quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Reforma une o melhor de sobrado histórico português ao estilo de vida atual

Ana Carolina Bolsson
 
Um pouco do Brasil ganhou novo capítulo com a restauração de um sobrado do século 19 na histórica cidade de Braga, no norte de Portugal. Situado na chamada zona de proteção – no limite das muralhas romanas medievais –, o Chalé das Três Esquinas é fruto do dinheiro de emigrantes lusitanos que retornavam após prosperar em terras verde-amarelas.
Erguido segundo o modelo de chalé alpino, popular no Brasil oitocentista por influência centro-europeia, a construção considerada patrimônio arquitetônico nacional passou por um retrofit completo projetado pelos profissionais da Tiago do Vale Arquitectos. A reforma adaptou os 165 metros quadrados distribuídos em três pisos para receber a sede do escritório de arquitetura e também servir de habitação do proprietário homônimo, permitindo viver e trabalhar num local que une o melhor de duas épocas.
– Na primeira visita percebemos que o prédio deteriorado pedia, desesperadamente, duas coisas: primeiro, que o libertassem de toda a construção avulsa que o sufocou por anos. E, depois, de luz – explica Tiago. 

Preservação da tipologia original
Conforme determina a legislação, não houve alterações estruturais na fachada, que foi simplesmente recuperada e pintada.
– Nossa preocupações residiam em manter um equilíbrio entre o que era original e o que era nossa intervenção – detalha.
Internamente, tudo foi adequado ao estilo de vida contemporâneo, o que inclui reforma elétrica, hidráulica, sistema de gás, telecomunicações e climatização. Porém, foram preservadas as estruturas construtivas originais: cobertura em telha Marselha, piso de pínus e circulação pela escadaria.
– Mantivemos a honestidade do projeto, devolvendo o prédio ao uso, às pessoas e à cidade. Deixamos que o edifício reflita a passagem do tempo por si – finaliza. 

Setorização original
A distribuição da planta tal qual planejou-se o sobrado foi preservada, com o piso térreo dedicado ao atendimento e ao trabalho da equipe – com escritórios e mesas –, o segundo andar como zona social da habitação – onde estão a cozinha e o jantar –, e o terceiro como dormitório, com a suíte e o quarto de vestir. Todas as áreas molhadas, incluindo o piso do térreo, receberam mármore branco de Estremoz (40cm x 40cm) no piso, revestimento português usado na época.
– Recuperamos e destacamos as características originais introduzindo ideias perfeitamente ajustadas ao modo de habitar contemporâneo”, explica Tiago. 

Ápice conceitual
O último e terceiro andar do sobrado histórico português restaurado pelo escritório Tiago do Vale Arquitectos foi reservado à área íntima. Subindo os últimos e estreitos lances de escada, chega-se a uma ampla área dominada pelo tema visual do restante da casa: o branco, sistematicamente repetido em paredes, tetos, marcenaria e até no mármore do banheiro.
O sótão, de cerca de 45 metros quadrados do casario erguido no século 19, em Braga, ao norte do país, foi setorizado em três: quarto de dormir, banheiro e quarto de vestir (closet).
– O closet é a surpresa no culminar do percurso: com o piso e o sistema construtivo da cobertura na sua cor natural, apresenta-se como uma caixa de madeira, contrapondo-se ao interior totalmente alvo – detalha Tiago.
O local, de 13 metros quadrados totais, tem piso em pínus, e estrutura do teto mista: madeira de abeto e de pinheiro europeu. Já as portas dos armários executadas em marcenaria são de laminado de pinheiro europeu.
– Recuperamos não apenas os materiais mas também os usos de cada espaço. E, mesmo quando introduzimos materiais novos, como fizemos com o mármore de Estremoz, fizemos com o critério de se ajustar à sua natureza e ao seu contexto histórico – conclui o arquiteto.

Fonte da matéria e mais imagens do projeto: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/casa-e-cia/noticia/2013/12/reforma-une-o-melhor-de-sobrado-historico-portugues-ao-estilo-de-vida-atual-4360244.html 















No térreo fica a recepção e a área de trabalho do escritório (acima), com mesas de atendimento e estações individuais (D, ao fundo) Foto: João Morgado,Fotografia de Arquitetura / Divulgação
 
 













A fachada frontal do palacete, de pé-direito alto em todos os pavimentos, detalhado com afrescos e cantarias, telhado inclinado e beirados decorados tem um tom peculiar Foto: João Morgado,Fotografia de Arquitetura/Divulgação

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