Reproduzo abaixo matéria da estudante de Jornalismo Natália Lau Coimbra para o Jornal do Sudeste, sobre o antigo Cinema de Encruzilhada do Sul - Cine Glória. Prédio que marcou época no município e hoje encontra-se desativado.
Após o texto, faço uma breve descrição do levantamento técnico que fiz do prédio, algumas imagens e dois vídeos. A qualidade dos vídeo não ficaram boas, pois foram feitas com um aparelho celular, mas pode-se ter noção da grandiosidade e da importância histórica do prédio para a sociedade e a memória coletiva do povo encruzilhadense.
Cine
Teatro Glória em Encruzilhada do Sul: O espaço cultural que se dissipou com o
tempo
Reportagem: Natália Lau Coimbra
Antes da inauguração do
novo espaço, o pavilhão onde hoje funciona a Casa Barcelos foi o primeiro lugar
onde se instalou o cinema em Encruzilhada do Sul, o qual foi chamado de Cine
Teatro Glória. Tendo em vista as limitações tecnológicas da época, esta forma
de entretenimento foi um grande avanço dentro de uma comunidade tão pequena
como a nossa. Nos dias atuais temos a comodidade de assistir aos lançamentos no
cinema e continuar tendo acesso à obra, mesmo depois do fim da sessão. Este é
um dos grandes diferenciais que fazia com que, no século XX, o fato de assistir
a um filme fosse algo mágico e único. O espaço de lazer das famílias encruzilhadenses
apresentava de três a quatro filmes, semanalmente. As sessões eram divulgadas
através de cartazes no centro da cidade, um cartaz maior era exposto em frente
ao cinema e, também, através do famoso megafone do ilustríssimo Nabuco.
Através do Acervo Humberto Fossa, Elaine Barcelos contou ao Jornal do Sudeste um pouco sobre este
marco histórico na nossa sociedade.
Aos
finais de semana era apresentado o mesmo filme, geralmente com uma história
mais empolgante. “Eram apreciadíssimos os filmes de “mocinho”, do Tarzan, as
comédias brasileiras com Oscarito e Grande Otelo, filmes com Elvis Presley, os
coloridíssimos musicais mexicanos e alguns filmes de terror como a Tarântula e
a Múmia, que fizeram o maior sucesso, arrancando gritos de pavor do público inteiro,”
relatou Elaine. No domingo à tarde, as crianças tinham um momento especial para
elas. Assistiam à “matinê”, com filmes religiosos ou de aventuras. Naquela
época, os desenhos animados eram poucos, curtos e raros. “A freqüência era
grande e como a fita vinha em grandes rolos, às vezes, arrebentava e demorava
alguns minutos para o celulóide ser colado. Neste intervalo, crianças e adultos
saiam para comprar os famosos puxa-puxas e cartuchos de amendoim que eram
vendidos por vários guris na frente do cinema”.
Depois de passar por
outros proprietários, o cinema da nossa cidade foi comprado pela família Fossa
e passou a ser administrado em épocas alternadas por João Fossa, Humberto Fossa
e Giovanni Fossa. Artistas diversos costumavam a fazer shows de ilusionismo,
canto, dança e teatro nos palcos do cinema. Essas eram algumas das
apresentações que lotavam o espaço e faziam com que muitas pessoas assistissem
ao espetáculo em pé. Como a freqüência nas projeções dos filmes e nos
espetáculos de palco estava sempre em alta, João Fossa planejou a construção de
uma nova infraestrutura que fosse maior e que possuísse condições acústicas
adequadas. “O primeiro passo foi
adquirir material para a construção: pedras, madeira, ferro, cal, areia e
tijolos, o que levou alguns anos. O projeto foi assinado por Kurt Lux, renomado
engenheiro de Santa Cruz do Sul. O trabalho de construção também foi lento,
pois João Fossa, perfeccionista ao extremo, fazia questão que tudo passasse
pelas suas mãos. Com poucos ajudantes conseguiu levantar o grande prédio, após
alguns anos,” relembra Elaine, durante o texto que escreveu à nossa reportagem.
O novo prédio foi
inaugurado em dezembro de 1966. A festa de inauguração aconteceu com a
participação do grupo teatral liderado por Ivo Pedroso, mestre em revistas
musicais. O espetáculo abordava assuntos e pessoas da terra. Na ocasião, João
Fossa recebeu homenagem por sua obra e pelo seu trabalho. No mesmo período, o Brasil é presenteado com o
surgimento da televisão. Embora longe da perfeição da qualidade de projeção que
temos hoje em dia, as TV’s invadiram as casas das famílias brasileiras com uma
programação variada, fazendo com que o esvaziamento dos cinemas fosse
inevitável. Este acontecimento não afetou apenas o cinema de Encruzilhada, mas
também os cinemas do mundo inteiro. Na
capital, cinemas famosos como Cacique, Capitólio, Marabá, Ritz, Avenida, Vogue,
Rex, Guarani, Imperial, entre outros, também foram atingidos e ficaram no
passado por esta falta de público. Seus prédios que abrigavam palcos de grandes
espetáculos, hoje, viraram espaço de bancos e igrejas. Alguns foram demolidos e
poucos – como no caso do Cine Capitólio; foram restaurados e continuaram a
funcionar como espaços culturais. em 1969 o
Cine Teatro Glória encerrou suas atividades. Por muitos anos, o prédio do
cinema serviu de depósito para a Casa Rio, foi alugado a uma Igreja Evangélica
e por pouco tempo para a Prefeitura, quando foi usado para eventos culturais.
Pelos altos custos operacionais, dificilmente o prédio voltará a ser usado para
o fim para o qual foi construído: cinema,” revela Elaine. “Por falta de público, do encarecimento dos custos de
funcionamento e o baixo retorno financeiro,
Hoje em dia, nas
grandes cidades, o cinema funciona junto aos shoppings, com várias sessões por
semana, o que mantém as despesas do investimento, fazendo com que o acesso
fique mais barato ao público.
“Os mais idosos, que tiveram o
privilégio de freqüentar o Cine Teatro Glória, de namorar assistindo os velhos
filmes, terão gratas recordações daquela época, que certamente não voltará mais”
finaliza ela.
Levantamento Técnico do Prédio – Eder Santos
Carvalho
O
projeto distribui-se ao longo de um pavilhão de 41,80 x 16,30 metros. O acesso
principal é através de um corredor de circulação que conduz da Av. Rio Branco
até a porta principal do prédio. A partir desta, acessa-se o hall com duas
bilheterias de cada lado, e após o hall, chega-se no foyer, onde, em linha reta,
chega-se no Auditório e em uma das laterais do Foyer chega-se na escada que
conduz ao mezanino.
O
Auditório, onde o público reunia-se para assistir as sessões de cinema, possui
dois desníveis de piso, um que parte do foyer até o centro do auditório e outro
que parte do palco em direção ao referido centro do auditório, caracterizando
assim o desnível necessário para visualizar o palco.
O
palco é elevado em relação ao auditório cerca de 80 cm, com duas escadas
laterais de acesso. Em frente ao palco existe outro desnível, o qual conduzia
anteriormente os artistas para um camarim, situados abaixo do palco. Hoje esse
acesso está bloqueado, sendo extinto o camarim.
No
mezanino, acessado através de uma escada curva situada em um dos cantos do
foyer, localiza-se a sala de projeções, onde eram projetados os filmes, além de
sanitário e uma copa, bem como um espaço “vip” para usar como camarote.
Na
fachada principal, o prédio possui uma espécie de “brises de concreto” no
mezanino, visando proteger as aberturas deste do sol intenso do Oeste. Nas
laterais do auditório, a iluminação é feita através de abertura circulares de
tijolos de vidro.
A
estrutura é de alvenaria de pedra, tijolo, cal e areia, sendo algumas partes
estruturadas em concreto armado, como a laje do mezanino e a escada que conduz
ao mesmo.
Esse
levantamento constante na planta baixa foi feito por ocasião do projeto do
Plano de Prevenção de Incêndio para o prédio, solicitado pelo Corpo de
Bombeiros. O Mezanino não foi incluído no Plano de Prevenção, por esse motivo
não consta os dados dessa parte do prédio, apenas as fotos tiradas no local.
Vista do acesso pela Av. Rio Branco
Vista da fachada principal com os brises no mezanino
Vista do hall de entrada
Vista do acesso ao foyer
Vista do auditório para o palco

Vista do acesso ao camarim, hoje o acesso está isolado
Vista da escada que conduz ao mezanino
Vista do auditório para o mezanino
Vista do da parte externa da sala de projeções no mezanino
Vista do mezanino em direção ao palco
Detalhe dos brises de concreto
Vídeo mostrando o interior do antigo cinema
Vídeo mostrando o acesso ao mezanino
Oi mt bom o levantamento sobre o cinema no município de Encruzilhada do Sul.... o projecionista dos filmes e amigo dos proprietários era o Sr. Fernando Romagnoli. Lembro dele quando ainda era guri e ia assistir os matines no cinema da cidade, magro alto, olhos claros, elegante, de óculos, uma pessoa muito educado e sério.
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