultado final do projeto.
    No interior, o arquiteto investiu em móveis sofisticados, como uma poltrona de couro de alto padrão. Além disso, o espaço ficou bastante aberto, espaçoso e arejado para que os moradores tirassem máximo proveito da entrada de luz natural.

    MuBE

    O Museu Brasileiro da Escultura, localizado no Jardim Europa, em São Paulo, também foi uma obra contemplada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha.
    O espaço surgiu por meio de uma iniciativa da associação de moradores do bairro que queria impedir a construção de um shopping no local – que consiste em uma construção integrada a um jardim projeto por Burle Marx.
    A interferência de Mendes da Rocha é perceptível analisando a atmosfera contemporânea e o revestimento em cimento – uma verdadeira marca do arquiteto.











































    Sesc 24 de Maio


















    Pinacoteca de São Paulo























    Museu dos Coches




















    Museu da Língua Portuguesa



















    Praça do Patriarca

















    Casa Gerassi




















    MuBE

    sexta-feira, 21 de maio de 2021

    Rodoviária de Londrina, de Artigas, é tombada como Patrimônio Cultural do Brasil

    Processo considerou principalmente o valor artístico da construção que, por sua vez, trata-se da primeira do arquiteto a ser tombada pelo Iphan

    A antiga Rodoviária de Londrina (PR), de autoria do arquiteto João Batista Vilanova Artigas, agora é Patrimônio Cultural do Brasil, mediante aprovação anunciada na última quarta-feira, 19 de maio, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – inédita obra do renomado profissional e expoente arquitetônico a ser tombada pelo órgão.

    O processo de tombamento começou em 2009, a pedido da Superintendência do Iphan no Paraná. No ano seguinte, a prefeitura da cidade contratou um projeto de restauro, que teve sua primeira fase finalizada em 2019. O edifício, que abriga o Museu de Arte de Londrina há quase 30 anos, assim como sua área envoltória passam, portanto, a enquadrar-se como bens protegido por leis nacionais, a fim de que toda e qualquer intervenção seja previamente notificada e aprovada pelo órgão de tombamento nacional.

    De acordo com o arquiteto e professor Eduardo Carlos Comas, relator do processo, “a razão principal para o tombamento é o valor artístico da obra. É um exemplar representativo do Artigas em uma fase em que ele está dialogando com a arquitetura carioca, especialmente com a influência de Oscar Niemeyer”. Depois dessa fase, Artigas viria a ser conhecido por sua Arquitetura Brutalista, influenciando grandes nomes como Paulo Mendes da Rocha.

    Segundo o professor Comas, Londrina trouxa a Artigas uma grande oportunidade profissional. Junto de Carlos Cascaldi, sócio de Artigas, o arquiteto edificou diversas obras em uma ‘cidade nova’, que crescia impulsionada pela prosperidade das fazendas de café na região norte do Paraná. “Foi uma alavancagem na carreira dele”, relata Eduardo. A rodoviária, com sua fachada de vidro, funcionava como vitrine de Londrina aos recém-chegados desde 1948, ano de sua inauguração.

    O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU/PR), Milton Zanelatto Gonçalves, salienta que na ocasião da construção da Rodoviária, a expansão econômica de Londrina e do Norte do Paraná atraía migrantes de todo o Brasil, dispostos a desbravar uma terra que lhes prometia riquezas. “Desta maneira, o local passou a representar o momento da chegada, uma espécie de portal do Norte do Paraná. Os desbravadores que chegavam eram recebidos por um belo exemplar da Arquitetura Moderna brasileira”, frisa Milton.

    Representante do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) no Conselho Consultivo do Iphan, o arquiteto Nivaldo Andrade destaca que o tombamento da Antiga Rodoviária ajuda a inserir Artigas “no lugar merecido” em se tratando de reconhecimento pelo conjunto de sua obra como Patrimônio Cultural Brasileiro, junto dos grandes Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi, Lucio Costa, Paulo Mendes da Rocha, e outros. “Ele é o grande representante da Escola Paulista de Arquitetura. Que outras obras de Artigas venham a ser tombadas, como a própria Faculdade de Arquitetura e Urbanismo USP”, afirma Nivaldo.

    *Com informações do CAU/BR

    Fonte: https://revistaprojeto.com.br/noticias/rodoviaria-de-londrina-de-artigas-e-tombada-como-patrimonio-cultural-do-brasil/




















    Fonte das Imagens: do Site Projeto Design