quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Águas passadas

Elas movem moinhos e fazem grandes estragos nas cidades brasileiras há mais de 200 anos. Somente agora governos focam mais na prevenção das enchentes do que em reparos

Mauro de Bias

Em fevereiro, uma forte chuva caiu sobre a cidade do Rio de Janeiro, causando enchentes no Centro e deslizamentos. Não se sabia ao certo o número de vítimas e o prejuízo material e financeiro, mas a gravidade foi tamanha que o governante mandou investigar a causa do desastre para determinar as obras necessárias para que ele não se repita. A cena parece tão atual que mal se desconfia que o desastre aconteceu, na verdade, em 1811. Naquela época, o governante em questão era D. João VI e a preocupação com a queda de barreiras girava em torno do antigo morro do Castelo, que só seria desmontado em 1921.
Mais de 200 anos após a tragédia, a prefeitura da capital fluminense decidiu dar um fim às enchentes. Visando a Copa do Mundo e Olimpíadas, com recursos do governo federal para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o município vai investir R$ 292 milhões na construção de um sistema de canais e reservatórios subterrâneos, para melhorar a vazão das duas torrentes mais problemáticas do Centro, os rios Maracanã e Joana. A informação oficial diz que eles servirão para aumentar a capacidade de escoamento de águas pluviais da região e vão deixar no passado as cenas de alagamentos que se repetem anualmente no verão.

Solução questionada
Apesar da boa notícia, engenheiros criticam o projeto carioca e o comparam ao sistema quem vem sendo implementado em São Paulo desde os anos 90: para eles, a diferença na topografia das duas cidades pode fazer com que a solução funcione para uma e não para a outra. Segundo o Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo, há 20 reservatórios - conhecidos como piscinões - somente na capital, que absorvem excessos de água de nove rios. Em toda a região metropolitana, o número chega a 53. A ideia é que os equipamentos cumpram o papel das várzeas, que foram ocupadas pela urbanização desordenada ao longo da história da capital paulista, assim como ocorreu em Blumenau, Porto Alegre, Rio de Janeiro e outras cidades.
As várzeas são regiões baixas no entorno de rios que alagam durante cheias, um mecanismo natural que os piscinões copiam. O engenheiro civil Luiz Carneiro, diretor do Clube de Engenharia, critica: “São Paulo fez piscinões porque não tem mar para jogar a água, então precisa deles. O Rio de Janeiro contratou projetistas que não conhecem bem a cidade e vai fazer a mesma coisa”.
Os problemas já vêm de longa data, e as soluções também não são recentes. O Rio de Janeiro começou a construir, em 1973, um túnel que, segundo Carneiro, seria a solução mais adequada para a geografia da cidade. Ele participou da concepção e execução do projeto. Começando na Tijuca, o canal subterrâneo absorveria as águas de quatro rios durante as chuvas, levando-as até o mar aberto e, assim, impediria que bolsões d’água se formassem nas ruas. Mas somente 1,5km da obra foi concluído. Dinheiro público por água abaixo, já que hoje o túnel não tem uso e não há menção sobre uma retomada das obras, que custariam algo entre R$ 350 milhões e R$ 400 milhões.

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Enchentes em grandes cidades são comuns há séculos





















Cena se repete até hoje

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