quinta-feira, 6 de junho de 2013

A cidade "Cidade da Copa" um dia foi a "Cidade do Açucar"

Escrito por Breno Vaz    

Quem chega hoje à cidade de São Lourenço da Mata sente aquele ar campestre, em que as coisas parecem caminhar mais devagar, dando a impressão que nem estamos na região metropolitana do Recife. A cidade que combina o urbano com o rural carrega, ao mesmo tempo, a expectativa de desenvolvimento para o futuro e a herança rústica do passado. O estabelecimento nela da Arena Pernambuco (estádio de futebol que sediará os jogos da Copa do Mundo de 2014) traz para a população a expectativa de mudanças, justamente no sentido de que a cidade deixe para trás a herança rural que é identificada com o atraso, e siga para a modernidade e prosperidade sugerida por sua nova alcunha: “Cidade da Copa”.
 
O que os são-lourencenses e pernambucanos provavelmente não sabem é que a “Cidade da Copa” já foi a “Cidade do Açúcar”. E de muito açúcar. São Lourenço de outrora era uma freguesia (hoje chamaríamos de distrito) que, juntamente com outras, fazia parte do município de Olinda entre os séculos 16 e 18. Nesses tempos coloniais, o produto era a grande riqueza da capitania de Pernambuco, que chegou a ter o maior número de engenhos entre todas as do Brasil até a invasão holandesa (1630). Olinda, além de ser a sede da capitania, possuía o maior destaque nos negócios do açúcar, pois lá estavam também os melhores engenhos. Portanto, era deles que saía a maior e melhor produção açucareira de Pernambuco.
 
O açúcar de São Lourenço se destacava desde os primórdios da capitania. O historiador Pereira da Costa afirma que, em 1575, nessa produção destacavam-se as localidades de Igarassu, Nazaré e São Lourenço, que iam “caminhando prosperamente”. Pouco depois, às vésperas da invasão holandesa, São Lourenço possuía pelo menos um engenho dentro do seleto grupo dos 10 maiores de Pernambuco. Tratava-se do Massiape, de propriedade de Francisco do Rego Barros, figura que ocupava uma posição de destaque na “nobreza da terra” de Olinda. Ocupou uma série de cargos importantes, como presidente da Câmara de Olinda, juiz dos órfãos da capitania de Pernambuco, coronel do regimento miliciano, além de possuir as honrarias de Fidalgo da Casa Real e de Cavaleiro da Ordem de Cristo. O fato de uma figura tão rica e ilustre possuir um engenho em São Lourenço certamente indica um sinal da importância da freguesia na produção de açúcar no período.
 
Na segunda metade do século 17, apesar do contexto geral de crise para o açúcar em Pernambuco, os engenhos de São Lourenço alcançaram uma expansão impressionante. Em 1698, a freguesia chegou à notável marca de 29 engenhos, maior número entre todas as freguesias de Olinda. O que também impressiona é o fato de São Lourenço ser a freguesia mais distante do porto do Recife, onde se embarcavam as caixas de açúcar. Essa distância era compensada pela fertilidade dos solos onde brotava a cana de açúcar, que eram reputados entre os melhores da capitania. De modo que, já nos fins dos seiscentos, São Lourenço já era a localidade mais importante para o açúcar pernambucano.
 
No meado do século 18, a agora “Cidade da Copa” reafirmava sua posição como a terra do açúcar. Á época, a área que abrigava a antiga freguesia de São Lourenço da Mata dividia seu espaço com uma nova e vizinha freguesia: Nossa Senhora da Luz. Cada uma destas “freguesias irmãs” possuía, então, 18 engenhos.
 
Considerando que Nossa Senhora da Luz localizava-se em parte das terras que anteriormente pertenciam à freguesia de São Lourenço – e que hoje pertence como distrito ao atual município de São Lourenço da Mata –, percebemos que a atual área do município fica em um território onde, no meado do século 18, existiam duas freguesias de extraordinária importância na produção de açúcar. De tal modo que, se somarmos o número de engenhos das duas freguesias nesta mesma época, teríamos um total de 36 engenhos, um número extremamente expressivo. Número superior ao de vilas açucareiras importantes de capitanias como Igarassu, Serinhaém e Alagoas, que possuíam respectivamente 35, 27 e 33 engenhos. E até mesmo superior a toda a capitania de Itamaracá, que neste momento possuía 35 engenhos.
 
Se conhecer a nossa história serve, sobretudo, para melhor se compreender o presente e tentar programar o futuro, são-lourencenses e pernambucanos merecem conhecer o passado de uma cidade que já foi, com seu açúcar, a terra mais rica de Pernambuco. Numa época de expectativas e de ânsia por mudanças, o conhecimento desse passado pode trazer novas reflexões sobre o nosso presente e redimensionar nossas esperanças de futuro.
 
Imbricada entre passado, presente e futuro, a “Cidade da Copa” vai caminhando com sua pesada bagagem nas costas, seus pés titubeantes e olhos que só veem à frente.

Fonte: http://www.revistacontinente.com.br/index.php/component/content/article/8179.html 










A esquerda o Engenho Muribara, a esquerda o Engenho Tapacurá

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