quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Parque Ecológico e Ambiental de São João Marcos

Cerca de 3.000 pessoas mortas e uma cidade destruída. Este foi o balanço de um erro de cálculo somado a interesses políticos do Estado Novo (1937-1945). Para aliviar uma crise de abastecimento de água no Rio de Janeiro, o governo determinou que se aumentasse o nível da represa do Ribeirão das Lages, a 100 quilômetros da capital. São João Marcos, perto dali, foi abaixo entre 1941 e 1945 para evitar o retorno dos moradores, e a água jamais a encobriu. Nas ruínas foi inaugurado, em junho deste ano, o Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos, que ganhou o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Iphan.

“Este é o primeiro sítio arqueológico urbano do país. É possível entender todo o formato da cidade. O terreno pertence à Light, mas estava arrendado. Nada foi feito aqui desde que a cidade foi desocupada”, conta o coordenador do projeto, Luís Felipe Younes do Amaral, do Instituto Light. No local há uma exposição com a maquete de São João, depoimentos de antigos moradores e objetos encontrados nas escavações. Um crucifixo de uma das duas igrejas da cidade e a grade da cadeia foram doados pela Casa de Cultura de Rio Claro e também estão expostos.

São João foi fundada no século XVIII e cresceu em torno do mercado de café. Entre suas construções havia uma rica igreja matriz, finalizada em 1801, com o interior todo decorado em ouro. Numa tentativa de salvar o conjunto da destruição, Rodrigo Melo Franco de Andrade, à frente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (antecessor do Iphan), tombou a cidade em 1939. Pouco adiantou. São João foi a primeira cidade a ser tombada no país, mas também a primeira “destombada”, no ano seguinte, por Getulio Vargas.

“Vargas fez um acordo com a Light, na época ainda canadense. Tornaria a empresa praticamente um monopólio caso resolvesse o problema de abastecimento. Os técnicos acreditavam que a solução seria elevar o nível das águas da represa em mais 18 metros, mas acabou não chegando nem perto disso. Não era preciso destruir a cidade”, diz Maria Cristina Fernandes de Mello, pesquisadora e arquiteta aposentada da UFF.

A Light assume parte da história, mas não a culpa. “Na época não se falava em responsabilidade social ou ambiental. A empresa estava inserida naquele contexto. Foi tudo uma decisão do Estado Novo, e agora a Light tem a coragem de mostrar o que aconteceu”, afirma Amaral.

Mas será essa toda a verdade? Segundo Maria Cristina, o acesso a alguns documentos do arquivo histórico da empresa não foi permitido durante a pesquisa: “Nem eu nem uma aluna minha tivemos acesso a parte dos documentos. E não encontrei nada sobre o surto de malária que houve na região por causa do aumento do nível da água. Morreram cerca de 3.000 pessoas”.
Os problemas vão além. A reconstrução de alguns prédios e indenizações prometidas jamais foram adiante. No entanto, embora ainda haja muita coisa a ser investigada nessa história, o parque é um consolo para a população. Trouxe a cidade de volta ao mapa como um local para relembrar bons momentos e não esquecer escolhas duvidosas.

Fonte Original da Notícia: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/em-dia/de-volta-ao-mapa

Site do Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos:
http://www.saojoaomarcos.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário