Em seus breves mas intensos 47 anos de vida, o pintor Aldo Locatelli (1915 – 1962) colaborou, como poucos, na criação de uma visão épica da formação do Rio Grande do Sul e da sociedade gaúcha. Referência nas artes por obras que passam por temas religiosos, históricos e lendários, o italiano tem seu centenário de nascimento, a ser completado em 18 de agosto, lembrado em uma série de homenagens (veja lista abaixo).
Natural de Bergamo, Locatelli chegou ao Brasil em 1948, assim como os também artistas Emilio Sessa e Adolfo Gardoni, para criar as imagens da Catedral São Francisco de Paula, em Pelotas, a convite de dom Antônio Zattera. Decidiu ficar após a conclusão do trabalho. Trouxe a esposa e aqui teve seus filhos. Assim, incorporou-se à vida artística local, ajudando a criar a Escola de Belas Artes de Pelotas, onde introduziu o estudo do nu artístico. E passou a receber inúmeras encomendas na Capital, para onde se mudou, tendo deixado também pinturas em igrejas de Caxias do Sul e Santa Maria.
Entre suas principais obras, estão os painéis localizados no Palácio Piratini – entre eles, um de grandes proporções: A Formação Histórico-Etnográfica do Povo Rio-Grandense (1955). Consagrou-se, sobretudo, como muralista, destacando-se com um estilo clássico, forjado com os ensinamentos dos renascentistas. Paulo Gomes, professor do Instituto de Artes da UFRGS, onde Locatelli lecionou, lembra que, mesmo em um curto período, seu estilo passou por diferentes momentos:
– Sua obra tem variações. Ele começa com uma pintura mais acadêmica, no sentido de obedecer às regras, mas morre muito jovem. Se tivesse continuado, com certeza teria deixado obras bem diferentes. O painel que está no Instituto de Artes é mais moderno do que os que estão no Palácio Piratini, por exemplo.
Gomes lembra que a chegada do artista ao Rio Grande do Sul remonta a um momento de redescoberta da figura do gaúcho. Em 1948, foi fundado o CTG 35. No ano seguinte, Erico Verissimo começou a publicar a trilogia O Tempo e o Vento. Em 1954, Antonio Caringi criou a figura do Laçador. O professor Círio Simon, que foi aluno de Locatelli, contextualiza:
– Ele chegou ao Rio Grande do Sul em um momento oportuno, depois do Estado Novo, que proibiu toda simbologia (regional) e queimou a bandeira do Estado, proibindo seu hino. Contra essa devastação simbólica, estava em plena fermentação e vigor a retomada da identidade sulrio-grandense em diversos movimentos, com intelectuais de primeira linha.
Simon ainda se recorda das lições aprendidas diretamente com o mestre:
– Destaco, em Aldo Locatelli, sua capacidade de escutar e de se colocar ao nível do seu estudante. Ciente do que foi o seu próprio aprendizado penoso e longo, sabia respeitar as escolhas individuais. De outra parte, testava a inteligência, a vontade e a sensibilidade daqueles que desejavam fazer o seu caminho.
GALERIA DE IMAGENS
Entre as homenagens ao centenário de Aldo Locatelli, estão uma visita aos painéis do Palácio Piratini neste sábado, 18/7 (com inscrições esgotadas), e um passeio guiado por outros espaços da Capital no dia 8 de agosto.
Por Fábio Prikladnick
Mais informações, imagens e vídeos no link da matéria: http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2015/07/pintor-aldo-locatelli-tem-seu-centenario-de-nascimento-lembrado-em-serie-de-homenagens-4804065.html
Detalhe de autorretrato de Aldo Locatelli (1945) Foto: Reprodução / Reprodução
Formação Histórico - Etnográfica do Povo Rio - Grandense (1955), no Salão Alberto Pasqualini, Palácio Piratini - Porto Alegre
A Conquista do Espaço (1953), no Antigo Terminal do Aeroporto Salgado Filho - Porto Alegre
Pintura no Teto da Catedral São Francisco de Paul (1949), Pelotas - RS
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