sábado, 1 de abril de 2017

Enquanto Olímpico agoniza, vizinhança convive com abandono e sensação de insegurança

Assistindo ao Olímpico Monumental agonizar, a região que o abrigou e cresceu com o Grêmio também sofre. Desocupado há pouco mais de dois anos, o estádio parcialmente demolido colabora para a sensação de insegurança no limite dos bairros Azenha, Medianeira e Menino Deus. E deixa um sentimento de abandono, tanto em gremistas como em colorados.
— O Grêmio era a mola propulsora para o comércio, o entretenimento e até a autoestima no local. Era o coração do bairro — diz o professor Marcelo Xavier, 46 anos, vizinho do estádio desde que nasceu.
Sem jogos ou perspectivas para o começo de alguma obra no local há quatro anos, parte dos negócios — como o Bar Preliminar, tradicional ponto de encontro de torcedores — fechou as portas na região.
O funcionário público federal Mauro Ribeiro de Souza, 59 anos, avalia que o estádio alimentava o comércio e "dava vida ao bairro". Agora, com as ruas mais vazias, as placas de "vende-se" se multiplicam por residências e imóveis comerciais. E é difícil encontrar um vizinho que não se queixe de aumento da criminalidade.
— A gente sempre gostou de morar aqui — conta a dona de casa Carmen Regina Feijó, 60 anos, que colocou à venda a casa em que mora desde os cinco anos, na Rua José de Alencar. — Mas agora não tem mais segurança, (a região) ficou deserta. E a gente já tem uma certa idade.
Carmen costumava tomar chimarrão nas praças da rua, junto à rótula da Avenida Erico Verissimo. Pela insegurança e pela falta de cuidado, nunca mais se animou em frequentá-las. Na calçada da Praça Cid Pinheiro Cabral, a aposentada Vera Lucia Seben, 60 anos, atesta:
— Ninguém em sã consciência vem aqui.
Vera salienta que, antes, as áreas públicas tinham mais manutenção e capina. Ela também chama a atenção para a quantidade de moradores de rua e de usuários de drogas ao redor do "falecido" Olímpico.
— Tem lugares que tu nem te dá conta de que são praças, mas vê que tem pessoas "depositadas" lá — lamenta.
O lixo e a grama alta também saltam aos olhos. A respeito das áreas públicas, o secretário de Serviços Urbanos de Porto Alegre, Ramiro Rosário, lembra que o serviço de capina havia sido interrompido no começo do ano, mas que a empresa contratada emergencialmente está trabalhando para vencer os espaços que ainda não foram contemplados. Ele também admite que há uma dificuldade maior de manter limpas praças onde há muitos moradores de rua.
Em fevereiro, o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) vistoriou a área do estádio e notificou o Grêmio pela quantidade de lixo exposto no terreno. Ainda de acordo com Rosário, o clube atendeu à solicitação e realizou a capina e serviço de limpeza na área de propriedade do clube.
Quem não fechou, está no vermelho
As cores da bandeira gremista seguem na fachada estreita e antiga do prédio na Avenida Carlos Barbosa, com o nome do estabelecimento: Restaurante Manjeronas. Mas, assim como o Olímpico, o negócio — situado no lado oposto da via — fechou, e o prédio sofre com o tempo e o vandalismo. O proprietário do imóvel, José Carlos da Silva, 70 anos, conta que o locatário entregou as chaves depois que o Grêmio foi para a Arena, na Zona Norte. O local está há um ano à venda — José não está conseguindo o valor que pede pela área.
O Preliminar também fechou as portas, na esquina da Avenida José de Alencar com a Rua Dona Cecília. O bar que durante mais de 10 anos dedicou finais de semana ao Grêmio tentou sobreviver no bairro — inclusive, foi transformado em minimercado na reta final. Mas as chaves foram devolvidas há um ano para a proprietária do imóvel. Ela está financiando uma reforma, na torcida para que, ajeitando o local, apareça alguém querendo alugar.
Diferentemente dos negócios que debandaram com a saída do Grêmio, um restaurante que foi aberto na Carlos Barbosa motivado pela promessa da construção de um grande empreendimento na área do Olímpico. A proprietária, que não quis se identificar, conta que o estabelecimento foi arrombado três vezes no último ano. Com a esperança de que as obras saiam do papel, ela permanece no local.
— Mas não tem perspectiva nenhuma. A sensação é de impotência total — relata. 




















Fotos: Anderson Fetter / Agencia RBS

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