A Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre ingressou com ação civil pública para que seja restaurada a casa onde funcionou a primeira gravadora de discos do Brasil, conhecida como “Casa Eléctrica”, que pertenceu ao italiano Savério Leonetti. A ação foi ajuizada contra o Poder Executivo Municipal, a empresa proprietária e a locatária.
A Casa Eléctrica é um casarão situado na Avenida Sergipe, nº 220, Bairro Glória; é um exemplar de residências-chácaras construídas na virada do século XIX para o século XX. Hoje, conforme laudo técnico do MP, há vegetação excessiva próxima ao prédio, janelas abertas e falhas no telhado que permitem a entrada de chuva e lixo. Há também móveis quebrados e varandas que ameaçam desabar. A instalação é tombada pelo patrimônio histórico de Porto Alegre, e pertence à lista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.
Na ação, os promotores Carlos Roberto Lima Paganella, Alexandre Sikinowski Saltz, Ana Maria Moreira Marchesan e Annelise Monteiro Steigleder lembram que a Casa Eléctrica, de propriedade do italiano Savério Leonetti, foi a primeira produtora de gramofones do Brasil e, posteriormente, começou a fazer a prensagem de discos, sob o selo “Gaúcho”, o segundo da América Latina. A Casa Eléctrica lançou dezenas de composições rio-grandenses, e divulgou cantores do Rio de Janeiro, São Paulo, Montevideu e Buenos Aires. Com produção total de 326 títulos, o selo “Gaúcho” é apontado como primeiro exportador de discos do Brasil.
A Promotoria requereu ao Poder Judiciário, entre outras solicitações, antecipação de tutela para que o município de Porto Alegre realize imediatamente obras para proteção provisória do bem tombado, para evitar degradação ainda maior por causa de intempéries, até que seja realizada a recuperação definitiva. Entre as necessidades, a vistoria técnica do MP alega que deve ser feita poda de vegetais, escoramento das varandas, cobertura do telhado original, fechamento das janelas abertas, remoção do lixo e entulhos do interior.
Além disso, o MP solicitou que a Prefeitura ficasse obrigada em iniciar, no máximo em 90 dias, as obras definitivas de preservação, recuperação, restauração ou reconstrução do imóvel. Os pagamentos referentes ao aluguel deveriam ser depositados em conta judicial para ser destinados exclusivamente às obras. Os Promotores sugerem, também, condenação do Município a elaborar proposta de Política Ambiental Preventiva e de Valorização do Patrimônio Cultural que contemple, para a próxima Lei de Diretrizes Orçamentárias, estudos para todas os imóveis de importância histórico-cultural da cidade.
A ação, ajuizada em setembro, tramita na 10ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre. O pedido liminar ainda não foi apreciado pelo Juiz, que postergou a análise para depois da oitiva de representantes do Município. No despacho de 26 de setembro, foi ressaltado que "acerca do pedido de antecipação de tutela, intime-se o Município de Porto Alegre para manifestação, no prazo de 10 dias". A manifestação da Prefeitura já ocorreu e a decisão sobre a antecipação de tutela deve sair a qualquer momento.
Antiga fábrica de discos “A Eléctrica”
Em 1908, Savério Leonetti, imigrante italiano natural da Calábria, em viagem à Europa, adquiriu na Alemanha o maquinário para a gravação e prensagem de discos. Em 1913 lança o gramofone nacional, de custo mais acessível do que o estrangeiro, na marca “A Eléctrica” e em 25 de outubro do mesmo ano saem os primeiros discos (os discos eram gravados em Porto Alegre e prensados na Europa) no selo do “Disco Gaúcho”. Em 1914 Leonetti já gravava e prensava os discos em sua fábrica “A Eléctrica” em Porto Alegre, tornando-se o segundo fabricante de discos no Brasil e na América do Sul (o primeiro fabricante de discos era a casa Edison, no Rio de Janeiro, também de 1913).
A fábrica “A Eléctrica” foi instalada por Leonetti na rua Sergipe nº 9. A comercialização e a venda dos discos e gramofones fazia-se no centro de Porto Alegre, na Rua dos Andradas, nº 302 (hoje centro comercial Masson). Ela tinha “o maior sortimento de artigos phonográphicos do Estado e único fabricante dos afamados gramophones marca Eléctrica e Disco Gaúcho”.
Em 1924, depois de onze anos e produção de mil discos, a empresa de Savério Leonetti faliu. Foi decretada a falência de “A Eléctrica” pela Junta Comercial de Porto Alegre. Nas causas possíveis estão a 1ª Guerra Mundial e as dificuldades de importar os materiais necessários à indústria da Alemanha, bem como o espírito um tanto perdulário de Leonetti.
O prédio da Av. Sergipe, hoje nº 220, bairro Glória, constitui um marco único na música popular de Porto Alegre por tratar-se da primeira fábrica de discos do Rio Grande do Sul e a segunda do continente sul-americano.
A construção da fábrica no início do século tornou a cidade um centro musical. Durante o período áureo da fábrica, de 1913 a 1919, a capital do Rio Grande do Sul teve um papel de pólo cultural na área da música em relação aos vizinhos países do Prata com o tango e no Brasil com o samba e outros ritmos da música popular.
Evidenciando o estilo eclético em sua arquitetura, constitui-se num exemplar da construção de residências-chácaras na virada do século XIX-XX. O prédio reúne características de chalet e algumas tendências neobarrocas na ornamentação da fachada frontal. Ele possui na fachada, coroamento, platibanda e frontão em forma arredondada.A característica de chalet está nos avarandados laterais enfeitados de lambrequins de madeira recortados à serra de fita.
Com singular técnica construtiva para a época, possui alvenaria estruturada com ferro, tendo sido utilizados trilhos de trem. É uma edificação térrea com porão implantada isoladamente sobre o terreno. A cobertura é em duas águas com telha francesa. Tem paredes externas em alvenaria de tijolos, forro em madeira, piso assentado em estrutura de ferro e laje de grês. O piso do banheiro é cerâmico, a cozinha e avarandados têm ladrilhos hidráulicos e as demais peças da casa têm o piso em madeira. A ornamentação da fachada frontal do prédio é feita com elementos alusivos à atividade da fábrica de discos. Os elementos expressos nas formas feitas em massa. O conjunto ornamental compreende uma lira coroada por guirlanda na forma de ferradura com as pontas de cabeças de cobra e a cada lado da lira a impressão de um disco.
Em 1996, a classe artística mediante extenso abaixo-assinado dirigido ao Município mostra seu interesse em preservar o prédio da Av. Sergipe. O tombamento ocorre em 27 de dezembro de 1996. (Fonte: Prefeitura de Porto Alegre)
Fonte: http://www.oriundi.net/site/oriundi.php?menu=noticiasdet&id=18606
Ação civil pública requer restauração da casa que sediou a primeira gravadora de discos no Brasil, fundada pelo imigrante italiano Savério Leonetti
Lamentável o descaso dos políticos do nosso país, em especial do nosso prefeito que deixa estas coisas acontecerem. Não há tempo para esperar , se ela cair.... Não adianta lamentar. São lindas estas casas , porque elas trazem a história em suas paredes!!!
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