terça-feira, 26 de junho de 2012

Equipe de restauradores da BN acaba de recuperar arquivo único da Inquisição de Goa

Por Laura Monsores

“Aqui é, literalmente, o CTI do papel”. As palavras do restaurador Fernando Amaro definem bem o trabalho feito no Laboratório de Restauração da Biblioteca Nacional. Como pacientes em estado grave, é para lá que vão obras centenárias danificadas pela ação do tempo. Foi o que aconteceu com os seis códices de aproximadamente 3.000 folhas do Arquivo Inquisição de Goa, sobre a atuação do tribunal inquisitorial na Índia portuguesa, incorporado ao acervo da Real Biblioteca em 1809 e recuperado recentemente pela equipe de restauradores da BN chefiada por Fernando.
Quando o documento chega ao laboratório, o primeiro passo é o diagnóstico. “No caso dos manuscritos de Goa, o papel apresentava muitas corrosões decorrentes da escrita com tinta ferrogálica, composta predominantemente por ferro. É natural que, com o passar do tempo, o processo de enferrujamento cause a fragmentação do papel”, explica o restaurador. Após a identificação dos principais danos, a obra passa por uma série de etapas de restauração que inclui limpezas manuais, banhos, tratamento da fibra e da colagem, encadernamento e acondicionamento, até retornar ao setor de origem. Depois de tratada, é submetida ainda a um processo de digitalização, sendo registrada em fotografia, além de ser microfilmada. Essas operações são feitas para manter a integridade física do acervo, já que um dos maiores problemas de conservação é o manuseio indevido dos documentos. “O objetivo é recuperar forma, conteúdo, e dar longevidade à obra”, diz Fernando.
Os manuscritos da Inquisição de Goa acabaram de passar por todas essas etapas e, depois de um ano, estão novamente disponíveis para o público. Pesquisadora do assunto, Célia Tavares, professora da Faculdade de Formação de Professores da Uerj, destaca o caráter raro desses documentos: “Há um fato que faz este acervo ser único no mundo: boa parte da documentação sobre a Inquisição de Goa foi destruída no século XIX”. Segundo ela, o arquivo sob a guarda da Biblioteca Nacional traz algumas pérolas, como textos de Roberto de Nobili, jesuíta italiano que foi missionário na Índia,  suspeito de heresia pela Inquisição.
Com a conclusão da restauração, Célia afirma que poderá dar seguimento à sua pesquisa: “Estamos desenvolvendo um banco de dados que pretende reunir o máximo de informações retiradas da leitura paleográfica dos documentos deste acervo. É fundamental resguardá-lo pela riqueza de informações, além de sua própria raridade”.

Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/por-dentro-da-biblioteca/condenado-a-sobreviver





Nenhum comentário:

Postar um comentário