A
valorização das casas de terreiros e de religiões de matriz africana, a
partir do processo de tombamento representou um marco para a história
da cultura no país e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan) foi
quem deu inicio a essa era de reconhecimento a um território antes
ignorado. Essas casas perfazem grande parte da origem africana tão
presente na Bahia, se tornando monumentos do sagrado, que devem ser
preservados. “Eles, os terreiros, carregam, de um lado a outro do
oceano, a sacralidade, o testamento das pequenas áfricas – monumentais
como o continente negro”, diz o superintendente do Iphan-Ba, Carlos Amorim. Esse universo é descrito na obra O Patrimônio Cultural dos Templos Afro-Brasileiros
(ed. Oiti – 238 páginas) que será lançado na próxima quinta-feira, dia
14 de junho, das 17 h às 21h, na Casa Berquó, Barroquinha, sede do Iphan.
“A
preservação de templos e locais sagrados da cultura afro-brasileira é
coisa recente e se limitou, nos últimos 25 anos, à inscrição nos livros
de tombo oficiais, malgrado o imperativo de se mover uma discussão
profunda sobre o tema”, destaca Amorim. O significado da preservação
começa com o Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, primeiro templo
afro-brasileiro tombado como patrimônio histórico e etnográfico do
Brasil, no ano de 1985. Em seguida mais cinco terreiros da Bahia e um do
Maranhão foram inscritos no acervo dos bens culturais do Brasil.
O livro O Patrimônio Cultural dos Templos Afro-Brasileiros
traz textos apresentados por um elenco significativo de peritos,
professores, técnicos, especialistas em políticas de preservação
cultural, africanistas e estudiosos das religiões de matriz africana,
tendo a forte participação do povo de santo.
As apreciações foram originadas no Seminário Internacional Políticas de Acautelamento do Iphan
para Templos de Cultos Afro-Brasileiros, evento que teve a participação
de três universidades nacionais: a Universidade Federal da Bahia
(UFBA), a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Universidade Federal
de Pernambuco (UFPE). Além disso, contou com a colaboração da
Université d’Abomey-Calavi, da República do Benin e dois institutos de
pesquisa franceses, o Centre d’Études Africaines, vinculado ao Instituto
Recherche pour lê Développement e à École des Hautes Études en Sciences Sociales, e o Centre d’ Études des Mondes Africains, vinculado ao Centre National de la Recherche Scientifique.
A obra trata desde o tombamento dos terreiros no âmbito do Iphan
às questões mais específicas no vasto mundo que envolve a temática, a
exemplo da especulação imobiliária e a ocupação urbana desordenada,
sendo citados como alguns dos problemas que afetam as áreas de uso dos
cultos.
A
estética do livro chama a atenção pelas fotos dos terreiros tombados e
ilustrações de Carybé. A coordenação editorial é de Bete Capinan. A capa
é de Humberto Vellame com fotos do Terreiro da Casa Branca, de Orlando
Ribeiro. O livro será distribuído pelo Iphan, durante o lançamento.
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