terça-feira, 5 de maio de 2009

Contraponto: Uma Crítica à Vila Savoye

Contraponto – Livro A Arquitetura da Felicidade – Alain de Botton
Vila Savoye – 1929 – 31


Por trás de um muro, no cume de uma colina em Poissy, um caminho de cascalho curva –se por entre uma mata densa antes de sair numa clareira, no meio da qual ergue-se um caixa retangular, branca e esguia, com janelas envidraçadas nas laterais, sustentada acima do chão por uma série de colunas incrivelmente delgadas.Uma estrutura no alto da Vila Savoye parece uma caixa d’água ou cilindro de gás, mas a um olhar mais atento ela revela ser um terraço com uma parede de proteção semicircular.A casa parece uma peça de um mecanismo preciso, primorosamente trabalhado.A casa parece uma visitante temporária, esperando receber um sinal para acionar seus motores e iniciar a viagem de volta para um galáxia distante.
A influência da ciência e da aeronáutica continua no interior.A porta da frente, de aço abre para um hall de entrada limpo e claro que mais parece uma sala de cirurgia.Dominando a sala, uma rampa larga leva aos aposentos principais.A cozinha está equipada com todas as conveniências da era moderna.O clima é técnico e austero.Não há nada irrelevante ou decorativo aqui, nenhuma rosácea ou cornija, nenhum floreio ou ornamento.A linguagem visual inspira-se nas fábricas.
“O que o homem moderno precisa é de uma cela de monge, bem iluminada e aquecida, com um canto de onde possa olhar as estrelas”, escreveu Le Corbusier.Quando a obra foi concluída, a família Savoye tinha motivos para se sentir confiante de que na casa projetada para eles, os requisitos exigidos estariam satisfeitos.
Tão forte era o interesse estético dos modernistas, que ele várias vezes prevalecia sobre considerações a respeito da eficiência.A Vila Savoye podia parecer uma máquina com intenções práticas, mas era na realidade uma extravagância com motivações artísticas.
A cobertura da Vila Savoye era desastrosamente desonesta.Segundo Le Corbusier, uma cobertura plana seria preferível a uma pontuda, por ser mais barato e mais fácil de manter.Mas uma semana após a família Savoye se mudar, começaram os problemas.A cobertura em cima do quarto do filho apresentou um vazamento, deixando passar tanta água que o menino contraiu uma pneumonia.Seis anos após o término da obra, Madame Savoye resumiu os sentimentos sobre o desempenho da cobertura plana numa carta: ”Está chovendo no Hall, na rampa, e a parede da garagem está encharcada, continua chovendo no meu banheiro, pois a água passa através da clarabóia”.Le Corbusier prometeu que o problema seria sanado imediatamente, e aproveitou para lembrar os comentários favoráveis da crítica especializada em arquitetura: ”Os senhores deveriam colocar um livro sobre a mesa do hall e pedir a todos os visitantes que registrem seus nomes e endereços. Mas não convenceu os insatisfeitos moradores:” Após inúmeros pedidos de minha parte, o senhor finalmente reconheceu que esta casa é inabitável.A sua responsabilidade está em jogo, torne a habitável imediatamente ou vou recorre à justiça.Só com o começo da Segunda Guerra Mundial e a fuga da família Savoye livraram Le Corbusier de ter de responder no tribunal pelo projeto de sua máquina de morar, quase inabitável, porém belíssima.

Cobertura da Vila Savoye – 1931
Belo, mas não à prova de chuva

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