segunda-feira, 11 de julho de 2011

Revitalização da Praça da Alfândega - Porto Alegre - RS

Localizada no centro de Porto Alegre, a Praça da Alfândega passará por uma máquina do tempo nos próximos meses. O trabalho de revitalização do local, ponto de efervescência da capital gaúcha no século XX, tem a missão de recuperar o mesmo desenho dos anos 1930. Nesse período, a cidade passava por transformações, deixando para trás as características portuguesas para assumir um visual mais eclético, influencia trazida por arquitetos e mestres de obras italianos e alemães fugidos de uma Europa em crise, mas impregnados por essa influência mais “moderna” que correspondia ao estilo arquitetônico dominante em seus países.
Na época em que a Praça foi inaugurada, em 1856, ela fazia parte de todo um conjunto que compunha a porta de entrada da cidade. O local era a principal via de acesso para mercadorias e viajantes que chegavam pelo rio. A praça herdou o nome do antigo prédio da alfândega, que assim como o antigo porto, já não existem mais.
Segundo a coordenadora do projeto Monumenta em Porto Alegre, Briane Bicca, a revitalização busca resgatar as características originais da praça. A primeira fase da obra, iniciada em 2004, fechou a praça com tapumes em março de 2010, e deve ser entregue antes do início da Feira do Livro, em outubro deste ano, e contempla a parte central. A segunda fase, que prevê a recuperação do entorno, deve ser concluída até o primeiro trimestre de 2012.
Segundo Briane, o conjunto arquitetônico urbanístico, idealizado originalmente pelo arquiteto alemão Theo Wiedersphan, visava compor com o Museu de Arte Moderna do Rio Grande do Sul (Margs) e o Memorial do Rio Grande do Sul (antigo prédio dos Correios), essa “porta de entrada” da cidade, “a grande Praça do Comércio da época”, como define a coordenadora.
Nos anos 70, a praça passou pela sua principal transformação. Foi unida a mais duas outras praças, e as ruas que a contornavam transformadas em calçadões, soterrando os trilhos dos bondes. “Os canteiros, nos anos 70, aumentaram de tamanho e ocupavam os passeios dos pedestres. Foi retornado à dimensão original para que os passeios pudessem voltar a ser bem generosos”, diz Briane sobre o projeto.
A praça da Alfândega corresponde ao período em que e influência francesa se fazia presente em capitais como Manaus, Rio de Janeiro, Belém, Curitiba e São Paulo com os Passeios Públicos. “Os franceses disseminaram os passeios públicos, que é onde as pessoas se encontravam, encontravam os amigos, namoros… É um tipo de jardim que tem os passeios largos para uma locomoção confortável do público, sempre em regiões centrais, isso é uma tradição francesa”, explica Briane.
Na região, surgiram hotéis de luxo, bancos e os principais cinemas. Junto com a rua da Praia, formava o “shopping” dos porto-alegrenses, onde a cidade se encontrava. Na fotografia atual, vários prédios antigos desapareceram, trocados por arranha-céus e por um shopping-center. Desde 1955, a praça recebe a tradicional Feira do Livro.
Sobre o estilo da praça, Briane diz que a Alfândega é uma praça clássica e eclética, bem ao estilo francês, com grandes passeios com eixos transversais, mas com jardins de influencia inglesa. “A vegetação já não corresponde a uma praça clássica, a distribuição é bem informal”.
Do antigo prédio da Alfândega, foram encontradas as fundações, além das antigas escadarias do porto, antes da construção do Cais. Esse levantamento foi feito com a ajuda de um georadar, uma espécie de escâner que identificava o que estava sob o solo. “Foram detectando onde era o porto, a morada do cais, a escadaria do cais, o antigo trapiche, onde eram as fundações da antiga alfândega, que deu nome à praça”.
Briane diz que foram encontradas ainda a mureta da antiga morada do cais, de 1850, o passeio que ia da Alfândega até a murada do cais e o espelho d’ água em meio ao qual ficava o antigo chafariz, em frente ao Memorial, porque antes, o primeiro ficava em frente ao Margs.
A coordenadora adianta que uma das escadarias do antigo porto será exposta com uma placa explicativa e fotografias antigas. “Nesse pedaço, vamos deixar uns três degraus, porque cavando mais do que 50 centímetros já verte água”. Os bancos originais, no estilo “bolo de noiva” foram descartados pelo tamanho e desconforto. Os atuais foram reformados e recolocados.
Um dos maiores desafios da obra foi encontrar as pedras portuguesas que compunham as muretas e o piso da praça, já que o granito usado, o róseo, está em extinção. “Depois, tivemos que encontrar um artesão chamado canteiro, que é o responsável pela lavra da pedra, que faz os cortes, que soubesse fazer meios fios curvos para refazer os canteiros da avenida Sepúlveda, mas só tinha um (profissional) disponível com uma fila de trabalhos”, disse Briane.
“Olhando pronto, não tem a menor idéia da complexidade daquilo, veio um calceteiro (especialista em calçadas) de Cuiabá para refazer aquilo, porque não havia outro”, finaliza.O projeto, além de revitalizar a praça, busca trazer de volta toda a história de um local que foi testemunha das mudanças vividas pela capital gaúcha a partir do final do século XIX. Influencias que atravessaram o oceano e que até hoje se fazem presentes, tanto na personalidade, quanto na fisionomia do povo do porto-alegrense.

Nenhum comentário:

Postar um comentário